quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

 


Papai Noel nada tem a ver com o Natal

No Ocidente, o personagem Papai Noel irrompe no período que antecede o Natal do Senhor. Trata-se de uma criação, ligando-o a São Nicolau de Mirna, bispo na Turquia. Este era um eclesiástico muito generoso com todos, especialmente as crianças. No calendário da Igreja Católica, sua festa litúrgica acontece no dia 6 de dezembro. Conta-se que Nicolau era uma figura simpática, amiga da criançada, paternal e caridosa. Seus diocesanos chamavam-no de Papai. Nasceu provavelmente em 275, d.C e faleceu em 350. A palavra Noel em francês quer dizer Natal. Por volta do século IX, criaram esse personagem, em alusão a São Nicolau e ao período natalino. Vestiram-no com roupas invernais, gorro cobrindo a cabeça e botas. Puseram em seus ombros um saco, contendo presentes. A lenda foi se espalhando por conta de uma lacuna catequética sobre o verdadeiro sentido natalino e suas figuras. Em 1223, São Francisco de Assis criou o presépio para neutralizar essa imagem irreal de Papai Noel, invadindo as celebrações natalinas.

Papai Noel nunca existiu historicamente. Trata-se de uma lenda. E vamos continuar contando uma ficção aos filhos e netos, em lugar de importantes acontecimentos religiosos? Papai Noel é uma alienação cultural para as tradições brasileiras. Seu perfil e apresentação não condizem com a nossa realidade cultural. Infelizmente, nas comemorações do Natal, grassa por todos os recantos a figura de Papai Noel, que não se insere na verdadeira tradição cristã. Hoje em dia, quando se fala de Natal, vem à mente a figura do tal velhinho. Os shoppings estão cheios desses personagens em total desacordo com a beleza religiosa do natalício do Filho de Deus. Nas lojas, raramente encontram-se presépios. São inundadas com imagens e representações de uma realidade imaginária. Infelizmente, fala-se mais dele do que de Jesus, no mês de dezembro. A Europa hoje ressente-se da invasão muçulmana que impede a celebração pública do Natal. E para completar a esquisitice, por conta do politicamente correto, criou-se a Mamãe Noel.

Maria, José, Jesus são os grandes esquecidos, durante o período que antecede o Natal. E pior, pais, avós, tios, cristãos iludem crianças inocentes com os presentes de Papai Noel, dando continuidade a uma ficção e lenda. Por que não dizer que os presentes foram dados pelo Pai do Céu, representados pelos pais terrenos? Até quando vamos perpetuar essa inverdade? Por que não mostrar a figura da Mãe Celestial em lugar da Mamãe Noel?

Deve-se ressaltar também a ignorância da história cristã e da verdadeira teologia. Nos primeiros séculos do cristianismo, a Igreja lutou para cristianizar o Natal pagão. Hoje, a sociedade tenta a todo custo – tendo em vista o silêncio e a omissão dos cristãos –paganizar o Natal. E nós discípulos de Cristo até quando vamos calar e se omitir diante dessa aberração? Que o Menino Jesus nos ajude e ilumine os nossos passos. Que os Magos da Epifania venham em nosso socorro para que possamos encontrar a riqueza da Estrela do Presépio, aquele que é o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).

Emaús, 24 de dezembro de 2025.

Padre João Medeiros Filho



 O nascimento de Jesus Cristo 

Padre João Medeiros Filho 

Quem haveria de acreditar que uma criança nascida num lugar ermo, de pastagem de animais, deitada numa gamela, poderia ser Deus? A convicção de que Ele deseja habitar na gruta do coração de cada criatura humana faz com que os cristãos lutem para tornar este acontecimento aceito por todos. Não é possível conter a alegria da Mãe desse Menino, dos anjos, dos pastores e de quem sente a importância daquele que veio trazer sentido à existência do homem. “Vim para que todos tenham vida e a tenham em plenitude” (Jo 10,10). Alguns não percebem a natureza do Verbo que se fez carne, ou seja, a comunicação de Deus com sua presença em nossa história. Ele assumiu a realidade dos homens, porque eram capazes apenas de olhar para eles mesmos. A luminosidade do amor do Deus-Menino faz-nos reconhecer os próprios limites, no entanto, superados, pela força e misericórdia da Criança, nascida em Belém. Aceitar o nascimento de Cristo é essencial para que o homem tenha a certeza de que a vida vale a pena ser assumida para perdoar e amar, como Ele fizera e ensinara. Olhar para fora de si é importante para uma convivência promotora de nossa existência, dom de Deus, que deve ser desenvolvida em comunhão de fraternidade, no respeito ao outro e à natureza. O Menino do Presépio, Deus-conosco, veio para entrar na manjedoura de cada um de nós, dando-lhe sentido. Aceitando-O, veremos que, na transitoriedade da nossa peregrinação terrena, é gratificante a caminhada em busca da Paz e da Verdade. Por que há tanta concentração de riquezas e poder nas mãos de minorias insaciáveis, sem promover a justiça social? Por que alguns se detêm numa religiosidade intimista, procurando seus interesses na busca de soluções de problemas pessoais, sem compromisso com a promoção dos outros em função de uma cidadania plena? Por que o uso da religião para oprimir grupos e desviar o sentido da fraternidade e do respeito à diversidade humana? Quando o nascimento de Jesus acontecer em cada pessoa, família e organização social, teremos sua luz a nos fazer compreender a nossa missão de construir mais solidariedade e dignidade. Estas levarão a promover o existir com maior sentido para todos. Mister se faz aceitar que o Menino-Deus nos torna criaturas novas. Se isto acontecer, realizar-se-á, então, o que o profeta Isaías anunciou: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença...” (Isaías 9, 1-2). O Natal de Jesus ainda não aconteceu para muitos. Quem O deixa nascer em si mesmo, é convidado a bater à porta do coração dos outros para compartilhar a alegria de tê-Lo dentro de si. A centralidade da festa do Natal é a união do Divino e do humano. Deus é Amor, que vem ao nosso encontro, “esvaziando-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,7). Hoje, verificamos um paradoxo. A Igreja fez de tudo para cristianizar a festa do Natal pagão. A sociedade de consumo deixa-se levar cada vez mais para paganizar o Natal cristão. O Menino Jesus está dando lugar ao Papai Noel. Este ganha mais destaque nos shoppings do que o presépio. Pobre ou rico, erudito ou iletrado, o homem carrega consigo um segredo, que só se torna claro à luz do mistério divino. E que verdade profunda: “O Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1, 14)! O mistério de Deus e o nosso se entrelaçam na pessoa de Jesus. A vida tem sentido. O Eterno-Absoluto existe e caminha conosco. Recebamos um Deus-Criança, inocente, solidário, vivo, em permanente comunicação conosco, iluminando nossa existência, transfigurando nossas dores e transformando a morte em passagem para a plenitude da vida. Por isso proclama o profeta Isaías: “Multiplicaste a alegria do teu povo, redobraste sua felicidade. Adiante de Ti vão felizes, como na alegria da colheita, como se repartissem conquistas de guerra” (Is. 9,2).

 

Cartas de Cotovelo- Tempo de verão 2025

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Embora desmotivado por alguns episódios egoísticos e insanos de pouquíssimos moradores da nossa praia (Grupo do Ódio), ainda persisto em escrever as minhas Cartas de Cotovelo.

Aqui, tenho a paz do silêncio, do espaço e do tempo para contemplar a natureza e fazer múltiplas leituras, pondo em dia o meu acervo de livros recentes adquiridos, como os dos estimados Osair, Alexis Peixoto, Teimoso Zen (Claudionor de Oliveira Júnior) e uma coletânea organizada por Hérnan Reyes Alcaide sobre o Papa Francisco, tendo por ponto central “A Esperança”.

Ler tantos livros, na mesma oportunidade é um antigo vício herdado do desembargador José Gomes: “meu filho, quando estou cansado de uma leitura, separo o livro e começo outro, fazendo um revezamento produtivo”. Ele tinha razão, misturo narrativas, romances, polêmicas, com a renovação da esperança, causa maior da minha, já vetusta, vida de leitor.

Quando as tramas de um romance atingem o clímax, aborto a leitura para meditar o seu desfecho - nem sempre aquele que eu esperava.

Daí, no passar a outro texto, faço marcas e grifos, também para uma meditação.

Na obra sob o Papa Francisco, que veio na sequência de outra sobre Leão XIV (ótima), anotei: “A Esperança pertence aos pobres. Não é uma virtude para quem tem a barriga cheia”.

É uma verdade incontestável: “A pobreza se apresenta a nós diariamente, desafiando-nos com os seus inúmeros rostos marcados pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas e a prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio e pela miséria, pela migração forçada.  Por isso que a Esperança está naquela pobreza que tem o rosto de “mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro”.  (mensagem do Papa Francisco para o Dia mundial dos pobres 19/11/ 17).

A transcrição pode parecer longa, mas não teria outras palavras para definir este assunto. Assino embaixo.

Vivemos no presente a globalização da indiferença e da cultura do “eu”.

Na minha longa jornada de professor sempre demonstrei que, no sentido geral, o estado é uma criação da sociedade, para ofertar controle e retorno da riqueza de forma democrática, organizada e eficiente.

Contudo, hoje ele agride o seu criador - o povo, escravizando-o através de tributos e ações que não vêm em seu efetivo proveito, senão em desfavor por dispender mais, além da sua capacidade contributiva - dentro disso estão os desvios e o protecionismo eleitoreiro, não democrático.

Ensinei errado todos esses anos? A teleologia apregoada nas normas tem nova interpretação: não se respeitam mais os princípios da impessoalidade, publicidade, imparcialidade e moralidade, em todos os espaços da estrutura estatal.

As ideologias proclamadas sob pretexto de boas intenções, do efeito democrático e republicano, nos afastam da realidade e nos impedem de avançar.

Os donos do poder declaram a força da democracia quando o povo grita por liberdade. Apenas jogo de palavras.

Conclamo todos a abrirem os olhos para a verdade e varrer “o cheiro de naftalina política e espiritual” daqueles que cultuam o “eu”.

Insisto em afirmar: nós os pobres, sem o poder, só temos uma alternativa – A Esperança verdadeira.