sábado, 30 de janeiro de 2021

 IDENTIFIQUEM ESTAS TURMAS MARAVILHOSA DE NATAL NOS BONS TEMPOS




 

Benditas sejam as equipes de saúde

 Daladier Pessoa Cunha Lima Reitor do UNI-RN

 Ao ver os dramas humanos, no decorrer da Covid-19, com ênfase para as cenas mais recentes vistas na cidade de Manaus, ecoam na minha mente e no meu coração as angústias vividas pelos doentes graves e por seus familiares. Afinal, nas minhas lides de médico, procurei sempre me ver no lugar do próprio doente, a fim de bem exercer a profissão. Quando eu era professor de medicina, em uma aula prática ao redor de um leito, um aluno cometeu um deslize ético. Ao final da aula, só com os alunos, fiz a devida orientação, na qual afirmei que o médico deve sempre tratar os seus pacientes como gostaria de ser tratado, ou um dos seus familiares mais queridos. Muitos anos depois, um jovem médico disse-me que jamais esqueceria aqueles conselhos. Assim, também ecoam em mim as agruras dos que integram as equipes da linha de frente do atendimento a esses pacientes graves, desde os das mais simples funções aos das mais complexas. Esses profissionais das equipes de saúde, principalmente os que atuam em hospitais, aprendem a lutar contra a morte e a angústia, dois eventos que, nessa pandemia, estão se tornando banais. Contudo, é só prestar atenção na face dessas pessoas para sentir os sofrimentos que lhes invadem a alma no dia a dia do trabalho. Sem contar com o estresse e o medo de se contaminarem com o Sars-CoV-2 e entrarem para o grupo dos que precisam receber as atenções e os cuidados dos colegas de profissão. Quantos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, paramédicos, maqueiros, profissionais outros da área da saúde morreram ou ficaram com sequelas graves, na luta para salvar vidas das garras dessa virose, ou para minorar a dor alheia, no estrito cumprimento do dever e movidos pelo sentimento de compaixão e de amor ao próximo. Lidar com a morte é sempre um tormento para todos os profissionais da área da saúde. Alguns estudantes dessa área largam o curso, quando não conseguem vencer os primeiros impactos desse encontro. A Covid 19 veio provar a importância desses profissionais nos serviços públicos e nos privados. Os confrontos políticos e ideológicos levados para a arena das batalhas contra a pandemia têm sido nefastos para o êxito que o povo brasileiro espera e precisa. Mas não há como negar a emoção de ver a imagem de uma mulher negra, Mônica Calazans, enfermeira que atua na linha de frente no combate à Covid 19, a primeira pessoa a receber a vacina no Brasil. Dessa forma, nada mais correto do que eleger esse grupo como o primeiro a se vacinar. Desde o século XVIII, com a varíola, o homem aprendeu que a única maneira de controlar as doenças epidêmicas é por meio de vacinas, e, desta feita, também será assim. Benditas sejam as pessoas que integram as equipes de saúde neste imenso Brasil, pela coragem e pelo amor à profissão, no afã de combater a Covid 19, terrível virose que tantos males tem causado aos seres humanos de todo o planeta. Texto publicado na Tribuna do Norte em 28/01/2021.

 


GASTÃO, UM ARTESÃO DA AMIZADE


Valério Mesquita

Conheci Gastão Mariz de Faria em 1954, na rua Apodi, quando fui estudar em Natal. Era a casa de D. Paulina Mariz de Faria, sua mãe, amiga e vizinha de minha avó materna Sofia Curcio de Andrade. Alto, magro, gestos comedidos e corteses, foi um embaixador itinerante da fidalguia, reconhecido por gregos e troianos. Impôs uma marca registrada – a cordialidade, numa terra inflamada pelo radicalismo político durante muito tempo. 

Gastão desfrutava da amizade dos Alves, apesar de tudo, sem deixar de ser fiel ao tio Dinarte Mariz. Por isso, disseram sobre ele – "era uma das raras unanimidades da cidade". Exerceu a vereança em Natal, além de deputado estadual. Fui seu colega na Assembleia. Cadeiras vizinhas durante quatro anos. “Toda instituição é a sombra prolongada de um homem”, no dizer de Emerson. O Detran, reestruturado, reordenado, revivido, foi herança de Gastão. Sua obra administrativa, sua logomarca indissolúvel.

O Gastão humano, fraterno, boêmio, fez-me lembrar uma tarde numa varanda diante do mar de Cotovelo. Chegou como que de repente, de assalto. Trazia consigo alguns amigos e várias canções. “A visão milagrosa do oceano beatifica o pecador solerte”. Ali estávamos nós, inspirados pelos bons uísques que entram mais na alma do que certos poemas e livros santos a cantar a vida, o mar, as ilusões. Nunca mais vou me esquecer Gastão, quando interpretou Orlando Silva, sem gaguejar, na letra foi compenetrado e dócil como o seu temperamento, e afinado e leal ao violão como a sua política. “Nada além, além de uma ilusão...”.

Parnamirim era o seu time de futebol querido e a sua cachaça predileta. Muito se identificou com a terra e com a gente. Autor da lei da emancipação política do município, tinha pela cidade um amor filial. Está identificado com essa terra, nas suas entranhas, tanto quanto os velhos pioneiros e os primeiros líderes de Parnamirim.

(*) Escritor

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021


Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-9

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Segunda-feira amanhece continuando com a chuva que vem caindo nessas últimas 48 horas. No veraneio, contudo, tudo é válido, tudo é bom, pois o resguardo da caminhada permite a introspecção para leituras, pensamentos e meditação. A propósito estou lendo o excelente e instigante livro Jean Mermoz, do nosso conterrâneo Roberto da Silva.

A minha tarefa diária mereceu hoje uma nova conotação – a vintenária mesinha de plástico, amiga confidente de longo curso, mas que está chegando ao tempo de aposentação.

Com o tempo perdeu o viço, o brilho e até a cor, deixando transparente a sua velhice, com rugas e alguns cortes profundos que demonstram a dificuldade de suportar o peso do meu computador e do meu corpo quando me debruço pensativo.

Mesmo que dificulte a serventia, não será desprezada de nenhuma maneira, ficará no meu quarto da praia, coberta com um pano apropriado, um pequeno jarro com flores nativas da região e um retrato da minha inesquecível Thereza, que sempre fazia dela uso para escrever seus pensamentos.

Muitos leitores poderão pensar que meu comportamento com um objeto já indica a decrepitude de cuidar de uma coisa tão trivial. Replicarei perguntando, quem de vocês, que gosta de escrever, não tem um movelzinho especial assim, onde a familiaridade descamba numa intimidade e cumplicidade? O amor também existe no apego às coisas que trazem satisfação – uma mesinha cai bem nesse tipo.

Não sei se a saudade exigirá a sua presença na varanda do primeiro andar. Se tal acontecer, convocarei a mesinha, hoje tão meiga e fraquinha, como são as coisas que o tempo cuidou de conservar. Mas o farei com o cuidado, como quem cuida de um cristal.  

Procurei na internet alguma poesia, pensamento, comentário sobre alguém que amou um objeto do seu cotidiano e nada encontrei. A ordem materialista não comporta sentimentalismos – isso só acontece com os que são sensíveis, Graças a Deus.