sexta-feira, 24 de setembro de 2010



DIVAGAÇÕES DE PRIMAVERA

E a primavera chegou!
Viço, cheiro, amor,
Gozo, prazer embriagador,
Sonho, esperança, esplendor.

Tudo isso nos trazem os sentidos,
Nos mostram os tempos idos,
Numa saudade que o tempo preservou.
________________________
Carlos de Miranda Gomes (14/9/2010)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010



GRITO DE ALERTE - AINDA SOBRE O MUSEU NILO PEREIRA

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Rio-Grandense de Genealogia e membro do IHGRN e da UBE-RN)
Semana passada novamente estive de passagem pelos escombros do museu Nilo Pereira, como sempre acontece quando retorno de minha chácara, e algo me chamou a atenção. Pude ver ao longe algumas barracas armadas junto ao muro do casarão, que se destacavam por serem de lona azul. Otimista, imaginei que podia está sendo iniciada a tão sonhada recuperação do casarão. A vegetação em volta havia sido podada dando a impressão que seria instalado um canteiro de obras. Como tive notícia recente que havia sido alocada uma verba no valor de R$ 300 mil para as obras de recuperação do museu, não tive dúvidas: manobrei o carro e rumei pela estradinha de acesso e fui ver de perto o que me parecia ser o início das obras.
Quando me aproximei do local pude perceber o meu engano e logo a esperança se transformou em mais uma decepção. As barraquinhas que eu pensava tratar-se do início de um canteiro de obras eram a cobertura de um “refeitório” improvisado para os bóias-frias, contratados pela usina, que estavam trabalhando no plantio de cana-de-açúcar nas terras em volta do velho casarão. Desci do carro, me aproximei das barracas que coladas ao muro estavam vazias. Fiz questão de registrar tudo com fotografias. Poucos metros ao lado do “refeitório” outra barraca foi armada para ser utilizada como latrina. Chamou-me a atenção um forte cheiro de fumaça que vinha da parte de trás da casa e resolvi investigar. No alpendre, em cima do piso de ladrilhos centenário, foi improvisado um fogão com trempe de pedras que havia sido utilizado recentemente. Ainda havia restos de lenha queimada e muita sujeira em redor.
Quando cheguei ao museu tinha esperança de encontrar pelo menos o local limpo e vigiado. Esta simples providência já inibiria a ação dos vândalos que por ali passam e sempre encontra um jeito de maltratar ainda mais aquele patrimônio cultural.
A minha maior preocupação com o Guaporé é que os novos donos da Usina, empresários de Fortaleza, que além de não ter nenhum compromisso com aquele monumento histórico, talvez não conheçam a história nem a importância do Guaporé. E isso deixa espaço para num ato de desatino ou ignorância, algum capataz da usina, querendo mostrar serviço ou agradar ao patrão, possa com suas máquinas pesadas, destruí-lo num abrir e fechar de olhos, alegando que “aquela casa velha” estava atrapalhando o plantio da cana; a distribuição dos canos para irrigação da área ou mesmo a movimentação dos tratores. Não é difícil conseguir motivos para justificar atos insanos.
Na tarde de 13 de março de 1979, foi entregue oficialmente a população, totalmente recuperado, o solar do Guaporé. A cerimônia foi presidida pelo governado do Estado do Rio Grande o Norte, Dr. Tarcísio de Vasconcelos Maia, que estava encerrando o mandato. Também compareceram o vice-governador Geraldo José Melo, o Prefeito do Ceará Mirim, Edgar Varella, o professor e acadêmico Onofre Lopes, presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o advogado e historiador Enélio Lima Petrovich, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, o escritor e poeta Franco Jasiello, presidente da Fundação José Augusto, o escritor e poeta Homero Homem, os poetas e acadêmicos Diógenes da Cunha Lima e Sanderson Negreiros, ex-presidente da Fundação José Augusto, o Cônego Rui Miranda, vigário do Ceará Mirim, o deputado Ruy Pereira Júnior, o senador Aluísio Chaves, do Pará, os advogados Heitor Varella e Hélio Dantas, e tantas outras pessoas do povo que acorreram ao solar para prestigiar o grande acontecimento sociocultural.
No discurso de entrega, após sua restauração, o saudoso e visionário Nilo Pereira já prognosticava: “Se a casa não tiver uso, voltará à ruína”. Sábias palavras. Como podemos ver, não demorou muito para acontecer o que ele temia.
Em 1978 o ex-governador Geraldo José de Melo, então proprietário da Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim- Usina São Francisco - a quem as terras pertenciam, repassou por comodato, a Fundação José Augusto e a Prefeitura de Ceará-Mirim pelo período de 99 anos, tempo máximo permitido, a área que compreende o antigo casarão e a casa de banhos. Tanto a Fundação José Augusto como a Prefeitura de Ceará-Mirim foram totalmente negligentes em suas responsabilidades permitindo que a situação chegasse a esse ponto.
Essa destruição e abandono das belas construções dos antigos engenhos de cana-de-açúcar no vale do Ceará-Mirim constitui-se em prática bastante comum. Basta ver o que resta do que outrora foram as casas grande dos engenhos Ilha Bela, fundado em 1888; Diamante, que teve sua casa grande derrubada logo após ter sido vendido pelos seus proprietários; a casa grande e a capela do engenho Cruzeiro; a casa grande do Barão de Ceará-Mirim; a do engenho Carnaubal, fundado em 1840; do engenho Capela, fundado em 1868; do engenho Oiteiro, fundado em 1889 e tantos outros engenhos que desapareceram totalmente da paisagem do vale.
Quem anda pela região do baixo vale, a todo instante descobre dentro da vegetação crescida, restos de chaminés dos antigos engenhos que vencidos pelo tempo não resistiram ao abandono dos herdeiros de seus fundadores. Melancólica visão. Outrora aquelas chaminés propiciavam rara beleza quando suas fumaças turvavam o azul do céu nas tardes preguiçosas nos períodos de moagem. O ar se enchia do cheiro doce que vinha tanto das casas de purgar onde o açúcar mascavo descansava nas formas de madeira, purgando “mel de furo”, como da bagaceira que secava nos pátios dos engenhos para alimentar as caldeiras. Eram esses engenhos responsáveis pelo enriquecimento da região que além de empregar centenas de famílias, davam charme e beleza a quem visitava o vale de Ceará-Mirim.
Esse “grito de alerta” sobre o museu Nilo Pereira tem como objetivo continuar denunciando o descaso das autoridades e também chamar a atenção para que algo urgente seja feito no sentido de, pelo menos, não permitir que se deprede ainda mais aquele patrimônio, para que haja tempo de aplicar os recursos conseguidos.
Estou fazendo a minha parte. Denunciarei todas as vezes que for necessário. Semanalmente estarei visitando o local e rogo a Deus e aos “homens de boa vontade e também de responsabilidade” que em breve possa transformar essas visitas que atualmente só trazem tristeza e decepção em visitas de esperança e júbilo.
Espero sinceramente que em muito breve, ao passar em frente ao casarão do Guaporé, possa visualizar ao invés de latadas e latrinas, pedreiros e restauradores trabalhando na recuperação daquele belo monumento, orgulho de todos Norte-Riograndense, principalmente os nascidos em Ceará-Mirim ou os que com eu, tomaram por sua, a bela terra dos verdes canaviais.
Natal 17 de setembro de 2010.
Vídeo de vândalos depredando o museu - youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=lE5lMb7DvNc

quarta-feira, 22 de setembro de 2010



ATOS FINAIS
Ciro José Tavares
In Além da Rosa- dos –Ventos, 1990


Navega-me Phlebas,
amargurada gênese fenícia de Eliot.
Submersos assistimos livros resgatados
às empoeiradas prateleiras da terra desolada
Um dia, quem sabe?
Teu galeão conduzirá
derradeiros utensílios e ossos.
Reserva-me parte da carcaça
para sepultar nas sombras velhos sonhos.
E cabides.
Cabides, sobretudo!
para exposição das roupas abandonadas e poídas.
Lava meu corpo com o sal das preamares oceânicas,
retirando o mofo transpirado através das brechas seculares.
Acorrenta-me aos milimétricos desenhos,
gravados nos mosaicos.
Quero-me, limitado, escalar pálidas paredes
e tocar roofs beijados de chuvas.
Viajo-te, Phlebas,
para que possas escorar tuas ruínas,
viajando minhas dores infinitas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010




III ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES – III EPE
De 26 a 28 de outubro de 2010

Coordenador Geral:
Eduardo Antonio Gosson
Coordenadores Adjuntos:
Aluízio Mathias
Carlos Roberto de Miranda Gomes
Francisco Alves da Costa Sobrinho
Maria Rizolete Fernandes
Comissão de Divulgação
Cid Augusto
Carla Sousa (Assessoria de Imprensa)
Nelson Patriota (Diretor de Divulgação)
Francisco Alves da Costa Sobrinho
Paulo Macedo
Paulo Jorge Dumaresq
Lívio Alves Oliveira
Jania Maria de Souza
Lucia Helena Pereira
Maria Vilmaci Viana
J. Pinto Júnior
Local: Auditório da livraria Siciliano (G5), no shopping Midway Mall

Data: 26 a 28 de outubro de 2010
Hora: 10h às 18h.

III ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES- III EPE
PROGRAMAÇÃO

26.10.10, terça-feira:
10h – Abertura Solene
(Eduardo Gosson – Presidente da UBE/RN)
11h30 – Jornalismo Político ontem e hoje
(Agnelo Alves, Woden Madruga e Ticiano Duarte)
Moderador: Tácito Costa
15h – Nossa Editora: uma proposta editorial
(Pedro Simões)
16h - Três leituras sobre o Dilúvio: Gênesis, Miguel Torga e Machado de Assis
Araceli Sobreira Benevides
17h – Cultura Mossoroense em Questão
(Crispiniano Neto , Caio César e Clauder Arcanjo)
Moderador: Cid Augusto
18h30 – Lançamentos de livros e sarau com a Academia de Trovas RN (Coordenação José Lucas de Barros)

27.10.10, quarta-feira:
10h – Centenário de Américo de Oliveira Costa
( Anna Maria Cascudo, Nelson Patriota e João Eduardo de Carvalho Costa)
Moderador: Jurandyr Navarro
11h30 – Contribuição dos dramaturgos nordestinos para o Teatro Brasileiro
( Henrique Fontes, Clotilde Tavares e Racine Santos)
Moderador: Sonia Othon
15h – Jornalismo Cultural: ontem e hoje
(Cinthia Lopes, Franklin Jorge e Sérgio Vilar
Moderador: J. Pinto Júnior
16h30 – Projeção do conto de José Saramago – A Maior Flor do Mundo
16h35 - Literatura Infantil Potiguar
(Bartolomeu Melo, Jânia Souza e Nivaldete Ferreira)
Moderador: Aluízio Mathias
18h - Lançamentos literários e sarau com a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins (Coordenação Geralda Efigênia)

28.10.10, quinta-feira:
10h – A Importância dos Estudos Genealógicos
(Ormuz Simonetti, Clotilde Santa Cruz Tavares, Antônio Luís de Medeiros e Joaquim José de Medeiros Neto )
Moderador: Carlos Gomes
11h30 – Debate da Rede Nordeste da Literatura, do Livro e da Leitura.
( Mileide Flores, Rosemary Guillén e Rildeci Medeiros)
Moderador: Francisco Alves da Costa Sobrinho
15h - Compra do livro regionalizado no Nordeste
Informes sobre a Feira do Livro de Frankfurt 2013
(Tarciana Portela, Mileide Flores e Crispiniano Neto)
Moderador: Roberto Azoubel
16h30 – Madelena Antunes no Contexto da Literatura Potiguar
(Lucia Helena Pereira)
17h30 – A Nova Poesia do Seridó
(Iara Maria Carvalho, Wescley J. Gama e Ana Lúcia Henrique)
Moderador: Geralda Efigênia
18h30 – Lançamentos de livros e sarau com o grupo Casarão de Poesia
Coordenação: Aluízio Mathias

domingo, 19 de setembro de 2010

“ENTRE O MAR E A ROCHA” – O PACIENTE
Diz o ditado popular que “entre o mar e a rocha quem sofre é o marisco”. O mesmo pode se dizer da saúde pública no Brasil e, em particular, no Rio Grande do Norte. Vejamos a situação atual da “nova” greve dos servidores da saúde. De um lado a Prefeitura dizendo que a greve é ilegal, que o sindicato não respeita os 30% (trinta por cento) mínimos de médicos trabalhando, ajuizando, por meio da Procuradoria Geral do Município, ação civil pública para que a greve seja declarada ilegal.
Alega ainda a edilidade municipal que a atitude dos profissionais da saúde está paralisando a maternidade das Quintas e a Leide de Morais, na zona norte, onde não está havendo atendimento obstétrico, o mesmo ocorrendo nas unidades básicas e ambulatórios do distrito Oeste.
Já o SINMED afirma que o movimento é fruto da confessa deficiência da rede de saúde pública, com salários pouco atrativos e péssimas condições de trabalho e que o PCCV (Plano de Cargo, Carreira de salários) não atende aos reclamos da categoria, além da intenção crescente de terceirização da rede, como ocorre com a UPA.
Enquanto a prefeitura e os médicos se degladiam, mais uma vez os pacientes sofrem com a diminuição da qualidade de um serviço já notadamente deficiente, não podendo ter o pré-natal realizado de forma correta, colocando em risco os seus bebês, tampouco são realizados exames dos mais simples.
Estamos em ano de eleições e se pergunta: qual a proposta concreta dos candidatos para a saúde? Será que teremos sempre que ver o atendimento paternalista e pontual de exames e tratamentos médicos nas vésperas das eleições? Será que o povo não enxerga tanto canalhice?
No final da década de 80 foi anunciada mudança substancial no campo da saúde pública no Brasil. Era criado o Sistema Único de Saúde - SUS, fruto das lutas históricas do movimento sanitarista e dos segmentos menos favorecidos da sociedade, os quais, organizados em associações comunitárias, reivindicavam a construção de um modelo de saúde que superasse as práticas assistencialistas que, até então, não respondiam às expectativas e necessidades das pessoas.
O SUS trouxe consigo princípios básicos, como universalidade, integralidade e equidade. A saúde, como direito de todos, passou a ser defendida, inclusive no campo político, numa perspectiva ampla.
Todos os problemas aqui enumerados já são conhecidos por nós. Porém, agimos com letargia, nos conformamos com as migalhas que o sistema nos oferece. Será que sabemos de verdade como está sendo tratada a questão da proteção da vida de nossa população mais humilde, frente ao profundo fosso existente entre o discurso no campo político e a experiência cotidiana daqueles que dependem dos serviços públicos de saúde. É hora de cada um de nós buscarmos essa resposta a partir da reflexão sobre essa realidade que causa indignação e revolta. O Poder Judiciário, o Ministério Público, a OAB, de mãos dadas cumprindo o seu dever constitucional, para que o povo não continue sendo o pobre marisco “ENTRE O MAR E A ROCHA”.


ROCCO JOSÉ ROSSO GOMES
Advogado
Conselheiro Seccional da OAB/RN
Presidente da Comissão de Defesa da Saúde da OAB/RN
Professor do Curso de Direito da FARN
Pós-graduado em Direito Processual Civil