CHAMEMOS OS DE MARTE?
                                                             Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
   
                    O Brasil já viveu inúmeros modelos políticos. Sem 
irmos muito longe, para a análise não ficar cansativa, foquemos nosso 
olhar no período militar até os dias atuais. De 1964 até os últimos dias
 do governo de João Figueiredo os militares, no poder, criaram um 
sistema tripartite de gestão, onde imperava a convivência entre os 
políticos, os próprios militares e os tecnocratas. Era um sistema 
baloiçante – em português do tempo dos nossos avós. Em certas ocasiões 
dominavam a cena os políticos. Em outros momentos os espaços eram 
ocupados pelos tecnocratas. Em ambas as situações os militares estavam 
sempre por trás dando as regras, definindo, optando pela decisão final. O
 país aprendeu, a partir daí, a conviver com o noticiário badalando 
sempre a presença de um czar, de uma liderança vinda de um dos três 
mundos, trazendo a solução para os problemas nacionais.
                              
 É desse tempo, por exemplo, o grande fascínio que exerceu sobre os 
detentores do poder a figura poderosa de Delfim Neto – na qualidade de 
tecnocrata. Para entronizá-lo no poder, com ampla liberdade para pintar e
 bordar em torno das questões econômicas, os militares distribuíam pela 
imprensa longas considerações e argumentos sobre a vantagem de um 
técnico exercer o comando da economia ao invés de um político. Com essa 
poderosa couraça em torno de si – e dos “delfim boys” que normalmente o 
acompanhavam – Delfim Neto deu pitaco e opinião, durante um longo 
período, em todos os assuntos que demandavam a agenda política, 
econômica e social daquele tempo. Só não se responsabilizou pela 
escalação da seleção brasileira de futebol porque não quis. Nesse caso 
prevaleceu a vontade do mundo militar, com a solução insossa, inodora e 
incolor representada por Cláudio Coutinho.
                              
 Quem não se lembra do General Gollbery, com sua marcante onipresença 
ditando os rumos da política, do planejamento, do rumo que o país 
deveria seguir? Teve também a influência de políticos poderosos, como 
Magalhães Pinto, Dinarte Mariz, José Sarney, Célio Borja, Petrônio 
Portela, Antônio Carlos Magalhães, Paulo Maluf (até ele) e outros que 
agora não vêm à lembrança. Foi um período no qual a diretriz nacional se
 dividiu entre a visão dos políticos, dos militares e dos tecnocratas. 
Bom, depois veio a redemocratização, eleições diretas e a grande 
conclusão: militar no poder nunca mais! Tecnocratas mandando no país? 
Nem pensar! A visão política dos homens que sabiam disputar o voto do 
eleitor, que empolgavam as massas com seus discursos, que tinham na 
essência do seu conhecimento a solução dos problemas nacionais – pelo 
menos era assim que se dizia – passou a prevalecer. 
                        Mais:
 somente aos políticos cabia a missão de levar o Brasil ao seu grandioso
 destino de futura potência mundial. A partir daí vieram, como se sabe, 
Tancredo, Sarney, Itamar, Collor, Fernando Henrique, Lula e agora Dilma.
 Com pequenas exceções, durante as quais o país viveu fugazes momentos 
de normalidade, nenhum dos tais conseguiu passar ao brasileiro a 
sensação de desenvolvimento tão esperada. E agora? Os militares não 
acertaram; os tecnocratas nos legaram uma enorme dívida pública; os 
políticos nos jogam, de tempos em tempos, em caldeirões de escândalo, 
corrupção e roubalheira. Chamemos, então, os marcianos? A saída está – 
mais uma vez – com o eleitor. Renovando. Fazendo prevalecer a sua 
vontade, através da qual poderão surgir novas lideranças. E um bom 
momento vem aí: as eleições de 5 de outubro. Os marcianos?  Ficam para 
outra ocasião. Vamos renovar?             
 
 


