Cartas
de Cotovelo 2014 (4)
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes
Agora
compreendo a aspiração de todas as famílias, independentemente de condição
social ou econômica, em possuir um ponto de referência alternativo, fora do seu
habitat natural, para o deleite do que costumamos chamar de veraneio.
Funciona,
de certa forma, com se fora uma viagem que se faz a outro lugar do país ou do
estrangeiro, para amenizar um pouco a dureza do cotidiano.
O
veraneio, em meu sentir, se apresenta mais aconchegante face a sua maior
duração e pelo contato mais intenso com a natureza, com a simplicidade e pelo
relacionamento interfamiliar.
Outra
vertente, ainda, se descortina nesse espaço de tempo – a reflexão sobre a vida,
seus problemas e soluções.
Tenho
testemunhado em meu já alentado caminhar, a variedade de tons e sons da
vivência, num impressionante contraste – nos veraneios vivi os momentos mais
significantes da minha existência – telúricos na adolescência passados nos
recantos da Redinha, a qual conhecia em todos os seus regalos, mesmo nas noites
sem luar, numa época em que a energia elétrica era desligada pelas 21 horas.
Ali senti as transformações comportamentais, mercê dos primeiros impactos da
puberdade.
Naquela
aprazível instância de veraneio escrevi os meus primeiros poemas, onde
encontrei inspiração na simplicidade dos encontros no Redinha Clube, jogos de toda ordem, festas
inesquecíveis. Participei de serestas nos alpendres dos veranistas, um dos
quais que muito me marcou – Dr. Túlio Fernandes, cultuando as tradições do
lugar, proporcionando folguedos como a “Cavalhada”.
Era
encantador ficar no trapiche à espera dos barcos à vela ou lancha dos
passageiros, pois pela estrada era uma perigosa aventura. A passagem dos navios
de passageiro ou de carga, deixando aquele cheiro de óleo diesel e a rapaziada
nadando até próximo do canal para uma troca de acenos. A revoada de barcos em
direção ao mar aberto para a pesca ou a puxada da rede nas pescarias da costa.
Foram
muitos anos de encantamento, de passeios de bicicleta com a meninada no Rio
Doce e do ‘brechar’ os casais em seus momentos de amor, quando atrevidamente
jogávamos areia e partíamos em disparada para casa.
Com
a velhice dos meus pais foi vendida a nossa casa do Maruim, ainda remanescente
juntamente com a do ex-vizinho Seu Nelson. As demais desapareceram na saudade.
Agora
o veraneio ficou por conta de cada filho já multiplicados com novos componentes
e, no meu caso, fiz incursões em Pirangi até o encontro com a praia de
Cotovelo, onde resolvi fazer a minha nova ‘Passargada’.
A
paixão foi imediata e aqui encontrei novas formas de amar trazendo a família,
já florescente, para recompor esse tipo de felicidade.
Não
direito que tudo correspondeu a flores, pois percalços da existência trouxeram
também dor e a tristeza visitou algumas vezes o nosso cantinho, desafiando a
minha pena com poemas de sofrimento e desencanto.
Tal
qual o fluxo natural das marés, a cada ano acontecem episódios que promovem
encontros e desencontros, os quais vão sendo superados com sabedoria e fé.
Nos
últimos veraneios, de um total de 24, as coisas se acertaram de tal maneira,
que resolvi registrar os acontecimentos em forma de Cartas de Cotovelo, onde
faço narrativas do cotidiano e dos devaneios dos bons momentos praianos.
Assim
espero que continue nos próximos anos, embora não possa tanto com o porvir,
pois o tempo não para e a velhice vem inexoravelmente ao nosso encontro, como
aconteceu com os nossos pais.
Seja
como DEUS quiser!