sexta-feira, 13 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
DORIAN GRAY NEL BLU DIPINTO DE BLU
“Eis-me agora, rio acima,
construindo o entardecer.
...
Mas tanta cor não cabe nesse espaço
e arrebenta os limites que a circundam
...
Desta planície azulverde
cidade de rio e mar,
irei até onde a terra
deixou terras por achar.”
Carlos Pena Filho
O Rio Grande do Norte é vário e múltiplo. E patrimonialista, quando se trata de assuntos culturais. Adotou um jeito de amealhar os seus valores, a partir do estabelecimento de uma moeda múltipla, mas única, com exemplares exclusivos de cada espécie. Somos cautelosos. Ainda guardamos o sistema das capitanias, retirando-lhes, todavia, o caráter hereditário. O que há de novo no modelo reformado é exatamente isso, o legado extingue-se com os donatários. Porque estes são únicos.
A terra potiguar foi distinguida por três donatários, únicos, insubstituíveis: o olímpico Cascudo, que poderia ter emprestado o seu nome para designar a sua terra natal, tanta é a sua grandeza; o poeta Jorge Fernandes, moderno antes dos antecipados e soi-disant modernistas - pré e pós modernista, portanto; e um ícone contemporâneo, idealizador de uma linguagem plástica intimista, bem nativa, no entanto universal: Dorian Gray Caldas.
Um ganso de plantão no capitólio potiguar está me azucrinando os ouvidos, cochichando o nome de Newton Navarro. Está correto, concedo. Mas, creio, nas bainhas da minha modesta estatura, que Navarro, mestre do desenho e das aquarelas, íntimo do colorismo, era mais abrangentemente regionalista e menos nativo nas suas composições. Talvez tenha descoberto uma linguagem universal que aculturou à sua terra, diversamente de Dorian, que criou uma linguagem regional para universalizá-la pela originalidade, como uma marca, uma griffe.
Ouso mais. Tenho para mim que não há Dorians, senão o personagem de Wilde, nem clones, nem cópias, porque o seu traço e a tessitura das suas composições são inconfundíveis. Podem até não gostar do seu desenho ou da sua policromia, por razões estéticas, mas haverão de conceder-lhe a autoria exclusiva, uma digital, uma patente.
Em Dorian Gray não encontro a pomba branca do poeta visual Pablo Ruiz, que vez por outra se aninhava entre os dedos plásticos do gigante Newton, mas um golinha miúdo, cantante e trêfego, escapando com facilidade das mãos operárias do veranista-ano-inteiro de Búzios para esvoaçar as suas telas.
Aliás, as mãos de Dorian são o contraponto da sua singular sensibilidade, da alma poética e da visão lírica daquele em quem vislumbrei, quando da apresentação que fiz do seu livro `Poema para Natal em Festa`, ”o extraordinário pintor de marinhas, azuis cartografias reveladoras da essência astral das nossas praias”.
Mas é no traço, na facilidade com que, com inigualável economia, sem sovinices na harmonia, tece as suas composições, que se notabiliza o donatário, pintor-poeta-tapeceiro-escultor e desenhista, que em nada se identifica com o personagem de Wilde.
Tem mãos enormes e distorcidas, como um operário ou um agricultor do inexcedível Portinari, mas prima por ser um artífice de tamanha sensibilidade que com elas acende estrelas e luas e faz delicadíssimos origamis de flores e aves. Tal como se tem no poema de Carlos Pena Filho, opera-se uma tocante empatia com o ofício do belo: “Em tuas mãos, manchadas de ternura, pousaram brancos pássaros...”. Quanta leveza no traço poético do pintor, ou na pintura do poeta, como se as mãos repetissem a navegação e o risco dos pássaros no vôo.
Nesse ponto, tomo de empréstimo uma imagem metafórica, criada por Cascudo para identificar a leveza do andar das francesas de sua época: “ A allure da francesa, leve, rápida, tocando a terra o suficiente para não ser inteiramente vôo...” As mãos do poeta-pintor-poeta tocam a tela e o papel apenas o suficiente para que elas não se confundam com a própria obra e o artista, diluído na tela, ensandecido pela beleza, comandasse à sua obra: parla!
É tanta a fascinação que a obra de Dorian exerce sobre a minha estética, que cometo, sempre, apropriações indevidas, confesso temerariamente. Coleciono ilustrações de livros e revistas, reproduções de algumas marinhas e tapetes; fotografo alguns quadros – mas, sobretudo, os desenhos, as iluminuras tão singelas e expressivas a um só tempo. Porque Dorian não produz um traço, não rabisca aleatória ou automaticamente uma figura, ou uma paisagem, ele “interpreta” o momento ou a composição que trabalha, oferecendo ao visualizador um estado de espírito, a fixação de um instante banal eternizado pela beleza.
Senão, confiram as ilustrações da Revista do Conselho Estadual de Cultura do Rn, (edições de 2005, 2006 e 2007 – especialmente as ilustrações das “Cervantinas”) ou as iluminuras do seu livro, já referido, (“Poemas para Natal em Festa”) ou “Cartas da Redinha”, de Vicente Serejo, editados pela “Nossa Editora”, nos anos oitenta.
São esfumados, grafites, riscos, geniais rabiscos, menos que o risco imaginário de uma andorinha num céu primordial, um fio da teia da aranha, da renda negra do véu missal, ou dos cabelos de tão negros, azulados, das morenas do congo.
Em “Sonhos”, Kurosawa produz alguns cenários que de fato são, ou poderiam ser do mestre Van Gogh e imagina um diálogo entre um amante da obra do pintor e o genial artista holandês, em que, atendendo a uma pergunta do interlocutor, Van Gogh diz que a natureza põe todo o seu acervo a serviço do pintor, estaria tudo subjacente ao alcance do observador, por isso que a tarefa, a missão estética do artista, seria apenas a de “ver” e “interpretar” os cenários e os modelos humanos.
Concordo que o artista plástico não pode se caracterizar como mero fotógrafo, trabalhando com fidelidade obsessiva o modelo que o atrai, embora haja mérito neste tipo de trabalho; nem como copista do “ver” alheio, como contrafator de idéias ou de estilos alheios. Haverá de distinguir-se pelo seu modo especial de “enxergar” a realidade, revelando outras perspectivas, novas expressões, uma estética peculiar que poderá ou não provocar empatia no observador. Não importa. O bom artista busca a comunicação com o mundo, instiga a empatia, mas não compõe para agradar.
Nas suas marinhas, Dorian evola os elementos pictóricos, envolvendo-os com a sua linguagem e os acumpliciando, sem convertê-los em subalternos uns dos outros. Há uma unidade distinguível, onde se percebe uma “atmosfera” – como distinguem os impressionistas - transitória entre o azul e o verde, elemento de fusão da paisagem. Mas releva-se o mar, as pedras, a areia e a sugestão de alguma vegetação circunstancial.
O mais curioso, na minha percepção leitora incipiente, é que não encontro o desértico ou a solidão na paisagem Doriana, de resto vazia do ser humano. Porque não resisto ao imaginário, conduzido pela composição e “vejo” sugestivamente um pescador, uma mulher solitária, uma criança e o seu cachorro, ou um contemplativo desfrutando aquela cena. Como eu, talvez como os guardiões dos belos quadros.
Essas marinhas se parecem e se distinguem. São assemelhadas no “clima”, mas diferentes na “leitura” de Dorian. Cada uma delas guarda conformidade com o momento, a circunstância, a emoção peculiar do artista. Por isso que, no primeiro momento, temos a impressão de que quem viu uma, viu a todas. Depois, observando-se atentamente e se deixando envolver pela mística do cenário, tem-se a certeza de que há apenas a semelhança temática que nos conduz a essa generalização simplificadora.
Quanto ao desenho não há como não identificá-lo como obra de Dorian.
Percebe-se a avareza no supérfluo, mas a riqueza na essência, pari passu com a acessível visibilidade do tema elaborado. Por vezes, parece-me que o desenhista pretende provar que não é necessário o “barroquismo”, o traço rebuscado e alegoricamente ornado para se obter um resultado estética e figurativamente satisfatório. Às vezes imagino que o homem faz o estilo, que é o próprio ser Doriano que se projeta nos desenhos.
Já vi Dorian mover o “crayon” três ou quatro vezes sobre o papel e oferecer-nos uma bela e rica composição.
Não sou crítico de artes, nem sequer um connoisseur. Minhas opiniões se limitam à minha percepção e senso estético pessoal. Vale dizer, gosto ou não gosto, na justa medida em que a obra me diz ou se recusa a me dizer alguma coisa, negando-me a oportunidade de interagir com ela.
Com Dorian eu consigo ler mensagens, reviver o imemorial. Sobretudo quando recolho pedaços de “Búzios” nas marinhas. Ou quando identifico a festa de Reis, o martírio de Frei Miguelinho, o Quixote que reverencia Cascudo, enquanto este degusta um charuto; os tipos populares da minha terra. Por isso proclamo a nordestinidade potiguar de Dorian e o elejo o pintor, desenhista poeta e tapeceiro mais comprometido com a terra norte-rio-grandense, rendendo-lhe as merecidas homenagens.
Não bastasse esse tudo de artes plásticas, o poeta está subalterno e é estuário do pintor, exatamente pela visão plástica de que se alimenta o poeta. Ora, se o poeta é contemplativo, valendo-se dos olhos da alma, que dirá se a sua sensibilidade for potencializada pela visão de quem sabe ver, de quem tem o ofício e a qualidade de valer-se de forma privilegiada dessa sua percepção sensorial?
É um poeta que explora o seu onipresente nativismo, ora “brincando” o Boi Calemba e o Pastoril, multicolorindo as escrituras de metáforas e de estórias líricas, ora se atirando no azul danado de azul do mar e do céu potiguar, os pés descalços deslizando pelas alvas areias das dunas e marcando o território da poesia, como os animais o fazem com o seu espaço físico.
Convertendo em sóis, as manchas amarelas das marinhas e em agasalhos para as noites de pequenos vendavais e de estrelas à beira-mar, os tapetes ornados de motivos paisagísticos e figurativos saídos dos seus sonhos mais reais.
Viaja, sempre no dorso da ave-do-paraíso de Nassau, sobre o Rio Potengi até o portal do Atlântico, e faz reverência a Rifoles que se incrustou na pedra que aportuguesou o seu nome.
É caranguejo, goiamum, siri, sargaço arribado e retornado, movimento de maré, vaga oceânica, espuma rendada depositada à beira-mar, sol, sóis, estrela Dalva, lua caprichosa banhando-se no mar de Búzios, Maria Farinha pequena, ágil e imponderável. Caju, Manga, Guajiru, Mangaba, Coco verde...
Eis que no remanso, o aguarda uma sereia morena, sabendo a Gauguin, coroa de flores, dentadura alva, boca transpirando sorriso de cravo, vestido encarnado e azul, com certeza a Diana do Pastoril de ontem que ilustrou a tela e um tapete, hoje doce e compassiva oferta para uma teia poética.
Em casa, Wanda, a bem-amada o saúda com um arranjo de lindas e singelas flores baldias, colhidas ao acaso, tão floridos os arredores do lar. Dione debulha o dia numa tela recém-violada. Adriano exerce o oficio fácil de poeta porque posseiro desse cotidiano, cheio de harmonia e de beleza. Presente, a memória da mãe, duplamente Ninfa, no pressentido arrastar de sandálias, nos quadros e tapetes guardados num relicário.
Família iluminada esta, que transcende a casa de Dorian e alcança Zaira, a fazedora de vitrais, a que filtra o sol e o distribui em mil cores, nos templos religiosos e pagãos, e Isa, a dançarina que alça vôo com os pássaros e se torna luz e sombra, a quem cabe a allure a que se refere o Mestre da Junqueira Aires.
Herdeiro também de Luis Rabello, poeta-poeta porque é também trovador, o que é porque é, porque nasceu com esta compulsão e não aprendeu a despir-se das palavras que costumam se reunir em rimas por encanto.
A esse conjunto familiar harmonioso nunca faltou a sugestão de Adélia Prado quando nos diz que certo dia o pai mandou pintar a casa de alaranjado brilhante e que desde então estavam constantemente amanhecendo. Que bela metáfora para descrever a realidade feliz de um pintor-poeta ou poeta-pintor e a sua família de artistas.
Por último, mas não menos importante, a sua característica pessoal mais marcante: o cavalheirismo. A fidalguia natural. Porque não ousar dizer: a doçura. O domínio vocacional de outra arte – a de ser bom e de fazer o bem; a coragem de ser “clean”, tal como a sua arte e a sua poética, numa época “dark” que espalha a negritude e a rutura sob a roupagem de vanguardismo.
Tenho os meus “anjos” já identificados na série de “perfis” que publiquei e a qual este texto se agrega. Disse, nesses esboços já publicados, que os amigos são como anjos, homenagem ao ofício da amizade, podendo chegar a arcanjo ou tornar-se um dos “caídos” por infidelidade do mandato recebido. Jales Costa, Armando Holanda e Bartolomeu Correia de Melo são da espécie angelical: Jales é anjo-filósofo, monitor de Platão; Armando foi promovido a arcanjo; Bartolomeu é anjo-trovador com a missão de estabelecer os fundamentos da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Rio dos Homens.
Dorian é da espécie que auxiliou Rafael, Michelangelo e Fra Angelico nas composições sacras e por isso foi ungido por Deus, por merecimento e confiança, à condição de desenhista e pintor de temas profanos, com ampla liberdade para criar e até de afastar-se do formalismo acadêmico. Mais que alforria, foi um ato de compaixão e de amor do Criador às suas criaturas. Quis o Pai Eterno que ele fosse deslocado das oficinas divinas, para as forjas planetárias. Para oferecer este prazeroso desfrute aos seres humanos.
Pedro Simões – Professor de Direito (aposentado), Escritor e Advogado.
“Eis-me agora, rio acima,
construindo o entardecer.
...
Mas tanta cor não cabe nesse espaço
e arrebenta os limites que a circundam
...
Desta planície azulverde
cidade de rio e mar,
irei até onde a terra
deixou terras por achar.”
Carlos Pena Filho
O Rio Grande do Norte é vário e múltiplo. E patrimonialista, quando se trata de assuntos culturais. Adotou um jeito de amealhar os seus valores, a partir do estabelecimento de uma moeda múltipla, mas única, com exemplares exclusivos de cada espécie. Somos cautelosos. Ainda guardamos o sistema das capitanias, retirando-lhes, todavia, o caráter hereditário. O que há de novo no modelo reformado é exatamente isso, o legado extingue-se com os donatários. Porque estes são únicos.
A terra potiguar foi distinguida por três donatários, únicos, insubstituíveis: o olímpico Cascudo, que poderia ter emprestado o seu nome para designar a sua terra natal, tanta é a sua grandeza; o poeta Jorge Fernandes, moderno antes dos antecipados e soi-disant modernistas - pré e pós modernista, portanto; e um ícone contemporâneo, idealizador de uma linguagem plástica intimista, bem nativa, no entanto universal: Dorian Gray Caldas.
Um ganso de plantão no capitólio potiguar está me azucrinando os ouvidos, cochichando o nome de Newton Navarro. Está correto, concedo. Mas, creio, nas bainhas da minha modesta estatura, que Navarro, mestre do desenho e das aquarelas, íntimo do colorismo, era mais abrangentemente regionalista e menos nativo nas suas composições. Talvez tenha descoberto uma linguagem universal que aculturou à sua terra, diversamente de Dorian, que criou uma linguagem regional para universalizá-la pela originalidade, como uma marca, uma griffe.
Ouso mais. Tenho para mim que não há Dorians, senão o personagem de Wilde, nem clones, nem cópias, porque o seu traço e a tessitura das suas composições são inconfundíveis. Podem até não gostar do seu desenho ou da sua policromia, por razões estéticas, mas haverão de conceder-lhe a autoria exclusiva, uma digital, uma patente.
Em Dorian Gray não encontro a pomba branca do poeta visual Pablo Ruiz, que vez por outra se aninhava entre os dedos plásticos do gigante Newton, mas um golinha miúdo, cantante e trêfego, escapando com facilidade das mãos operárias do veranista-ano-inteiro de Búzios para esvoaçar as suas telas.
Aliás, as mãos de Dorian são o contraponto da sua singular sensibilidade, da alma poética e da visão lírica daquele em quem vislumbrei, quando da apresentação que fiz do seu livro `Poema para Natal em Festa`, ”o extraordinário pintor de marinhas, azuis cartografias reveladoras da essência astral das nossas praias”.
Mas é no traço, na facilidade com que, com inigualável economia, sem sovinices na harmonia, tece as suas composições, que se notabiliza o donatário, pintor-poeta-tapeceiro-escultor e desenhista, que em nada se identifica com o personagem de Wilde.
Tem mãos enormes e distorcidas, como um operário ou um agricultor do inexcedível Portinari, mas prima por ser um artífice de tamanha sensibilidade que com elas acende estrelas e luas e faz delicadíssimos origamis de flores e aves. Tal como se tem no poema de Carlos Pena Filho, opera-se uma tocante empatia com o ofício do belo: “Em tuas mãos, manchadas de ternura, pousaram brancos pássaros...”. Quanta leveza no traço poético do pintor, ou na pintura do poeta, como se as mãos repetissem a navegação e o risco dos pássaros no vôo.
Nesse ponto, tomo de empréstimo uma imagem metafórica, criada por Cascudo para identificar a leveza do andar das francesas de sua época: “ A allure da francesa, leve, rápida, tocando a terra o suficiente para não ser inteiramente vôo...” As mãos do poeta-pintor-poeta tocam a tela e o papel apenas o suficiente para que elas não se confundam com a própria obra e o artista, diluído na tela, ensandecido pela beleza, comandasse à sua obra: parla!
É tanta a fascinação que a obra de Dorian exerce sobre a minha estética, que cometo, sempre, apropriações indevidas, confesso temerariamente. Coleciono ilustrações de livros e revistas, reproduções de algumas marinhas e tapetes; fotografo alguns quadros – mas, sobretudo, os desenhos, as iluminuras tão singelas e expressivas a um só tempo. Porque Dorian não produz um traço, não rabisca aleatória ou automaticamente uma figura, ou uma paisagem, ele “interpreta” o momento ou a composição que trabalha, oferecendo ao visualizador um estado de espírito, a fixação de um instante banal eternizado pela beleza.
Senão, confiram as ilustrações da Revista do Conselho Estadual de Cultura do Rn, (edições de 2005, 2006 e 2007 – especialmente as ilustrações das “Cervantinas”) ou as iluminuras do seu livro, já referido, (“Poemas para Natal em Festa”) ou “Cartas da Redinha”, de Vicente Serejo, editados pela “Nossa Editora”, nos anos oitenta.
São esfumados, grafites, riscos, geniais rabiscos, menos que o risco imaginário de uma andorinha num céu primordial, um fio da teia da aranha, da renda negra do véu missal, ou dos cabelos de tão negros, azulados, das morenas do congo.
Em “Sonhos”, Kurosawa produz alguns cenários que de fato são, ou poderiam ser do mestre Van Gogh e imagina um diálogo entre um amante da obra do pintor e o genial artista holandês, em que, atendendo a uma pergunta do interlocutor, Van Gogh diz que a natureza põe todo o seu acervo a serviço do pintor, estaria tudo subjacente ao alcance do observador, por isso que a tarefa, a missão estética do artista, seria apenas a de “ver” e “interpretar” os cenários e os modelos humanos.
Concordo que o artista plástico não pode se caracterizar como mero fotógrafo, trabalhando com fidelidade obsessiva o modelo que o atrai, embora haja mérito neste tipo de trabalho; nem como copista do “ver” alheio, como contrafator de idéias ou de estilos alheios. Haverá de distinguir-se pelo seu modo especial de “enxergar” a realidade, revelando outras perspectivas, novas expressões, uma estética peculiar que poderá ou não provocar empatia no observador. Não importa. O bom artista busca a comunicação com o mundo, instiga a empatia, mas não compõe para agradar.
Nas suas marinhas, Dorian evola os elementos pictóricos, envolvendo-os com a sua linguagem e os acumpliciando, sem convertê-los em subalternos uns dos outros. Há uma unidade distinguível, onde se percebe uma “atmosfera” – como distinguem os impressionistas - transitória entre o azul e o verde, elemento de fusão da paisagem. Mas releva-se o mar, as pedras, a areia e a sugestão de alguma vegetação circunstancial.
O mais curioso, na minha percepção leitora incipiente, é que não encontro o desértico ou a solidão na paisagem Doriana, de resto vazia do ser humano. Porque não resisto ao imaginário, conduzido pela composição e “vejo” sugestivamente um pescador, uma mulher solitária, uma criança e o seu cachorro, ou um contemplativo desfrutando aquela cena. Como eu, talvez como os guardiões dos belos quadros.
Essas marinhas se parecem e se distinguem. São assemelhadas no “clima”, mas diferentes na “leitura” de Dorian. Cada uma delas guarda conformidade com o momento, a circunstância, a emoção peculiar do artista. Por isso que, no primeiro momento, temos a impressão de que quem viu uma, viu a todas. Depois, observando-se atentamente e se deixando envolver pela mística do cenário, tem-se a certeza de que há apenas a semelhança temática que nos conduz a essa generalização simplificadora.
Quanto ao desenho não há como não identificá-lo como obra de Dorian.
Percebe-se a avareza no supérfluo, mas a riqueza na essência, pari passu com a acessível visibilidade do tema elaborado. Por vezes, parece-me que o desenhista pretende provar que não é necessário o “barroquismo”, o traço rebuscado e alegoricamente ornado para se obter um resultado estética e figurativamente satisfatório. Às vezes imagino que o homem faz o estilo, que é o próprio ser Doriano que se projeta nos desenhos.
Já vi Dorian mover o “crayon” três ou quatro vezes sobre o papel e oferecer-nos uma bela e rica composição.
Não sou crítico de artes, nem sequer um connoisseur. Minhas opiniões se limitam à minha percepção e senso estético pessoal. Vale dizer, gosto ou não gosto, na justa medida em que a obra me diz ou se recusa a me dizer alguma coisa, negando-me a oportunidade de interagir com ela.
Com Dorian eu consigo ler mensagens, reviver o imemorial. Sobretudo quando recolho pedaços de “Búzios” nas marinhas. Ou quando identifico a festa de Reis, o martírio de Frei Miguelinho, o Quixote que reverencia Cascudo, enquanto este degusta um charuto; os tipos populares da minha terra. Por isso proclamo a nordestinidade potiguar de Dorian e o elejo o pintor, desenhista poeta e tapeceiro mais comprometido com a terra norte-rio-grandense, rendendo-lhe as merecidas homenagens.
Não bastasse esse tudo de artes plásticas, o poeta está subalterno e é estuário do pintor, exatamente pela visão plástica de que se alimenta o poeta. Ora, se o poeta é contemplativo, valendo-se dos olhos da alma, que dirá se a sua sensibilidade for potencializada pela visão de quem sabe ver, de quem tem o ofício e a qualidade de valer-se de forma privilegiada dessa sua percepção sensorial?
É um poeta que explora o seu onipresente nativismo, ora “brincando” o Boi Calemba e o Pastoril, multicolorindo as escrituras de metáforas e de estórias líricas, ora se atirando no azul danado de azul do mar e do céu potiguar, os pés descalços deslizando pelas alvas areias das dunas e marcando o território da poesia, como os animais o fazem com o seu espaço físico.
Convertendo em sóis, as manchas amarelas das marinhas e em agasalhos para as noites de pequenos vendavais e de estrelas à beira-mar, os tapetes ornados de motivos paisagísticos e figurativos saídos dos seus sonhos mais reais.
Viaja, sempre no dorso da ave-do-paraíso de Nassau, sobre o Rio Potengi até o portal do Atlântico, e faz reverência a Rifoles que se incrustou na pedra que aportuguesou o seu nome.
É caranguejo, goiamum, siri, sargaço arribado e retornado, movimento de maré, vaga oceânica, espuma rendada depositada à beira-mar, sol, sóis, estrela Dalva, lua caprichosa banhando-se no mar de Búzios, Maria Farinha pequena, ágil e imponderável. Caju, Manga, Guajiru, Mangaba, Coco verde...
Eis que no remanso, o aguarda uma sereia morena, sabendo a Gauguin, coroa de flores, dentadura alva, boca transpirando sorriso de cravo, vestido encarnado e azul, com certeza a Diana do Pastoril de ontem que ilustrou a tela e um tapete, hoje doce e compassiva oferta para uma teia poética.
Em casa, Wanda, a bem-amada o saúda com um arranjo de lindas e singelas flores baldias, colhidas ao acaso, tão floridos os arredores do lar. Dione debulha o dia numa tela recém-violada. Adriano exerce o oficio fácil de poeta porque posseiro desse cotidiano, cheio de harmonia e de beleza. Presente, a memória da mãe, duplamente Ninfa, no pressentido arrastar de sandálias, nos quadros e tapetes guardados num relicário.
Família iluminada esta, que transcende a casa de Dorian e alcança Zaira, a fazedora de vitrais, a que filtra o sol e o distribui em mil cores, nos templos religiosos e pagãos, e Isa, a dançarina que alça vôo com os pássaros e se torna luz e sombra, a quem cabe a allure a que se refere o Mestre da Junqueira Aires.
Herdeiro também de Luis Rabello, poeta-poeta porque é também trovador, o que é porque é, porque nasceu com esta compulsão e não aprendeu a despir-se das palavras que costumam se reunir em rimas por encanto.
A esse conjunto familiar harmonioso nunca faltou a sugestão de Adélia Prado quando nos diz que certo dia o pai mandou pintar a casa de alaranjado brilhante e que desde então estavam constantemente amanhecendo. Que bela metáfora para descrever a realidade feliz de um pintor-poeta ou poeta-pintor e a sua família de artistas.
Por último, mas não menos importante, a sua característica pessoal mais marcante: o cavalheirismo. A fidalguia natural. Porque não ousar dizer: a doçura. O domínio vocacional de outra arte – a de ser bom e de fazer o bem; a coragem de ser “clean”, tal como a sua arte e a sua poética, numa época “dark” que espalha a negritude e a rutura sob a roupagem de vanguardismo.
Tenho os meus “anjos” já identificados na série de “perfis” que publiquei e a qual este texto se agrega. Disse, nesses esboços já publicados, que os amigos são como anjos, homenagem ao ofício da amizade, podendo chegar a arcanjo ou tornar-se um dos “caídos” por infidelidade do mandato recebido. Jales Costa, Armando Holanda e Bartolomeu Correia de Melo são da espécie angelical: Jales é anjo-filósofo, monitor de Platão; Armando foi promovido a arcanjo; Bartolomeu é anjo-trovador com a missão de estabelecer os fundamentos da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Rio dos Homens.
Dorian é da espécie que auxiliou Rafael, Michelangelo e Fra Angelico nas composições sacras e por isso foi ungido por Deus, por merecimento e confiança, à condição de desenhista e pintor de temas profanos, com ampla liberdade para criar e até de afastar-se do formalismo acadêmico. Mais que alforria, foi um ato de compaixão e de amor do Criador às suas criaturas. Quis o Pai Eterno que ele fosse deslocado das oficinas divinas, para as forjas planetárias. Para oferecer este prazeroso desfrute aos seres humanos.
Pedro Simões – Professor de Direito (aposentado), Escritor e Advogado.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Dia do Advogado - OAB 2010
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES – Membro Honorário Vitalício da OAB/RN
Lição de TRISTÃO DE ATHAYDE:
"O passado não é aquilo que passa, mas o que fica do que passou".
Com o passar dos anos e já ultrapassado o viço da juventude, teimo em evocar a criação dos cursos jurídicos em 11 de agosto de 1827, gesto que permitiu o surgimento de ideais corporativistas, à imagem da Ordre des Avocats da França, berço cultural dos bacharéis do Brasil.
A data de 11 de agosto, por conseguinte, foi escolhida para comemorar essa grande iniciativa, considerada como O Dia do Advogado, consagrando as forças do primitivo ideal do Parlamento do Império – alforriar, além da independência política que fora conquistada, também a liberdade intelectual, através dos Cursos de Direito de Olinda, Recife e São Paulo, como verdadeira Carta Magna, que nos ofereceram os sempre lembrados Bacharéis Teixeira de Freitas, José de Alencar, Castro Alves, Tobias Barreto, Ruy Barbosa, o Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Fagundes Varella, dentre tantos.
Sob a influência da Revolução de 1930 foi criada a Ordem dos Advogados do Brasil, que teve como primeiro presidente o advogado Levi Carneiro, o qual a comandou por muito tempo, tendo por instrumento primeiro o Decreto nº 19.408, de 18 de novembro de 1930, que assim proclamava:
Art. 17. Fica criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e seleção da classe dos advogados, que se regerá pelos estatutos que forem votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos dos Estados, e aprovados pelo Governo.
O Rio Grande do Norte foi um dos primeiros Estados a criar a sua Seccional, partindo da idéia do consagrado jurista Hemetério Fernandes Raposo de Mello, então Presidente do Instituto dos Advogados do RN, em reunião preparatória realizada no longínquo 05 de março de 1932, no prédio do Instituto Histórico e Geográfico, presentes os causídicos Francisco Ivo Cavalcanti, o Primeiro Presidente, Paulo Pinheiro de Viveiros, Manoel Varela de Albuquerque, Bruno Pereira e Manuel Xavier da Cunha Montenegro e oficialmente reconhecida em 22 de outubro do mesmo ano.
Hoje, tendo por comando o Estatuto da Advocacia e da OAB, aprovado pela Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994, vem mantendo altaneiros os princípios e propósitos dos fundadores, cujos fins estão assim marcados:
Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:
I – defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas; II – promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil.
A atual administração presta neste ano uma justa homenagem aos primeiros bacharéis da nossa Faculdade de Direito de Natal – Turma de 1959, em que foi paraninfo o grande Mestre EDGAR FERREIRA BARBOSA.
PARABÉNS COLEGAS ADVOGADOS.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
(Colaboração recebida da amiga Rizolete)
O que matou Rafael?
Estou em Paulínia e fico sabendo da notícia da morte de Rafael, filho da minha querida Cissa Guimarães. Meu coração começa a sangrar e a doer como se fosse o dela, como se a gente fosse parente e, quase como se fosse menino meu, embora nada chegue aos pés da dor dela. Claro que morrem milhares de jovens nesse país a toda hora e nem ficamos sabendo da prematura e anônima notícia, e por isso que dirão que só nos comovemos com essa perda porque é filho de artista conhecida. Ora, é e não é. Essa atenção se dá não só porque temos acesso ao fato, porque ele sai no jornal, mas principalmente porque o artista nos representa. Cissa simboliza alguns signos: força feminina, independência, modernidade, informalidade, honestidade, uma vez que seu nome nunca esta envolvido em falcatruas, responsabilidade materna, porque todos sabem que ela criou os três filhos, sem contar seu carisma e sorriso, que desde a primeira versão do Vídeo Show, fazem dela uma espécie de gente da nossa família. Por isso nos importamos tanto, por isso dói na gente porque fica representando nossos filhos e os filhos de quem não sai no jornal. O menino dela é menino nosso.Tenho em minha mente a imagem dela lendo meu poema Chupetas, punhetas,, guitarras” no espetáculo O Semelhante. Ela adora esse poema e, como minha convidada, chorava lágrimas sinceras ao dizer os versos: ‘...faço compressas pra febre, afirmo que quero morrer antes deles....” Por causa dessa imagem nem tive coragem de ligar para ela e, impossibilitada de dar-lhe meu abraço por estar em viagem, busquei nas palavras algum remédio que buscasse o entendimento desta tragédia. Por isso pergunto: “O que matou esse jovem de menos de vinte anos? O que lhe roubou o futuro?”. Pelo o que li e vi na TV, a impunidade integra ,de novo, o elenco da barbárie. Policiais que estavam no local, ao que parece, foram outra vez coniventes com quem desrespeita a lei que representam. Não conheço os assassinos de Rafael e nem quero aqui ser leviana, mas toda hora vejo uma legião de famílias que não prioriza o amor pelo seu semelhante no conteúdo educacional dos seus filhos. Não é só para bandido que a vida não vale nada. Não. Ela também não vale para o menino que, com o carro que talvez nem possa manter, dá cavalo de pau em um túnel fechado cuja placa de interdição ele não aceita. Há jovens criados com a perversa ilusão de que tudo podem e que diante de seu poder e dinheiro não existem porta fechada, respeito, lei. Desde quando mataram o índio em Brasília que me caiu essa ficha:Alguém dentro de casa ensinou, através de palavras ou ações, a esses meninos infratores da classe média e da alta, que a vida não vale nada. Esse assunto tem raízes mais profundas e nos leva a questionar como estamos educando nossos filhos. Gente ou monstro? Precisamos saber se estamos educando nossos filhos dentro da cultura da paz e afinados com os Direitos Humanos. Nesse sentido entendo que violência no futebol, na escola, pegas de carros, e outras agressões no trânsito, o recorde de vendas de armas de fogo que o Brasil atingiu nos últimos anos, excesso de vaidades anabolizantes, a corrida louca pelo dinheiro e outros sórdidos sensos comuns integram para mim a cultura da guerra. Hoje, mesmo com casamento gay, preconceitos ainda destilam suas variadas conseqüências em nosso mundo contemporâneo que ainda mata mulher por “amor”. Então que evolução é essa? A que nos convoca esse novo tempo? Por isto e para isso escrevo, meus senhores, para que não fiquem impunes os cúmplices desse crime por atropelamento, para que os pais parem de uma vez por todas de armar seus filhos por foraoferecendo-lhes carrões, cartões de crédito sem limite, nenhum juízo, e passem a amá-los por dentro mostrando todos os valores que o dinheiro e o poder não compram, mas que podem salvar uma vida. Cissa, meu amor, quem me dera essas palavras pudessem restituir o tecido rasgado do seu peito nessa hora. Quisera poder adormecer seu coração, anestesiar o seu olhar sobretudo o que recordará a partida do seu fruto. Não posso. Só sei que o tempo fará com que, o que hoje é ausência, vire presença luminosa e eterna na sua memória e que você, o Raul e seus outros filhos construam com valentia e calma essa sublimação. Nem a morte apaga o que o amor construiu, isso eu sei. Termino essa crônica com o verso do tal poema que aqui está a serviço de seu coração generoso : “choram Meus filhos pela casa, eu sou a recessiva bússola, a cegonha, a garça, com o único presente na mão: saber que o amor só é amor quando é troca e a troca só tem graça quando é de graça.”
Beijos, sua Elisa Lucinda.
“Cada lição será repetida até que seja aprendida. Cada lição será apresentada a você de diversas maneiras, até que a tenha aprendido. Quando isto ocorrer, poderá passar para a seguinte.”
O que matou Rafael?
Estou em Paulínia e fico sabendo da notícia da morte de Rafael, filho da minha querida Cissa Guimarães. Meu coração começa a sangrar e a doer como se fosse o dela, como se a gente fosse parente e, quase como se fosse menino meu, embora nada chegue aos pés da dor dela. Claro que morrem milhares de jovens nesse país a toda hora e nem ficamos sabendo da prematura e anônima notícia, e por isso que dirão que só nos comovemos com essa perda porque é filho de artista conhecida. Ora, é e não é. Essa atenção se dá não só porque temos acesso ao fato, porque ele sai no jornal, mas principalmente porque o artista nos representa. Cissa simboliza alguns signos: força feminina, independência, modernidade, informalidade, honestidade, uma vez que seu nome nunca esta envolvido em falcatruas, responsabilidade materna, porque todos sabem que ela criou os três filhos, sem contar seu carisma e sorriso, que desde a primeira versão do Vídeo Show, fazem dela uma espécie de gente da nossa família. Por isso nos importamos tanto, por isso dói na gente porque fica representando nossos filhos e os filhos de quem não sai no jornal. O menino dela é menino nosso.Tenho em minha mente a imagem dela lendo meu poema Chupetas, punhetas,, guitarras” no espetáculo O Semelhante. Ela adora esse poema e, como minha convidada, chorava lágrimas sinceras ao dizer os versos: ‘...faço compressas pra febre, afirmo que quero morrer antes deles....” Por causa dessa imagem nem tive coragem de ligar para ela e, impossibilitada de dar-lhe meu abraço por estar em viagem, busquei nas palavras algum remédio que buscasse o entendimento desta tragédia. Por isso pergunto: “O que matou esse jovem de menos de vinte anos? O que lhe roubou o futuro?”. Pelo o que li e vi na TV, a impunidade integra ,de novo, o elenco da barbárie. Policiais que estavam no local, ao que parece, foram outra vez coniventes com quem desrespeita a lei que representam. Não conheço os assassinos de Rafael e nem quero aqui ser leviana, mas toda hora vejo uma legião de famílias que não prioriza o amor pelo seu semelhante no conteúdo educacional dos seus filhos. Não é só para bandido que a vida não vale nada. Não. Ela também não vale para o menino que, com o carro que talvez nem possa manter, dá cavalo de pau em um túnel fechado cuja placa de interdição ele não aceita. Há jovens criados com a perversa ilusão de que tudo podem e que diante de seu poder e dinheiro não existem porta fechada, respeito, lei. Desde quando mataram o índio em Brasília que me caiu essa ficha:Alguém dentro de casa ensinou, através de palavras ou ações, a esses meninos infratores da classe média e da alta, que a vida não vale nada. Esse assunto tem raízes mais profundas e nos leva a questionar como estamos educando nossos filhos. Gente ou monstro? Precisamos saber se estamos educando nossos filhos dentro da cultura da paz e afinados com os Direitos Humanos. Nesse sentido entendo que violência no futebol, na escola, pegas de carros, e outras agressões no trânsito, o recorde de vendas de armas de fogo que o Brasil atingiu nos últimos anos, excesso de vaidades anabolizantes, a corrida louca pelo dinheiro e outros sórdidos sensos comuns integram para mim a cultura da guerra. Hoje, mesmo com casamento gay, preconceitos ainda destilam suas variadas conseqüências em nosso mundo contemporâneo que ainda mata mulher por “amor”. Então que evolução é essa? A que nos convoca esse novo tempo? Por isto e para isso escrevo, meus senhores, para que não fiquem impunes os cúmplices desse crime por atropelamento, para que os pais parem de uma vez por todas de armar seus filhos por foraoferecendo-lhes carrões, cartões de crédito sem limite, nenhum juízo, e passem a amá-los por dentro mostrando todos os valores que o dinheiro e o poder não compram, mas que podem salvar uma vida. Cissa, meu amor, quem me dera essas palavras pudessem restituir o tecido rasgado do seu peito nessa hora. Quisera poder adormecer seu coração, anestesiar o seu olhar sobretudo o que recordará a partida do seu fruto. Não posso. Só sei que o tempo fará com que, o que hoje é ausência, vire presença luminosa e eterna na sua memória e que você, o Raul e seus outros filhos construam com valentia e calma essa sublimação. Nem a morte apaga o que o amor construiu, isso eu sei. Termino essa crônica com o verso do tal poema que aqui está a serviço de seu coração generoso : “choram Meus filhos pela casa, eu sou a recessiva bússola, a cegonha, a garça, com o único presente na mão: saber que o amor só é amor quando é troca e a troca só tem graça quando é de graça.”
Beijos, sua Elisa Lucinda.
“Cada lição será repetida até que seja aprendida. Cada lição será apresentada a você de diversas maneiras, até que a tenha aprendido. Quando isto ocorrer, poderá passar para a seguinte.”
domingo, 8 de agosto de 2010
fonte: Revista ZAP
Eis que o dia amanhece radioso. O sol promete reinar nestas paragens. Aproveitemos o calor astral e humano para abraçarmos os filhos, netos, esposas(os), amigos e a saudade dos pais que já partiram. Compartilho com os meus leitores as mensagens recebidas. Um grande abraço a todos do Miranda Gomes.
______________________________________
SE EU TIVESSE CONVIVIDO COM O MEU PAI Odulio Botelho Medeiros
Se eu tivesse convivido com o meu pai, certamente eu seria mais feliz. A minha infância teria sido diferente, sem timidez, tristezas ou desencantos. Se eu tivesse convivido com o meu pai, os percalços teriam sido menores, pois o seu ombro fraterno teria me consolado. Se eu tivesse convivido com o meu pai, não teria os pesadelos que ainda hoje os tenho: dormiria um sono mais profundo e reparador.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, o medo não existiria e uma fortaleza interior guardaria comigo até hoje. Se eu tivesse convivido com o meu pai, teria ouvido e recebido os seus conselhos, as suas lições, e a vida teria sido mais leve, mais benevolente, e, inegavelmente mais virtuosa.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, teriam sido destruídas todas as fragilidades interiores e, com certeza, haveria de olhar para frente e sempre para o alto. Se eu tivesse convivido com o meu pai eu seria muito mais alegre, ameno e mais tolerante.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, enfrentaria as dúvidas que ainda restam e as desconfianças que ainda carrego. Se eu tivesse convivido com o meu pai, me revelaria mais humano e mais compreensivo. Se eu tivesse convivido com o meu pai, teria tido mais condições para entender os semelhantes e amá-los com maior profundidade.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, a minha gratidão seria mais reconhecida e eu poderia noticiar a todos o meu agradecimento. Se eu tivesse convivido com o meu pai, teria jogado mais peladas de futebol, teria cantado mais, e estudado muito mais e hoje falaria o idioma inglês e teria feito versos como o poeta Castro Alves.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, não teria trabalhado tanto, desde os dez anos de idade. Se eu tivesse convivido com o meu pai, acreditaria mais nas pessoas e não haveria desconfiança. Se eu tivesse convivido com o meu pai, possivelmente, assistiria novela de televisão e valorizaria mais as manifestações do povo e entenderia melhor a sua angústia.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, teria sido melhor filho, melhor pai, melhor avô, melhor marido, melhor irmão, melhor amigo e até melhor de coração. Se eu tivesse convivido com o meu pai, teria tido infindáveis palavras de agradecimento pelo dom da vida.
Se eu tivesse convivido com meu pai, o levaria ao futebol nas tardes dos domingos, aos bares da vida, armaria para ele a melhor rede de dormir e ficaria a ouvir a sua voz e os seus lamentos. Se eu tivesse convivido com meu pai, o deixaria bem à vontade, contanto que ele ficasse de bem com a vida.
Se eu tivesse convivido com o meu pai, não desperdiçaria o seu convívio, sairia sempre com ele para beber e até namorar. Se eu tivesse convivido com o meu pai, acreditaria mais na sorte, na vida, nas pessoas, no destino e muito mais em DEUS.
_____________(enviado por Zequinha)___
Pai,
Você sabe que sempre foi o NORTE em minha vida, dando-me exemplo de caráter, retidão e amor.
A idade não torna as pessoas obsoletas, mas lhes dá a sabedoria que só o tempo ensina.
Se não tens mais “cargos públicos”, como sempre diz, possui um nome construído com a argamassa da retidão de comportamento.
És um homem sábio e probo, respeitado por TODOS. Teu nome e exemplo se perpetuarão para sempre, não só entre os que lhe conhecem, mas principalmente entre os que te amam.
Do seu mais orgulhoso e admirador fã (seu filho).
Te amo!!!
Roquinho.
___________________________________________
Pai!
Com a mensagem em anexo, tento demonstrar 1/3 da importância que o Senhor tem em minha vida.
beijão!!!
te amo,
Carlinhos
__________________________________________
"As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis/ sobre um fundo de manchas já cor da terra/ - como são belas as tuas mãos,/ pelo quanto lidaram, acariciavam ou fremiam da nobre cólera dos justos.../ Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida."
(Mário Quintana)
Minha homenagem ao "Dia dos Pais"
Com afeto,
Bandeira
______________________________________
A DOCE LÁGRIMA
Lúcia Helena Pereira
Ela escorria da ladeira d´alma
Radiosa como um sol.
Vinha de um cantaro de perfumadas flores,
Docemente deslizando dos meus olhos.
Bem à beira daquela fonte de luz e riacho,
A lágrima passava veloz
Misturando-se à incansável fusão de águas
Que o segredo buliçoso do momento,
Expandia!
Havia naquela lágrima, uma doçura imensa,
Canção distante no olhar querente
Insatisfeito, magoado, espinho cravado na íris
Ferida ainda aberta, sangrando...
A minha lágrima dorida
É uma fonte imensa de tristeza
Caindo num lago azul, só de flores,
Onde anjos banham-se e cantam.
Onde os meus sorrisos de infância?
Onde a felicidade de outrora?
Onde recuperar o passado?
Onde não sofrer buscando explicações?
Desce um céu de luz dos meus olhos,
Inebriante estrela fulge ao longe,
Sinto-a escorregar entre os meus dedos...
É a lágrima contente, a festejar!
________________________________________________
Só 25,00! É pouco, mas significa muito e não é pedido de ajuda!
#Só R$25,00
Um homem chegou em casa tarde do trabalho,cansado e irritado encontrou o seu filho de 5 anos esperando por ele na porta .
- "Pai, posso fazer-lhe uma pergunta?"
- "O que é?" - respondeu o homem.
- "Pai, quanto você ganha em uma hora?"
- "Isso não é da sua conta. Porque você esta perguntando uma coisa dessas?", o homem disse agressivo.
- "Eu só quero saber . Por favor me diga, quanto você ganha em uma hora?"
- "Se você quer saber, eu ganho R$ 50 por hora."
- "Ah..." o menino respondeu, com sua cabeça para baixo.
- "Pai, pode me emprestar R$ 25,00?"
O pai estava furioso, "Essa é a única razão pela qual você me perguntou isso? Pensa que é assim que você pode conseguir algum dinheiro para comprar um brinquedo ou algum outro disparate? Vá direto para o seu quarto e vá para a cama. Pense sobre o quanto você está sendo egoísta", "Eu não trabalho duramente todos os dias para tais infantilidades."
O menino foi calado para o seu quarto e fechou a porta.
O homem sentou e começou a ficar ainda mais nervoso sobre as questões do menino.
- Como ele ousa fazer essas perguntas só para ganhar algum dinheiro?
Após cerca de uma hora, o homem tinha se acalmado e começou a pensar.
Talvez houvesse algo que ele realmente precisava comprar com esses R$ 25,00 e ele realmente não pedia dinheiro com muita freqüência. O homem foi para a porta do quarto do menino e abriu a porta.
- "Você está dormindo, meu filho?", Ele perguntou.
- "Não pai, estou acordado", respondeu o garoto.
- "Eu estive pensando, talvez eu tenha sido muito duro com você a pouco?", afirmou o homem. "Tive um longo dia e acabei descarregando em você. Aqui estão os R$ 25 que você me pediu."
O menino se levantou sorrindo. "Oh, obrigado pai!" gritou. Então, chegando em seu travesseiro ele puxou alguns trocados amassados.
O homem viu que o menino já tinha algum dinheiro, e começou a se enfurecer novamente.
O menino lentamente contou o seu dinheiro , em seguida olhou para seu pai.
- "Por que você quer mais dinheiro se você já tinha?" - Gruniu o pai.
- "Porque eu não tinha o suficiente, mas agora eu tenho", respondeu o menino.
- "Papai, eu tenho R$ 50 agora. Posso comprar uma hora do seu tempo? Por favor, chegue em casa mais cedo amanhã. Eu gostaria de jantar com você."
O pai foi destroçado...
Ele colocou seus braços em torno de seu filho, e pediu o seu perdão.
É apenas uma pequena lembrança a todos nós que trabalhamos arduamente na vida.
Não devemos deixar escorregar através dos nossos dedos o tempo sem ter passado algum desse tempo com aqueles que realmente importam para nós, os que estão perto de nossos corações.
Não se esqueça de compartilhar esses R$ 50 no valor do seu tempo com alguém que você ama.
Se morrermos amanhã, a empresa para a qual estamos trabalhando, poderá facilmente substituir-nos em uma questão de horas.
Mas a família e amigos que deixamos para trás irão sentir essa perda para o resto de suas vidas.
Se tiver um tempo, envie para alguém que você gosta!
(mensagem enviada por José Carlos Leite)
_________________________________________________
MEU QUERIDO PAI
(Sílvia Schmidt)
........................
Se olho para o futuro e sinto medo,
Ele se vai assim que eu recorro à fé
Que você plantou em mim.
Agradeço a DEUS
Por ter escolhido você
Para orientar meus passos.
Obrigado, PAI!
Pois foi com você que aprendi
Que quando a jornada torna-se difícil
DEUS nos toma dos braços.
Assinar:
Postagens (Atom)