quarta-feira, 29 de janeiro de 2020








Cartas de Cotovelo
  (29/01/2020)
Décima Terceira Carta (despedida)

O SOM DO SILÊNCIO

Somente num lugar bucólico, como a varanda do primeiro andar da minha casa de Cotovelo e num veraneio, é possível meditar sobre a natureza e sobre a vida. A natureza nos trazendo pássaros, em particular o beija-flor, que há anos habita nosso jardim, possivelmente outra geração, pois tal já acontecia nos primeiros veraneios, quando minha THEREZA o contemplava feliz. Também o mar, os cajus, as pitangas, os camaleões, os saguis, figuras que sempre nos fizeram visitas.

Sobre a vida, o silêncio nos propicia experiência, meditação, tolerância, aptidão para a leitura e para escrever. Enfim, as visitas dos parentes e amigos, os banhos de mar, o joguinho de voleibol na frente da casa à noite nos permitem gozar da comunhão da amizade.

Não consigo dar conta do quanto aprendi nesses mais de 30 anos de veraneio, seja em sentimentos de criatividade ou de sofrimento com os problemas naturais da existência, mas, igualmente, de inspiração para as minhas Cartas de Cotovelo, Informativos da PROMOVEC, pelo menos cinco livros aqui escritos, dois lançados na própria comunidade Jiqui-Cotovelo.

No silêncio foi possível traçar caminhos e projetos, desatar nós da vida, resolver equações de grande complexidade, melhorar a vida espiritual e tornar-me mais forte e preparado para as pelejas do cotidiano e a viver sozinho sem minha cara metade.

Reflexões foram presentes nesse período e metafísica nos pensamentos e nas ações transcendentais necessários para uma vida produtiva e feliz.

Paralelamente, a tudo isso, sempre vivi os meus devaneios ao lado da minha eterna amada até o veraneio de 2019, registrados em variadas fotografias de momentos lúdicos. E agora ainda os terei ou somente a saudade, eternamente, habitará o meu coração? Deixo ao que for decidido pelo Criador.

Impossível reproduzir tantos instantes de verdadeiro companheirismo, mas certamente agora o silêncio total tornou-se mais constante e com ele a presença espiritual de THEREZA. A casa é só lembrança – boas lembranças, eternizando quem foi o ponto central de toda a alegria.

Só os que amam verdadeiramente sentirão a dimensão das minhas palavras. Os demais lerão o texto como mais um apenas. A todos, porém, a minha gratidão pela atenção ao que o coração joga a ermo e a esmo.

Preparo-me para o retorno à selva de pedra, certamente com saudade de mais um período de paz e confraternização familiar e com os amigos. Ficarei voltando à esta Casa Pasárgada, sempre que possível, para evitar a prescrição, como dizia o meu estimado e saudoso Mario Moacyr Porto. Até logo aos que ficarem.
 

domingo, 26 de janeiro de 2020




Cartas de Cotovelo
  (26/01/2020)

Décima Segunda Carta (com satisfação)

         Neste meu último domingo da temporada praiana, registro a leitura de bons livros sobre os quais apresento a minha crítica literária.

1.   Rádio Nacional – o Brasil em sintonia. Autores: Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virgínia Moreira. Rio de Janeiro, Jorge ZAHAR Editor, 2006.

Comentário: É um interessante trabalho sobre a radiofonia brasileira, seus precursores, momentos marcantes, programas e artistas com a riqueza documental e fotográfica indicando aspectos pouco divulgados, desde 7 de setembro de 1922 até os dias presentes. Leitura importante para os pesquisadores e historiadores, como igualmente aos amantes da MPB e seus intérpretes.
2.   Do Vinil ao Download, do escritor de nacionalidade francesa André Midani. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2015.
Comentário: Por coincidência este livro também me foi ofertado pelo fraterno amigo Didi Avelino, a voz de veludo do Rio de Janeiro, mas potiguar de nascimento. A obra tem um valor histórico singular, pois narra a vida e trajetória do seu autor desde o tempo da invasão nazista a Paris e os perigos para a sua sobrevivência até aportar no Brasil. Vale, também, como uma complementação à primeira, haja vista que narra a odisseia da história do disco, em particular no Brasil, com os seus percalços, sucessos e fracassos. Tem uma rica iconografia e relata a trajetória de consagrados artistas brasileiros e estrangeiros que nos foram tão queridos num passado próximo e uns poucos que subsistiram ao caos em que se encontra, qualitativamente, a MPB e a música universal. A reboque do seu objetivo principal, registra aspectos comportamentais de artistas nacionais e internacionais famosos, suas manias, vícios e abusos contratuais dando a exata situação do mundo dos discos daquela era, da censura no governo militar, que durou bastante tempo. Os dois livros reunidos enriquecem nossos conhecimentos específicos e também das histórias paralelas no campo da política.
3.   Getúlio Vargas em dois mundos. Psicografado por Wanda A. Canutti, pelo espírito Eça de Queirós. Capivari-SP: Editora EME, 2018.
Comentário: Trata-se de interessante trabalho, de natureza espiritualista, que resgata os relatos históricos da trajetória política do Presidente Getúlio Vargas e a sua situação espiritual após a passagem para outra dimensão da vida, onde oferece o seu sentimento em cada um dos momentos abordados, inclusive no do seu suicídio, com a consequente conscientização até ser capaz de analisar o encadeamento dos fatos de sua última trajetória terrena, seus amigos, seus desafetos de encarnações passadas, tudo copilado e informado pelo espírito de Eça de Queirós, através da médium Wanda Canutti (1934-2002. Na parte final consta estudo sobre a obra de Eça de Queirós e a sua nova concepção de vida no mundo espiritual até a elaboração do livro em referência.
        Tais considerações demonstram a importância de um veraneio, verdadeiro período de férias dos afazeres profissionais cotidianos, dando-nos um estado de espírito reconfortante, convidativo para a recordação de momentos maravilhosos que passamos com THEREZA na casa trintenária da Rua Parnaíba, em Cotovelo.