sábado, 2 de agosto de 2014

DE MARIBONDO PARA ARIANO



“-SÓ SEI QUE FOI ASSIM”!...

Poeta Cypriano Maribondo – cmgtpoeta@yahoo.com.br – Em 30/07/2014

UMA HOMENAGEM DE UM POETA PARAIBANO DE CAMPINA GRANDE
RADICADO EM NATAL/RN, AO GRANDE PARAIBANO ARIANO SUASSUNA.

O meu nordeste hoje chora de saudade.
Nesse vinte e três de julho ARIANO morreu.
Com festa no céu a Compadecida o recebeu
Ariano Suassuna, um nordestino de verdade.
Foi o maior defensor da nossa arte popular.
Eu não sei como foi, eu só sei que foi assim.
Uma grande saudade se apoderou de mim.
Com estes versos quero hoje homenagear.

Eu vou contar para todos a sua biografia.
Sua história, suas peças, como ele viveu.
Feliz o brasileiro que sua obra conheceu.
Sua religiosidade, sua de verdade e alegria.
O Dezesseis de Junho foi o seu grande dia.
E Mil Novecentos e Vinte e Sete foi o ano.
Que na capital da Paraíba nasceu ARIANO.
Enchendo o Palácio da Redenção de alegria.


Filho do casal João Suassuna e Cássia Vilar.
O seu pai, a província da Paraíba, governou.
Ao deixar o governo sua família se mudou.
Lá no sertão, a Fazenda Acauã, foi o seu lar. 
O assassinato do seu pai no Rio de Janeiro.
Por motivos políticos, fez a família se mudar.
Na cidade de Taperoá sua família foi morar.
Foi lá que ele encontrou o Brasil verdadeiro.

Foi em Taperoá que ele começou a estudar.
Pela primeira vez, MAMULENGOS, você viu.
Ao desafio improvisado de VIOLA, assistiu.
A cultura nordestina ele começou a amar.
Em quarenta e dois, no Recife, foram morar.
Lá no Ginásio Pernambucano, ele estudou.
Foi para o Americano Batista onde continuou.
O secundário, no Osvaldo Cruz, veio se formar.

Foi na Faculdade de Direito, onde ele estudou.
Que Hermilo Borba Filho e ele se encontraram.
O Teatro dos Estudantes, eles dois fundaram.
Sua peça, Uma Mulher Vestida do Sol, encenou.
Esta sua peça que em quarenta e sete escreveu.
Foi a sua estreia como autor teatral e escritor.
Cantando a vida nordestina mostrou seu valor.
A Peça “Cantam as Harpas do Sião”, convenceu.
Em quarenta e oito esta sua peça foi montada.
O Teatro do Estudante de Pernambuco encenou.
No ano seguinte “Os Homens de Barro”, encantou.
Teve sua Peça o “Auto de Santa Cruz” encenada.
Por esta Peça o prêmio Martins Pena recebeu.
No ano de cinquenta, em DIREITO, se formou.
Para curar-se do pulmão, à sua Taperoá voltou.
Lá, a peça “Torturas de Um Coração”, escreveu.

Tudo isto, no ano de cinquenta e um, acontecia.
Em cinquenta e dois, para Recife, ele retornou.
No Recife, sua residência definitiva ele montou.
Em cinquenta e seis ele dedicou-se a advocacia.
A sua atividade teatral, ele jamais abandonou.
Foi Com o Castigo da Soberba e o Rico Avarento
O “Auto da Compadecida” foi seu momento.
Do Teatro, para o Cinema o Brasil o consagrou.

Foi com “Auto da Compadecida” considerado.
Por Sábato Magaldi o seu texto mais popular.
Todos os nossos teatros passaram a encenar.
No Brasil inteiro o seu nome foi consagrado.
E nesse mesmo ano, a advocacia, abandonou.
Professor da UFPE, estética você ensinava.
A Peça o Santo e a Porca, foi logo encenada.
Pela Cia. Sergio Cardoso, São Paulo encantou.
Com o Homem da Vaca e o Poder da Fortuna.
A peça A Pena e a Lei, pelo país foi encenada.
No Festival Latino Americano foi premiada.
Coroando de Glorias nosso Ariano Suassuna.
O Teatro Popular do Nordeste ele fundou.
A Caseira e a Catarina, foi logo encenada.
Sua carreira de dramaturgia foi encerrada.
Às suas aulas de Estética na UFPE se dedicou.

Fundador do conselho federal de cultura.
Em setenta iniciou o Movimento Armorial.
Foi divulgador da arte popular tradicional.
De Miguel Arraes foi secretário da Cultura.
A prosa e a ficção ele também se dedicou.
D’A Pedra do Reino, seu romance mais lido.
Pelo povo Brasileiro passou a ser querido.
O mundo literário, ao Ariano, se curvou.

Em São José do Belmonte, Ariano ergueu.
Ao ar livre como o seu grande santuário.
As dezesseis pedras em círculo, o cenário.
Da cavalgada, pela inspiração que lhe deu.
Para, d’A Pedra do Reino, Ariano escrever.
Juntou o sagrado e o profano pra ser visto.
O Santo Padroeiro São José e Jesus Cristo.
A Nossa Senhora, que protegeu o seu viver.

Membro da Academia Paraibana de Letras.
Aqui da UFRN recebeu o título de Doutor.
Para Brasil inteiro foi um grande professor.
Membro da Academia Pernambucana de Letras.
Em três de agosto do ano de oitenta e nove.
Para a Academia Brasileira de Letras é eleito.
Um ano depois, sua posse foi um grande feito.
Com o seu discurso, o país inteiro ele comove.

 Hoje ele está ao lado da sua Compadecida.
Lá do céu, pelo nordestino, ele está olhando.
Ariano, a sua obra continua nos ensinando.
A sorrir, amar, e ser feliz na nossa vida.
Um pouco da sua vida nessa poesia eu falei.
É tão extensa e tão bela, não dá para contar.
Importante é que consegui lhe homenagear.
Acreditem; ao ler sua história me emocionei.

 

A HERANÇA
O velho Josias era sozinho no mundo. Aposentado, ao sentir que sua vida estava terminando, resolveu deixar para alguém sua pequena fortuna, acumulada, honestamente, ao longo do tempo. Sempre foi caridoso, socorria os pobres e ajudava à Igreja.
Sentindo-se doente, começou a dar suas roupas aos pobres que vinham à sua porta. Entretanto, tinha sempre o cuidado de colocar, num dos bolsos dessas roupas, sem nada dizer, uma nota de cinco cruzeiros, como esmola. Quando as roupas estavam terminando, passou a ser visto, constantemente, numa loja da pequena cidade onde morava, comprando calças e camisas, para distribuí-las com os maltrapilhos.
Numa tarde, durante uma grande chuva, o velho Josias ouviu alguém bater à porta da sua casa. Era um garoto franzino, maltrapilho, todo molhado, que implorava:
- Senhor, senhor! Eu estou todo molhado e tremendo de frio… Arranje uma roupa velha pra eu vestir! Minha mãe me mandou vender tapioca na Rua Grande, mas, na volta, a chuva me pegou…
O velho Josias olhou o garoto, e viu logo que não dispunha de nenhuma roupa, que coubesse nele. Mesmo assim, entregou-lhe uma calça e uma camisa, e mandou que as vestisse, dentro do seu quarto. Pouco depois, o garoto apareceu, metido numa calça enorme, com as pernas arregaçadas, e com uma camisa tão grande, que parecia a empanada de um circo. Risonho e satisfeito, o menino agradeceu a caridade recebida, e seguiu seu caminho de volta para casa. O velho Josias ficou emocionado com a felicidade que viu estampada no rosto do garoto e murmurou:
- Pobre garoto, tão novo ainda e já ajudando a mãe, na luta pela sobrevivência…
A escuridão da noite envolveu a estrada e a casa do velho Josias, que já havia fechado as portas e as janelas. Sentou-se, então, à mesa, para tomar uma sopa, sem tirar da cabeça a figura do garoto e a felicidade que lhe proporcionara, dando-lhe aquela enorme calça e uma camisa exageradamente grande para ele. De repente, ouviu alguém bater à sua porta. O homem largou o prato de sopa que tomava e foi olhar quem estava ali, naquela escuridão. Ficou surpreso ao ver, novamente, o garoto à sua porta, vestindo as enormes roupas que havia recebido dele naquela tarde. O velho Josias, então, falou:
- Você aqui de novo, menino? O que é que você deseja?
O menino, ofegante, respondeu:
- “Tou” aqui, sim “sinhô”. Sou eu mesmo… – disse o menino.
- Encontrei este dinheiro que o sinhô esqueceu dentro do bolso da calça. – disse isso, entregando uma nota de cinco cruzeiros ao velho Josias – voltei pra lhe entregar o que é do “sinhô”.
O velho Josias, comovido, convidou o garoto para sentar-se à mesa e lhe serviu um prato de sopa. Sentou também, pensativo, dizendo para si mesmo:
- Um garoto esfarrapado, e de uma honestidade ímpar!!!
Aquele garoto pobre, franzino e esfarrapado foi a primeira pessoa que veio devolver o dinheiro que ele sempre colocava no bolso das roupas que dava. O velho Josias quis, então, saber detalhes da sua vida. Perguntou-lhe o nome e endereço. O menino se chamava Pedro da Silva e era o caçula dos seis filhos de uma pobre viúva, que lutava pelo pão de cada dia.
A partir de então, sempre que por ali passava, o garoto parava na porta do velho Josias para cumprimentá-lo. Nada lhe pedia, e estava sempre vestido com a calça e a camisa enormes, que dele havia recebido, no dia da chuvarada. Uma vez por outra, recebia de Josias uma ajuda, para entregar à mãe.
Alguns meses depois, o velho Josias faleceu, deixando um testamento, onde legava todos os seus bens ao garoto Pedro da Silva, conhecido como Pedrinho de Dona Rita, a criança mais digna, grata e honesta, que ele encontrara em toda a sua vida.
A honestidade e a gratidão do garoto fizeram dele o herdeiro do velho Josias.