terça-feira, 2 de maio de 2023

 

Maio, a mitologia e a Virgem Maria

Padre João Medeiros Filho

Durante o mês de maio, a Igreja Católica cultua, de modo especial, a Mãe de Cristo e dos homens. Na primavera europeia, dentre as flores que desabrocham, estão as rosas. Partindo dessa realidade e de uma metáfora, a Igreja quis celebrar a beleza daquela que é a “Rosa Mística”, umas das invocações contidas na Ladainha Mariana. Justo e merecido é esse preito de gratidão à Virgem, modelo de vida cristã. Há outras razões históricas e mitológicas para as celebrações deste mês. Desde a Antiguidade, bem antes do nascimento de Cristo, o quinto mês do ano já era ligado a um personagem feminino. Seu nome é em homenagem a uma deusa da mitologia greco-romana, conhecida por Maia. Esta, segundo Junito Brandão e outros estudiosos do assunto, era a mais jovem das sete Plêiades, filhas de Atlas e Afrodite. Protetora do florescimento, Maia é associada à primavera, que atinge o seu esplendor no hemisfério norte, em maio.

No calendário civil, organizado por Rômulo na fundação de Roma (753 A.C), já havia ligação dessa época do ano com um arquétipo feminino. A constelação que mais se destaca nas noites de maio é justamente a de Virgem, com sua brilhante estrela Spica. Deste modo, o firmamento passou também a ser relacionado com uma figura feminina. Vale salientar que a constelação de Virgem já foi conhecida como Anna, a deusa do céu e esposa do deus sumério Anu. Outrora, tal astro também esteve vinculado a Deméter, divindade romana da agricultura e a Eva, esposa de Adão, de acordo com o relato do Gênesis.

Com o advento do cristianismo uma nova e excelsa mulher destacou-se: Maria Santíssima, a Genitora de Cristo. E assim, a veneração a Nossa Senhora veio preencher uma lacuna existente no catolicismo ocidental e oriental. Segundo a tradição cristã, o fato da Jovem de Nazaré ser filha de Ana (ou Hanna em hebraico), cujo nome está ligado à constelação de Virgem, contribuiu ainda mais para que se promovesse tal associação. Cabe ressaltar igualmente que, consoante a teologia católica, a Mãe do Redentor é chamada de nova Eva, reforçando essa analogia. Diga-se, de passagem, que no Evangelho de Lucas e na tradução da Vulgata, o anjo saúda a Virgem Maria com a palavra Ave, que é o inverso de Eva. “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28).

Conforme alguns pesquisadores, o calendário romano reformado por Júlio César em 45 A.C. (modificado pelo Papa Gregório XIII, daí o nome de calendário gregoriano), dedicava o quinto mês do ano ao deus Apolo, o qual recebeu de Hipérion o sol, a lua e a aurora. A lenda conta que Apolo matou uma grande serpente (Píton), que atemorizava o povo. A iconografia católica representa a Virgem Maria, nas pinturas e imagens de Nossa Senhora da Conceição, esmagando a cabeça de uma serpente, consoante também a descrição da Bíblia (Gn 3, 4-14).

Posto que a Mãe de Jesus é venerada pelos católicos como a Rainha do Céu, seu manto é representado pela cor azul do firmamento. “Ave, Regina Coelorum” (Salve, ó Rainha dos céus) é uma das antífonas rezadas ou cantadas, durante o ano litúrgico, no final das Completas, última oração da Liturgia das Horas, antes conhecida como Breviário Romano. Na Ladainha de Nossa Senhora (igualmente intitulada pelos fiéis católicos como Litania Lauretana) há uma invocação, reverenciando-a com o título de “Porta do Céu”. Para os cristãos que praticam o catolicismo, a Virgem Maria é o rosto materno de nosso Deus, “expressão terrena do feminino divino”, nas palavras do escritor e jornalista Luiz Paulo Horta. Deve-se venerar Nossa Senhora “Mulher, espelho de Deus”, no dizer poético de São Boaventura, lembrando que Ela exaltou os humildes e gerou o Salvador da humanidade. A Mãe de Cristo é “a Compadecida”, assim denominada por Ariano Suassuna. Como Rainha do Céu, torna-se nossa medianeira, qual seja, a “Onipotência Suplicante”, na belíssima definição de São Bernardo de Claraval. “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.”

domingo, 30 de abril de 2023

 


Outra Carta Avulsa de outono (2023)

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes


Realmente, não é fácil a vida de um idoso, ainda mais viúvo!

Após uma noite mal dormida me levanto para fazer o café da manhã, pois no sábado Margarete está de folga. Isso me obrigou a um esforço acima das minhas tarefas cotidianas. Não que não tivesse quem o fizesse, mas o velho acorda muito cedo e pensa logo em comer.

Concluída a tarefa para a primeira refeição do dia, chegou a minha filha Thereza Raquel para alimentar os gatos e Thor, o cachorrão retirado das ruas e hoje parte integrante do meu cotidiano. Em seguida chegaram Júnior e Josi para fazerem a faxina. Comemos juntos e cada um tomou o seu rumo para as obrigações da casa.

Retorno ao quarto/atelier para pensar se tenho coragem de ir para os encontros no Sebo Vermelho – a manhã de hoje promete. Aí vem o conflito: a cabeça diz que vá, mas o corpo desobedece e este vence a batalha – não tenho ânimo para sair, mesmo que a minha outra filha, Rosa, se disponha a me acompanhar.

Olho para uma pintura, ainda inconclusa no cavalete, mas os braços estão sem força para os retoques. O que decidir então? Volto para a minha companheira diária (a rede) e pergunto? E agora?

Após um brevíssimo cochilo encontro a saída – abro a janela do primeiro andar e recebo uma briza suave, que se apresenta com a visão de nuvens claras e um sol ameno.

Vou ao computador, ao lado da janela e ponho-me a divagar. Comecei a escrever esta Carta Avulsa.

Por que avulsa? É decorrente de não se alinhar a uma motivação específica e constante como o faço nas Cartas de Cotovelo, quando lá estou. Então vamos ver o que me vem à cabeça.

Lembrei-me da triste manhã de terça-feira passada, quando tive que sepultar em meu quintal mais um companheiro de vida – o gatinho Tel, herança que a minha Thereza deixou ao partir em 2019, com mais outros felinos. Não era tão velhinho, pois mal completara dez anos, mas carregava em seu corpinho frágil um esforço maior de conduzir sua carcaça com apenas três patinhas, pois uma traseira só possuía a metade (até hoje não sei dizer o motivo), já apareceu assim! Teve uma vida boa e sadia. Ultimamente ficou magrinho e levei-o ao Veterinário que tudo fez para recuperá-lo, mas constatou que era um CA e lá se foi o meu bichinho.

Pelas 10,30h chegou o eletricista Ivaldo, contratado por Carlinho para trocar o meu chuveiro elétrico, já bastante usado e corrigir um bocal do espelho da pia do nosso antigo quarto, agora pertencendo à minha neta Gabriela.

Tudo concluído a contento. Afinal vou voltar a tomar um banho quentinho, pois a velhice não suporta temperatura fria.

Ao meio dia fomos todos para o Batatas almoçar (Teta, Victor, Lucas e Micarla) – é pertinho da nossa casa. Fiz as quentinhas de Gabi/Lucas, Júnior/Josi e Carlinhos/Carlos Neto. Uma madorna necessária após a refeição, assistir o último episódio do programa Rota de Klênio Galvão, que lamentavelmente sai do comando. Pelas 16 horas chegue a família do aniversariante do dia, meu filho Rocco José, com Daniela, Clara/namorado, Guilherme e do cãozinho Dom.

Com o restante da família comemoramos o evento e tudo correu bem até o momento em que retorno ao meu exílio para ver se recupero o sono e tenho um domingo mais disposto.