BARRO
VERMELHO
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes (22/09/2019)
A formação dos bairros fora do
perímetro mais importante da cidade de Natal – Rocas, Ribeira, Cidade Alta,
Petrópolis, Tirol e Alecrim, que concentravam os segmentos das atividades
produtivas como comércio, navegação (a Igreja de São Pedro, em construção em
1919 ergueu uma torre alta para orientar os barcos), pesca e serviços
essenciais, decorreram de circunstâncias naturais.
O bairro do BARRO VERMELHO (e não
bairro Vermelho) teve essa denominação decorrente da coloração do seu solo
(areia vermelha), já era conhecido desde os primeiros tempos da fundação da
cidade em 1599 quando os enviados de Dom Felipe II, Rei da Espanha procuravam
um local adequado para iniciar a povoação. Isso se conhece pelos documentos
históricos encontrados em fins do Século XVIII nos registros de doações de
terras em 1787 e 1816. No entanto, o despertar de suas terras ocorreu por ser
um lugar fora da área de comércio, se prestando para local de lazer,
recomendado pelos médicos para melhoria da saúde, em razão de sua altitude,
ventilação abundante, arborização preservada e visual exuberante das cercanias,
particularmente do Rio Grande (Potengi), próximo do centro da cidade e por isso
bastante procurado para formação de sítios, casas de repouso e de veraneio.
Uma das motivações mais evidentes era
de ser perto do Baldo, onde existia desde1905 uma fonte de água que servia de
balneário e sanitário público, ponto de encontro dos seresteiros.
A propósito, afirma CASCUDO, “Os
melhores violões, as mais lindas vozes femininas e masculinas, as mais modernas
saias balão, mangas presuntos inauguram-se no Barro Vermelho, nos São João
famosos, com fogueiras e adivinhações”.
Oficialmente se fez bairro pela Lei nº
4.327, de 05 de abril de 1993, publicada no Diário Oficial do Estado de 07 de
setembro de 1994.
Alguns acontecimentos marcaram a
atenção para o bairro: em 1838 deu-se o assassinato do Presidente de Província
“Parrudo” (Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa), no sítio Passagem; em 1868 foi
realizada uma apresentação de teatro livre com a peça “Os Salteadores do Monte
Negro”; vacarias, com leite cru, festas nos sítios dos seus mais vetustos
moradores – Antonio Melo, Joaquim das Virgens, Desembargador Silvino Bezerra;
Coronel João Gomes da Costa; residência do Senhor João Café, pai do Presidente
da República João Café Filho; residência da poetisa Palmyra Wanderley, que
costumeiramente hospedava Alta de Souza; pic niks na Lagoa de Manuel Felipe;
aqui moraram personalidades da vida social como Paulo Maux o Rei Momo,
empresários, juízes, desembargadores, médicos, arquitetos, engenheiros,
professores, escritores, cantores (Giliard e Pedrinho Mendes), poetas, grandes
comerciantes, industriais, construtores e políticos como os Senadores Jessé
Freire e Carlos Alberto.
Eu tive a sorte de conhecer parte
desses encantos e convivi com descendentes de todas essas famílias, inclusive
sendo pertencente a uma delas. Fui
da primeira turma do Instituto Batista de Natal, nesta mesma rua; participei de
muitas festas de São João; testemunhei quando aqui chegou o calçamento e a
união da Rua Meira e Sá com a Alexandrino de Alencar com a retirada de pequena
mata na rua Jaguarari.
Assisti as missas dominicais na Igreja
de São Pedro; compareci às festividades do Colégio das Neves; assisti muitos
filmes, no Salão Paroquial da Igreja de São Pedro, depois Teatro Jesiel
Figueiredo e Cine Olde.
Agora, com a chegada do Padre Mota,
começa a ressurgir a tradição no Barro Vermelho e adjacências, trazendo
alegria, fé e confraternização a este bairro tão querido, que possui instituições
importantes como a Casa de Apoio à Criança com câncer, clínicas, padarias,
farmácias, doceterias e escritórios profissionais.
Preservemos com carinho essa dádiva de
Deus, na esperança da construção da nossa primeira Igreja de Nossa Senhora da
Salete.
OBRIGADO.
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