sábado, 17 de junho de 2023

 

Recordando a minha vida de rapaz (Paulo Lira)
(texto de PAULO LIRA, Transcrito do jornal “A República”, edição de 17 de setembro de 1974.)
Numa noite de insônia e cansaço (não cansaço por trabalho, porque esse negócio é relativamente pequeno para mim aqui no Rio [...]) eu passei a rememorar dias da minha juventude de rapaz em Natal. Recordei amigos ótimos, namoros, passeios e farras inúmeras. Que noites maravilhosas.
Companheiros de brincadeiras no centro Náutico Potengi, de passeios extravagantes de bicicletas, do circo de “seu” Stringhini, onde Noel Miranda fez um discurso oferecendo um ramalhete de rosas de mungubeiras, tinhorões e outras flores “raras” ao dono do circo e cujo discurso tinha por tema principal recitar um soneto que começava assim: “Sei que sou um sapo, sinto que crio rabo [...]” e “seu” Stringhini protestava “não apoiado!”.
Noutro circo que fomos na Rua do Cajueiro, entramos também no Picadeiro para desafiar o palhaço e criticar os acrobatas.
O final foi meio ruim: fomos cercados pelos artistas armados de pau e ia se dando uma confusão danada [...] felizmente saímos sãos e salvos.
Sobre passeio na Rua Tamarineira onde João Sizenando encontrou uma senhora debaixo da pitombeira e assombrou-se pensando que era uma alma [...]
De outra feita, saímos a bater nas portas alheias. Um sujeito na Rua da Conceição saiu de revólver em punho para amedrontar a turma. Corremos em louca disparada. Numa construção na mesma rua, Alberto Nesi ficou com o paletó encalhado nos andaimes e gritou “me solta! não fui eu!”.
Daquele grupo fazia parte (denuncio agora): João Sizenando Filho, Ângelo Pessoa, Alberto Nesi, Olavo Gluck, Eider Gomes Ribeiro, Carlos Bahia, João Bahia, Arthur Veiga, Luiz Lira, Arnaldo Lira e eu. Talvez uns dois mais cujos nomes não recordo. Essa era a turma que todas as noites tinha um extravagante programa de canalhismo a realizar. Hoje seria a juventude transviada [...]
Todos nós trajávamos impecavelmente calça de flanela bege ou branca, paletó de casimira azul, camisa de palha seda, sapato branco ou de duas cores, muitas vezes encomendado sob medida no Recife. O João Sizenando Filho caprichava nesse particular. Éramos os amigos mais unidos de todos os tempos.
Ah! Os bailes e festas na casa de Jerônimo Moura! Os bailes de seu Ananias, onde ele obrigava as suas filhas a dançar com a gente. Os furtos de cordões da bandeira da Maçonaria “21 de Março”, para nas noites de escuro (sempre faltava luz em Natal), amarrarmos na altura de uns 30 centímetros ligando um muro à parede da venda de Zé da Luz, a fim de que o vendedor de coalhada tropeçasse ao passar com o tabuleiro cheio de copos.
E os jogos de futebol às 4 horas da manhã pelas ruas de Natal, a caminho do Centro Náutico, todos nós em disparada louca atrás da bola [...]
As missas aos domingos na igreja do Bom Jesus com legião de namoradas acompanhando de longe as meninas da Escola Doméstica. O cinema de seu Leal (Royal) com as cadeiras mais duras do mundo onde eu era pianista. Ali o canalhismo era o maior do mundo, sendo comandado por Zé Herôncio, jogando bombas “tranavalianas” na tela!
Assim foi a minha vida de rapaz, tocando piano e me divertindo em inocentes farras!
Mas, tudo passou, hoje todos estão casados, com filhos e netos (eu só tenho nove até aqui) o resto anda por aí ainda vivo, relembrando como eu, nas noites de insônia e as delícias da nossa vida maravilhosa de rapaz.
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 Santo Antônio, de Lisboa e de Pádua

Padre João Medeiros Filho 

Celebra-se sua festa litúrgica em 13 de junho. Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo era seu nome civil. Nasceu aos 15/08/1195, em Lisboa. Faleceu com apenas 35 anos, aos 13 de junho de 1231 em Pádua (Itália), onde vivera alguns anos. Por essa razão, passou a ser chamado de Santo Antônio de Pádua, não obstante sua origem lusitana. Inicialmente, ingressou na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, tendo sido ordenado sacerdote no Mosteiro da Santa Cruz, de Coimbra, em 1220. Posteriormente, após uma tentativa frustrada de fixar-se no Marrocos – onde pretendia ser missionário entre os muçulmanos – partiu para a Itália. Durante a viagem, foi acometido de grave doença. O navio em que embarcara acabou desviado por uma tempestade para a Ilha da Sicília. Ali chegando, resolveu ir até Assis para conhecer São Francisco. Este o impressionou e marcou tanto sua vida, que resolveu deixar os agostinianos e ingressar na ordem franciscana. Sua lucidez e equilíbrio eram relevantes. Em carta, São Francisco o chama: “Meu bispo”. Grande pregador e conselheiro, Antônio orientou nobres e ricos de seu tempo. Intermediou vários casamentos entre membros da aristocracia europeia. Conta-se que ajudou muitas noivas a comprar o enxoval e pagar o dote esponsal. Daí, nascem a fama de promotor de matrimônios e o epíteto de “casamenteiro”, surgindo também a devoção das moças casadoiras. Combateu os erros doutrinários de sua época com tanta convicção e sabedoria que São Francisco o designou superior provincial dos franciscanos. Sediado no Convento de Arcella (Pádua), viajou pela Europa com tanta rapidez e frequência, a ponto de a tradição atribuir-lhe o dom de ubiquação, pelo qual podia estar em vários lugares ao mesmo tempo. Dotado de grande eloquência, inteligência privilegiada e exímio conhecimento teológico, reiterou que a virtude maior do cristianismo é a caridade. O convento onde morava era rodeado por pobres e famintos, que lhe suplicavam o pão material e o alimento espiritual. A tradição conserva até hoje o símbolo de sua atenção e amor pelos pobres: o pão de Santo Antônio, distribuído à porta dos conventos franciscanos às terças-feiras (dia da semana em que ocorreu o seu sepultamento). Compreendeu desde cedo a lição de Cristo: “O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis” (Mt 25, 40). Para pregar unicamente a Palavra de Deus, renunciou à cátedra da Universidade de Bolonha. Sabia da existência dos mais sedentos da Água que nos sacia e famintos do Pão da Vida. O ministério da pregação foi a prioridade de seu apostolado. Na verdade, transmitia “palavras de vida eterna” (Jo 6, 68). Na sociedade contemporânea, inundada de falas e informações pelas redes sociais e mídia, sua mensagem convida-nos a buscar os ensinamentos que nos salvam. Num mundo contaminado por falsos valores, que nos deixam perdidos e atônitos, ele nos leva a encontrar Deus, “tesouro que a traça não corrompe” (Mt 6, 19). Fez muitos descobrir Jesus Cristo. Impressionou tanto os cristãos e as autoridades eclesiásticas pela sua santidade e sabedoria que o Papa Gregório IX o elevou às honras dos altares, canonizando-o em apenas onze meses após a sua morte, declarando-o Doutor da Igreja. Dada à influência portuguesa e à catequese dos franciscanos, primeiros missionários a aportarem no Brasil, bem como à devoção por parte do povo mais simples, Santo Antônio foi integrado aos festejos juninos, ao lado de São João e São Pedro. Muitos conhecem o folguedo: “Matrimônio, matrimônio, isso é lá com Santo Antônio.” Sua influência contribuiu, à época, no registro batismal de muitos portugueses. Havia incidência significativa do prenome Fernando, oriundo das dinastias espanhola e lusitana. O ilustre frade mudou essa rotina. Muitos passaram adotar o nome do santo como prenome ou acrescentá-lo ao já existente. Exemplo relevante é o do poeta Fernando Pessoa. Essa tradição foi trazida para o Brasil. Podem ser encontrados vários registros de Fernando Antônio nos livros paroquiais de batismo e nos cartórios. Rezamos em nossas igrejas: “Bendito seja Deus nos seus anjos e nos seus santos.”