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sexta-feira, 29 de maio de 2020
segunda-feira, 25 de maio de 2020
O PAX CLUBE E SEUS HABITANTES
Valério Mesquita*
O Pax Club de Macaíba
reinou durante várias gerações, desde o início dos anos cinquenta, construído
pelo prefeito Luís Cúrcio Marinho. A sua história merece um livro
separadamente, evocando fatos, personagens, eventos, tudo, enfim, que serviu
densamente para projetar a história social de Macaíba. A começar pelos nomes
zoológicos e folclóricos dos garçons: Luís Bicho Feio, Tota Passarinho, João
Cabeção, Antônio Paulino, Geraldo de Doca, os cobradores Vagareza, Chico
Duzentos e Paulo Bofão, entre outros, reverenciados com humor e saudade de um
tempo que não volta mais. Um fenômeno (econômico, talvez), que precisa ser
melhor estudado acabou com a vida social dos municípios de médio porte como
Ceará-Mirim, Macaíba, Caicó, Currais Novos, Açu, exceptuando-se apenas as
festas esporádicas das padroeiras, vaquejadas, que não significam realmente
atividade social clubística, efetivamente organizada. Até Natal mesmo sucumbiu
e o chamado “Café Society” que foi imortalizado pelos cronistas sociais do
passado e os sodalícios não existe mais. O tempo e os costumes mudaram tudo.
Ficaram para trás, para a história, Gil Braz, Fred Ayres, Jota Pifa e Paulo
Macedo, único sobrevivente, porque se reciclou e inovou a sua coluna. O imenso
Titanic, com todas as “very important persons”, naufragou com os capitães
Ibrahim Sued, Jachinto de Thormes, etc.
Que universo
multifacetário reside em um clube social que abriga frequentadores de todos os
matizes, boêmios e loucos, anjos e anarquistas, matrizes e meretrizes, mocinhos
e bandidos, palhaços e mascarados?
O velho Pax teve o seu
apogeu e decadência. Mas sobreviveu graças aos seus devotados diretores e
sócios, que se expuseram por um ideal ilusório de associação, sob a égide do
paletó e gravata, do bolero e do samba, da semipenumbra que escandalizava a
paróquia e alimentava a homilia dominical da santa missa. E os flashes desse
tempo me chegam nitidamente. Da jovem Carmita, míope, que, desfilando em
passarela na Festa das Flores, caminhou demais e foi cair sobre a mesa da
comissão julgadora; do carnaval de 60, onde a lança-perfume ardente e vibrante
de Plácido Saraiva atingia com jatos queimantes os bumbuns, suados e frondosos,
das damas da sociedade, quase registrando vitimas a lamentar; do senhor Emídio
Pereira, proferindo pontualíssimas palestras todos os anos sobre a poetisa Auta
de Souza e o aeronauta Augusto Severo, através do serviço de amplificadora diretamente
do “sodalício tradicional e elegante” da cidade; das confusões, das brigas, do
porre homérico de lança-perfume de Chiquinho Ribeiro, que o fez desabar no rio
Jundiaí; das festas juninas, quadrilhas estilizadas; do programa “Data querida”
que registrava aniversários e namoricos através do “serviço de divulgação da
Associação Pax Club, a voz de Macaíba”, e que tantos equívocos e problemas
acarretou, como o do motorista Zé Cearense, que quase apanhava da valente
mulher por causa de uma falsa “oferenda musical com muito amor e carinho”.
São mais de setenta anos
de história do Pax Club do Parque Governador José Varela. Há muita coisa a
contar sobre ele e os seus complexos habitantes. Relembrando agora, vai atiçar
a memória de muitos que direta ou indiretamente passaram pela sua portaria.
(*) Escritor.
BARRO
VERMELHO
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes (22/09/2019)
A formação dos bairros fora do
perímetro mais importante da cidade de Natal – Rocas, Ribeira, Cidade Alta,
Petrópolis, Tirol e Alecrim, que concentravam os segmentos das atividades
produtivas como comércio, navegação (a Igreja de São Pedro, em construção em
1919 ergueu uma torre alta para orientar os barcos), pesca e serviços
essenciais, decorreram de circunstâncias naturais.
O bairro do BARRO VERMELHO (e não
bairro Vermelho) teve essa denominação decorrente da coloração do seu solo
(areia vermelha), já era conhecido desde os primeiros tempos da fundação da
cidade em 1599 quando os enviados de Dom Felipe II, Rei da Espanha procuravam
um local adequado para iniciar a povoação. Isso se conhece pelos documentos
históricos encontrados em fins do Século XVIII nos registros de doações de
terras em 1787 e 1816. No entanto, o despertar de suas terras ocorreu por ser
um lugar fora da área de comércio, se prestando para local de lazer,
recomendado pelos médicos para melhoria da saúde, em razão de sua altitude,
ventilação abundante, arborização preservada e visual exuberante das cercanias,
particularmente do Rio Grande (Potengi), próximo do centro da cidade e por isso
bastante procurado para formação de sítios, casas de repouso e de veraneio.
Uma das motivações mais evidentes era
de ser perto do Baldo, onde existia desde1905 uma fonte de água que servia de
balneário e sanitário público, ponto de encontro dos seresteiros.
A propósito, afirma CASCUDO, “Os
melhores violões, as mais lindas vozes femininas e masculinas, as mais modernas
saias balão, mangas presuntos inauguram-se no Barro Vermelho, nos São João
famosos, com fogueiras e adivinhações”.
Oficialmente se fez bairro pela Lei nº
4.327, de 05 de abril de 1993, publicada no Diário Oficial do Estado de 07 de
setembro de 1994.
Alguns acontecimentos marcaram a
atenção para o bairro: em 1838 deu-se o assassinato do Presidente de Província
“Parrudo” (Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa), no sítio Passagem; em 1868 foi
realizada uma apresentação de teatro livre com a peça “Os Salteadores do Monte
Negro”; vacarias, com leite cru, festas nos sítios dos seus mais vetustos
moradores – Antonio Melo, Joaquim das Virgens, Desembargador Silvino Bezerra;
Coronel João Gomes da Costa; residência do Senhor João Café, pai do Presidente
da República João Café Filho; residência da poetisa Palmyra Wanderley, que
costumeiramente hospedava Alta de Souza; pic niks na Lagoa de Manuel Felipe;
aqui moraram personalidades da vida social como Paulo Maux o Rei Momo,
empresários, juízes, desembargadores, médicos, arquitetos, engenheiros,
professores, escritores, cantores (Giliard e Pedrinho Mendes), poetas, grandes
comerciantes, industriais, construtores e políticos como os Senadores Jessé
Freire e Carlos Alberto.
Eu tive a sorte de conhecer parte
desses encantos e convivi com descendentes de todas essas famílias, inclusive
sendo pertencente a uma delas. Fui
da primeira turma do Instituto Batista de Natal, nesta mesma rua; participei de
muitas festas de São João; testemunhei quando aqui chegou o calçamento e a
união da Rua Meira e Sá com a Alexandrino de Alencar com a retirada de pequena
mata na rua Jaguarari.
Assisti as missas dominicais na Igreja
de São Pedro; compareci às festividades do Colégio das Neves; assisti muitos
filmes, no Salão Paroquial da Igreja de São Pedro, depois Teatro Jesiel
Figueiredo e Cine Olde.
Agora, com a chegada do Padre Mota,
começa a ressurgir a tradição no Barro Vermelho e adjacências, trazendo
alegria, fé e confraternização a este bairro tão querido, que possui instituições
importantes como a Casa de Apoio à Criança com câncer, clínicas, padarias,
farmácias, doceterias e escritórios profissionais.
Preservemos com carinho essa dádiva de
Deus, na esperança da construção da nossa primeira Igreja de Nossa Senhora da
Salete.
OBRIGADO.
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