quarta-feira, 3 de abril de 2024

Um bispado para Assú Padre João Medeiros Filho Câmara Cascudo, ícone da erudição e cultura potiguar, em “História do Rio Grande do Norte”, menciona a paróquia de São João Batista de Assú, como a segunda a ser criada em nosso estado. Isto ocorreu em 1726, no pontificado de Dom José de Fialho, bispo de Olinda. Seguiu-se à provisão canônica um decreto régio, em virtude da vigência do Padroado em Portugal. Entretanto, o historiador caicoense Monsenhor Francisco Severiano de Figueiredo assegura, em “História Eclesiástica da Parayba”, que Goianinha é canonicamente a segunda paróquia norte-rio-grandense. Em 1690, Dom Matias de Figueiredo e Mello erigiu aquela freguesia, dedicando-a a Nossa Senhora dos Prazeres. O citado sacerdote aventa a hipótese de extravio da documentação na Corte, não tendo recebido o edito real, perdendo a validade por força da Concordata. O ato oficial civil só veio a ser publicado em 1746, após a recomposição do processo e as tratativas de Dom Luiz de Santa Teresa da Cruz, quando bispo olindense. O sucessor de Dom Matias Figueiredo foi o religioso carmelita Dom Francisco Lemos. Este incentivou os confrades (por ele enviados à região mossoroense) a pensar numa futura paróquia. Favorecia a localização de Assú, no centro da Província. Ali, eram missionários os jesuítas, destacando-se em 1714 o Padre Miguel de Carvalho. O processo teve tramitação célere, em razão da distância de Natal, sede da única paróquia. Há mais de oito décadas, não se erige no território potiguar uma diocese. A população norte-rio-grandense em 1940, quando da instalação do bispado caicoense, contava 768.018 habitantes. Em 2021, consoante dados da Santa Sé, reproduzidos pelo site “Catholic Hierarchy”, o estado potiguar detinha 3,4 milhões de habitantes, dos quais 85% católicos. Hoje, apenas a população da diocese mossoroense ultrapassa o número de habitantes do RN naquele ano. É importante que os pastores atuais possam dizer, como Cristo: “Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10, 14). Dom João dos Santos Cardoso, arcebispo de Natal, sabiamente em sua primeira Carta Pastoral aos cristãos potiguares, manifesta o desejo de criar mais um bispado com terras desmembradas da arquidiocese. Expressa-se o nosso metropolita, no item 165 daquele documento: “Iniciar o processo de criação de uma nova diocese para melhor atender as necessidades específicas das regiões pastorais.” Referiu-se a um ponto fundamental: a especificidade das microrregiões. A paróquia de São João Batista de Assú canonicamente pertence à diocese de Mossoró. Caberá, portanto, a seu bispo pleitear a constituição de uma nova igreja diocesana. Para tanto deverá ter o assentimento dos titulares de outros bispados, caso algumas das paróquias de suas jurisdições venham a integrar a futura circunscrição. Desde 2001, tenho me manifestado sobre o assunto, em artigos publicados nos jornais: A Verdade, Jornal de Hoje e Tribuna do Norte. Atualmente, a densidade demográfica das dioceses potiguares (1, 1 milhão de hab.) supera a média nacional (750 mil). Caso sejam criadas mais duas sedes episcopais no RN, resultaria numa média de setecentos mil habitantes por circunscrição eclesiástica. De acordo com estudos do Vaticano, o ideal em população para uma diocese é não ultrapassar quinhentos mil habitantes. É relevante também o fator da distância. Por exemplo, São Rafael dista 220 km da sede arquidiocesana. “Não há quem não compreenda quão útil seja para as igrejas demasiado extensas a divisão em novas dioceses”, escreveu São Paulo VI, na Bula “Quantum conferat”, erigindo a diocese de Jundiaí (SP). Assú é polo regional, em torno do qual gravitam vários municípios. Sua vocação de liderança manifesta-se no comércio, na indústria, atividade agropastoril, fruticultura e oferta de serviços. Trata-se de um centro cultural e acadêmico com instituições de ensino públicas e particulares de nível fundamental, médio e superior. Acolhe muitos funcionários de empresas sediadas em municípios vizinhos, tendo a vida familiar, social, financeira e religiosa voltada para “a terra dos poetas”. Esta possui hoje uma população (58 mil) cinco vezes maior que a de Caicó, ao se tornar bispado e quase o triplo de habitantes de Mossoró, quando constituída em sé episcopal. Natal, ao ser alçada à condição de bispado, tinha menos de trinta mil pessoas. Disse Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).

domingo, 31 de março de 2024

Cartas de Cotovelo – Outono de 2024 – 06 Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
A PÁSCOA DE CADA UM É do costume judaico-cristão a comemoração da Páscoa, representando um registro de passagem de libertação do povo Hebreu ou da Ressurreição de Jesus Cristo. Em minha reduzida percepção teológica, considero como Páscoa, embora em outra dimensão, a passagem de quem está perto de nós para um outro plano, este de plenitude espiritual, mas igualmente marcante de um momento triste, como poderia ser de alegria, enfim, uma passagem de acontecimento relevante. Dentro dessa concepção, registro hoje uma passagem de lembrança, de tristeza mesmo, mas de exemplo de vida bem vivida, de compartilhamento muito isonômico de amor, caridade e solidariedade que durou no plano terreno exatamente até 31 de março de 2019, quando não despertou do sono natural dos viventes a minha companheira de 71 anos de convivência THEREZINHA ROSSO GOMES. São cinco anos da viagem final dessa criatura de Deus, de quem tive a dádiva de receber como presente para tanto tempo de caminhada. Chorei muito, mas hoje procuro celebrar sempre a sua partida como uma passagem e, por esse motivo, comemoro o fato como Páscoa, sem medo de cometer qualquer sacrilégio. Por essa razão, substituí a dor pela esperança e pela alegria de poder manter no meu santuário particular uma mulher que tudo fez pela família e pelo próximo. Até os mendigos lamentam a sua ausência, pela bondade e pela luz que transmitia em todos os seus gestos. É bem de ver, entretanto, que não posso evitar alguma lágrima atrevida no instante em que redijo essa crônica de saudade. FELIZ PÁSCOA DONA THEREZINHA.