O MOSTEIRO DE SANTANA DE EMAÚS
PADRE JOÃO
MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)
Na
sociedade contemporânea, nem todos compreendem a opção daqueles que decidiram
viver no recolhimento dos claustros. Muitos louvam as ordens e congregações
religiosas, cuja finalidade é cuidar da educação, dos doentes e idosos ou a
pregação do Evangelho para aqueles, que não vislumbraram ainda a luz da
mensagem cristã. A Igreja, – responsável pelo anúncio da Boa Nova de Jesus
Cristo – vem, desde as suas origens, dedicando-se à missão de difundir o
cristianismo. No entanto, poucos conhecem os mosteiros e conventos, onde
religiosos consagram a maior parte do seu tempo e de suas existências à oração
e à contemplação da grandeza do mistério e da beleza de Deus. São vocações especiais,
irradiando uma paz interior, em virtude de sua comunhão com o Pai.
Em
Emaús, Bairro de Parnamirim (RN), verifica-se a presença gratificante de monjas
ou freiras contemplativas. Algumas vezes por semana, temos o privilégio de presidir
a Eucaristia no Mosteiro de Santana, onde sentimos uma grande quietude, sinal
da presença divina. O silêncio reinante penetra em nós, como se fosse um eco
celestial. Alguns podem pensar que há na vida monacal um vazio incômodo, sem
razão de ser. Ledo engano. A oblação a Cristo pela contemplação é uma entrega
de amor total, em que a criatura respira a plenitude do Ser Supremo, num
ambiente silencioso e pródigo de alegria interior.
Aqueles
que vivem no tumulto do mundo de hoje, raramente, compreendem a fecundidade
espiritual que o silêncio propicia. Com o rádio e a televisão ligados o dia
inteiro, veiculando propagandas políticas, comerciais e notícias do momento, os
celulares e aparelhos eletrônicos tocando, não há praticamente espaço para o
silêncio que nos enche de paz, enriquece e conduz a um encontro com o Absoluto.
Lembramos bem do que diz o Pequeno Príncipe: “No silêncio alguma coisa irradia”. Para quem deseja orar e sentir a
voz de Deus, ele é extremamente importante, rico e indispensável, transmitindo-nos
serenidade e sabedoria.
Na
trajetória da Igreja Católica, desde muitos séculos, sempre floresceu a vida
contemplativa em conventos e mosteiros. É algo sublime, porque leva a alma à
comunhão com a infinitude do Criador, sem que nada a perturbe e distraia desta
união com Deus. Trata-se de uma atitude nobre da criatura humana. Aquele que
contempla, apesar da contingência das coisas criadas, despoja-se de tudo para
viver do mistério divino. A vida dos claustros é um eloquente testemunho de
desprendimento do mundo e de busca do Transcendente, do Eterno e Invisível.
Vale lembrar novamente Exupéry: “O
essencial é invisível aos olhos”.
Em
meio à agitação e ao barulho que nos cercam, o Mosteiro de Santana, dádiva do
saudoso arcebispo dom Nivaldo Monte, é um oásis, onde almas privilegiadas –
como outrora Moisés no monte (cf. Ex 17, 8-16)
– erguem os braços em súplicas intercessoras pelos que, na azáfama da vida, se
esquecem de elevar os olhos para o Infinito. Bendito esse recanto, nesga
silenciosa, onde nos encontramos com o Criador, verdadeira antecipação da
eternidade. As irmãs religiosas lembram-nos um lado adormecido de nossa
existência. Tornam-se sacramento de nossa história e fazem por nós aquilo que
deveríamos realizar cotidianamente: volver o olhar para a beleza divina e
colocar o coração nos braços amorosos e misericordiosos do Pai.
A
HERANÇA ESPIRITUAL DE BENTO XVI
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
(pe.medeiros@hotmail.com)
Bento XVI, um dos grandes teólogos de
nosso século, em oito anos de pontificado legou aos cristãos e crentes de
outras religiões, uma herança espiritual importante: o convite permanente de
buscar Deus. Fez-se nosso companheiro na viagem ao encontro de Cristo,
chefiando a Igreja chamada a uma profunda renovação, a fim de ser mais pura e
fiel à própria missão, como sacramento temporal do Filho de Deus. Antes de
renunciar, chegou a confessar com lucidez e humildade: “Faltaram-me a doçura e a ternura de Jesus. A razão é importante, mas
não é tudo”. Cristo também demonstrou que não são apenas os argumentos
lógicos que traduzem o Evangelho.
Em seus inúmeros escritos e
pronunciamentos, pregações e entrevistas, o Papa emérito sempre insistiu que Deus
se faz conhecer a quem O procura. “Ele
mostra o seu rosto e o seu coração de Pai, que não deseja saber quem somos nem
de onde viemos, pois a única coisa que importa é a reciprocidade de um amor
filial”. Parece que estamos ouvindo outro doutor da Igreja, Santo
Agostinho, ao afirmar: “Deus é muito mais
íntimo a mim de quanto eu possa ser a mim mesmo” (cf. Confissões III, 6,
11). E continua o bispo de Hipona: “Não
vás fora de ti, reentra em ti mesmo. No interior do ser humano habita a Verdade”.
O destino do homem é Deus. Esta foi a lembrança do Pontífice, válida para a
humanidade e todas as religiões, pois daí provêm a ética, o direito, a
liturgia, a vida social, a economia, a ciência e sobretudo a espiritualidade.
A iniciativa divina precede a qualquer
iniciativa humana. Na caminhada para o Eterno é sempre Ele o primeiro que nos
ilumina e orienta, em constante respeito a nossa liberdade. É Deus que nos faz
entrar em sua intimidade, revelando-se e dando-nos a graça de poder acolher sua
revelação pela fé. Jamais podemos esquecer a experiência de Santo Agostinho: “Não somos nós que possuímos a Verdade, após
tê-la procurado, mas é a Verdade que nos procura e possui” (Sermão 240).
Bento XVI lembrou-nos que o homem
carrega consigo uma sede de infinito, uma saudade da eternidade. Há nele uma
busca de beleza, um desejo de amor e uma necessidade de luz, verdade e justiça,
que o empurram na direção do Absoluto. Em suma, o homem carrega consigo o
desejo de Deus e possui uma fome insaciável do Transcendente, pois é semelhança
do Divino. A imagem do Criador está impressa em seu coração.
O pontificado do sucessor de João Paulo
II foi espiritualizante e teologal. Muitos, mesmo da Igreja, talvez não tenham
percebido as sendas filosóficas e místicas que apontava. Ao materialismo,
mostrou a fé. Fez-nos refleti-la, com o seu documento “Porta Fidei”. Ao mundo do egoísmo e dos interesses, ensinou que
Deus é Amor (“Deus Caritas est”). Aos
desesperados e desanimados, com a encíclica “Spe Salvi”, disse que somos salvos pela esperança vinda de Cristo.
Diante dos erros de sua Igreja, afirmou que devemos amar na verdade, tema de sua
terceira carta encíclica “Caritas in
Veritate”.
O Papa emérito convidou-nos a aprender e
saborear as coisas essenciais, que são exatamente as de Deus. Sua aparente
sisudez foi um alerta a nos dizer que Deus está tão próximo de nós e não O
reconhecemos. Parece uma repetição do episódio dos discípulos de Emaús. Bento
XVI deixou-nos ainda uma herança espiritual, materializada em sua coletânea Jesus de Nazaré, onde recorda que Cristo
é o único Pão dos Homens. Hoje, ao Papa Francisco, no seu despojamento e
humildade, é pedido e esperado que revele a alegria de estar com Deus, pois
nada se compara a isto e por essa razão deverá abdicar e esquecer a pompa, o
poder e a glória. “Só Deus nos basta”,
afirmou Teresa d´Ávila.
“UMA ESMOLA, POR AMOR DE DEUS”
PADRE
JOÃO MEDEIROS FILHO
(pe.medeiros@hotmail.com)
É comum em nossas ruas, alguém
estender a mão e nos dizer: “Uma esmola,
por amor de Deus”. (Alguns não falam mais, apenas gesticulam. Cansaram!).
Talvez jamais imaginemos qual será a história daquele pedinte, esquálido e envelhecido
precocemente. Como terá sido sua infância? Que sonhos teriam povoado sua
juventude? Após tantas vicissitudes, o que pensa ainda da vida e espera da
sociedade? Poucos se questionam a respeito do ser humano, imagem e semelhança
de Deus, à sua frente. E diante de cada pedido, há olhares, palavras e
sentimentos de piedade, indiferença ou desdém.
Ante a pobreza do mendigo, cada
transeunte tem em mente perguntas ou respostas: umas políticas e ideológicas,
poucas evangélicas. Alguns dizem: “Eu não
dou esmola”. Outros afirmam: “Eis o
resultado de uma sociedade estruturada sobre a injustiça”. Muitos se
perguntam; “Onde está o dinheiro de nossos impostos?” ou “Por que o governo nada faz por tais pessoas?”
Os mais solidários e sensíveis reconhecem: “Meu
Deus, que rosto sofrido!” ou “O que
posso ou devo fazer"?
Hoje lançamos naves espaciais;
graças a Deus, obtemos progressos consideráveis nas pesquisas do câncer e
desenvolvemos tipos de sementes adaptadas às condições climáticas de cada solo
e região. No entanto, quantos Lázaros continuam, há anos, percorrendo nossas
ruas, estendendo suas mãos para matar a fome com as migalhas de nossas mesas
(cf. Lc 16,19-31).
O que fazemos por eles? Qual a
postura da Igreja? No passado, havia grandes obras assistenciais, como as Casas
de Caridade do Padre Ibiapina. Depois, nasceram iniciativas sociais visando à
promoção humana. Porém, constatamos já
não ser isso o bastante. Mister se faz uma renovação das estruturas de nossa
sociedade para que o processo de empobrecimento deixe de fazer novos
miseráveis.
São incontáveis os necessitados ao
nosso lado, não apenas o esmoler das calçadas. Há pobres no campo econômico:
famintos, sem teto e sem saúde (em macas, nos corredores dos hospitais),
desempregados, vivendo indignamente. Existem pobres no campo social:
marginalizados por inúmeras razões, migrantes, analfabetos etc. Deparamo-nos
com os pobres na consistência física ou moral: deficientes, alcoólatras,
drogados, prostitutas, debilitados psiquicamente. Vemos ainda os pobres de amor:
idosos desprezados, crianças sem lar, famílias desfeitas ou desagregadas.
Enfim, os pobres de valores autênticos: escravos do prazer, do dinheiro, do
poder, os sem Deus.
A mão estendida em nossa direção é
um grito de alerta: alguém necessita não só de nossa ajuda material, mas também
de nosso tempo, nossa dedicação e amor. Poderemos nos omitir, refugiando-nos em
desculpas; ou, então, nos unir a todos os que se inquietam com os olhares e as
palavras: “Uma esmola, por amor de Deus!” A Igreja latino-americana declarou
sua opção preferencial pelos pobres. Mas, parece que eles não estão em nossos
templos nem Ela perto deles!
Ao nosso redor, há crianças
carentes; mães grávidas abandonadas; adolescentes que bem cedo são motivo de
preocupação; idosos sem família e sem amor. Pensar nesses problemas e
interessar-se por eles, poderá ser o primeiro passo para a descoberta de novas
respostas para a miséria material e espiritual que nos desafia. Deste modo,
talvez descubramos que somos ricos porque Alguém (Cristo), um dia, estendeu sua
mão em nossa direção, levantou-nos e nos acolheu como irmãos, dando-nos
dignidade e razões para viver. Não será um convite para fazermos o mesmo? Nós
que transitamos em carros com ar condicionado, bem vestidos e alimentados,
inclusive com direito a lazer, já pensamos que, sem a graça divina, talvez
estivéssemos nas ruas, de mão estendida, pedindo “uma esmola, por amor de Deus”?
CAMINHAMOS PARA UM NOVO CONCÍLIO?
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
(pe.medeiros@hotmail.com)
Francisco tem dito sempre que a Igreja deve reformar-se, ir em direção
aos pobres, sofredores e excluídos, sair de sua acomodação e ser missionária. É
preciso que se torne presença divina no mundo e ofereça luz para questões que
nos afligem hoje, como a fome, a miséria, a injustiça, a crise ambiental, a paz
e a dignidade humana.
O centro de suas preocupações pastorais é o ser
humano, com suas necessidades, dúvidas, perplexidades, dores e potencialidades.
Quando falou aos representantes do CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano),
na JMJ/2013, no Rio de Janeiro, citou literalmente a Guadium et Spes: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e
as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e atribulados, são
também alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo”.
Outro aspecto de sua visão pastoral é a centralidade da misericórdia.
Aqui também, Francisco aproxima-se de João XXIII, quando, no discurso de
abertura do Vaticano II, afirmara: “A
Igreja sempre se opôs a vários erros; muitas vezes até os condenou, com a maior
severidade. Agora, porém, prefere usar mais o remédio da
misericórdia do que o da severidade". Entre os sucessores de Roncalli,
Bergoglio é o que mais se lhe assemelha, tanto
na doçura quanto na firmeza, diz Padre Oscar Beozzo. Nitidamente, suas
inspirações são aquelas do Poverello de Assis, seu amor aos pobres e, como
João XXIII, a busca de uma Igreja renovada, humilde, ecumenicamente
aberta, a serviço da paz e das carências da humanidade. Esta foi uma das tantas
razões que o levou a convocar o Vaticano II, com seu tom pastoral e não
dogmático. Francisco vai nessa direção pregando a abertura da Igreja, que deve
ir para as ruas e dialogar com todos. É preciso ouvir o Povo de Deus de todos
os continentes para mostrar o novo rosto eclesial, abandonando a cultura e a “psicologia de príncipes” de certos
segmentos clericais.
Francisco encontra-se diante de uma situação
análoga à de Cristo, cercado, à época, de três grupos de opositores: o poder de
Roma; a hierarquia religiosa e os fariseus com os doutores da lei. O nosso Papa
tem diante de si o peso da cúria romana, presente nas estruturas do Vaticano;
parte do clero “um pouco atrasado”,
não esquecendo ainda os novos defensores radicais do moralismo e do canonicismo,
em detrimento do homem, imagem e semelhança de Deus. Para retirar o entulho autoritário da Igreja, como expressou Hans
Küng, é preciso coesão e colegialidade. E isto só será possível com um concílio
verdadeiramente ecumênico, em que todo o povo de Deus – não apenas os clérigos
– manifesta o que pensa e deseja de seus pastores e da Igreja.
Na sua humildade, Francisco diz-se normal e
pecador. Deste modo, dessacraliza o papado naquilo que deve
ser dessacralizado, isto é, nas formas de poder, herdadas não de sua missão
pastoral, mas pelo fato do bispo de Roma ter-se tornado príncipe e chefe de
estado. Tem-se comprometido em buscar uma forma de exercício do primado,
associando o colégio dos bispos à sua missão de inspirar e conduzir a Igreja. E
isto é uma dimensão conciliar. Bergoglio insiste na sua condição de bispo de
Roma e em falar “de bispo para bispos”,
como entre irmãos. O papa Francisco vem retirando prerrogativas do papado e tem
se mostrado muito humano. Assim, está tornando-se uma referência, que vai além
de qualquer outra liderança de nossa sociedade. A Igreja é santa – não pelo
fato de não ser pecadora – e sim porque, nos seus pecados e na sua
simplicidade, deve transparecer o mistério e a bondade de Deus, que excedem à
pretensão humana. É inegável que Ratzinger, com a renúncia, e Bergoglio, com
sua simplicidade, levaram o papado a um reconhecimento pouco cogitado no
passado. Oxalá o Papa atual consiga aquilo que foi o propósito do famoso Pacto
das Catacumbas, realizado durante o Vaticano II, em que muitos bispos,
sob a liderança de Helder Câmara, expressaram o desejo “de uma Igreja servidora e pobre”.
SANTUÁRIOS E
LUGARES DE PEREGRINAÇÃO
PADRE
JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)
Cristo legou à Igreja a missão de
evangelizar a todos. E isto consiste em anunciar, com gestos e palavras, a
doutrina, a vida e o mistério do Filho de Deus. E para poder realizá-la,
necessita estar atenta a todos os momentos e oportunidades. Capelas, igrejas,
basílicas, conventos e mosteiros antigos, estão repletos de imagens, quadros,
afrescos, pinturas, estátuas, que são uma forma plástica e visual de catequese
e evangelização. Quando a população não tinha acesso à leitura, a Igreja lançou
mão desses recursos para transmitir sua mensagem. Os tempos mudaram, vieram os
livros e suas ilustrações. Hoje, séculos depois, a mídia ostenta seu poder de
expressão e convencimento.
No entanto, ainda nos emocionam
certos locais, que recordam fatos, realidades e pessoas marcadas pela fé em
Cristo num permanente convite para sentir a presença divina e a ação da graça.
Há lugares que tocam e falam, mesmo em seu silêncio de pedra e argila; jardins,
praças e naves, que são réstia do Divino e do Sagrado. Isso faz parte do
turismo religioso, uma das oportunidades da Igreja para catequisar e
evangelizar, bem como do estado e dos municípios para tornarem mais atuais suas
tradições e história.
Ano após ano, milhares de pessoas
dirigem-se a santuários, igrejas e locais sagrados, quer para uma experiência
de fé, quer por mera curiosidade ou algum motivo cultural e científico. E,
se a Igreja souber aproveitar tais momentos, poderá atingir pessoas que, de
outra maneira, não conseguiria. Mas, muitos desses espaços carecem de estrutura
adequada, acolhida organizada e algo que atraia e seja capaz de interessar aos
visitantes. Necessitam, portanto, serem estudados, divulgados e conservados.
Toda e qualquer iniciativa para
fomentar o turismo religioso é louvável. Sabe-se que essa atividade é
relativamente nova no Brasil. Mas, em poucos anos, está dando passos
importantes. Por exemplo, em Aparecida, toda a dinâmica implantada naquele
santuário gira em torno da acolhida aos peregrinos, visitantes e turistas. E
não podemos esquecer que acolher bem é evangelizar e Cristo recomendara: “Quem vos recebe a mim recebe”... (Mt
10, 40). Atualmente, naquela cidade paulista, estão sendo construídos hotéis,
centros de convenções, áreas de lazer etc.
Entre nós, não podemos esquecer o
empenho de Monsenhor Lucas Batista Neto, tentando difundir nossos lugares de
turismo religioso. O ilustre sacerdote lança mão dessa atividade para uma ação
catequética e missionária. Patu, Florânia, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Acari,
Mossoró, Assú, Santa Cruz, Cunhaú, Uruaçu etc. têm sido visitados com certa
frequência. Há em seus roteiros e viagens uma proposta de evangelização. Além
da peregrinação, há a preocupação cultural e histórica. Mostrar nosso passado,
explicar o simbolismo e a dinâmica espiritual de um povo constitui-se em lição
sobre o trabalho da Igreja e a caminhada das comunidades. Entretanto, falta
ainda uma política oficial, seja oriunda de nossas dioceses, seja por parte dos
órgãos governamentais, no sentido de aproximar o povo de suas riquezas
culturais e espirituais. Poucos conhecem nossos templos seculares, imagens,
monumentos e objetos sacros. Quem já se deparou com a história religiosa de
nosso povo?
O importante é que cada diocese e
as instituições públicas comecem a ter iniciativas concretas e eficazes, pois
possuímos vários locais adequados para o turismo religioso. Faltam ainda
organização, investimentos mínimos – oficiais e privados – planos, metas e
ações. E não se pode negar que esse tipo de atividade, além de ser teologicamente
uma fonte de graças e bênçãos, o é também de divisas financeiras e difusão
cultural e histórica. Onde está a pastoral do turismo e dos santuários?
“DIAGNÓSTICO DE NOSSO TEMPO”
PADRE JOÃO
MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)
Em
1943, Karl Mannheim (1893-1947), sociólogo húngaro, de origem judaica, escreveu
um ensaio com o mesmo título, traduzido para a língua portuguesa e publicado no
Brasil, em 1961, pela Zahar Editora. Ali, o ilustre escritor analisou os
paradoxos do seu tempo, como posteriormente fizera o cronista e comediante
americano George Carlin (1937-2008), quando endereçou uma carta a sua esposa.
Na verdade, verificam-se situações contraditórias e controversas no
comportamento humano e social.
Estamos
chegando ao tempo do Advento, que nos prepara para o Natal. As casas e
edifícios, lojas e shoppings, ruas e cidades engalanam-se em nome da grande
festa do cristianismo. Mas, o personagem principal (Cristo) fica esquecido e
relegado a um plano inferior. Fala-se de tudo, menos Dele. Urge que Deus e o
Sagrado sejam presentes. No entanto, o Divino parece cada vez mais distante da
terra. Em seu lugar, cultuam-se e cultivam-se o consumismo, o egoísmo, o
hedonismo e outros tantos ismos. No passado, dava-se primazia à alma. Quando
éramos jovens, costumavam perguntar: “Quantas almas tem sua paróquia?”
Atualmente, o corpo tomou o seu lugar. Há uma sacralidade corporal. Não a que
entende o apóstolo Paulo, quando adverte: “Acaso ignorais que vosso corpo é o
templo do Espírito Santo, que mora dentro de vós”? (1Cor 6, 19).
Temos
a sensação de que o mundo perdeu o seu rumo, como um trem que se descarrilha.
Hoje, Deus torna-se a autoimagem, a sede e fome da beleza exterior. A religião
é o culto do corpo. A fé reside na estética. O ritual virou malhação, aludiu o
músico paraibano Herbert Vianna (1961-). Leva-se mais tempo nas academias do
que nas missas. Temos mais novelas do que novenas.
Vários
consideram o amor ultrapassado. A sinceridade para muitos é insignificante.
Para outros a honestidade é ridícula. É válido roubar, perverter, trapacear,
seduzir, subornar, corromper etc. Mas, envelhecer e enrugar são motivos de
vergonha. Não raro, ser desonesto é sinônimo de sucesso. A ética é sufocada por
interesses políticos, socioeconômicos. Pouco importa o bem, o que vale é a
“realização” pessoal. O outro não conta. Deus é realmente um substantivo
abstrato, etéreo (nada de eterno) e desconhecido.
Dissera Carlin: “Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos
valores. Falamos demais, amamos raramente, odiamos frequentemente.
Aprendemos a sobreviver, mas não a viver. Adicionamos anos à nossa vida e não
vida aos nossos anos”. Fomos à lua e voltamos, mas sentimos dificuldades em
cumprimentar o vizinho no elevador. Lançamos foguetes, satélites, numa palavra,
conquistamos o espaço, mas não o nosso. Chegamos a dominar o átomo, mas não os
preconceitos. Aprendemos sim a nos apressar e não a esperar. Uma frase desse
autor norte-americano resume bem: “Temos
edifícios mais altos e pavios mais curtos; estradas mais largas e pontos de
vista mais estreitos”.
Dirigimos automóveis cada vez mais velozes e sofisticados, porém somos
lentos para compreender ou perdoar. Por vezes, ficamos acordados até tarde, mas
a caridade não é a causa de nossa insônia. Lemos pouco, passamos horas vendo
televisão, filmes, navegando na internet etc. e oramos raramente. Hoje, temos
mais remédios e menos saúde. Há pílulas para tudo: obesidade, tristeza,
impotência, insônia etc. Quando vão descobrir algo que nos desperte realmente
para Deus ou nos sacie Dele?
Será que neste Natal vamos nos lembrar da frase de Cristo à samaritana,
junto ao poço de Jacó: “Ah! Se tu conhecesses o dom de Deus”? (Jo 4, 10).