sábado, 10 de maio de 2014

Guga



MIRABEAU AMÂNCIO PEREIRA

Por: Augusto Coelho Leal, engenheiro civil



“Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.”



            Mirabeau Amâncio Pereira foi uma dessas pessoas que ficam eternamente em nossos corações.  Nasceu em Caicó – RN , em 10 de maio de 1914, faleceu em Natal, no dia 05 de outubro de 2009, e se vivo estivesse estaria completando cem anos de vida e certamente sua casa, estaria aberta para junto com ele abraçar amigos e familiares.


            A família Pereira, teve suas raízes no Estado do Ceará e migrou para o Rio Grande do Norte através do Município de São Miguel, na época Distrito de Pau dos Ferros. Assim a família de Mirabeau também tem laços sanguíneos com as famílias Leal, Fernandes e Pimenta, tradicionais naquela região.


            Mirabeau era filho de Augusto Amâncio Pereira e de Auta Pereira. Teve  como irmãs: Ilnah Pereira Mesquita, que casou com Paulo Mesquita  e Ilzeny Fernandes Pereira, assistente social.


            Formado em Farmácia, para atender os desejos de seu pai, foi cursar Medicina, onde se formou pela Universidade Federal da Bahia, especializou-se em Pediatria, casou-se com Idalina de Souza Ataíde pernambucana da cidade de Petrolina. O casal teve três filhas: Vânia, Nádia e Tacia, netos e uma bisneta.


            Voltando á Natal, Mirabeau dedicou-se a profissão com amor, dedicação. Era uma pessoa essencialmente humana, atendia a todos independente de posição social ou cor. Foi médico da Legião Brasileira de Assistência - LBA e INPS, mais tarde INAMPS e hoje INSS. Ainda prestou serviço no antigo SANDU.


            Nunca cheguei a vê-lo emburrado, era uma pessoa de natureza alegre; as piadas estavam sempre presentes no seu dia a dia. Com seu temperamento extrovertido, contava piada mesmo baixinho, até em velórios, e tinha uma risada muito singular, quando  aproximava-se de nós familiares, vinha um comentário; chegou Mister Alegria. 


            Como pai de família foi exemplar, adorava receber as filhas e netos, em número de dez No domingo a sua casa era só alegria junto a sua família, quando todos estavam presentes ele dizia muito feliz – Hoje o hotel está com 100% de ocupação.


            Abecedista de coração, os seus três genros eram torcedores doentes do America Futebol Clube, e embora em desvantagem numérica nesta repartição de torcida, não deixava de externar sua alegria nas vitórias do seu time.


            “A felicidade não é um fruto da paz, é a própria paz.” O fruto plantado por Mirabeau germinou, deixou entre nós lembranças de amor e paz. Por isso, quando pensamos na sua pessoa não sentimos tristeza, mas saudade. Saudade da sua honestidade, da sua alegria, da sua bondade. Os seus ensinamentos ficaram com todos nós, e procuramos semeá-los em sua memória. Foi-se um bom homem, ficou uma bela história.


sexta-feira, 9 de maio de 2014



PARECE SER MAIS PRUDENTE CALAR O BICO. OU NÃO?

Por Flávio Rezende*

         Hoje é feriado no Brasil e estou curtindo preguiça em família, com a pequena Mel aperreando a mais nova componente da casa, uma cadelinha chamada Chica Linda Donzela, enquanto Gabriel festeja a formatura da mãe.
         Nesta preguiça ociosa ou até criativa, tenho um tempinho para ler umas coisas e outras do mundo virtual. Um dos textos foi de um crítico de TV, baixando o pau no programa de Regina Casé, dizendo que o mesmo é racista, pois só mostra negros e pardos e que eles só aparecem de maneira estereotipada e que essa exposição leva o telespectador da periferia a achar legal usar shortinhos curtos, óculos espelhados, entre outros babados citados.    
         Se tiver tempo volto para ver os comentários no futuro e certamente, muitos vão defender o programa, dizendo que é dos poucos espaços para estes seres que gostam destas coisas e que a periferia nunca tem vez e que quando tem, aparece alguém para achar ruim e coisa e tal.
         O que quero dizer neste meu “escrito” é que todos que se expõem na mídia em geral, emitindo opinião, correm o risco de contestação e até de linchamento moral, sendo este fato absolutamente aceitável, só tirando alguns excessos cometidos por radicais de áreas religiosas, políticas, futebolísticas, raciais, educacionais, enfim, de quase todos os setores da sociedade.
         Diante do intenso e generalizado patrulhamento ideológico e das reações muito agressivas de ambos os lados em todos os ângulos das discussões atuais, confesso que às vezes dá vontade de não escrever mais assuntos polêmicos e nem ficar postando minhas opiniões nas mídias sociais.
         Ao mesmo tempo em que é prazeroso o diálogo fraterno e o confronto sadio dos argumentos, às vezes é cansativo, pois quase ninguém muda de posição ou aceita um milímetro do pensamento alheio, tornando os fóruns mais ringues que escolas.
         Lembro ainda o fato de que a verdade não é absoluta, ela é relativa e camaleônica, pois se não temos certeza de quase nada e no decorrer de nossa existência terrena muitas coisas mudaram em todas as áreas, quem arrisca seguir a risca, o que seja?
         Encerro reproduzindo uma mensagem do educador e mestre espiritual indiano Sathya Sai Baba, que diz: “Não entrem em discussões e disputas; aquele que clama em voz alta não compreendeu a verdade, acreditem! O silêncio é a única linguagem do realizado. Pratiquem moderação no discurso; isso os ajudará de muitas maneiras. Isso desenvolverá Prema (amor), pois a maioria dos mal-entendidos e facções surge de palavras faladas descuidadamente. Quando o pé escorrega, a ferida pode ser curada; mas quando a língua escorrega, a ferida provocada no coração do outro se inflamará por toda vida. A língua é susceptível a quatro grandes erros: proferir falsidade, escandalizar, encontrar defeitos nos outros e conversa excessiva. Estes devem ser evitados para se haver paz para o indivíduo e a sociedade. O vínculo de fraternidade será mais estreito se as pessoas falarem menos e docemente. É por isso que o silêncio (Mounam) foi prescrito pelas escrituras como um voto aos aspirantes espirituais. Como aspirantes espirituais em vários estágios de estrada, esta disciplina lhes será muito valiosa.”
         Diante de algumas reações muito ásperas e de alguns problemas pessoais que estou tendo por expor posições políticas, principalmente no campo da obtenção de apoios que antes tinha para coisas que tento continuar fazendo, começo a refletir sobre a importância do silêncio, mas ao mesmo tempo não suporto o teclado parado, a tela vazia, o texto morto, por isso serei dúbio, às vezes me expressarei, às vezes me calarei, seguindo
William James, "o exercício do silêncio é tão importante quanto à prática da palavra", afinal Sêneca já dizia, “ do homem eminente podemos aprender, mesmo quando se mantém em silêncio. "

·        * É escritor, jornalista e ativista social em Natal /RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

NÃO SOU MACACO

Por: Gileno Guanabara, advogado

            A curiosidade me tomou de assalto não pelo fato de um atleta profissional de futebol apanhar uma banana no verde do gramado, onde disputava uma partida e,  como se tomado de um reflexo condicionado, desfazer-se da casca da fruta e se deliciar sob o foco das televisões amigas. O mundo todo se comoveu, a partir de celebridades ou de oportunistas de plantão que se expuseram uns a posar artisticamente com uma banana, outros pondo-se a comê-la televisivamente.

As consequências daí decorrentes são inúmeras. A primeira interpretação que me ocorreu foi em o autor da pantomima aproximativa de agressão - atirar algo contra outrem, sem que tenha atingido o alvo - portanto mera tentativa, ter sido imediatamente identificado na pessoa de um torcedor do clube adversário ávido para desestabilizar o zagueiro do time contrário, no momento da cobrança de um escanteio, o qual foi, mesmo assim, cobrado sem maiores consequências no placar, contra as barras do goleiro adverso. Portanto, o delito cometido foi mera tentativa de atingir alguém, por motivo até aquele momento desconhecido, atirando-lhe uma banana comestível. Não atirou uma banana de explosivo, nem um vaso sanitário feminino capaz de cair sobre a cabeça da vítima indefesa em pleno asfalto.

Outra consequência foi a descoberta por jornais televisivos do mundo, céleres de notícias vãs, de que a ação teria um fundo xenofóbico. O autor seria um racista que teria se encaminhado à plateia do estádio, pondo-se num lugar privilegiado - próximo ao canto da bandeira de “corner” – em dia de jogo de grande expectativa e, em determinado momento, praticou o ato, atirando uma banana, molestando o zagueiro adversário, havendo-o como animal comedor de banana e não um espécime rara de jogador de futebol. Lógico que anterior à prática do ato molestuoso que praticou, o autor certamente desconhecia a reação da vítima e da aldeia futebolística. Iria ela, a vítima, imediatamente comer a arma da agressão, e o faria costumeiramente mais uma vez, haja vista que já o fizera tantas vezes, quando de sua infância medonha, desconhecida para tantos fanáticos torcedores e também para os tresloucados atiradores de banana em campo de futebol.

Não mais que de repente, um estrategista de ideias pautou nas redes sociais e clamou ao mundo a frase lapidar, comovente, capaz da sensibilizar o subconsciente animal de milhões de partidários do esporte bretão. É que os humanos naturalmente guardam incluso no DNA, consignado desde as eras dos primevos “australopithecus afarensis”, vários estigmas, como exemplo o de se catar em público, o de fazer auto-amor sem alvará de licença; de atirar pedras, como também o de subir nos galhos das árvores. Portanto não é inédito o fato de comer banana.  E o profeta jagunço da internet proclamou para a aldeia global a maior das descobertas: “Somos Todos Macacos”. O mundo descobriu, de um momento para outro, a verdade: nós somos macacos. Não sei exatamente se pelo fato de haver sido atirada a banana; ou se pelo atleta havê-la comido; ou se por ser exatamente aquela banana que lhe foi atirada; ou se, pelo mero reflexo condicionado de sua reação, não se contendo e à risca apanhar e comer a sucosa polpa da fruta, sem reclamar, nem achar ruim, sob os aplausos da galera.

Houve uma gloriosa época, precisamente nos meados de 1950, em que o domínio da comunicação se dava através das transmissões radiofônicas. A carência de dotes de realeza sentida nos umbrais das elites nativas, supria-nos a sublimação de reis criados, quer fossem o rei da voz, o rei do futebol, o rei momo, rei da besteira, rainha do rádio, e muitos outros que serviam para simplificação das nossas carências nobrelescas. A porta voz do rádio musicado, a “Pequena Notável” como era fantasiada, engalanou-se com um cacho de banana, em forma de chapéu, montada sobre sapatos de plataforma, para crescer aos olhos dos seus fãs, cheia de barangandãs, saiu por aí cantarolando a música “Xiquita Bacana”. Carmen Miranda sabia que o sucesso de suas extravagâncias decorriam não das bananas que a enfeitavam na forma de símbolo fálico diante do público nacional que a acolheu. A música dizia de uma vedeta da Martinica que se mostrava nua, vestida com a singela casca de uma banana nanica.

Naquele tempo, reinava a política da “boa vizinhança” dos gringos do Norte para com os caboclos da América abaixo do Equador. Tudo nos conforme, sob pena de baixar o “the big stick” (o grande cassetete), que a todos enquadrava como “republiquetas de bananas”. Carmem Miranda sentiu o clima e foi para Hollywood em busca da fama, ao ritmo do sucesso e das coreografias bananeiras. Sua dança sensual, as bananas enfatiotadas, suas músicas e letras patrioteiras e os filmes cantarolados de que participou, despertaram Walt Disney a vir ao Rio de Janeiro, trazendo consigo o papagaio malandro “Zé Carioca”, seus calungas musicados, os filmes de desenho animados e as revistas de quadrinhos. Um dos personagens desses tempos de Walt Disney era o bombado Popeye, o marujo que ensinava maus modos ao comer e provocou indigestão no público americano pelo consumo imoderado do espinafre enlatado. Popeye desapareceu de cena com os músculos deformados, iguais a propaganda enganosa de seus idealizadores. Não conseguiu ao menos convencer sua noiva, a magricela Olívia Palito, de consumir o alimento que poderia ter-lhe encorpado os seios, a voz e a bunda. Dos filmes de que se utilizou para convencer o público cita-se “O Marinheiro Popeye e o Bebê que comia Espinafre”. Carmem Miranda faleceu precocemente. Seus fãs jamais reclamaram de que lhe tenham sido atiradas, nem que tenha comido, bananas nos palcos durante as suas performances.

O atleta Daniel Alves pareceu pouco incomodado com o ato que se atribuiu racista. O corte elegante de sua fatiota e os seus olhos verdes da cor do mar miram com espanto a repercussão mundial do gesto de ter jogado contra si uma banana no campo de futebol. Sem outra profissão por enquanto, Daniel vai continuar a jogar e a comer banana, independentemente do preço da fruta ter disparado, ou do espertinho, oportuno da causa, que jogou no mercado milhões de camisetas com a estampa de uma banana e a marca registrada: “Somos Todos Macacos”. Seus lucros serão astronômicos. Sou de comer banana, mas não sou macaco, nem idiota.

 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

MORRE O HOMEM, NASCE UMA ESTRELA




A ETERNIDADE RECEBE O CANTOR ALEGRIA


Morre, aos 75 anos, o cantor Jair Rodrigues


11.out.2012 - Jair Rodrigues ganha homenagem pela participação no filme "Super Nada", de Rubens Rewald. André Muzell e Roberto Filho/AgNews

O cantor Jair Rodrigues morreu na manhã desta quinta-feira (8), aos 75 anos, em sua casa em Cotia, na Grande São Paulo. A assessoria de imprensa do artista confirmou ao UOL que ele foi para a sauna de sua casa na noite da quarta-feira e não saiu mais de lá. A família só encontrou o corpo por volta das 10h.
A causa da morte ainda é desconhecida. O corpo está no local e vai passar por exames da perícia. Um carro funerário está na casa, mas ainda não há informações sobre velório. Rodrigues deixa a mulher Clodine, dois filhos (os também cantores Luciana Mello e Jairzinho) e quatro netos, que estão reunidos na casa do artista. Parentes e amigos, entre eles o cantor Simoninha, filho de Wilson Simonal, também chegaram para confortar a família.
Ainda de acordo com sua assessoria, Jair Rodrigues não apresentava problemas de saúde e cumpria normalmente a agenda de shows. A última apresentação fez foi no dia 5 de abril no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, com ingressos esgotados.
Jair Rodrigues ficou conhecido por seu maior sucesso, "Deixa Isso Pra Lá", considerado o primeiro rap brasileiro, e pelas parcerias com Elis Regina no programa de TV "O Fino da Bossa" e nos álbuns "Dois na Bossa".
Jair, filho da bossa e do samba
Jair Rodrigues de Oliveira nasceu no dia 6 de fevereiro de 1939 em Igarapava, interior de São Paulo. Ele iniciou a carreira musical nos anos de 1950 e, na década seguinte, atingiu o sucesso em programas de calouros na televisão.

Em 1964 gravou seu disco de estreia, "Vou de Samba com Você". Duas canções da época, "Brasil Sensacional" e "Marechal da Vitória", embalaram a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Chile. Em 1964, veio um de seus maiores sucessos, "Deixa Isso Pra Lá", que cantava até hoje nos shows e participações de TV.
Ao lado de Elis Regina, Jair Rodrigues se tornou um dos grandes nomes do samba ao participar do notório "O Fino da Bossa", programa da TV Record que foi ao ar entre 1965 e 1967.
Com jeito brincalhão de malandro e voz potente, Jair ficou nacionalmente conhecido através dos duetos com a "Pimentinha". O trabalho rendeu três discos: "Dois na Bossa" nos volumes 1, 2 e 3, gravados ao vivo. Na época, foi um dos primeiros registros a atingir mais de 1 milhão de cópias.
A interpretação de Jair ganhou dimensão que ressoa até hoje principalmente com a canção "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo de Barros. A canção sertaneja foi sensação no Festival da Música em 1966, principalmente pelo fato de Jair ter ficado conhecido como um artista do samba. "Disparada" acabou empatada com "A Banda", de Chico Buarque.

Jair realizou turnês pela Europa, Estados Unidos e Japão. Em 1971, gravou o samba-enredo "Festa para um Rei Negro", da Acadêmicos do Salgueiro.
Carismático, Jair Rodrigues revisitou o disco "Dois na Bossa" no palco dedicado a Elis Regina na Virada Cultural de 2012, em São Paulo. Na ocasião, ele afirmou que Elis havia sido um "grande amor". Ele voltaria a relembrar da época ao assistir o espetáculo "Elis, a Musical", quando aplaudiu de pé e foi homenageado pelo público.
Em julho do ano passado, Rodrigues se viu envolvido em uma polêmica após aparecer em Brasília ao lado de artistas que se declaravam contrários à aprovação de um projeto de lei que criou regras mais rígidas para o funcionamento do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Posteriormente, o cantor negou ao UOL que estivesse do lado do Ecad: "Eu não represento o Ecad e o Ecad não me representa", disse.

O último trabalho, o disco duplo "Samba Mesmo", é uma homenagem do cantor ao samba e à seresta, e foi lançado em fevereiro.
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Fonte: Do UOL, em São Paulo
A Diferença do casamento da filha do rico para a do pobre...

(*) Gutenberg Costa.

Em mansão de rico quando se toma umas e outras e bate aquele papo intelectual, ás vezes nem tanto, senta-se em cadeiras luxuosas, mesas mais luxuosas ainda e o que se vê é geralmente o que eu tanto ouvia quando criança lá na cidade de Pendências/RN: “Muita farofa é sinal de pouca carne!”. Bem, vou contar uma história verdadeira que presenciei em minha vida anos passados, quando fui convidado para prestigiar um badalado enlace matrimonial de uma filha de um rico aqui em Natal. A dita festança da filha do rico deu-se num desses salões de recepções com muito requinte e decoração cinematográfica. Inúmeros fotógrafos, cinegrafistas e seguranças. Mesas ornamentadas e violonistas acompanhando a bela noiva na triunfal entrada da festa. Muitas fotos, abraços e comida que era bom para a ocasião – nada! Fiquei esperando vendo o glamour ambiental dos ricaços e com muita fome tive que chamar um elegante garçom e suplicar-lhe algo que aliviasse a miséria na barriga. Este educadamente desculpou-se e tentou explicar-me que só a partir das 22 horas era que iam chegar às mesas as coxinhas e pastéis, devido aos rituais do então casamento. O jantar mesmo só ás 23 horas. O mesmo observando minha insistência, ainda trouxe-me, mesmo escondido uma dose de uísque e uma coxinha no bolso. Contrariado com tanta demora gastronômica, tomei a bebida em um só gole e muito ligeiro e desconfiado ‘capei o gato’, em disparada para casa em procura de jantar algo típico sertanejo e bem nutritivo. Lá em casa graças a Deus, a garrafa de café está sempre cheia e não falta mistura pronta para uma visita seja que hora for. Algum tempo, ‘fujo’ como o diabo da cruz de certos ambientes luxuosos, traumatizado com a espera e a fome que passei na festa do casamento da filha do tal rico. E não adianta os amigos insistirem, que o milagre eu conto-os, mas esconderei os nomes dos santos até a morte!
Certa feita, estando na pequena e acolhedora cidade de Serra Caiada em uma pesquisa de campo, eis que fui convidado ás pressas para uma festinha de casamento da filha de um pobre agricultor da região. Chegando a referida festa, o pai da jovem filha recém casada, muito preocupado com minha presença, foi logo me dizendo em cima da bucha: “Dotô, me adesculpe a mesa que só tem três pernas, mas encostada na parede não cai não senhô. E me perdoe o senhor se assentar num tamborete velho”. Me vendo tranquilo e alegre com a sincera recepção, foi logo tratando de me apresentar o casal feliz de nubentes. O pai da moça pobre não arredando da minha mesa, começou indagando-me: “O dotô quer celveja, vinho, uísque, cachaça, rum montila, conhaque e batida de maracujá?”... “E o quê o dotô vai querê pra fazê a parede?” E emendou sem perder tempo o velho pai que de pobre não tinha nada: “A gente tem perparado nas panela: guiné, galinha caipira, poico, carne assada, picado de carnêro e de poico, pato, farofa, arroz, macarrão, feijão verde e feijoada!”. Fartura que só em tempo de eleição nas fazendas dos antigos coronéis nordestinos aos eleitores encabrestados!
Como estava na frente da casinha ainda deu para ouvir o bom ‘forró pé de serra’ animando os convidados do casamento pobre lá no terreiro do fundo do quintal. Não seria correto chamar essa festa de pobre. Pois pobre é o cão! Já dizia uma velha máxima tão ouvida na feira do meu Alecrim. E ainda acrescentaria agora aos leitores: Pobre é a miséria, que é encontrada em meio á tanta riqueza de certos bestas viventes que dizem morar ‘trepados’ em apartamentos! Rico mesmo, era como dizia minha saudosa e sábia mãe, dona Estela: “Meu filho, rico de verdade é aquele que tem saúde e não deve a ninguém!”.
Hoje vivo feito gato ‘escaldado’ com ‘medo de água fria’, de certos convites luxuosos impressos que me chegam, bem como também a certas festas do tipo ‘vips’,‘chiques’ ou mesmo como se dizia antigamente - muito ‘granfinas’. A cada festa de ‘arromba’, parece que o filme agora contado volta-me à cachola de folclorista. Confesso que já vi quase tudo nesse mundão esquisito e perigoso como diria o falante ‘Riobaldo’, da clássica obra de Guimarães Rosa, mas juro que ainda não tinha parado para comparar a festa do pobre e com a do rico. Aí pensei: na beira da piscina do rico um garçom bem vestido serve aos convivas: coxinha, pastel, azeitona, salsicha cortada em rodela, palito, água mineral e guardanapo. Tudo isso no centro de uma mesa bem florida e decorada. E lá no quintal do pobre cheio de sombra e água fresca a gente mesmo é quem bota a mão na cumbuca: tamborete, mesa velha, simplicidade, alegria, bate papo sem interesse financeiro e diga-se - muita fartura em comida e bebida. Festa de causar inveja a muita gente, principalmente aqueles, que se acham endinheirados e além de tudo – famosos em colunas sociais e ostentadores dos face books...

(*) É presidente da Comissão Norte Rio Grandense de Folclore.

Está só no começo

“Povo é a dimensão humana do Estado, o conjunto dos cidadãos de uma Nação”. (Hans Kelsen, jurista e filósofo austríaco)
(*) Rinaldo Barros

Convido o leitor para um breve passeio pela história dos movimentos populares do patropi.
Entre 1930 e 1945, o Brasil enfrentou movimentos, como a Revolução Constitucionalista, em 1932; a Intentona Comunista, em 1935; a Intentona Integralista, em 1938; que levaram grande número de pessoas às ruas. Mas protestos ou tentativas de levantes não aconteceram apenas durante o governo de Vargas. Antes de seu primeiro mandato, homens pegaram em armas em São Paulo tentando derrubar as oligarquias que há anos vinham governando o país.
Mais tarde, nos anos 1960, com a recessão econômica, inflação, desemprego e o arrocho salarial, o povo manifestou seu descontentamento por meio de greves e passeatas; culminando com o movimento militar de 1964, regime autoritário que perdurou até 1985; sufocando os movimentos populares.
Atualmente, é impossível ignorar a dimensão que os protestos - contra o (des)governo federal e a incapacidade de alguns governos estaduais para atender à demanda crescente dos bens da cidadania - têm adquirido em todo o país. As manifestações representam a indignação coletiva com a precariedade dos serviços públicos e remete à histórica Revolta do Vintém de 1879, quando manifestantes no Rio de Janeiro desafiaram a monarquia do Brasil por causa das tarifas dos bondes.
O fato é que, de um modo geral, o transporte público no Brasil é caro, inseguro e mal gerido, afetando especialmente os mais pobres que não têm escolha a não ser contar com esse sistema para sobreviver.
Em plena vivência da normalidade democrática, a insatisfação popular alimentada pela perda da Segurança, em diversas áreas urbanas, chegou a tal ponto que os manifestantes protestam e depredam ônibus, lojas, bancos e logradouros públicos durante dias seguidos; em confronto com forças policiais, atirando bombas de efeito moral e balas de borracha.
Aliás, as tropas estão cada vez menos preparadas para conviver com os movimentos sociais em luta; porquanto foram e são treinadas fundamentalmente para combater a criminalidade. Pergunto eu:
Se a violência é urbana, pode-se concluir que uma de suas causas é o próprio espaço urbano?  
Os especialistas na questão afirmam que sim: nas periferias das cidades, sejam grandes, médias ou pequenas, nas quais a presença do Poder Público é fraca, o crime consegue instalar-se mais facilmente.
São os chamados espaços segregados, imensas áreas urbanas em que a infraestrutura urbana de equipamentos e serviços (saneamento básico, saúde, sistema viário, iluminação, transporte, lazer, educação, segurança e acesso à justiça) é precária ou insuficiente.
Sem dúvida, com a inovação tecnológica, estão surgindo novas camadas sociais (com nível de aspiração crescente) e novas formas de mobilização e luta. Por sua vez, a Segurança deve ser (mas ainda não é) considerada um direito de cidadania, que é fundamental para o desenvolvimento econômico e social.
Nem o Estado nem o cidadão possui ainda essa consciência.
E, pelo jeito, o PT governo – longe do Brasil real - não tem a menor ideia sobre essa complexidade social, até porque está focado apenas em “partir pra cima”; pra ganhar as eleições e se perpetuar no poder.
O caro leitor há de convir que a combinação desses movimentos de insatisfação popular, com a tendência atual da economia brasileira - eivada de incertezas - (fundada no consumismo, com inflação crescente, crescimento baixo, juros altos, desindustrialização, apagão educacional, e infraestrutura sucateada) provoca um aumento significativo das tensões, com resultado imprevisível.
É preciso atentar para o seguinte: o controle de multidões ainda não faz parte do currículo regular das nossas Academias de Polícia. Tal como ocorre atualmente, a Polícia, o Estado, ainda tende a enxergar os manifestantes insatisfeitos (o povo) como se fossem inimigos. Visão incompatível com a Democracia.
E, pior, a intervenção operacional das Forças Armadas pode ser um “tiro no pé” federal, pois são capacitadas para combater, destruir e matar. Não quero nem imaginar o cenário, se o Exército brasileiro atirar e ferir ou matar um jornalista ou turista estrangeiro durante o evento patrocinado pela FIFA.
Registre-se que, no momento em que escrevo, dezenas de manifestações estão sendo organizadas para o período da Copa do Mundo, notadamente no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio. Clima explosivo!
O debate está aberto, e urge capacitar e aparelhar melhor o Estado brasileiro para conviver com o Estado Democrático de Direito; pois a insatisfação popular é crescente. E está só no começo.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Guga



Fatos reais de uma vida irreal  
Por: Augusto Coelho Leal, Engenheiro Civil

"O maior castigo que o destino aplica ao homem casado é ver que sua mulher sempre acaba por se parecer com sua sogra."

Oscar Wilde



            Pois é gente, a vida nos foi dada para vivê-la com intensidade até o fim. Sou um brincalhão, desde criança sou uma pessoa que gosta muito de ser alegre e transmitir essa alegria.

            Certo dia, estava com minha esposa fazendo compras em um super mercado e quando chegou na hora de pagar a despesa, eu olhei para ela e brincando disse-lhe.

            - Chegar em casa você vai ficar de castigo, trancada no quarto, porque está gastando muito dinheiro.

Uma senhora que estava no outro caixa, esticou-se todinha, balançou a cabeça rodopiando o cabelo, empinando a bunda olhou para mim (eu esperava um batido) e disse – Eu adoro homem brabo.

             Meu cardiologista pediu que eu fizesse uns exames em uma Casa de Saúde desta cidade. Pois bem, chegando lá, uma jovem médica muito bonita, cabelos longos e muito bem penteados, começou a preparação para fazer o exame. Passou um gel gelado no tórax. Senti mais perto o perfume dos seus cabelos. Ela foi colocar um dos eletrodos quase na parte posterior esquerda do ombro. (Eita Dr. Berilo, ta certo?) Aí “deu a cachorra das mulestas” e quando senti os cabelos envolvendo meu rosto, dei uma inspirada profunda. Ela, percebendo, parou, olhou para mim e perguntou.

            - O senhor está sentindo alguma coisa? Respondi.

            - Estou sim senhora.

            - O senhor está sentindo o quê?

            - Saudade dos meus dezoito anos de idade.

            Ela fez um ar de riso e perguntou – Fora isto o senhor sente alguma coisa?

            - Não senhora, está tudo bem, prosseguimos com o exame.

            Nós temos uma confraria ali no Bar do GG. Morreu um amigo nosso (Não é novidade, na nossa idade morre um por mês). Devido à dificuldade no trânsito, recebo um telefone quase na hora do enterro, do meu bom amigo Marcos Araujo, nervoso (também não é novidade) e pergunta.

            - Ô Guga me ajude, qual o melhor caminho para chegar no Cemitério Morada da Paz?

            - Depende amigo, se você quer chegar vivo, você faz assim –expliquei o caminho- agora se você quer chegar morto, vá ali na Avenida Um, compre veneno para matar rato, coma com queijo, telefone para nosso amigo Magnus que ele providencia o resto.

            - Vá tomar no (impublicável)

            Pensei comigo mesmo, puxa vida, até fazendo um favor você leva um esporro.

            Crianças, os netos são um bálsamo para nossa velhice. Uma das minhas netas, na época com uns quatro anos de idade foi tomar banho para o almoço. Demorou um pouco e minha esposa foi olhar o que estava havendo. Ela derramou o xampu quase todo na cabeça e era aquela alegria de criança. A avó vendo aquilo falou.

            - Ô Júlia, se você usar muito xampu seu cabelo vai cair todinho.

            Pois bem, na hora do almoço ela olhou para mim e perguntou a avó.

            - Ou Vovó, Vovô usou muito xampu foi? Para quem não me conhece sou totalmente careca.

            Eu tinha uma secretária no DER, que eu queria e quero muito bem. O nosso relacionamento não era de chefe para subordinada, era sim de ótimos amigos, muito alegre casava bem com as minhas brincadeiras. Ela na época não tinha carro e adorava pedir carona aos colegas, às vezes saia correndo, gritando – Me leva, me leva. Um belo dia, ela ia viajar para Fortaleza, para ver o Papa. Na saída do expediente da tarde, manobrando meu carro, quando a vejo abrir a porta do carro e “pinota” no banco – Vou com você, disse. Ela pensou que eu ia para a cidade, mas eu ia apanhar minha esposa no Campus Universitário. Quando percebeu o caminho, começou a gritar para parar o carro. Não parei, sabia que dava tempo de levá-la até o local que ela queria – Cidade Alta. Pois bem, ela começou a chorar como uma criança, então eu disse.

            - Pare de chorar, se não eu vou dizer a Alzira que você me chamou para ir para um motel, mas eu não aceitei, pois sou muito bem casado. Aí o choro diminui, mas o rosto já deixava as marcas. Quando Alzira entra no carro eu disse.

            - Olhe Alzira, Fulana me convidou para ir para um motel, mais eu disse que não ia, pois sou um homem direito, embora burro.

O choro recomeçou aos gritos de é mentira e só parou quando Alzira disse para ela que sabia muito bem com quem tinha casado.

            Tudo terminou bem, com um beijo na face e votos de uma boa viagem, mas sem eu deixar de ouvir.

            - Você me paga, sua peste.