quinta-feira, 5 de maio de 2022

 


MOACYR GOMES DA COSTA

No cenário bucólico do Seridó, o jovem bacharel José Gomes da Costa assume o cargo de Adjunto de Promotor de Justiça, em Caicó e, de pronto, reinicia um namoro interrompido e contrai núpcias com sua amada Maria Ligia de Miranda Gomes em 04 de setembro de 1926, quando esta tinha apenas 15 anos, com a presença do Patriarca da família “Gomes”, o Coronel João Gomes da Costa, proprietário da Fazenda Pitombeira (Taipu-RN) e líder político na região.

Dessa união, que assistiu íntegro o passar de meio século, nasceram nove filhos – o primogênito foi Moacyr, parido de uma gravidez de alto risco, agravada pela pouca idade da mãe – apenas 15 anos, o que levou “Mãe Quininha” (mãe do Monsenhor Walfredo Gurgel) a comentar com o amigo comum Dinarte Mariz, sobre o perigo que corria Lígia de Zé Gomes, cujo nascitura estava em posição inversa à natural e que não teria habilidade para resolver o problema.

O amigo, político influente na região, mandou motorista em seu automóvel até Currais Novos para trazer o renomado médico Mariano Coelho (médico que ficou na história).

Pelos dotes competentes do médico e pelas mãos santas da parteira Mãe Quininha, nasce de parto laborioso Moacyr Gomes da Costa em 07 de junho de 1927.

Depois chegaram outros filhos – Fernando, Therezinha, João, Lêda, Elza, Carlos, Socorro e José Filho, os três primeiros e a quarta já estão em outra dimensão da vida.

O menino Moacyr teve uma infância e adolescência normais, mas sem fartura, mas cercado do carinho e do desvelo dos muitos familiares do lado dos Miranda e dos Gomes da Costa. Muitos tios, tias, avós e primos. Nada lhe faltou.

Em Natal desenhou a sua mocidade, entre as dunas das cercanias da cidade e o rio Potengi, enriquecida pelos amigos e pelos devaneios e sonhos bem sonhados, de criar asas e buscar o seu lugar ao sol.

Terminada a 2ª Guerra, terminou o seu emprego na Base Americana de Parnamirim, pegou um Ita e foi pro Rio morar, estudar, viver, crescer profissionalmente e retornou arquiteto.

Fez incontável número de grandes amigos (impossível enumerá-los – quase o mundo todo), foi boêmio dos bons, juntou-se a grandes profissionais como João Maurício, Daniel Holanda e Ubirajara Galvão.

Teve algumas mágoas – ter de deixar a cátedra da Faculdade de Engenharia; ser taxado de copiador de um Estádio quando de uma viagem à Alemanha (ele nunca saiu do Brasil) e a sua concepção de uma Praça Esportiva vem de seu trabalho de curso, tendo por orientador um dos responsáveis pelo Maracanã, Professor Pedro Paulo Bernardes Bastos nos idos do ano 50; recentemente, após 40 de aposentado, o TCU reprova a sua aposentadoria por acumulação com um cargo no Estado, este somente assumido depois de já estar na inatividade, sob o fundamento da incompatibilidade de horários e de pronto retiraram os seus proventos. A maior delas foi a demolição do Machadão.

Mas a grandeza de Moacyr só merece a lembrança de tudo o que de bom teve em sua vida até a graça de virar estrela dormindo, neste dia 05 de maio de 2022.

Tive o privilégio de registrar a sua vida em dois livros: O Menino do Poema de Concreto e 90 anos bem vividos.

Querido irmão, obrigado por uma convivência maravilhosa de tantos anos, rogo ao nosso Deus do Universo que o receba e conduza para junto dos seus familiares queridos.

Para a família, uma indagação ... E agora José, sou o timoneiro mais antigo da família dentre os homens.

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Carlos Roberto de Miranda Gomes

 


segunda-feira, 2 de maio de 2022

 AQUELE SONHO

Tenha aquele sonho iluminado durante todo o seu dia

Precisou despertar? Sem problemas
Mas não esqueça aquele sonho
A salvação de seu dia está naquele sonho

O tempo está quente ou frio
Há turbulências no ar
E você não conseguiu sair

Não deixe que nada o perturbe
Que o grito insano o assuste
Não esqueça aquele sonho

Não se distraia e novamente
Não se perca no labirinto
Lembre-se que você tem aquele sonho
Não esqueça aquele sonho


(HORÁCIO PAIVA)

 

HÁBITOS E FUNÇÕES SEMIDESAPARECIDAS

 

Diogenes da Cunha Lima

 

As mulheres brasileiras costumavam cumprimentar com dois ou três beijinhos no rosto. Essa prova de afetividade natural surpreendia os estrangeiros que aqui chegavam. A pandemia fará desaparecer também a ternura?

Herdamos dos tupis o hábito de tomar um ou vários banhos por dia. A globalização e a carência de tempo estão diminuindo a frequência dessa saudável higiene corporal.

A Lei concede licença de paternidade, o que nos faz relembrar um ritual tupi: Logo depois de parir, a mulher ia trabalhar, enquanto o pai da criança, sentindo-se exausto, deitava-se na rede e recebia parentes e amigos. O filho era apenas semente do pai.

A tecnologia e as novas profissões aboliram antigas formas de estudar. A escola de datilografia de Dona Glorinha de Seu Heráclito conferia aos habilitados solenes diplomas. Havia forte demanda de um bom datilógrafo.

O leiteiro entregava as garrafas de porta em porta. Tive o privilégio de ser substituto de leiteiro, quando ele faltava ao serviço.

Telegramas e telegrafistas perderam o prestígio. As cartas comunicavam emoções de literatura.

Galena, ancestral improvisada do rádio, funcionava. As emissoras de rádio faziam programas de auditório, exibiam novelas e contratavam bons cantores.

As missas eram celebradas em latim. Quase toda igreja tinha o seu sacristão. Alguns ganhavam, apenas, quando badalavam os sinos. Na Semana Santa, os sinos tenores calavam dando lugar ao baixo das matracas.

Nas mãos dos doentes terminais colocavam-se velas acesas, que talvez evitassem o escuro da morte. Anoitecia na casa de Tambaú. O escritor apontou para a Estrela D’alva recitando: “Quando partir dessa vida / não precisa vela, não / pois esta estrela querida / é vela na minha mão. ”

O calendário era diariamente consultado. Retirava-se uma folhinha com o nome do santo do dia.

 As lojas de tecidos tomavam conta do comércio, não faltava trabalho para as costureiras, até que surgiram as roupas feitas.

No tempo da locomotiva maria-fumaça, havia a profissão de foguista, que punha lenha para alimentar o fogo e fazer fumaça. O chefe da estação mandava o guarda-trilhos conferir a limpeza da linha. O funcionário acionava o trolley com uma longa vara.

As crianças produziam seus próprios brinquedos: bois de barro ou de cactos, bozós (dados) de batata, bolas de meia. Jogavam castanhas, com tila e castelo. Capa de carteira de cigarro era dinheiro, colecionado.

A cultura era difundida em saraus, partilhando-se poemas e músicas.

O Homem faz mudanças, adaptações. Criaram a teoria do retorno. Se voltarem funções e hábitos, voltarão repaginados.