DA POLÍTICA DO TALIÃO
Valério Mesquita*
01) Mergulho no tempo
para resgatar fatos verídicos acontecidos na velha Macaíba dos anos trinta. Era
o reinado dos interventores estaduais mentores da política do talião. Anos de
chumbo, de prisões arbitrárias e perseguições sem fim. Macaíba vivia o
curto-circuito dessa política de alta tensão dos liberais e perrepistas. No governo
de Mário Câmara, o comando municipal fora entregue ao intendente Teodorico
Freire, filho do chefe político Manoel Maurício Freire (Neco Freire), que
mandou absoluto, durante décadas, com o apoio da oligarquia de Pedro Velho de
Albuquerque Maranhão. As famílias Mesquita e Andrade, unidas, ficaram na
oposição. No início de sua vida pública, Alfredo Mesquita Filho foi vereador em
Macaíba. Combatia a interventoria de Mário Câmara e a intendência de Teodorico
Freire. Certa vez, Mesquita desrespeitou a “lei da mordaça”, que imperava
naquele tempo, e foi preso com mais três correligionários, recolhidos a um
cubículo denominado “quarto da bosta”, na cadeia pública da cidade, a mando de
Teodorico Freire. A dança dos interventores que se sucediam no governo estadual
alternava o comando da situação local. Tanto era assim em Macaíba, como, via de
regra, nos outros municípios. Cai Teodorico Freire, sobe Alfredo Mesquita
debaixo do mesmo calor emocional das brigas paroquiais. Bastou a repercussão de
nova discrepância entre os litigantes para que uma decisão fosse tomada, de caráter
imediato e revanchista. Teodorico Freire, com alguns seguidores, foram
“engaiolados” no mesmo “quarto da bosta”, onde curtiu as mesmas horas de “odor”
do seu adversário.
02) Em Assu, lá pelos
anos setenta, Walter Leitão era o prefeito municipal. Na irreverência e na
ironia era inexcedível. De uma feita, chegava a sua casa na cidade, quando
encontrou um eleitor dormindo na poltrona da sala de visita. Não o despertou.
Tomou banho, almoçou e ficou só de cuecas samba-canção. Quando o
correligionário acordou e viu o prefeito caminhando pela casa só de ceroula,
exclamou: “Mas, seu Walter o senhor tá só
de cueca?”. “Claro, é para você
entender que a merda dessa casa é minha e não se permitir a fazer certas
intimidades”.
03) O prefeito Walter
Leitão atendia o povo na rua, em casa, na prefeitura e em qualquer parte. Uma
mulher a ele se dirigiu com certa arrogância para lhe reclamar um desconforto:
“Prefeito, estou aqui com o pé da barriga
doído porque comi macaxeira. O senhor não vai dar um jeito não?”. Walter
Leitão, que não suportava malcriação, de bate pronto, respondeu com grossa
irreverência: “E eu estou com a macaxeira
doida de tanto comer pé de barriga”.