Minhas Cartas de Cotovelo – versão de 2021-35
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Na sexta passada deixei Natal para o refúgio de Cotovelo, buscando, na solidão da minha vida, um pouco de paz de criança dormindo resultante do silêncio que sempre permanece neste pequeno torrão do Município de Parnamirim.
Chego ainda claro, isto é, antes do sol se por, e sou logo recepcionado por Luma – a cadela de Carlinhos, que me tomou um pouco de tempo antes que arrumasse os meus petrechos pessoas.
Um jantar trivial; assisto a missa da Matriz de São Pedro, com o Padre Motta através do celular e subo ao meu quarto onde leio mais uma parte do texto do recente livro de Renan II, um pouco de TV, alguns vídeos de Rick Vallen até que chega o sono e me conduz às dimensões cosmológicas da imaginação.
Tudo coerente com a minha busca do silêncio. Contudo, como bebo muita água, tenho necessidade de verter líquido com maior frequência quando, já na entrada do novo dia – um pouco antes da hora Zero de hoje, escuto um batuque estressante na rua dos fundos da minha casa. Os mesmos, na mesma praça, na mesma rua num jardim sem flores e me vem à tona a situação do meu filho Carlos que dorme num apartamento nos fundos da casa e nos meus amigos que residem na Rua Parnaíba ou Humberto de Campos, cercanias dos batuqueiros do mal.
Não dormi mais, fiquei a meditar e marcar palavras para um texto a respeito deste desrespeito, este que estou agora a escrever. A tirânica farra terminou quando os ponteiros do relógio iam ao encontro das 5 horas, até já se ouvia o assobio dos primeiros pássaros, que aqui são abundantes, Graças a Deus.
Deitei novamente no seio da minha rede até ser acordado quando o marcador das horas caminhava para as 8.
Ligo o celular, notícias más da fuga de 12 presos de Alcaçuz, presídio aqui vizinho e café da manhã pronto para o velho chefe da família que relata ter ouvido na madrugada o galopar de cavalos pela rua atrás.
A camioneta das frutas e verduras caminha na rua, como nos tempos de outrora – fiz os meus pedidos e em seguida um pulo na rampa de acesso à praia onde contemplo a beleza da enseada de Cotovelo e sua maré cheia, em vazante.
Agora é a vez de ler as mensagens do celular, fazer comentários ou respostar alguma coisa, com cautelas para não ferir suscetibilidades.
No meu computador tomo assento para começar a viajar no tempo e espaço, dando asas aos pensamentos e ao culto da saudade dela, minha namorada que partiu, a quem já dialoguei na sala de refeições. Vamos ver o que sou capaz de fazer durante o dia. Amém.