sábado, 12 de janeiro de 2019




CARTAS DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 04)

        Ontem o alvoroço da festa em Pirangi, com a participação do artista da atualidade Wesley Safadão. Trânsito intenso, mas bem ordena do pelas equipes da Polícia Rodoviária Estadual, a merecer elogios, assim continuando até a madrugada de hoje.
            Consegui dormir e, ainda iniciantes os primeiros raios do Astro Rei, radioso nestas plagas de veraneio abro o meu alpendre do primeiro andar para o bom dia à natureza em mais um dia da criação.
Liguei o pequeno som e, na Rádio Senado me deparo com os meus ídolos da segunda metade do Século XX. A saudade se faz presente de um tempo inesquecível da música. No ar o Trio de Ouro, sobressaindo-se os componentes Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, depois Carmen e Aurora Miranda, Nelson Gonçalves e Orlando Silva, todos no viço da mocidade. Depois sintonizo a Universitária FM de Natal, que continua na divulgação de astros consagrados, em particular Nora Ney.
Sentimento piegas? Não! Estado de graça. Então minha vista alcança os grandes pés de fícus benjamina que sombreiam a frente da minha casa da Rua Parnaíba, na Cotovelo antiga, onde me plantei nos idos de 1991. Os pássaros davam seus primeiros voos e, na rapidez costumeira, o meu beija-flor de todos os anos, os mesmos ou os seus descendentes.
Com sentimento de emoção compartilhado com Thereza, minha companheira de 56 anos de matrimônio e 65 de conhecimento, desde as casas vizinhas 118 e 120 da Rua Meira e Sá em Natal, numa vida longa e feliz, apesar dos desencontros do cotidiano e das rusgas que fortalecem e consolidam a convivência e o amor, desço para a primeira refeição do dia. Em seguida, um passeio pela manhã praiana, deixando a água morna beijar os nossos pés e água de coco para temperar o corpo.
Será que estou ficando um velho bobo? Na verdade só tenho a agradecer ao Criador por tanta felicidade, em permitir a geração de uma prole honrada, sem a opulência da riqueza, mas transcendente de bons predicados, coincidentemente reunida em sua integralidade no correr do dia, incluindo os coadjuvantes Toddynho, Luma e Malu.
Para completar o dia especial, recebo a visita da querida irmã Elza, com seus escudeiros Henrique, Patrícia e Cláudio, com os quais proseei demoradamente.
Diria, então, que este dia merece repetir a canção O Barquinho, de Menescal e Bôscoli, criação imortal de Nara Leão:
Dia de luz, festa de sol
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão, o amor se faz
No barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
Sem intenção, nossa canção
Vai saindo desse mar
E o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis
Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho, coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz
Tudo isso traz
Uma calma de verão
E então
O barquinho vai
E a tardinha cai.
 (Cotovelo/Natal, 12 de janeiro).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019




Saiba quem é o escritor de ficção mais lido do Rio Grande do Nor

Pouca gente sabe que o Rio Grande do Norte é tema de todo um livro de poesia intitulado “Terra Iluminada”, cujo autor, Homero Homem, nascido no Engenho Catu, em Canguaretama (1921), teve a sua formação em Natal, mas ainda jovem transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde viveu até o fim dos seus dias (1991).
Nosso Homero tornou-se credor da gratidão dos potiguares, mas talvez nem sequer seja nome de Rua em Natal.
Além de poeta, notabilizou-se como contista e novelista, voltado para o público infantojuvenil. Seu romance “Cabra das Rocas” obteve sucesso de público em todo o país. Êxito ainda maior, o livro subseqüente, “Menino de Asas” já está na 22ª edição.
Vários outros trabalhos de sua autoria, no campo da ficção, despertam interesse, notadamente “O Goleador”, romance (primeiro volume de uma trilogia do futebol), e “O Moço da Camisa 10”, novela.
Pelo número de edições dos seus livros, constata-se que ele é o mais lido de todos os ficcionistas norte-rio-grandenses. E outra constatação não menos importante: é um dos poucos traduzidos (“Gente delle Rocas”, tradução italiana de “Cabra das Rocas”).

HOMERO HOMEM POETA

Homero Homem tem, no entanto, maior importância como poeta. Entre os expoentes da geração pós-45, ele se afigura um romântico desgarrado em pleno Século XX. Toda a sua obra poética está repassada de valores românticos: subjetivismo, comunhão com a natureza (o mar, especialmente), exaltação da mulher amada, crítica social e política, etc.
Isto não quer dizer que ele seja um retardatário. De modo algum. Na verdade, o seu claro poema, de tanto ritmo, de tanta musicalidade, trouxe inegável contribuição para a poesia contemporânea, e dúvida não há quanto à sua modernidade.
Estreou em livro com um poema em prosa, “A Cidade, Suíte de Amor e Secreta Esperança” (Rio, 1954). Surgiu depois “Calendário Marinheiro” (1958) e ao longo das décadas, vários outros livros reunidos, em 1981, num volume sob o título “O Agrimensor da Aurora”. Depois vieram: “O Luar Potiguar” (Rio, 1983), renovada homenagem à sua terra, e “Eu sem Ego” (Natal, 1990).
A poesia de HH tem sido estudada por alguns críticos de estatura nacional, como Wilson Martins, Gilberto Mendonça Teles e Leo Gilson Ribeiro. Deste último esta definição exata e concisa: “poeta de inquieta raiz social. (…) lirismo entre a emotividade, a erudição, o tom popular irônico e a musicalidade rítmica.”
Com toda a relevância, que indiscutivelmente lhe cabe em nível nacional, o poeta e escritor permanece quase desconhecido na terra que tanto exaltou. É preciso, com urgência, resgatá-lo desse injusto ostracismo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019



HOMILIA DA POSSE DO DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA REBOUÇAS COMO PRESIDENTE E DEMAIS DIRIGENTES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO NORTE – TJRN
Realizai a vossa vocação e missão essencial: estabelecer a Justiça, sem a qual não há ordem, desenvolvimento integral nem paz social. O Senhor, justo Juiz e Pai de misericórdia, ilumine vossas vidas e vossas ações.
Palavras do Papa Francisco, dirigidas aos magistrados italianos de segundo grau, reunidos em Roma, em junho de 2016. Compartilhamos de suas afirmações nesta missa, em que agradecemos a Deus a investidura dos novos dirigentes do egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, cuja solidez, ao longo de 127 anos, se constitui em autêntica afirmação de sua importância e missão nesta sociedade potiguar.
Continua o Sumo Pontífice, na mesma alocução:
Rezo muito pelos magistrados e confessores. Estes julgam os penitentes, tendo a seu favor a luminosidade da benevolência divina. Os juízes devem decidir na solidão de suas consciências, diante das limitações e dramas humanos, tendo de recorrer à frieza e anonimato dos códigos, escravos da objetividade diante da subjetividade cada vez mais dinâmica dos seres humanos, limitados e imperfeitos.
Aqueles que detêm a missão de decidir e julgar deverão sempre ter em mente que vivemos num mundo cada vez mais povoado de fragilidades e incertezas, portanto é fundamental ter discernimento e compreensão. 
Nos dias de hoje, ouve-se afirmar que a magistratura brasileira atravessa tempos sombrios. Como pessoas de fé no Deus da Justiça, acreditamos que serão preservadas a esperança e a confiança dos cidadãos na retidão e equidade. As instituições brasileiras têm demonstrado maturidade e eficiência para enfrentar os desvios que ora se desvelam. Montesquieu, mentor da teoria da tripartição dos poderes, ensina-nos que o Poder Judiciário é vital e decorre da essência do próprio homem. Por isso, os que o tentam calar, não o conseguirão.
Cândido Dinamarco, ao ser empossado presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, dissera:
Destaco o primordial papel do Poder Judiciário, que tem a relevantíssima missão de afirmar, em todo momento, a dignidade e a supremacia do direito da nossa terra e da nossa gente.
É sabido e sentido que o Judiciário potiguar ancora-se cada vez mais na sua vocação de solucionar conflitos e pacificar a sociedade.
Convém lembrar a solidez e atualidade do pensamento de Ruy Barbosa:
A Justiça coroa a ordem jurídica, assegurando a responsabilidade. Esta constitui a base das instituições livres. E, sem instituições livres, não há paz, educação do povo, honestidade administrativa e organização da Pátria.
Manter a supremacia da ordem jurídica é dever do Judiciário, pois estará servindo à defesa dos ideais de nossa cultura, na primazia da ética sobre a técnica. Essa é uma relevante missão do Judiciário. Em nossos dias, ele detém uma responsabilidade a mais: a reeducação social, a ênfase dos princípios humanos e morais. O magistrado não é mero escravo da lei, mas servo da Verdade, que é o anseio de todo ser humano. Vale reiterar: o magistrado é também um educador social e não apenas operador do Direito. É luz que norteia o homem em sua caminhada cidadã e social.
O renomado jurista Hermes Lima, referindo-se ao nosso ilustre conterrâneo Amaro Cavalcanti, cooptava a sua opinião de que é absolutamente correto afirmar que o Poder Judiciário é o último guardião das nossas liberdades. Marco Túlio Cícero já dizia que onde não há direitos, não se pode falar de Justiça e liberdade.
O Brasil precisa de homens e mulheres que se oponham firmemente aos abusos e às inúmeras violações dos direitos. E os magistrados são chamados a esta tarefa, repelindo todas as situações em que não é reconhecida a dignidade da pessoa.
Alexis de Tocqueville afirmava perante a Câmara Francesa que não são as leis em si que decidem os destinos dos povos. Mas, a exegese dos textos delineada pelos juízes. Daí, a suma responsabilidade de quem julga e decide.
O Direito surge de uma exigência da natureza humana e não pode ser alheio a nenhum dos homens. Trata-se de um postulado da Justiça, como realização de uma ordem equilibrada das relações sociais. Estas deverão tornar-se aptas a garantir que a cada um seja dado aquilo a que faz jus e não se exclua ninguém do quanto lhe cabe. A Justiça é uma forma de permitir, no plano temporal, a realização do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26).
 A sociedade potiguar deposita em Vossas Excelências a sua confiança. Seu exemplo e desempenho haverão de contribuir para restabelecer o conceito do Judiciário brasileiro, arranhado diante da opinião pública. Para o restabelecimento do seu ideal é imprescindível um trabalho solidário, sem a tentação do esprit de corps. 
Excelentíssimos Senhores Desembargadores, neste dia memorável em suas carreiras de magistrados, lembrem-se das palavras de Cristo a seus discípulos: Eu vim não para ser servido, mas para servir e dar a minha vida para o bem de muitos (Mc 10, 45)!  Todo poder implica em serviço e não em privilégio. É participação no mistério da onipotência divina, como proclamou o apóstolo Paulo: Omnis potestas a Deo (Todo poder vem de Deus). (Rm 13, 1).
Reveste-se de especial sentido esta missa, antecedendo à cerimônia de posse dos conceituados desembargadores, que irão dirigir a mais alta Corte de Justiça do Rio Grande do Norte. O Direito é divino, pois é o sentir e o avaliar do agir do homem, imagem do Eterno, por isso tem lugar na Eucaristia.
Na leitura do evangelho ouvimos um trecho do Sermão da Montanha, em que Cristo profere as Bem-aventuranças: mensagem ricamente poética, teológica e ética. O Filho de Deus veio propor de forma positiva o que é bom e válido para o homem, apresentando uma axiologia diferente daquela de seu tempo. A tarefa de legislar cabe a outra instância de poder. Mas, pesa sobre os ombros de Vossas Excelências a incumbência de tornar as leis menos distantes, para que o ser humano possa ter assegurada a sua dignidade. Devem estar a serviço do bem do homem e da sociedade. O meu jugo é leve e meu fardo é suave (Mt 11, 29), ensinou-nos o Mestre da Galileia, aliando à lei a misericórdia e a ternura.
A Igreja, por nosso intermédio, parabeniza Vossas Excelências pelo desejo de invocar as bênçãos divinas, nesta cerimônia litúrgica, para que Deus – o Juiz perfeito e infalível – os ilumine e inspire em sua augusta missão. Queremos agradecer ao Todo Poderoso por tê-los escolhido para este tão grande mister. Que retribuiremos ao Senhor por tudo o que Ele nos tem dado, tomaremos o cálice da salvação e invocaremos o seu nome (Sl 116/115, 11-12)!
Neste momento, em que rogamos as bênçãos e graças divinas para os dirigentes do egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, é oportuno evocar a prece do Rei Salomão, suplicando as luzes ao Altíssimo:
Dá-me, Senhor, sabedoria para exercer o julgamento com retidão. Sou imperfeito, de vida efêmera, incapaz de dominar todas as leis. Sou teu filho e por mais perfeito que seja o homem, se lhe faltar a sabedoria, que vem de Ti, de nada valerá (Sb 9, 1-12).
É imprescindível, sobretudo nos momentos nos quais vivemos, que administradores e magistrados estejam imbuídos de humildade, prudência e serenidade, virtudes que levam a gerir e julgar com retidão e os tornam capazes de dominar as pressões provenientes da sociedade, das visões pessoais e convicções ideológicas.
Cremos na nobreza de sentimentos dos futuros dirigentes desta colenda Corte de Justiça Potiguar. Permitam-nos agora dirigirmo-nos, em especial, ao Excelentíssimo Desembargador João Rebouças, com quem convivemos algum tempo, quando do credenciamento da ESMARN, como instituição de ensino pós-graduativa, ex-vi da Lei 9394/96, supervisionada pelo Conselho Estadual de Educação. A ESMARN, graças ao empenho do Desembargador Rebouças, foi a primeira Escola de Magistratura legalmente credenciada em todo o Norte e Nordeste e a terceira em todo o território brasileiro.
É de bom alvitre lembrar que o eminente Desembargador Rebouças teve as primícias de magistrado, na Comarca de Pendências, num ambiente religioso. Hoje, Vossa Excelência inicia seu elevado ofício de presidente do egrégio Tribunal de Justiça do RN nesta Catedral, aos pés de Maria Santíssima, Sede da Sabedoria, como é preconizada na Sagrada Escritura.
Nosso reconhecimento e gratidão a todos os integrantes do TJRN pelo acolhimento e deferência com que somos distinguidos.
Praza aos céus que Vossas Excelências tenham em mente esta máxima oriental:
Passarei por este caminho somente uma vez, portanto todo o bem que eu puder fazer, devo fazê-lo agora. Não devo adiá-lo nem negligenciá-lo, pois não passarei por este caminho novamente.
Senhores Presidente, Vice-Presidente, Corregedor, Ouvidor, Diretor da ESMARN, Diretor da Revista de Jurisprudência, digníssimos Desembargadores, gostaríamos de concluir, enfatizando as palavras do apóstolo São Paulo, quando pregou aos filipenses:
Peço ao meu Deus que a vossa sabedoria cresça ainda mais, para discernirdes o que é melhor. Assim estareis puros e cheios de Justiça, que nos vem de Jesus Cristo para a glória e louvor de Deus (Fl 1, 9-11).
Deus e Maria Santíssima, a Virgem da Apresentação, os abençoem e iluminem hoje e sempre. Assim seja!
Catedral Metropolitana de Natal, aos 07 de janeiro de 2019.
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO



terça-feira, 8 de janeiro de 2019



CARTAS DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 03)

        Começou um novo ano? ou simplesmente outra folha no calendário Gregoriano?[1]
            Não vi mudanças substanciais até agora, senão a troca de governos, posses e confirmação do cipoal de problemas e dívidas a saldar. Espera-se criatividade e inteligência.
            Tenho feito tudo para minimizar esses momentos desagradáveis, tentando moldar os meus convivas dentro de um ritmo que permita uma sobrevivência com dignidade e qualidade de vida, mas vejo, com tristeza, que os jovens estão à deriva, sem encontrar o Norte da existência, obrigando-me a buscar a transcendência da fé.
            Sou um negativista de carteirinha e não me arrependo, porque tenho conquistado sucessivas vitórias com este meu defeito, o qual não implica no meu trabalho, no fazer cotidiano, contrariando a essência desse sentimento pouco acolhido pela esmagadora maioria dos viventes.
            É difícil a convivência com os integrantes do círculo de amigos e de parentes, quando cultuamos, por inteiro, o propósito da racionalidade das ações e dos gestos.[2]
            Isto não quer dizer que não pratique, também, a espiritualidade. Esta estará sempre presente no que faço ou no meu silêncio.
            O ritmo de viver no tempo presente é constrangedor e traz sofrimento. Utilizo a meditação constantemente e nela mantenho colóquio com Deus ou com a Força Superior regedores do tempo, da natureza e da existência, que me apontam uma estrada.
            Não me lembro de um começo de ano tão cáustico e falso, quando remetemos mensagens protocolares do tratamento tradicional deste período de festas, enquanto o coração segue em descompasso com a razão.
            Tenho meditado, falado com Ele/Ela na busca do reencontro da esperança e da salvação da minh´alma. Estou na guerra e espero vencer mais essa jornada.
 (Cotovelo/Natal, 08 de janeiro).
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[1] O calendário gregoriano é um calendário criado na Europa em 1582, por iniciativa do papa Gregório XIII, com o objetivo de corrigir os erros do anterior calendário vigente, o calendário juliano. O calendário gregoriano é o calendário mais usado no mundo atualmente.

[2] Racionalidade é adotar os meios mais eficazes para atingir seus objetivos; é acertar sistematicamente. Alguém é racional se consegue o que quer sistematicamente ...


domingo, 6 de janeiro de 2019

DIA DOS SANTOS REIS




O “Dia de Reis”, ou “Dia dos Santos Reis”, comemorado em 6 de janeiro, tem origem na tradição católica que lembra o dia que Jesus Cristo, recém-nascido, recebeu a visita de três Reis Magos: Belchior, Gaspar e Baltazar, que vieram do oriente, guiados por uma estrela.

O evangelista Mateus narrou o acontecimento: Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra. (Mt, 2,11).

A “Folia de Reis”, grupo que reúne cantadores e instrumentistas para celebrar a data, tem origem portuguesa e chegou ao Brasil no século XVIII. Em Portugal, a manifestação cultural tinha a principal finalidade de divertir o povo. Aqui no Brasil, passou a ter um caráter mais religioso.

Nas localidades que ainda preservam a tradição da “Folia de Reis”, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, o grupo percorre a cidade entoando versos alusivos à visita dos Reis, passando de porta em porta em busca de oferendas, que podem variar de um prato de comida a uma simples xícara de café. Em cada casa que é acolhida, a Folia apresenta-se cantando e tocando músicas de louvor a Jesus e aos Santos Reis, em volta do presépio, com muita alegria.

O grupo é liderado pelo Capitão e carrega a Bandeira com o símbolo da Folia. Geralmente feita com tecido e decorada com figuras que representam o menino Jesus, a Bandeira é enfeitada com fitas e flores de plástico, tecido ou papel, sempre costuradas ou presas com alfinetes, nunca amarradas com “nós cegos”. Segundo a crença, é para não “amarrar” os foliões ou atrapalhar a caminhada.

Outra figura muito representativa é o palhaço, que usa roupas coloridas, máscara e carrega uma espada ou varinha de madeira. É ele o responsável por abrir passagem para a Folia. Os demais participantes tocam os instrumentos e fazem parte do coro de vozes, com tons diferentes, o que torna o momento muito agradável e singular.

Com versos improvisados de agradecimento pela acolhida, os demais, cada qual na sua voz e vez, repetem os versos cantados pelo Capitão, acompanhados pelos seus instrumentos. Esses instrumentos são enfeitados com fitas e tecidos coloridos. Cada cor possui o seu próprio simbolismo. Rosa, amarelo e azul, podem representar a Virgem Maria; branco e vermelho, o Espírito Santo.

A tradição originada na religiosidade popular, traço marcante de todo continente latino-americano, nos ensina que em 6 de janeiro termina para os católicos os festejos natalinos e, nesse, dia devemos desmontar os presépios e as árvores de Natal.
Por João Rangel. É graduado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação Social, Mestre e doutorando em Ciências pela PROLAM/USP. Professor e coordenador do Curso de Jornalismo na Faculdade Canção Nova. Professor da Universidade de Taubaté. Membro da Academia Marial do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. E autor, juntamente com José Cordeiro, do livro ‘Aparecida – Devoção Mariana e a Imagem Padroeira do Brasil’.