Professor Severino Lopes, o desportista
Severino Lopes da Silva
(Dr. Severino, Professor Severino) nasceu no município de Macaíba, em 1924. Conheci-o no começo da
década de 1960, quando iniciava a minha jornada como profissional do futebol,
na simpática e admirada equipe verde-branca do bairro mais
popular e populoso da cidade, o Alecrim FC. Há relatos de que foi um bom jogador, defendendo a equipe
esmeraldina e, inclusive, em passagem em terras da Espanha, durante o tempo da
sua pós-graduação; um atleta viril, brigador, duro nas jogadas, porém, um
obediente e disciplinado jogador dentro das quatro linhas. Fizemos uma boa, sólida
e fiel amizade no campo do futebol e da medicina.
Na época, o professor
Severino já fazia
parte como um dos abnegados cardeais do time “periquito”, chegando a sua presidência.
Conseguimos juntos o
primeiro bicampeonato oficial de futebol da cidade (1963/4). Em plena efervescência da disputa do título do bi, fui aprovado para
fazer o curso de medicina; o tempo passou a encurtar, a apertar para poder
conciliar a “bola e o estudo”. Porém, fui sempre aconselhado e orientado pelo
professor, nas buscas das soluções.
Como seu aluno na
cadeira de Psicologia Médica, relembro algumas passagens interessantes: ele
gostava de convidar um grupo de estudantes para jogar uma “pelada” em sua
fazenda, na Lagoa do Bonfim. O time dele nunca perdia (de maneira superesportiva). Sempre
arranjava um jeito de sair vitorioso no
final do embate. O local era super arenoso, com areia frouxa e muito quente (a pelada sempre começava
depois das onze horas); convidava e levava alguns bons jogadores do time do
Alecrim, de solado grosso, que corriam na areia quente e fofa, como se
estivessem correndo em cima de um excelente gramado sintético em noite fria. Não
dava outra, ganhava todas. Não sabia o que era derrota. Contam que, certa vez,
convidou para uma arrojada peleja, um time de peladeiros, cujo goleiro era o
bom e famoso Bastos (Alecrim FC); início de jogo, o goleiro intransponível, não
entrava nada, nem vento! Preocupado, pensando em perder a longa
invencibilidade, o professor Severino “deu uma de doido”,
lembrou-se do valente e feroz cão da fazenda. Não deu outra, foi apanhar o
cachorro e amarrou na trave do bom goleiro. O defensor arregalou os olhos e chispou, abandonando a trave. Aí,
pegue a entrar gols e mais gols, final da peleja: uma senhora goleada, tendo
como grande protagonista o valente cão artilheiro que ele chamava de Bozó II
(alusão ao bom ponta direita Bozó do Alecrim FC, seu contumaz convidado). No
final, todo mundo morto de sede, fome e muito bem derrotado, e ele sorrindo à toa,
descascava pacientemente um abacaxi para distribuir com todos. Era pouco
abacaxi para muitos derrotados e esfomeados.
Na nossa convivência no
Magistério Universitário, ele na chefia do Departamento de Medicina Clínica, me
indicou para a vice-diretoria do Hospital Universitário Professor Onofre Lopes,
o que muito me honrou e enalteceu.
No seu currículo,
constam trabalhos pioneiros da mais alta relevância em prol da psiquiatria do
Estado: a criação do primeiro hospital de psiquiatria – a Casa de Saúde Natal,
(1956) – hoje, Hospital Psiquiátrico Professor Severino Lopes; o primeiro curso
de residência médica em psiquiatria; a criação e fundação da Clínica Pedagógica
Professor Heitor Carrilho, instituição de caráter filantrópico, onde presta
atendimento eficaz e humanizado às crianças excepcionais, dando-lhes total
apoio psicopedagógico, e a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).
O professor Severino sempre enxergou e usou o trabalho, o esporte e o lazer,
como elementos fundamentais e coadjuvantes na terapia psiquiátrica.
Deixou um imensurável
legado para psiquiatria do Estado, com a formação de gerações e gerações de
seguidores. Sua imagem, sua figura, sua pessoa, suas ações jamais serão
esquecidas.
Faleceu em 2002, aos 78
anos, vítima de infarto do miocárdio, na Casa de Saúde São Lucas; era portador
de diabetes. Foi casado com a farmacêutica Isabel Fernandes de Góis Lopes, com
quem teve cinco filhos: Carlos, Márcia, Marcos, Cláudio e Cláudia Lopes.