sexta-feira, 8 de março de 2024
Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Por que?
Suas sementes foram plantadas em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres.
Contudo, independentemente desse fato, a mulher, ao longo da história, sempre se fez presente em vários vetores da existência - mulheres santas, mulheres guerreiras, mulheres do lar e mulheres, apenas mulheres da vida ou do mundo.
Cada uma sabe a sua missão e oferta exemplos de maneira incontáveis.
Toda família tem seus exemplos. Por isso falo da minha mãe - heroina na criação de sete filhos, acompanhando o meu pai pelas comarcas do interior e solidificando o futuro de cada fruto de seu desvelo. Foi múltipla, vencedora. Minhas irmãs Lêda, Elza e Socorro, cada uma com histórias duras, mas igualmente vencedoras.
Minha inesquecível Therezinha, parceira durante 71 anos, deixou dois exemplos de coragem nas pessoas de Rosa Ligia e Thereza Raquel.
Por tudo isso, neste dia, reverencio todas elas - espiritualmente pelas que partiram e fraternalmente para as que continuam a labuta diária, como guerreiras.
PARABÉNS A TODAS AS MULHERES - ELAS MERECEM.
terça-feira, 5 de março de 2024
REVISTA GENEALÓGICA BRASILEIRA
OS MIRANDA-HENRIQUES
A vasta e prestigiosa família de minha mãe foi transplantada de
Portugal para o Brasil no século XVIII. Fundou-a, no Nordeste, Francisco
Xavier de Miranda Henriques, que, durante quase 19 anos, exerceu no Brasil
os elevados postos de Capitão-Mór e Governador das Capitanias do Rio
Grande do Norte (11 anos e meio), Ceará (4 anos) e Paraíba (3 anos). Era
Cavalheiro professo na Ordem de Cristo. Moço Fidalgo da Casa Real,
aparentado com as famílias mais ilustres do Reino. Os Mirandas–Henriques
tiveram posição de excepcional relevo entre a nobreza lusitana. Desde o
século XVII se entrelaçaram com a família dos Condes de Avintes. Uma neta
do 1º Conde, Teresa de Borbom, filha do 2º Conde (D. Antônio de Almeida),
casou em 1604, com D. Álvaro da Silveira e Albuquerque, que foi
Governador do Rio de Janeiro, de 1702 a 1704, e faleceu em 1716. Entre
outros filhos, tiveram Maria de Borbon, que casou com Antônio de Miranda
Henriques, Senhor das Vilas de Carapito e Cadriceira, Comendador de Santo
Estevão de Passos, na Ordem de Cristo e outras; foi Governador e Capitão
General de Mazagão, do Conselho de Sua Majestade. Foram pais de José
Joaquim de Miranda Henriques, que nasceu a 4 de dezembro de 1718, e casou
com a Condessa Ana de Lima, viúva do 4º Conde da ilha – e de Manuel de
Miranda Henriques, Cônego da Basílica Patriarcal, nascido a 30 de abril de
1722 (1). Sobre a origem desta família escreve o Visconde Sanches de Baena
(Indice Heráldico, pág. LXXXVI):
“Henriques, de Castela . Descende esta família, sem dúvida, de D.
Fernando Henriques, filho natural do rei D. Henrique de Castela e de D.
Brites Peres de Ângulo, que vindo para Portugal, foi neste reino tratado como
filho de rei, e dele procedem os senhores das Alcáçovas, e por fêmea todos os
Miranda Henriques, e muitas outras famílias; porque todos folgavam de
aparentar com eles. São suas armas o escudo mantelado: os dois campos altos
vermelhos, e em cada um seu castelo de ouro, o de baixo de prata com um
leão vermelho.”
Luís de Miranda HENRIQUES, “herdeiro da casa de seu pai”,
comendador de S. Julião, Santo André de Sever, Santa Maria de Pena Águia e
de Santa Eulália de Balzar, na Ordem de Cristo, casou , em 3 de dezembro de
1702, com Madalena Luíza de Borbon, irmã de D. Pedro de Mascarenhas de
Carvalho, nascido em 1670, feito Conde S. Domil por D. João V, que o
despachou para Vice-Rei da Índia, em 1732. Luís de Miranda Henriques foi
coronel do Regimento da Armada e General de Batalha, posto em que serviu
na guerra de 1704”. (D. Antônio Caetano de Souza, op. cif. vol. XI, págs, 910
e segs).
O Rio de Janeiro foi governado, de 1633 a 1637, por um Miranda
Henriques – Rodrigo – que foi Cabo Militar da Praça da Baía, Capitão da
Companhia de Arcabuzeiros, e sucedeu a Salvador Correa de Sá e Benevides
no governo de Angola, onde faleceu, em 1652. (Pizarro – Memórias
Históricas do Rio de Janeiro, tomo II, PÁG. 250: Baltazar da Silva Lisboa –
Anais do Rio de Janeiro, pág. 113, tomo I).
Quanto às armas dos Mirandas-Henriques, assim se expressa G.L. dos
Santos Ferreira (Armorial Português, Lisboa, 1925, pág. 167, I Parte);
________________________
(1)Sobre os Miranda-Henriques ler o Cap. XV do Vol. XVI da História
Genealógica da Casa Real Portuguesa, 1743, de D. Antônio Caitano de
Souza, intitulado “De D.Branca de Eça e sua descendência”, pág.764
“765 --- Henriques (de D. Fernando Henriques). De vermelho, com um
castelo de ouro, de três torres; mantelado de prata, carregado de dois leões
de púrpura, o da direita voltado (2).
“Timbre --- O castelo do escudo, a torre do meio encimada por um leão de
púrpura, sinte.
O fundador da família Miranda-Henriques no Brasil, o velho
Capitão-Mór, pertencia ao ramo Sandomil, isto é, à mais alta nobreza de
Portugal. No perfil do Marquês de Pombal, Camilo Castelo Branco descreve
(págs.17 a 41) o torneio havido em Lisboa, em 1738, por iniciativa do
Visconde de Vila Nova de Cerveira, estribeiro-mór da Princesa do Brasil , o
qual “convocou trinta e dois fidalgos da primeira grandeza, para festejarem
o natalício da futura rainha D. Maria Vitória, com escaramuças militares, ao
estilo africano, e corrida de touros pelos fidalgos mais peritos e celebrados
nessa prenda”. Os nobres constituíam quatro grupos ou fios, de oito cada
um, encabeçados por um guia. O 4º grupo era assim composto:
GUIA
Conde S. Miguel
{D. Francisco de Meneses (Ericeira)
[Visconde de Vila Nova de Cerveira (Teles)
CAVALEIROS
{D. Álvaro José Botelho (S. Miguel)
{ Francisco Xavier de Miranda Henriques (Sandomil)
{ D. Marcos de Noronha (Arcos)
{ José Joaquim de Miranda Henriques
CONTRA-GUIA
D. Luís de Souza (Calharis)
Eis a alta Hierarquia do Capitão-Mór que, no ano seguinte àquela
cavalhada, assumia o governo do Rio Grande do Norte, no qual se manteria
por quase doze anos, austero, decente, de uma proibidade proclamada pelos
documentos da época e pelos historiadores que têm apreciado a sua
administração naquela Capitania e nas do Ceará e da Paraíba. Tendo
assumido o governo a 18 de dezembro de 1739, deixou-o a 30 de maio de
1751. Foi muito combatido, em virtude, única e exclusivamente, de sua
irredutível integridade, que não vacilava em contrariar interesses
prejudiciais à causa pública. O Senado da Câmara de Natal chegou a
representar a EL-Rei contra o Governador, um pouco desprimorosamente,
diga-se de passagem, porque ele já estava aguardando substituto quando
ocorreu a lembrança da representação:
“Temos por notícia que se acha provido Pedro de Albuquerque e
Melo para Capitão-Mór desta Capitania ... Diremos a V. Majestade que os
governadores por estarem a mais de três anos causa grande descômodo ao
povo, porque se afeiçoam a algumas pessoas e por razão destas fazem
injustiças. “ (Tavares de Lira - História do Rio Grande do Norte, pág. 325).
(2) “Em Espanha trocam a ordem do mantelado, tomando por lugar principal
o mantel, e por lugar secundário o campo do escudo . Assim usam, em
Portugal, a casa das Alcáçovas e os Miranda-Henriques.”
As armas dos Miranda-Henriques ornam o teto do Paço de Sintra.
(Anselmo Braancamp Freire – Os Brasões da sala de Sntra, vols.)
Sobre ele escreveu o ilustre historiador norte-rio-grandense,
desembargador Antônio Soares, na “República”, de Natal, 13 de julho de
1930:
Miranda Henriques era Moço Fidalgo da Casa Real e contava, ao
tempo da nomeação, 18 anos, 11 meses e 29 dias de serviço no Reino de
Portugal e na praça de Mazagão, a princípio como soldado de Cavalaria no
regimento de que foi Coronel-Brigadeiro o Marquês de Marialva. Em 1733,
ainda em Mazagão, continuou voluntariamente no serviço da praça, como
soldado infante, passando depois a cavaleiro, “acobertado com armas e à sua
custa” –e outra vez soldado infante, ocupou o posto de capitão da infantaria,
por patente do governador da dita praça, João Jacques de Magalhães. Em
todo esse tempo, “sem nenhuma nota” -- diz a Parente Real – Miranda
Henriques achou-se em várias ocasiões de combates travados contra os
mouros, mostrando “valor e assistindo as suas obrigações com pontualidade
e obediência”. Nos dois anos seguintes, entrou em novos reencontros,
portando-se com abnegação e coragem. Em 1736, constando que uma
embarcação moura achava-se ancorada para dentro do cabo de Azamor, o
governador de Mazagão, Bernardo Pereira de Berredo, enviou, para
capturá-la, dois barcos armados em guerra, indo um deles o capitão Miranda
Henriques, que agiu “com grande valor e distinção”. A diligência foi
executada com êxito, conseguindo os expedicionários , na mesma noite, a
rendição da nau inimiga, que, com a guarnição de 28 homens e o seu
carregamento de fazendas, foi, pela manhã, conduzida para Mazagão .”
Miranda Henriques, deixando o governo do Rio Grande do Norte
em 1751, regressou ao Reino, segundo se presume.Em 22 de abril de 1755,
assumiu o Governo do Ceará, deixando-o em 11 de janeiro de 1759. Em 20
de abril de 1761, assumiu o governo da Paraíba, que deixou a 20 de abril de
1764.
Era pobre , segundo o testemunho dos contemporâneos e segundo
se infere da altiva carta que endereçou ao rei, em 20 de março de 1757,
queixando-se das misérias que passava, com o ridículo vencimento de Cr.$
400,00 anuais, tendo chegado ao ponto de tomar um empréstimo de Cr.$
4.100,00 ao cofre dos órfãos, e se não fora a intervenção de seu secretário,
Caetano José Correa, figuraria o nome da autoridade mais graduada da
capitania entre os daqueles que mendigaram do governo esse pequeno
obséquio (Barão de Studart – Notas para a História do Ceará). Endereçou
uma petição ao Capitão General de Pernambuco, requerendo uma anuidade
de Cr.$ 200,00 para residência, pois no Rio Grande do Norte tinha direito à
aposentadoria, e no Ceará não a tinha, embora a tivesse o ouvidor. O
Capitão General concedeu-lhe o favor pleiteado. Seu ato, porém, não foi
aprovado, e Miranda Henriques foi intimado a restituir aquela importância
ao erário. Durante os largos anos em que exerceu aquele cargo, em três
Capitanias, não logrou nenhuma melhoria nos proventos que auferia: Cr.$
400,00 anuais. Acabou, após uma permanência tão demorada no nordeste
brasileiro, se afeiçoando à região, onde se fixou definitivamente, após a sua
missão governamental na Paraíba. Adquiriu ali uma propriedade,
tradicionalmente conhecida por “Bolandeira”, em Areia, proveniente de um
primitivo engenho de descaroçar algodão. Seu primogênito e homônimo,
patriarca sertanejo, era chamado “Xavier da Bolandeira’. Toda a família
saída daquela terra mater passou a ser nomeada “Bolandeira”, como um
título de nobreza, revivescência de velho costume feudal que vinculava à
terra o destino de seus fundadores e povoadores.
A família Miranda Henriques, no Nordeste, procede deste
venerando Capitão-Môr, que faleceu em avançada idade, na Paraíba.
Espalhou-se pelo Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, e seus
descendentes conservam aquelas virtudes esplêndidas que eram atributo do
digno genearca. É uma grei imensa de fazendeiros, comerciantes, doutores,
políticos, sacerdotes. Em Pernambuco nasceu Antônio Henriques de
Miranda, e, na Paraíba, Manuel Lobo de Miranda Henriques, filhos de João
José de Miranda Henriques, o segundo dos quais foi revolucionário em
1817, tendo permanecido preso nas Cadeias da Relação da Baía: Presidente
das Províncias de Alagoas (1831) e Rio Grande do Norte (1833): deputado
geral, eleito a e reconhecido, à Câmara nati-morta de 1842. Foi o pai de
Aristides Lobo, que era, assim, um legítimo Miranda Henriques, nascido na
Paraíba. Membro eminente desta família foi o Arcebispo D. Adauto
Miranda Henriques, lustre do episcopado brasileiro, falecido em 1935. Era
primo e amigo do meu avô materno, Augêncio Virgílio de Miranda
Henriques. Em sua homenagem é que recebi, na pia batismal, o nome que eu
tenho. Em uma de suas visitas pastorais pelo interior do Rio Grande do
Norte, àquele tempo sob a jurisdição episcopal da Paraíba, fui por ele
crismado, em Mossoró, onde residiam meus pais e avós. De S. Excia.
Revma. recebi preciosas informações sobre as origens da família no
Nordeste. Cartas infelizmente extraviadas quando transferi minha residência
para o Rio de Janeiro. Da correspondência com que honrou, resta apenas um
cartão, em que resolvia uma dúvida genealógica, assim redigido:
“Exmo. Am.º e parente Dr. Adauto da Câmara. Afetuosas
saudações. A causa da demora de minha resposta à sua prezada carta foi a
pesquisa que fazer, sem nenhum resultado, infelizmente. Apenas fiquei certo
do que supunha o Exmo. Sr. Dr. Soares (3), isto é, o chamado Capitão-Môr
do engenho Bolandeira, na freguesia da Cidade de Areia, era o filho mais
velho do Capitão-Môr que deixou o Governo desse Estado em 1751.
Certamente esse título de Capitão-Môr seria de herança. Com os meus
afetuosos cumprimentos, faço os mais sinceros votos de felicidade
verdadeira ao nosso bom Deus. D. Adauto A. de Miranda Henriques.
Paraíba, 12-VIII-1930.”
Meu bisavô materno, Antero Frederico Borges de Miranda
Henriques, era neto do Capitão-Môr e Governador Francisco Xavier de
Miranda Henriques, entroncado, assim, na melhor gente lusitana. Faleceu
quase centenário, em Parelhas, Rio Grande do Norte, aos 23 de abril de
1915, deixando uma descendência bíblica: 18 filhos, 110 netos, 119
bisnetos, segundo registrou “A República”, de Natal, noticiando o seu
passamento.
________________________
(3)Desembargador Antônio Soares, escritor e linhagista, antigo Presidente
da Corte de Apelação e da Academia de letras do Rio Grande do Norte.
__________________________________________________
INSTITUTO GENEALÓGICO DO RIO GRANDE DO NORTE
Por Nélio Silveira Dias Júnior,
“Felinto Lúcio: um músico excepcional, um orgulho potiguar
Felinto é uma figura que nos enche de orgulho, lembrando-nos de que, se a luz está disponível para todos, o brilho é fruto de dedicação e esforço de cada um.
Desde criança, Felinto Lúcio Dantas aprendeu com os pais os segredos da agricultura, e desenvolveu um profundo amor pela terra, acreditando que, cuidando dela, também estaria tratando de si mesmo. A terra lhe deu tudo: alimentação e ensinamentos e, nela, trabalhou até seus últimos dias.
Nasceu em família numerosa, em Carnaúba dos Dantas/RN, em 1898, fazendo ali a sua morada, e do sertão, a inspiração.
Além da terra, a sua paixão era a música.
Sua vocação musical despertou ao assistir, com a banda filarmônica de Acari/RN, aos ensaios das músicas de seu primo Tonheca Dantas (1871-1940), compositor, dentre grande produção musical, da valsa Royal Cinema, entusiasticamente aplaudida no Brasil e no Exterior.
Felinto começou, como relatou em entrevista, “como todo mundo, tocando um instrumento, depois dirigindo banda e, consequentemente, regendo-a, até chegar a composição”, mas, segundo ele, “nunca fiz nada que prestasse dentro dessa coisa toda”.
Simplicidade à parte, Felinto foi grande em toda a música que fez, reconhecido no Seridó, no Rio Grande do Norte, no Brasil e no mundo. Um gênio mesmo.
Com dinheiro suado da pequena agropecuária, Felinto pagou aulas com Pedro Arboés, professor de música da região. Aprimorado o seu talento, não tardou para trilhar o caminho da composição.
A primeira composição fez aos 17 anos, o dobrado "Estreia"; a última, aos 88 anos, a valsa "Delzira Maria Dantas", homenagem a sua segunda esposa. Nesses 71 anos dedicados à música, construiu uma obra surpreendente, composta por 83 dobrados, 42 valsas, 36 obras sacras, 12 marchas, 9 hinos, 4 mazurcas, 4 choros.
A música sacra de Felinto Lúcia era diferenciada. Compôs hinos, missas e novenas, destacando-se inúmeras partes dessas obras da liturgia católica, tais como: "Pai-Nosso", "Ave-Maria" “Gloria”, “Credo”, “Agnus Dei”, “O Salutaris Hostia”, “Kyrie”. São composições que iluminam corações e fortalecem a aproximação com o divino: melodias envolventes, em músicas que transmitem fé e suscitam adoração.
Suas músicas deixaram o sertão do Seridó para ganhar notoriedade nos grandes centros do Brasil, como Rio de Janeiro, e mesmo da Europa.
Sua música "Quinta Novena" foi executada na missa celebrada pelo Papa São João Paulo II, em 1997, na Catedral do Rio de Janeiro.
Recentemente, no dia de Corpus Christi de 2021, foi cantado no Vaticano um Tantun Ergo, de Felinto Lúcio, tradicional hino eucarístico sobre a letra de São Tomás de Aquino, de 1264. Um seu “O Salutaris Hostia” também foi ouvido há pouco tempo no altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, por ocasião da novena do Apóstolo.
Esse Tantum Ergo Felinto Lúcio compôs “em 1957 em latim, para duas vozes. Comumente as suas obras sacras eram escritas para que duas de suas filhas cantassem durante a missa. Sua introdução foi inspirada no canto do pássaro Anu-branco"
(periodicos.unespar.edu.br - O plantador de sons).
No sertão do Seridó, a beleza verdejante da natureza se une à transcendência da música sacra de Felinto Lúcio Dantas, criando um cenário de encanto e devoção.
Outro tipo de música ao qual Felinto se dedicou foram as valsas. Compôs várias delas, como, por exemplo, "Culpa e Perdão", "Adélia", "Lúcia Dantas", “Ana Dantas”, "Teresa Maia".
Em 1978, por iniciativa do MOBRAL, lançou em um LP duplo algumas de suas obras, contando com a participação de grandes músicos do cenário nacional, sob a coordenação do maestro Radamés Gnattali, grande artífice da aproximação da música erudita e popular no Brasil. Em Natal, o lançamento desse álbum ocorreu no Palácio do Governo, em cerimônia solene, patrocinada pelo então Governador Tarcísio Maia, seu admirador. Com esse evento, o compositor se tornou mais conhecido em todo Estado e no País.
Como lembra o poeta e ex-professor universitário Francisco de Sales Felipe, a quem Felinto Lúcio dedicou, em 1978, a marchinha Sales, suas músicas exalam espiritualidade e emoção, tocando profundamente a alma de quem as ouve. “É um Deus da música!”
Para atender ao público da região, Felinto compôs também muitos dobrados para as bandas locais, peças que se ouvem frequentemente ainda hoje, geralmente em solenidades, às vezes desconhecendo os ouvintes e mesmo os músicos quem é o admirável compositor. Dentre tantos, citam-se "Mobral 59", "Caetano Dantas 58", "Paulo Lúcio Dantas 55", "Flávio Lúcio Dantas 57".
A sua inspiração era a terra. Não compunha no luxo de vivendas ou gabinetes, mas, em sua maioria, trabalhando nas suas lavouras, a sol a pique, fazendo, muitas vezes, do cabo de sua enxada o seu lápis, rabiscando as notas musicais na areia do Rio Carnaúba. Só depois passava para o papel, pois a natureza era sua escola, como costumava dizer.
Felinto Lúcio buscava preservar as tradições musicais do sertão, mantendo vivas as raízes e os valores culturais da região. Compunha para aquela realidade cultural, para o coro da igreja, as bandas locais. O hino da cidade de Carnaúba dos Dantas é de sua autoria, e é a prova disso.
A Banda Filarmônica de Acari/RN, da qual passou a ser regente em 1920, atualmente tem seu nome. No largo em frente da sede da banda, está estátua sua, obra do artista Guaraci Gabriel, e iniciativa da Prefeitura Municipal, na qual Felinto exerceu o cargo de secretário de 1944/1968, com relevantes serviços prestados.
O Governo do Estado do Rio Grande do Norte ofereceu a Felinto Lúcio, em 1986, medalha da ordem do mérito no maior grau, tendo-lhe prestado homenagens a UFRN e o IFRN.
Felinto Lúcio faleceu em 1986, deixando saudade aos amantes da melhor música. Teve 30 filhos, sendo 14 com a primeira esposa, Antônia Jacinta de Medeiros, e 16 com a segunda, Delzira Medeiros Dantas. Todos homenageados em sua obra.
Felinto Lúcio Dantas, "um plantador de sons".
Seu talento e paixão pela música são evidentes em cada nota, levando os ouvintes a uma experiência transcendental. E, ao compartilhar sua música sacra, espalhou luz e inspiração por todo o Rio Grande do Norte, conectando as pessoas com o sagrado, e confirmando sua espiritualidade.
Fontes:
Fundação José Augusto (Adecon)
Revista do Galo, n. 5, p. 31–42, 1 maio 2022
Canal do YouTube- Presto Música de Victor Dantas
Tribunal do Norte, 4/6/2021
Francisco de Sales Felipe (Em conversas de alpendre)
TVU – Memória Viva – Felinto Lúcio - 1982”
A misericórdia, virtude quaresmal
Padre João Medeiros Filho
A misericórdia é uma das faces da caridade e compaixão. O termo deriva do latim e significa etimologicamente ter o coração (“cor”) voltado para os pobres (“miseri”), estar em comunhão com eles. Entretanto, não se deve entender o significado da palavra pobre na dimensão socioeconômica, mas na semântica bíblica. Na Sagrada Escritura o étimo tem um sentido amplo. Lembra o carente, quem sofre física ou espiritualmente etc. Assim deve-se ler o texto do evangelista Mateus. Os despojados dos bens efêmeros alcançarão a felicidade, na medida em que serão saciados de Deus e suas graças. Assim como a pobreza, a misericórdia integra as bem-aventuranças do Evangelho. “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos céus; bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão a misericórdia” (Mt 5, 3; 7).
O misericordioso se compadece dos que têm carência no corpo ou na alma. Isto abrange a empatia com os que têm a vida árdua. A palavra inclui a atitude de quem consegue sair de seu egoísmo em busca dos outros, notadamente dos afligidos por todos os tipos de miséria material ou espiritual. Nas diferentes religiões, há convergências em relação ao significado do vocábulo misericórdia, incluindo o respeito pelos outros e a reverência pela vida.
A teologia entende essa virtude, não apenas quando se volta para o próximo, de forma emocional, mas também, de modo eficaz, na medida em que se tenta superar a limitação e o padecer. Desde os primórdios do cristianismo, os fiéis praticam esse gesto de solidariedade com os sofridos, desvalidos, esquecidos, não só no plano espiritual, mas também corporal. Segundo os Atos dos Apóstolos, as primeiras comunidades cristãs consolidaram o cuidado com os órfãos, viúvas e doentes, expressando a caridade eclesial por meio dos diáconos, agentes da ternura da Igreja primitva (cf. At 6, 1-6). O momento é oportuno para repensar a função do diácono, realçando seu papel de ministro da ação misericordiosa, e não apenas como mero coadjuvante na liturgia.
A misericórdia foi sendo introduzida na cultura ocidental, tornando-se um dos pilares da humanidade. Hoje, esta prática evangélica tomou formas secularizadas, algumas sistematizadas em programas sociais de governos. No entanto, várias têm se mostrado ineficientes. A Igreja continua expressando a sua face caritativa aos mais fracos, inspirada nos ensinamentos de Cristo. No nascedouro do cristianismo no Brasil, é marcante a postura de caridade evangélica realizada pelos jesuítas nas Santas Casas de Misericórdia, precursoras das instituições hospitalares e dos órgãos de previdência social. No Nordeste, destaca-se a obra de Padre Ibiapina com as Casas de Caridade. Dignos de reverência são os inúmeros orfanatos, creches, ambulatórios e escolas, criados e mantidos por congregações religiosas e paróquias.
Na Bula “Misericordiae Vultus”, o Papa Francisco afirmou: “Tal dinamismo é uma das vigas que sustentam a vida da Igreja.” Assim expressara Santo Irineu: “Um dos sacramentos mais expressivos do Divino.” A credibilidade eclesial passa por esse caminho. Este não é um sentimento espiritual vago, teórico e abstrato, mas uma atividade responsável, abrangendo o amor de Deus por nós. O apelo misericordioso deriva da deficiência de um direito humano, inerente à própria criação. Tal carência necessita ser preenchida. É um clamor que convoca os cristãos a dar uma resposta efetiva e real, que tem seu fundamento na Palavra de Deus. Nosso julgamento final far-se-á a partir dos atos de misericórdia (cf. Mt 25, 35-46). Assim entendeu o Padre João Maria, “o santo de Natal”. Trata-se de conversão, não a uma ideia, mas à concretude do amor de Cristo. E isto é uma prática quaresmal. A Igreja deve ser ícone, imagem do Deus que revela seu afeto por nós. O amor do Pai celeste é pleno de ternura, clemência e tolerância. Sua benevolência se apieda de nós. É a dinâmica do afeto divino, que vem ao encontro do ser humano em suas necessidades, seja ele ou não pecador, tenha ou não fé no Deus que se solidariza com seu sofrimento. A graça de Cristo possibilita a nossa conversão e abertura ao próximo. É importante lembrar a recomendação do Mestre: “Sejam misericordiosos como o vosso Pai” (Lc 6, 36).
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