Hoje se encerrou o ciclo existencial de Edson Lemos de Lucena, meu colega de Ministério Público e de escritório de advocacia durante longos anos. À inteligência -- sua incrível, surpreendente agilidade de raciocínio --, à excelente formação jurídica e à correção ética de Edson todos os que o conheceram rendiam as mais entusiásticas, incondicionais e justas homenagens. Sofreu durante uma década os efeitos da doença de Alzheimer, que o acometeu em pleno vigor físico e evoluiu de forma galopante até deixá-lo totalmente à margem da vida. Diante desse quadro, temos a tentação de assumir uma atitude de revolta ou de cético questionamento. Mas não poderemos esquecer que essa tragicidade está na essência da própria condição humana. E não precisamos perguntar por quem os sinos dobram, porque sabemos que eles dobram por nós que ainda estamos vivos, mas condenados à fatalidade da morte, como advertiu genialmente o poeta John Donne. Edson foi um ser humano com as melhores qualidades e sentimentos cristãos, sem pertencer a nenhuma religião. E um grande conhecedor do Direito sem que se rotulasse ou aceitasse o tratamento pomposo de jurista. Digo mais: não quero ser pessimista, no entanto é forçoso reconhecer que dificilmente o Ministério Público do Rio Grande do Norte terá em seus quadros alguém com a capacidade intelectual, a dignidade, o respeito aos objetivos maiores da Instituição que caracterizaram o meu grande amigo Edson Lucena, recém-transposto para o reino da memória e da saudade. Requiescat in pace.