quinta-feira, 3 de junho de 2021

 


E “LA NAVE VA”. PARA ONDE NINGUÉM SABE

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia

 

Nos tempos em que vivemos, a realidade supera todos os conceitos estabelecidos pela ciência. Tomemos só dois exemplos: o governo federal se impõe sobre o senso comum e o senso cientifico, ao dizer que a cloroquina cura; um físico italiano, Carlo Rovelli, afirma de pés juntos que o tempo não existe. Isso nos leva a um caos que dá um nó na cabeça de todos, situação em que só as teorias de ponta podem nos salvar.

Vamos à ciência. Paralelamente aos estudos que culminaram com a teoria do caos, outras pesquisas “culminaram na formulação da mecânica quântica na segunda metade da década de 1920 [...], quando Max Planck logrou explicar, através de uma hipótese que a ele próprio repugnava, o espectro de radiação do corpo negro” – não confundir com buraco negro (CHIBENI, s.d.).

Esse novo ramo da física, a mecânica quântica, basicamente estuda sistemas (na física, sistema é uma parte da realidade escolhida como objeto de estudo) que estão em escala atômica ou lhe são inferiores: moléculas, átomos, prótons, elétrons, nêutrons e demais partículas subatômicas. Sua aplicação prática está relacionada, por exemplo, aos estudos da superfluidez e da supercondutividade, para o que os instrumentos usados pela física tradicional se mostram inapropriados. Quando um fenômeno exige a aplicação dos conceitos da mecânica quântica, é porque esse evento tem as características do que se convencionou de chamar de “momento angular” de ação.

Ao introduzir o conceito da imprevisibilidade ou do acaso, a mecânica quântica substituiu o determinismo científico por uma visão probabilística da natureza, entendendo que a matéria é uma consequência física de um estado que precede a outro estado. Para a mecânica quântica não há movimentos estáticos e lineares, todos os movimentos podem ser dinâmicos, inesperados e incertos. Em síntese, a mecânica quântica trabalha com elementos imprevisíveis, para evidenciar probabilidades. E como, na realidade brasileira!

Partindo do princípio de que as ciências interagem entre si, a mecânica quântica terminou por fazer surgir um novo ramo da matemática. Tradicionalmente essa é uma ciência que trabalha com quantidades mensuráveis – absolutas, relativas, geométricas ou topológicas –, usando fórmulas, equações, teoremas e funções como instrumentos de suas análises e constatações, empregando números reais ou números complexos (assim chamados os números que têm um determinante imaginário). Foi nas “análises funcionais”, aquelas que tratam de dimensões e espaços imensuráveis, que a mecânica quântica foi buscar o ferramental necessário para a sua formulação teórica.

A nova visão da matemática incorporou os estudos dos chamados grupos quânticos. Porém, Hakon et al (1999) afirmam que “não há uma definição satisfatória universalmente reconhecida do que seja um grupo quântico. Todas as propostas em vigor sugerem a ideia de deformação de um objeto clássico, que pode ser, por exemplo, um grupo algébrico, ou um grupo de Lie [Álgebra de Lie é uma estrutura algébrica usada como ferramenta para o estudo das rotações infinitesimais]. E em todas as propostas os objetos deformados perdem as propriedades de grupo: assim, ‘grupos’ quânticos não são grupos. O que sempre se procura preservar nas deformações é o entendimento das diversas representações que os objetos admitem”.

A matemática quântica faz uso da análise, geometria, topologia e álgebra com funções não lineares, trabalhando com elementos imprevisíveis para demonstrar possibilidades de resultados, isso é, resultados possíveis. Embora inicialmente contestada, hoje a mecânica quântica é amplamente aceita, depois que seu posicionamento teórico se comprovou correto. Em síntese, a matemática quântica trabalha com elementos imprevisíveis, para detectar probabilidades.

Viram como o mundo está difícil de entender? Pois bem, o Brasil está mais ainda. O presidente da República desrespeita as recomendações do seu ministro da Saúde, uma CPI do Parlamento transforma-se em um circo de horrores e um general agride o Regimento do Exército. E “la nave va”. Não se sabe para onde.

 

Tribuna do Norte. Natal, 02 jun. 2021.

 





 

A solenidade de “Corpus Christi

Padre João Medeiros Filho

A festividade de “Corpus Christi” (Corpo de Cristo) é celebrada sessenta dias após o domingo da Páscoa. Foi instituída pelo Papa Urbano IV, por meio da Bula “Transiturus”, em 8 de setembro de 1264. Na época, o Sumo Pontífice tomou conhecimento de que a freira belga Juliana Mont de Cornillon, da diocese de Liège, tinha visões de Jesus pedindo-lhe uma festa litúrgica anual em honra do Santíssimo Sacramento. Outro motivo influenciou a decisão de Sua Santidade. De acordo com relatos eclesiásticos, Padre Pedro (da diocese de Praga) tinha, em alguns momentos, dúvidas sobre a presença de Cristo na Hóstia Consagrada. Voltando de Roma para a Tchecoslováquia, o aludido sacerdote foi celebrar na cripta de Santa Cristina, em Bolsena (Itália). Ali, aconteceu algo miraculoso. Durante a elevação, começaram a cair gotas de sangue sobre o altar e o corporal. Este foi levado para a Catedral de Orvieto, onde é conservado até hoje.

A Eucaristia é a prova permanente da doação plena de Deus, ternura do Pai, abraço divino que nos é reservado, beijo do Eterno, que no silêncio do Pão da Vida mostra-nos seu amor e perdão. Eis o “Tão Sublime Sacramento”, segundo o poema de Santo Tomás de Aquino, continuidade da presença celestial temporalizada na Encarnação. Cristo quis se unir à humanidade. E esta, a partir de então, passa a ter um valor transcendente. O ser humano torna-se sacrário de Cristo!  A fragilidade assumida pelo Verbo Encarnado é elevada no Sacramento Eucarístico. Os contemporâneos de Jesus, ao ouvirem do Mestre que haveriam de comer a sua carne e beber o seu sangue, consideraram duras demais as suas palavras (cf. Jo 6, 53-60). E, não querendo aceitá-las, foram se retirando. Cristo questiona, então, os apóstolos: “Não quereis também vós partir?” Pedro respondeu-lhe: “A quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6, 68-69). A Encarnação é, sem dúvida, um gesto inefável do amor de Cristo. Mas, Ele quis ir além, culminando com a Eucaristia. Graças à fé, podemos sentir essa teofania de Jesus, concedida por Deus a seus filhos diletos.

O Pão Eucarístico perpetua também os ensinamentos do Divino Mestre. Primeiramente, dá-nos a lição de humildade e serviço. “Com efeito, o que entre vós for o menor, esse é o maior.” (Lc 9, 48). Na Hóstia, o Filho de Deus faz-se pequeno para caber em nosso coração. Nesse mistério sacramental, o Senhor deixa-nos o legado da verdadeira fraternidade. Torna-se alimento igual para todos: pobres e ricos, santos e pecadores. Ele ajuda-nos a compreender o perdão. É difícil perdoar, pois ultrapassa o entendimento e a lógica humana. No Pão Sagrado, o Redentor nos ensina a ser simples, desarmados e de braços estendidos. Deu-nos o exemplo, quando pendeu da Cruz, precedido pelo ato de sua generosidade na Última Ceia. No Altar, Jesus continua seus milagres de misericórdia e compaixão. Durante sua existência terrena, curou doentes e ressuscitou mortos. Hoje, pela Comunhão revitaliza os irmãos amortecidos pela dor, angústia, ausência de Deus e tibieza na fé. 

Quem sente falta do Divino, vai buscá-Lo na grandeza dessa presença silenciosa. Ele deixa que sua Palavra repercuta no íntimo de quem se achega para mitigar todo tipo de fome e sede. “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18), largados à própria sorte, prometeu o Senhor. Na Eucaristia contamos com a companhia divina, antecipação da eternidade, onde gozaremos o definitivo de nossa história. A Eucaristia é Deus em Cristo, amainando em nós as saudades do Infinito.

           Cristo é nossa fortaleza e nos ajuda a caminhar. Quanto mais O temos presente, mais O buscamos, pois Ele é Mistério, ou seja, o Inesgotável. Vivemos a preparação e o aprendizado do nosso encontro definitivo com Ele. Ao participarmos da Santa Comunhão, já não ficaremos sozinhos, Jesus estará conosco. “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20). Cônego Luiz Gonzaga Monte, um sábio e santo que morou entre nós, expressou seu sentimento místico e teológico: “Sem aprendizado do nosso encontro definitivo com Ele. Ao participarmos da Santa Comunhão, já não ficaremos sozinhos, Jesus estará conosco. “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20). Cônego Luiz Gonzaga Monte, um sábio e santo que morou entre nós, expressou seu sentimento místico e teológico: “Sem a Eucaristia somos pequenos demais para o Céu, com ela grandes para a terra.


terça-feira, 1 de junho de 2021

 

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-27

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Após longo prazo de silêncio, retorno, ainda cambaleante, ao ofício de intercambiar com os meus amigos da praia de Cotovelo e além dela, atualizando acontecimentos e trabalhos desenvolvidos nesse ínterim.

            Primeiramente fui tomado por uma enfermidade inesperada, que me custou mais de uma semana para clarear, tudo com o medo do fantasma da covid 19, obrigando-me a realizar uma tomografia e muitos exames de sangue e outros até ser descartada a doença pandêmica, tampouco qualquer problema pulmonar, embora tenham ficado resquícios de outros problemas que serão debelados no devido tempo.

            Quando ainda estava no gozo total da minha saúde, resolvi fazer um empreendimento para a população local, com uma escadaria de acesso à praia, em forma de rampas, para permitir a descida de deficientes físicos e cadeirantes. Não pude acompanhar pari passu, mas a sensibilidade de Octávio Lamartine aceitou executar o meu desejo, a ele se agregando como parceiro. E o barco está caminhando, com o custo todo da nossa parte (eu e Octávio), mas o empreendimento pertencerá ao povo.

Outra vez em Natal para completar tratamentos, oportunidade em que tive a alegria de um encontro fraterno com os confrades do Café Avenida onde distribui o meu livro “Amor de Outono” e assisti a coroação de Nossa Senhora na Matriz de São Pedro Apóstolo, com a celebração do meu amigo Padre Francisco Motta. Momentos de rara emoção que me fortaleceram para retornar para o meu abrigo de Cotovelo.

 


Novamente retornei a Natal para completar tratamentos, oportunidade em que tive a alegria de um encontro fraterno com os confrades do Café Avenida onde distribui o meu livro “Amor de Outono” e assisti a coroação de Nossa Senhora na Matriz de São Pedro Apóstolo, com a celebração do meu amigo Padre Francisco Motta. Momentos de rara emoção que me fortaleceram para retornar para o meu abrigo de Cotovelo.

  Agora estou vivendo nesta ponte rodoviária para atender às exigências da vida, mas sem perder os meus laços afetivos com os dois lados, do que já me acostumei. Afinal, ninguém se perde no caminho da volta.