sábado, 21 de setembro de 2013



UM DIA, TODOS SEREMOS ASSIM!
 
Cafés suspensos"
Entramos num pequeno café na Bélgica com um amigo meu e fizemos o nosso pedido. Enquanto estamos a aproximar-nos da nossa mesa duas pessoas chegam e vão para o balcão:
- "Cinco cafés, por favor. Dois deles para nós e três suspensos."
Eles pagaram a sua conta, pegaram em dois e saíram.
Perguntei ao meu amigo:
- "O que são esses cafés suspensos?"
O meu amigo respondeu-me:
- "Espera e vais ver."
Algumas pessoas mais entraram. Duas meninas pediram um café cada, pagaram e foram embora. A ordem seguinte foi para sete cafés e foi feita por três advogados - três para eles e quatro "suspensos". Enquanto eu ainda me pergunto qual é o significado dos "suspensos" eles saem. De repente, um homem vestido com roupas gastas que parece um mendigo chega na porta e pede cordialmente:
- "Você tem um café suspenso?"
Resumindo, as pessoas pagam com antecedência um café que servirá para quem não pode pagar uma bebida quente. Esta tradição começou em Nápoles, mas espalhou-se por todo o mundo e em alguns lugares é possível encomendar não só cafés "suspensos" mas também um sanduíche ou refeição inteira.
Partilhem no sentido de divulgar esta linda ideia.

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Colaboração do Dr. Ernani Rosado 

CARTA-CONVITE DO LIVRO CRÔNICAS DA FAMÍLIA GOSSON

Neste livro que será publicado em  26 de setembro 2013, última quinta-feira,, às 19h, no Hotel Majestic (de propriedade da família),  escrito pelo poeta e escritor Eduardo Gosson, presidente da União Brasileira de Escritores – UBE/RN,  vol. 04 da Coleção  Bartolomeu  Correia de Melo (prosa) do selo editorial Nave da Palavra, o autor conta, através de crônicas comoventes,cheias de lirismo, a história da sua família (Gosson) desde a vinda dos avós para o Brasil  no ano de 1925 (imigrantes libaneses),passando pelos pais, tios, filhos e netos de forma leve. Foge ao padrão dos  livros de genealogia. Pura poesia em forma  de crônica.
 Segundo a poeta e crítica literária Valdenides  Dias, da Universidade Federal do RN – Campus de Currais Novos: “A suavidade com que você ata o fio da vida ao da morte me emociona. Mesmo poeticamente falando, dói. Tanto.”. Por sua vez, o poeta Horácio Paiva, afirma: “Você consegue expor a subjetividade de  suas emoções com muito realismo – e alia tudo à nostalgia,às lembranças das pessoas e da cidade que passou...”. Avalizaram a presente obra o escritor português Carlos Morais dos Santos que assinou o Prefácio, Walter Cid que fez a Apresentação e a escritora Anna Maria Cascudo Barreto que escreveu as Orelhas. Para a  filha de Cascudo: “Finalmente hoje participo já como escritora e acadêmica da União Brasileira de Escritores na sua diretoria. Encontro Eduardo Gosson, poeta e escritor, um batalhador cultural. Vejo-o como  a síntese da família, naquilo que eles possuem de mais sólido. Seu sobrenome significa “árvore frondosa” em árabe. Ele é o somatório das virtudes adquiridas em terras brasileiras. Tem a simplicidade dos múltiplos, o brilhantismo dos modestos. Um líder, descobridor e incentivador de talentos. Incapaz de um sentimento menor. Pai  amantíssimo. Avô fascinado. Excelente marido.  Amigo como poucos.
Surgiu na vida como um sol que não admite sombras  nem se deixa tolher pelas tempestades. Vive buscando a luz do paraíso da igualdade. Seu corpo frágil disfarça o gigante de esperanças. Pássaro que voa feliz apesar das correntes de ar contrárias. Acredita, como Esopo  (século VI a.C.” ) que “a união faz a força”. Seu comunismo resulta no amor ao próximo. Sem buscar recompensas. Sua meta é erguer pontes quando só existiam paredes.”
SERVIÇO: 
Lançamento do livro Crônicas da família Gosson 
 Data: 26.09.2013 (quinta-feira)
Hora: 19h
Local: Hotel Majestic sito à Av. Roberto Freire, 8860 – Ponta Negra. Após ultrapassar a Feira de Artesanato que fica em frente ao semáforo é o primeiro hotel à direita, vizinho ao Only Pizza. Tem estacionamento no hotel e, ao lado, há um terreno baldio, que é estacionamento
Valor do livro: R$ 30,00

O PAPA FRANCISCO E O CELAM

PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)

Em discurso proferido ao Comitê de Gestão da Conferência Episcopal Latino-Americana – CELAM, no Centro de Treinamento do Sumaré, no Rio de Janeiro, durante a sua permanência para a JMJ de 2013, o Papa Francisco afirmou, sem meias palavras, que os bispos estão "atrasados" e a Igreja mantém "estruturas caducas". Para o Pontífice, chegou o momento de assumir que ela precisa se modernizar e deixar de viver de tradições ou apenas oferecer esperanças para o futuro. Segundo teólogos e vaticanólogos, esse pronunciamento foi um verdadeiro programa de governo, em que proclama uma reconstrução eclesial. “Francisco, restaura a minha casa”, dissera Cristo ao Poverello de Assis. O Papa acrescentara ainda que toda a projeção utópica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado) não é do espírito bom. Deus é real e manifesta-se no cotidiano. Explicou que o hoje é o que mais se parece com a eternidade. Mais ainda, é uma centelha de eternidade. Nele, projeta-se a vida eterna.
Nessa alocução, considerada, até o momento, a mais densa teologicamente, de seu pontificado, Francisco apelou para uma Igreja atual e apresentou Raios X dos problemas que, segundo ele, estão impedindo seu crescimento e fazendo proliferar sua imaturidade.
E arrematou: “A missionariedade da Igreja deve ser a expressão de sua ternura. Por isso, devemos pregar e realizar a revolução da ternura”! Entendemos porque, em sua primeira mensagem como Papa e, ao se despedir dos brasileiros, pediu que rezassem por ele. Está bem consciente de que sua tarefa de reconstruir a Igreja de Cristo será árdua!

É impressionante, mas alguns estudantes ainda são capazes de lutar por algo que, com certeza, faz toda a diferença.....
  
REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA  UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES
Imperdível para amantes da língua  portuguesa, e claro também para Professores.
Isso é o que eu chamo de  jeito  mágico de juntar palavras simples para formar belas  frases.
REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE  CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES  
==============================================Tema:'Como vencer a  pobreza e a desigualdade'
Por Clarice Zeitel Vianna  Silva
UFRJ -  Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro -  RJ

'PÁTRIA MADRASTA  VIL'
Onde já se viu tanto excesso de falta?
Abundância de inexistência...
Exagero de escassez...
Contraditórios?
Então aí está!
O novo nome do nosso país!
Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de  caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de  escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma  combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de  contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe  gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.
Pela definição que eu conheço de MÃE, o  Brasil,   está mais para madrasta vil.
A minha mãe não  'tapa o sol com a peneira.'
Não me daria, por exemplo, um lugar na  universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há  200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me  restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe  não iria querer me enganar, iludir.
Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse  efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação +  liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação  pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela  falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.
A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a  minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.
Uma segue a outra...
Sem nenhuma contradição!
É disso que o  Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem  esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam  hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é  só mais uma contradição.
Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos,  mas não ensinam a pescar.
E a educação libertadora entra aí.
O povo está tão paralisado pela ignorância que  não sabe a que tem direito.
Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém,  ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade:  nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático  do Estado não modificam a estrutura.
As classes média e alta - tão confortavelmente  situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar  (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...
Mas estão elas preparadas para isso?
Eu  acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de  dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos,  possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de  que serve um governo que não administra?
De que serve uma mãe que não afaga?
E, finalmente, de que serve um Homem que não se  posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja  ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um  todo. Sem egoísmo.
Cada um por todos.
Algumas perguntas,  quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?
Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil?
Ser tratado como cidadão ou excluído?
Como gente... Ou como  bicho?

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Premiada pela UNESCO,  Clarice Zeitel Vianna Silva,  26,  estudante que terminaFaculdade de Direito da UFRJ em julho,  concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar  de Paris, onde recebeu um prêmio daOrganização das Nações Unidas  para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma  redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade.'  A  redação de Clariceintitulada  'Pátria Madrasta Vil', foi incluída  num livro, com  outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca
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Comentário:
Este texto me foi enviado por um General do Exército brasileiro, pelo que me faz crer seja ele verdadeiro. Contudo, lamento que essa jovem brasileira esteja tão pessimista em relação ao Brasil. Ao contrário dela, ainda considero o Brasil uma Pátria Mãe, ainda que pouco gentil com os seus filhos em razão de ser um País de pouca idade, sofrido pela exploração no tempo do domínio lusitano, mas amado pelo sofrimento dos africanos que aqui aportaram como vítimas do contrabando e lhes foi depois conferida a liberdade e aqui deram grande parcela da sua força de trabalho e do seu amor à terra de Santa Cruz. País que abrigou o estrangeiro sem perspectiva do pós guerra, mas que nos ajudou a fazer a nossa evolução industrial, agrícola e humana. Brasil que permite que qualquer dos seus filhos o critique e até deboche. Brasil que viveu a maior parte da sua história oprimido pelas ditaduras de toda ordem, mas soube ressurgir das cinzas. Brasil que amo e transmiti esse amor aos meus filhos e netos e pelo qual luto por tempos melhores. Respeito, minha cara jovem, a sua revolta, talvez um tanto imediatista. Aconselho que ofereça o seu labor e a sua inteligência para melhorar este País e venha a ganhar novos prêmios, porém mostrando a nossa grandeza, o ardor da nossa hospitalidade. O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. A UNESCO já havia antes reconhecido a importância do trabalho de outros jovens como você, que deram tudo de si para erradicar o analfabetismo infantil e de adultos na Campanha "De pé no chão também se aprende a ler", através de Djalma Maranhão;  do Movimento de Natal, liderado pela Igreja Católica na pessoa de Dom Eugênio Sales e do trabalho de Aluizio Alves (que trouxe para este Estado o Professor Paulo Freire), todos incompreendidos e perseguidos por algum tempo, até que a verdade de restabeleceu. Temos muitos defeitos, mas o maior deles é não amar o seu País - Ama com Fé e Orgulho a terra em que nasceste -; é não lutar para melhorar a qualidade de vida. Existe a filosofia da palavra, mas também a filosofia da ação, como me dizia o meu saudoso tio Professor Paulo Gomes da Costa, esquecido pela história contemporânea. Fui longe demais. Desculpe jovem estudante. Que Deus a abençoe e reserve para você um papel marcante para a posteridade.
(Carlos de Miranda Gomes)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013


Um passeio matinal pela Ribeira 

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br

Neste último domingo cheguei cedo à Ribeira, indo ao encontro de coisas que tinha visto no passado e não queria esquecer. Ainda do alto da “Ladeira de Marpas” observo os telhados dos antigos prédios, o rio, e o céu. O sol dá seu espetáculo costumeiro ao surgir, como por encanto, sobre as águas do Potengi que banha o bairro.
Pelo horário, as ruas estão bem calmas. Uma ótima ocasião para rever os velhos prédios onde funcionaram casas comerciais e repartições públicas, hoje extintas. A história do bairro ribeirinho desaparece dia a dia, em meio às ruínas e desamparo.
Porém, com devoção, encaminho-me vez ou outra para andar por ali, na esperança de avistar novamente as luzes do progresso e a revitalização tão prometida.
Caminho na esperança de encontrar no chão ou diante de algum prédio antigo alguma velha lembrança, como, por exemplo: um daqueles envelopes azuis da marca Elco, com bordas enfeitadas por bandeirinhas em azul-marinho e vermelhas, com os dizeres “Luftpost” e “Par Avion” impressos, tão comuns em Natal por ocasião da II Grande Guerra.
O sol começa a esquentar e afugentar das ruas os últimos bêbados e desocupados, que fazem do bairro o seu refúgio noturno. Continuo andando, como se fosse possível trazer de volta as passagens do passado.
Alguns passarinhos deixam os seus abrigos e com trinados alegres desfrutam da liberdade e cantam, talvez, anunciando o novo dia que chega. Os pássaros alegram-se com o sol, caçando frutinhas e vermes para levar aos filhotes que os aguardam nos ninhos.
Prossigo a caminhada solitária, pois a nostalgia dos tempos que se foram não me abala. Continuo o passeio pelas ruas antigas e mal cuidadas, impregnadas dos perfumes da manhã e da brisa suave que vem do rio. Noto, com pesar, que a fuligem persistente enegrece as fachadas seculares de alguns prédios mal cuidados.
Chegam-me lembranças de outros tempos – os quais, com certeza, não voltarão mais. Continuo a observar, em muda desaprovação, as ruínas dos prédios antigos, que tinham sido utilizados em atividades produtivas e agora declinam pelo abandono. Parece-me que estou a folhear um velho álbum de fotografias, com folhas amareladas pelo tempo.
Da esquina da Rua Chile avisto um velho conhecido – o Rio Potengi que corre, sem pressa, de encontro a bela ponte estaiada da Redinha.
À minha direita, a Rua Dr. Barata, lembro-me que, em 1942, aquela rua foi o centro da elegância de Natal, com belas lojas, cafés, e casais tranquilos que passeavam durante as tardes. Era o “footing natalense”. Surpreendo-me com suas condições atuais. Parece-me que está entregue ao mofo do esquecimento coletivo.
Detenho-me frente a um antigo prédio abandonado e entregue a voracidade das ervas daninhas. Pelo visto, não demora a ruir.
Prossigo pela Rua Frei Miguelinho e deparo-me com o Beco da Quarentena transformado em uma cloaca pública, criadora de insetos. De longe, observo o “cajá das raparigas”, cheio de frutos. Porém é impossível me aproximar.
Volto para Av. Tavares de Lira e detenho-me onde funcionou “Zé das Canetas”, ao lado da barbearia de Chico Gororoba; a Agência Pernambucana, frente à Livraria Internacional de João Rodrigues, nada disso existe mais.

Até quando a Ribeira continuará o seu declínio?!
Olho matutino

(Lívio Oliveira)

Cruzam-se os voos, os cantos, os bicos.
Viajam, solenes, as aves sobre o meu teto (e pousam).
O dia ingressa por entre colunas firmes de luz
inaugurando chamamentos que os galos entoam.

Subindo a rua o homem marrom que veste marrom
empurra uma carroça com papelão e lembranças.
Um gato retardatário da noite se lambe no tapete
e a velha senhora prepara o café ouvindo rádio aeme.

As crianças vestem fardas e guardam sonhos.
Suas lancheiras, em cores, esborrotam de ilusões.
A água ferve e zune no bule de alumínio amassado,
enquanto o homem gordo se fere no barbear.

Raios brancos penetram por frestas e leves cortinas amarelas.
Lentamente o vigia recobra a lucidez e acorda do sono bom.
Os derradeiros jornais do século anunciam milímetros de chuva.
O bairro vai mudando sua geografia enquanto a mosca vê o bolo.

Já é hora e a moça acomoda o sutiã sobre os seios pequenos.
O café espalha perfume alegre pelos cômodos cheios-vazios-solenes.
Espanta-se o último bêbado, o de bolsos furados, que caminha trôpego:
sob as árvores, folhinhas úmidas e machucadas e um ninho caído.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013


UMA GRANDE DAMA
Lúcia Helena Pereira (*)


Cada um de nós guarda no coração e na memória, os seus mitos interiores, suas paixões, seus afetos, suas lembranças diletas. E eu não sou diferente.
Em criança elegi esses mitos, como a simbologia de tudo que mais amei, admirei e preservei.
Tive a minha avó paterna - Madalena Antunes-, a única que conheci e tanto admirei e de quem guardo as lições impecíveis que nenhuma circunstância apaga. Quando se encantou, Deus emprestou-me outra avó - Maria Olívia de Vasconcelos Dutra, mãe de Mariazinha, esposa de um oficial da Marinha. Tive o meu avô paterno de quem pouco me lembro, mas, acima dele, papai do céu me deu o vovô Maiorana (imigrante italiano}, dono da Casa Vesúvio, na rua João Pessoa, que teve verdadeiro amor por mim.
Tive tios maravilhosos, primos do mais dócil afeto, e, assim, a vida me mimoseou com essas felicidades. Sempre irreverente, fugi dos preconceitos de só amar os familiares maternos. Aboli isso de minha vida e fiz minhas escolhas, passando a admirar os meus eleitos.
MINHA TIA - ODETTE RIBEIRO PEREIRA
Ela nasceu em São José de Mipibi/RN e ainda criança perdeu seus pais, ficando sob a tutela dos tios: Gal. Jacinto Carrilho e Zulmira Ribeiro Dantas, morando com eles na vila militar em Realengo/RJ, depois, em Grajaú/SP. Seguindo o curso do seu destino, veio morar com o irmão mais velho - Antonio Basílio Dantas Ribeiro, em Ceará-Mirim/RN. Nesse ínterim conheceu aquele por quem se enamorou - Ruy Antunes Pereira -, casando-se aos 28 anos. Tiveram cinco filhos: Olavo Ruy, Adelmo e Maria, que foram a óbito, ainda pequeninos, ficando, Ruyzinho e Denise.
A minha tia Odette tinha muitos dotes: tocava piano divinamente, fazia doces saborosos, escrevia singelos versos e era mestre na arte de fazer pãezinhos, cuja receita levou com ela. Era exímia costureira. Fazia lindos trajes para a filha Denise, sobretudo em época de veraneio na praia de
Muriú, confeccionando vestidos, blusas e shorts para a filha amada. Era uma pessoa alegre e virtuosa. Durante os veraneios costumava formar grupos de sua amizade, para um bom carteado.
Ao longo do tempo, era admirável observar a sua bela vaidade: sempre bem vestida, usando saltos altos, jóias, sem descartar, jamais, os perfumes franceses, tendo, como predileto, “Fleur de Rocaille”. E era, acima de tudo, uma pessoa muito simples e de fácil convivência.
Teve três irmãos: Antônio Basílio, Inácio José Ribeiro e Jair Dantas Ribeiro, seu mais especial irmão e amigo, ex- ministro da guerra no governo de João Goulart.
Usou sempre do melhor carinho com os sobrinhos, os quais, retribuíam com amizade e afeição.
Guardo da minha tia, acima de tudo, a sua elegância moral e física. Uma mulher dotada de princípios honestos, jamais se perdendo nesses caminhos. Nunca se queixava de nada e tinha, em especial, a arte de sublimar as intempéries da vida. Estava sempre cheia de alegria. Sua casa, na avenida Deodoro, tinha a sua própria personalidade, a contar pelo jardim com os jarros abundantes dos mais belos espécimes vegetais. E ali ela recebia parentes e amigos, para lanches deliciosos, numa casa confortável e bem cuidada.
Tio Ruy, que adorava ler e escrever, ficava no andar de cima, nas horas dessas tertúlias da esposa Detinha, (como a chamava carinhosamente) onde ele tinha sua escrivaninha e instrumentos para os seus momentos epistolares.
Quando me casei e nasceu o meu primogênito - ABEL - tio Ruy e tia Odette foram visitá-lo e levaram lindos presentes. Mas tio Ruy logo reclamou: ”ora, filha, o nome dele devia ser Abel Neto, uma homenagem a Bebé” (Abel Antunes Pereira, meu pai e irmão dele). Mas expliquei-lhe que meu marido não quis perder seu sobrenome.
Adorava as visitas de tia Odete à minha casa no Condomínio Jardim Nova Dimensão. Tínhamos as afinidades maiores do coração, e era um verdadeiro deleite ouvi-la falar na bondade do meu pai e na grandeza como mamãe nos educou. Geralmente ela chegava às 15:30, com o motorista - Sr. José - e saía às 17:30. Jamais faltou um bom assunto, ela era um rio sempre cheio. E eu vibrava ao vê-la descrever os vestidos de sua época, os bailes, as marrafas de marfim que as mulheres usavam nos cabelos, as músicas, os leques madrilenos, as luvas de seda, e as grandes valsas que me levavam a imaginar la belle époque de la France...
Adorava os filhos: Ruy Pereira Júnior e Denise Pereira Gaspar, o genro Arnaldo Neto Gaspar, a nora e os netos, aos quais se referia com o olhar iluminado: “Ah! Lucinha, serão eles a continuarem nossas vidas”...
Não me lembro de alguma vez ter visto a minha tia triste. O sorriso estava tatuado em seus lábios, além de gostar de brincar com as coisas que ela achava engraçadas. Ela foi uma pessoa especial em minha vida, dela guardo o sentimento especial do amor que não conhece limitações e aumenta, à medida em que os anos vão passando, como se fosse uma caravana de ideais, num deserto iluminado.
E, diga-se, ela foi, acima de tudo, uma grande dama!
Gostei de fazer essas consignações por um motivo bem simples: a saudade, que é a riqueza do sentimento humano. Em vez de lágrimas, a música da poesia, como a canção de uma ave que passa por nós, no mistério das coisas impressentidas, que são a maneira de Deus escrever versos que acabam em poesia.
(*) Escritora



O SUPREMO NO DIA SEGUINTE
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor

                                                                 
"Jamais o alarido da imprensa deve afastar o magistrado da obrigação de julgar segundo sua consciência."
      (trecho de entrevista de J.Batista Herkenhoff)

Tenho a impressão que o julgamento de ontem no Supremo Tribunal Federal foi o que obteve maior repercussão para a opinião pública, haja vista os comentários desencontrados de articulistas e cultores do Direito, mercê da própria situação em que se encontrava a Magna Corte de Justiça brasileira, dividida por igual, nas opiniões pró e contra a admissão dos embargos infringentes interpostos no famigerado caso do "mensalão".
Como todo brasileiro, acompanhei o caminhar do julgamento com os olhos, obviamente, de quem passou toda a vida no ambiente jurídico, embora adicionando boa pitada da expectativa como mero cidadão.
Assisti tudo, desde o relatório aos votos e, desde o começo, deplorei os comentários tendenciosos ligando os votos dos Eminentes Ministros à circunstância de terem sido nomeados pelo Presidente "A" ou "B".
Repudio toda a especulação jornalistica sensacionalista - "De marcha a ré"; "Mellou"; "Toga no chão"; "Penas sem castigo", como também charges atrevidas em profusão.
Em verdade, no meu sentir, os Ministros logo que assumem a sua judicatura passam a olhar o horizonte do Direito na direção da salvaguarda do princípio maior do "fazer Justiça", uns mais eloquentes, outros menos, mas nunca a merecerem o debochado cortejo de uma "justiça emplumada".
Contudo, pelos conhecimentos doutrinários que cada um possui ficou evidente a filiação a correntes da filosofia do Direito que permite emitirem opiniões diferenciadas, ao talante do que adotaram como fundamento de exegese por toda uma vida de estudos.
Cinco votos contra a admissão dos embargos infringentes foram proferidos com integral sapiência, justificadas as linhas condutoras do desfecho final de cada opinião, da mesma forma que os outros cinco votantes exauriram o entendimento a favor da sua admissibilidade.
Afinal - o voto de desempate, questionado de véspera numa verdadeira forma de pressão contra o decano Celso de Mello.
Este, ainda que reconhecendo que o Supremo não é uma ilha, justificou à saciedade, os motivos pelos quais optou pela corrente que admite os embargos infringentes.
O resultado não induz ao julgamento do próprio Poder Judiciário, como um todo, nem cada componente, em particular. Todos cobriram suas posições com fartos argumentos normativos, doutrinários, jurisprudenciais, filosóficos e sociológicos.
A Corte saiu ilesa, porque mostrou destemor, autonomia, independência, pensamento plural e erudição. O resultado não laborou em conivência com a impunidade, pois os pseudos beneficiários serão submetidos a novos julgamentos que certamente serão proferidos com máxima cautela e magna fundamentação - aí sim, será etapa definitiva.
Resta a adoção de mecanismos procedimentais que permitam a celeridade nos julgamentos e não seja nenhum crime sucumbido pela prescrição. Eu ainda acredito no Supremo Tribunal Federal do Brasil.
Respeito as opiniões contrárias, mas esse é o meu sentimento.



Comissão da Verdade da UFRN ouve novos depoimentos no CERES Caicó

18/Set/2013 às 16:45
Clique para ampliar a imagem Comissão da Verdade da UFRN realiza audiência pública no CERES-Caicó 

AGECOM/Cícero Oliveira
A Comissão da Verdade (CV) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizou uma Audiência Pública no Centro Regional de Ensino Superior do Seridó (CERES), em Caicó, nessa terça-feira, 17. A reunião foi realizada com o objetivo de ouvir depoimentos de pessoas que viveram no período da Ditadura Militar (1964 até 1985).

Para o vice-presidente da Comissão da Verdade da UFRN, Ivis Bezerra, o intuito é descobrir o que de fato ocorreu durante o Regime Militar na Universidade. “A Ditadura impedia o livre pensamento, que é a base da Instituição, mas também queremos saber sobre os episódios trágicos, como torturas e mortes, que aconteceram”, explica.

No turno da manhã, foram ouvidos os depoimentos dos professores do CERES-Caicó. O chefe do Departamento de Ciências Exatas e Aplicadas, Celso Luiz Souza de Oliveira, contou que começou a trabalhar em Caicó no ano de 1982. “Desse período, o que sabemos a respeito da Ditadura aqui é o que se falava nos corredores. Não sabíamos e nem procurávamos saber, mas ouvíamos que fulano de tal havia sido chamado para depor no batalhão (quartel do Exército Brasileiro do município)”.

O professora do Departamento de Geografia, Isabel Cristina dos Santos, contou que, como nasceu em 1965, teve a infância e a adolescência “perturbada”. “Vivi em um bairro calmo de Caicó, mas lembro que, quando passava um avião, eu e meus irmãos corríamos gritando que era guerra”.

“Em 1984, entrei no CERES no curso de Geografia e comecei a me envolver nos movimentos sociais e estudantis. Tínhamos um certo temor, mas, como eu era engajada, eu e meus colegas enfrentávamos tudo. Lembro de uma professora de Reforma Agrária que tremia muito na sala de aula e, quando começávamos a fazer perguntas, ela mandava a gente calar a boca. Outro professor de Estudos dos Problemas Brasileiros também pedia que a gente não levasse esses assuntos à sala. Um dia ele teve um problema cardíaco e a coordenação pediu que eu não levantasse esses temas na aula
dele”, lembra Isabel.

Sandra Kelly de Araújo, chefe do Departamento de Geografia do CERES-Caicó, começou a estudar no Centro em 1983, aos 16 anos.  “Minha percepção foi muito dispersa. Tínhamos uma formação muito superficial sobre política, cidadania e cultura. A proposta de ensino era assim, a conjuntura social estava refletida na formação acadêmica, mas senti tudo de uma forma implícita, era tudo incorporado”.

“Aqui em Caicó a palavra ‘comunista’ era um palavrão. Um short curto ou uma mãe solteira era comunismo. O ‘Diretas Já’ (movimento civil que lutou por eleições presidenciais diretas) foi algo que assisti na TV, não me lembro de movimentos nas ruas daqui”, conta Sandra Kelly.

Foram convidados ainda o monsenhor Ausônio Tércio de Araújo, diretor do Colégio Diocesano Seridoense; Joseilson Ferreira de Araújo, secretário de Organização do PCdoB; Salomão Gurgel, ex-presidente da União Estudantil Caicoense; e João Batista de Brito, irmão de Zoé Lucas de Brito, que foi preso e morreu no período do Regime Militar.

Além do vice-presidente da Comissão, Ivis Bezerra, participaram ainda o professor José Antonio Spinelli; o servidor da UFRN Moisés Alves; o estudante Juan Almeida e a secretária-executiva Kadma Maia. Já do CERES-Caicó, houve a participação da diretora do Centro, Ana Aires; do professor de História Almir Bueno e de alunos.

DE PABLO NERUDA
                                                                 Ciro José Tavares

Confesso ter vícios literários e a poesia de Pablo Neruda é um deles. Não menos importante é minha paixão por Federico Garcia Lorca, seja na poesia ou na dramaturgia. Apego-me aos seus trabalhos com interesses sempre renovados, para aprender mais, descobrir detalhes, refletir na beleza simples da construção do verso.
Qualquer nota técnica sobre Neruda exige que se façam referências a Lorca, principalmente por todos os sentimentos comuns que os atraiam. Ambos tinham posições políticas avançadas e foram perseguidos pelos regimes ditatoriais dos seus países. Lorca foi assassinado pelas forças franquistas em 1936, dois meses depois de ter concluído sua obra-prima A Casa de Bernarda Alba. Neruda foi um rio caudaloso de inspiração que não resistiu ao câncer, embora não faltem suspeitas de que o golpe de 11 de setembro de 1973 apressou o desenlace, ocorrido num hospital de Santiago vinte e dois dias depois da queda de Salvador Allende. Dois anos antes recebera o Prêmio Nobel de literatura e deixou nada menos de oito livros inéditos.
Tanto em Lorca como em Neruda encontramos vertentes poéticas que os identificam com os românticos ingleses do século XIX, entre eles Shelley e Keats, o verso branco refulgindo de impressionantes imagens líricas, além da rebeldia presente em suas vidas o que nos lembra de Byron.
O poema de Neruda parece estar amalgamado na sua própria vida, revelada em dois livros que não devem deixar de ser lidos e relidos; Para Nascer Nasci e Confesso que Vivi.  “Para nascer nasci, para conter o passo de quanto se aproxima, de quanto me golpeia o peito como um novo coração tremente”, escreve ele na abertura do para Nascer Nasci. Essa complexa epígrafe é logo revelada no  Mulher Remota:
Esta mulher cabe em minhas mãos. É branca e ruiva, e
minhas mãos a levaria como uma cesta de magnólias.
Esta mulher cabe em meus olhos. Envolvem-na os meus
olhares, meus olhares que nada veem quando a envolvem.
Esta mulher cabe em meus desejos. Desnuda está sob a
anelante labareda de minha vida e o meu desejo queima-a como
uma brasa.
Porém, mulher remota, minhas mãos, meus olhos e meus
desejos guardam inteira para ti a sua carícia porque só tu,
mulher remota, só tu cabes em meu coração.”
Um minuto de silêncio é muito pouco para homenagens e lembranças a quem tanto ofertou. Guardemos Neruda, cuja imortalidade emerge no lirismo dos seus próprios versos:
“En su Llama mortal, la luz te envuelve.
Absorta, pálida, dolente asi situada
contra las viejas hélices del crepúsculo
que en torno de ti da vueltas.”


quarta-feira, 18 de setembro de 2013



Capas negras

Publicação: 17 de setembro de 2013 às 00:00
Lívio Oliveira - livioliveira@yahoo.com.br

Inicio este texto já acalmando os diletos leitores. Não se preocupem. Não falarei aqui sobre julgamentos, colendos tribunais, homens de toga ou coisa parecida, apesar do título deste artigo, que se arrisca a conduzir a essa conclusão precipitada. Não trarei para essas poucas linhas o tiroteio verbal que contamina as ruas, meios de comunicação diversos e, fortemente, as redes sociais. Direita, esquerda ou centro (esse que detém o cetro); tucanos de bicos bicolores e de comportamentos ambivalentes; estrelas de vermelhidão intensa ou desbotada; ministros decadentes ou decanos, provectos ou novatos; embargos declaratórios, divergentes ou infringentes. Não. Nonada. Nadinha disso terá lugar especial nestas linhas. Buscarei outro norte.

Antes, lanço outra curta advertência e já peço: não acreditem que sou um alienado e que não acompanho coisas da política ou da Justiça. Acompanho, sim, até porque tenho minhas paixões e fortes convicções num desses campos e minhas obrigações ético-profissionais no outro. E tenho lado, sempre. Mesmo que eventualmente sozinho, fico sempre confortado com minha consciência cidadã. Confesso, no entanto, uma coisa: estou deveras cansado da maneira muitas vezes equivocada, bizarra mesma, como se passam as discussões externas às decisões “supremas” e que nesta semana terão mais um importante capítulo. Há uma algaravia interminável na internet e nas casas dos brasileiros, com algumas opiniões tão primárias, ou pior, dotadas de tanta má-fé e passionalidade, que prefiro nem responder ou comentar, filtrando dados e firmando íntimos convencimentos e posições pessoais. Sempre. Agora vou logo mudando de assunto, para não ser incoerente com o primeiro parágrafo do texto. E não deixarei de falar de flores. Jamais. Por sinal, prefiro sempre falar acerca das flores e das gentes. E já vou me desculpando pelo trocadilho fácil e besta com embargos infrin/gentes (perdoe-me o grande poeta Jarbas Martins, que afirma ser eu muito apegado a essas tolas miudezas. Fazer o quê?). E acho melhor eu entrar logo no assunto que (acho que) interessa. Falemos um pouquinho de música, então?

Em rápidas e derradeiras palavras, firmo o quanto tem sido importante para a nossa cultura a cena musical potiguar, através da produção local e de intercâmbios maravilhosos. Na última semana, para exemplificar, tivemos eventos de qualidade na música erudita e na música popular, espetáculos de alto quilate artístico e, ainda por cima, alguns com gratuidade de entrada. No Teatro Alberto Maranhão, no Parque das Dunas, na UFRN, em vários lugares, música boa e acesso democratizado. Destaco o IV Festival Internacional da Escola de Música da UFRN e a sua abertura na terça-feira, quando se apresentou a Orquestra Sinfônica da UFRN regida pelo carismático Maestro André Muniz, com acréscimo luxuoso dos músicos alemães Michael Uhde (piano) e Katharina Uhde (violino), ambos executando obras de Beethoven (a bela Sonata nº 9, op. 47, “Kreutzer” e o Concerto para violino e orquestra em ré maior, Op. 61).

Outro grande momento do evento – que tem continuidade nesta semana – foi o recital do grupo de Fado “Praxis Nova”. Três músicos portugueses vestindo as famosas capas negras dos acadêmicos de Coimbra, viajando pela história desse gênero musical que tem obtido renovado destaque a partir de nomes como Carminho e António Zambujo (estes se apresentaram por estas bandas, ano passado, acompanhando Milton Nascimento), Ana Moura, Mariza e outros. Queria falar mais sobre o tema, sobre música, sobre arte. O espaço é reduzido. Concluo, então, parabenizando à Escola de Música da UFRN por ter trazido a Natal esses geniais “capas negras”, destinando-nos raros instantes de fantasia poético-musical numa época de realidades dramáticas em outros campos da experiência e aventura humanas, tempo em que vivenciamos no Brasil um doloroso e muito longo “fado tropical”.
Publicado no D.O.E. de 17/09/2013

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

O Presidente da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, para os fins de que trata o art. 6°, §§ 1º, III, 2º e 3º do seu Estatuto Social CONVOCA OS ACADÊMICOS da referida Entidade para a Assembleia Geral Extraordinária aprazada para o dia 11 de outubro próximo vindouro, a ter início às 9:00 horas, em primeira convocação e, às 9:15 horas em segunda convocação, em sua sede provisória (Procuradoria Geral do Estado, sito à Avenida Afonso Pena, 1155, Tirol, nesta Capital), onde ocorrerá a apreciação da proposta de alteração parcial do seu Estatuto Social, a qual já foi enviada a todos os Acadêmicos, para os fins dos arts. 1º e 2º, da Resolução nº 01/2013, de 03 de julho de 2013 – apresentação de emendas no prazo de 15 dias da publicação desta convocação, permitindo a consolidação do texto e nova remessa para a votação definitiva, de forma presencial, por correspondência ou por meio eletrônico para: alejurn2007@gmail.com, até 10 minutos antes da abertura da Assembleia.

Para outros esclarecimentos utilizar o telefone 3232-2898/2761

Natal, 05 de setembro de 2013
JOSÉ ADALBERTO TARGINO ARAÚJO
Presidente



ALEJURN
Telefax (84)3232-2898 
alejurn2007@gmail.com
A PRAIA DA PIPA E O LAMBE-LAMBE PORTENHO
Ormuz Barbalho Simonetti
         A Pipa é aquela praia aonde tudo acontece. Chego mesmo a afirmar que ela tem poderes místicos de atrair coisas que vagam pela terra ou pelo mar, e um belo dia, inexplicavelmente, encalha em suas areias.
         Hippies de todos os “espécimes”, excêntricos para todos os gostos, artistas, profissionais diversos, desocupados e pessoas que por vários motivos desejam permanecer no anonimato, têm encontrado nessa boa e acolhedora praia, o lugar ideal. A deficiência no policiamento, aliado ao grande número de andarilhos que anoitecem e não amanhecem, fazem da Pipa o paraíso dessa gente.
Mesmo na baixa estação, é grande o fluxo de pessoas advindas de Natal e João Pessoa que chegam, principalmente, para se deliciarem de sua diversificada gastronomia, de padrão internacional, ou mesmo, curtirem a noite da Pipa, com seus bares e boates para todos os gostos. Por conta dessa grande quantidade de flutuantes anônimos é que não raro, bandidos procurados pela justiça, escolhem este paraíso para se refugiar, naturalmente, desfrutando de certa tranquilidade. Aqui, além de contar com a costumeira acolhida nordestinamente pipeira, contam também o completo anonimato.
         Na semana passada, estava no alpendre de minha casa com alguns amigos, quando divisei ao longe, a imagem ainda difusa, de uma figura que logo me remeteu a década de 60. À medida que se aproximava, um turbilhão de lembranças misturava aquela excêntrica criatura as antigas ruas e praças de Natal da minha infância e adolescência.
Caminhava vagarosamente pelas areias da praia, como se procurasse algo. Ao chegar mais perto pude enxergá-lo melhor. Tratava-se de um lambe-lambe! Carregava no ombro, com o tripé voltado para frente, aquele surrado caixote onde de um lado se encaixa um conjunto de lentes esquisitas, e do outro, um pano preto cobrindo toda a extremidade do caixote.
Lembranças de minha infância chegavam com uma nitidez impressionante. Dos passeios na Praça Pedro Velho quando podíamos encontrar os fotógrafos da época, munidos com suas modernas rolleiflex como também os lambe-lambe que pacientemente, sentados em tamboretes em baixo dos fícus benjamina, aguardavam os clientes. Também era comum encontrá-los no Quitandinha no bairro  do Alecrim e na Av. Rio Branco em frente ao antigo Mercado da Cidade, onde atualmente funciona a Agência do Banco do Brasil.
Na Ribeira faziam ponto em frente a CR – Circunscrição do Serviço Militar - aonde recrutas chegando principalmente do interior de estado, se aglomeravam desejosos para se alistarem nas fileiras das forças armadas, ou “assentar praça”, como costumava definir os que residiam no interior do Estado. E esses candidatos a praças, normalmente se valiam dos serviços do lambe-lambe, bem mais em conta que os fotógrafos convencionais e com a vantagem de receber a fotografia em poucos minutos.
         Não pude deixar passar aquela oportunidade de registrar tão curiosa figura. Invertendo os papeis, solicitei ao retratista permissão para fotografá-lo junto com sua câmara lambe-lambe.
         Percebendo seu sotaque portenho perguntei a cidade onde nascera. Disse chamar-se Daniel Doval e que havia nascido no ano de 1961 na província de Entre Rios ao norte de Buenos Aires.    Revelou que nunca gostou de trabalhar em estúdio e sempre foi fotógrafo de rua, com predileção em fotografar turistas. Começou sua carreira profissional tirando fotos pelas ruas e avenidas de Buenos Aires principalmente no bairro de San Telmo onde morava. Conversa vai, conversa vem, foi-me contada um pouco de sua história de vida.
         Certo dia resolveu mudar o estilo e arriscou atrair os pretensos clientes nas fotos de “minuteira” como é conhecido nosso lambe-lambe na Argentina e aí já se vão quinze anos. A denominação vem, desde que foi criado no século XIX, pois as fotos eram reveladas em minutos. Já a denominação de lambe-lambe faz alusão ao fato do profissional lamber a foto após o processo de lavagem, identificando a qualidade da revelação, quanto à eliminação dos sais. Se a fixação tiver sido completa, os sais doces solúveis serão eliminados facilmente na lavagem da foto. Esse processo tornará o tempo de vida útil da fotografia indeterminado.  Caso contrário, os sais amargos, insolúveis, bem como os de sabor metálico não poderão ser eliminados. Neste caso, a vida da fotografia estará seriamente comprometida.
         Nas ruas de Buenos Aires trabalhando com a “minuteira”, percebeu que a grande maioria dos seus clientes era composta por brasileiros em passeio turistico àquele pais. Então pensou: “se aqui está dando certo, lá será muito melhor”! Não teve dúvidas: botou a viola no saco, deixou para trás três esposas, quatro filhos e rumou para o Brasil.
         Em 2009 chegou em Paraty no Rio de Janeiro, onde trabalho por dois anos. Com espirito de giramundo parte para a região nordeste e vai oferecer seus serviços profissionais em Olinda-Pe, cidade turístia que muito ouvira falar quando ainda morava na Argentina. Naquelas ruas entre um instantâneo e outro,  soube da praia da Pipa. Dias atrás desembrcou em nossa praia e se descobriu, segundo ele, num verdadeiro paraíso. E a exemplo de vários outros que aqui chegaram, também demonstrou grande desejo de fixar residência.
No dia seguinte ainda o vi vagando por entres as barracas na beira da praia com sua “minuteira” descansando em cima do ombro, atraindo a atenção dos turistas. De quando em vez atendia a solicitação de um freguês que desejava registrar à moda antiga e em preto e branco aquele momento de descontração. Depois disso, não tive mais notícias do “Don Ruan” argentino. É bem possível que tenha retornado ao seu país, afinal quando partiu deixou para trás, quatro hijos e  três mujeres loucamente apaixonadas.    
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Fonte fotográfica: Blog Genealogia e História, de Ormuz Simonetti