O ACERVO DO DN -
POR VALÉRIO ALFREDO MESQUITA - ESCRITOR.
Jornal é como gente: nasce e morre. Tudo natural.
Só aqui no estado posso enumerar dez ou mais
que sucumbiram. O compromisso de um jornal
noticioso é com a sociedade. Deve conquistar a
credibilidade, o conceito e o respeito dos seus
leitores, comprometido com a verdade. Isso o
Diário de Natal teve e obteve desde a data de
1939 com os seus pioneiros e os navegadores
seguintes até a data do seu falecimento. Todo
o Rio Grande do Norte deplorou o encerramento
de suas atividades e sente saudade do matutino
que detinha nos seus quadros um admirável
corpo de redatores, repórteres e jornalistas.
Tudo nessa vida é circunstância e não quero
nem devo entrar no mérito do “por que fechou?”.
Acontece que a essência de qualquer jornal
é narrar, informar, a história cotidiana do povo.
Todas as manifestações do dia a dia são
publicadas nos mínimos detalhes. O jornal
conta com mais minúcias a história de um
povo, de um município ou de um estado do
que os próprios historiadores acadêmicos e
oficiais, sem desmerecê-los. Mas, nas páginas
de cada matutino ou vespertino estão
registrados diariamente fatos e pessoas que
constroem a vida social, cultural, científica,
política e administrativa. Sem esquecer que
ele é fonte natural de pesquisa, de estatística
e de estudo dos acontecimentos da cidade,
do estado e do país. Do que ocorreu nas ruas,
e stradas, delegacias, hospitais, instituições,
etc., enfim a vida comum do cidadão. O jornal
exprime o drama histórico da população com
suas comédias e tragédias. E quando se fala
em acervo, quer dizer tudo, inclusive, de forma
superlativa: a fotografia, a imagem, do que
aconteceu, ou quase tudo. Volto ao Diário
que deixou de circular, deixando os seus
leitores de perto e da distância bastante
desapontados. Saiu dos lares e das ruas,
não mais que de repente. Os assinantes
ficaram surpresos. Era gerido pela sucursal
de Recife. Empresa privada, detentora de
imóveis e equipamentos da melhor qualidade
que imprimiam o jornal. Naturalmente, eles
estão disponíveis para serem alienados como
bem aprouver a direção regional baseada em
Pernambuco. Todavia, o que a sociedade
questiona, unicamente, reside no destino
do acervo histórico do Diário de Natal desde
a sua fundação. É um relicário moral, telúrico,
emocional e de potiguarania que somente ao
povo do Rio Grande do Norte interessa. Este
sim, é um bem inegociável porque é patrimônio
cultural da gente. Com esse objetivo, a
Academia Norte-Riograndense de Letras,
o Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, o Conselho Estadual de
Cultura, irmanaram-se à Assembléia
Legislativa e às entidades representativas
da classe jornalística para sugerir ao governo
do estado, através de sua secretaria de
cultura, uma audiência pública, para discutir
o assunto e encontrar a solução mais adequada.
O Rio Grande do Norte não pode sofrer
tamanha perda.
(*) valerio@gmail.com
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Crédito: Blog de Lúcia Helena
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