ADEMILDE FONSCECA (1921 – 2012) –
No do dia 4 de março de 1921, nascia, no
povoado de Pirituba, município de Macaíba/RN, a menina Ademilde
Ferreira Fonseca, filha de Raimundo Ferreira da Fonseca e Maria Amélia
da Fonseca.
Desde criança já
ensaiava e cantarolava canções que chamavam a atenção dos seus pais.
Aos 4 anos a família mudou-se para Natal, com a transferência do seu pai
que trabalhava na Rede Ferroviária do Estado. Fez seus estudos
primários no Grupo Escolar Antônio de Souza, em Natal.
Aos sete anos aprendeu a letra da música Tico-tico no Fubá, de Zequinha de Abreu (1917), letrada por Eurico Barreiros (1931).
Na adolescência já fazia parte de grupos
de seresteiros e dava uma “palhinha” no serviço de alto-falante de Luiz
Romão. Nesse ambiente seresteiro, conheceu o violonista Laudemar Gedeão
Delfim, com quem casou com apenas 19 anos de idade, passando a se
chamar de Ademilde Fonseca Ferreira Delfim. Tiveram uma única filha:
Eymar Fonseca. Com a separação, assumiu definitivamente o seu nome
artístico: Ademilde Fonseca.
No ano de 1941, foi morar na cidade do
Rio de Janeiro, com o intuito de dar prosseguimento à carreira de
cantora de rádio. Seu grande sonho.
Foi selecionada para se exibir sem
receber cachê no programa Papel Carbono de Renato Murce, na Rádio Clube
do Brasil. Cantou o samba Batucada em Mangueira, do repertório de Odete
Amaral, acompanhada pelo grande instrumentista Benedito Lacerda. Desse
encontro, surgiram novas e frutíferas oportunidades para Ademilde, que
passou a ser chamada para cantar em clubes e festas da alta sociedade
carioca. Em uma delas, Ademilde pediu para cantar Tico-tico no fubá, até
então só ouvida instrumentalmente. Foi um sucesso, uma apoteose. A
interpretação lhe rendeu a apresentação ao famoso compositor João de
Barro, o Braguinha, diretor artístico da gravadora Colúmbia.
No mesmo ano, 1942, aconteceu a sua
estreia em disco pela Colúmbia, com um 78 rpm que trazia o choro
“Tico-Tico no Fubá” e o samba “Voltei pra o morro”, de Benedito Lacerda e
Darci de Oliveira.
A carreira de Ademilde decola. É
contratada pela Rádio Clube do Brasil, onde permanece até 1944.
Transfere-se para Rádio Tupi do Rio de Janeiro, onde grava novos discos,
firmando-se como intérprete de imortais chorinhos, como: “ Apanhei-te
cavaquinho”, de Ernesto Nazareth e Darci de Oliveira, “Urubu Malandro”,
de Lourival Carvalho e João de Barro, “Brasileirinho”(1950), de Waldir
Azevedo e Pereira da Costa.
Na Radio Tupi, se apresenta em horário
nobre ao lado de consagrados compositores e famosos regionais, como:
Rogério Guimarães e Claudionor Cruz, e grandes instrumentistas como
Waldir Azevedo, Severino Araújo, Canhoto, Jacob do Bandolin,
Pixinguinha, Radamés Gnattali e K-Ximbinho. Permaneceu por mais de dez
anos na Rádio Tupi. Os seus discos renderam mais de meio milhão de
cópias. Recebeu do parceiro instrumentista Benedito Lacerda o título de
“Rainha do Chorinho”.
Em 1951, pela primeira vez grava baião:
“Delicado”, de Waldir Azevedo e Miguel Lima, considerada uma de suas
mais marcantes interpretações.
No ano de 1952, viajou para a França
com Jamelão, Elizeth Cardoso, Orquestra Tabajara Severino Araújo, a
convite do jornalista, famoso homem da comunicação e dono dos Diários
Associados, Assis Chateaubriand, e o costureiro francês Jacques Faath,
onde realizaram grandes shows na Cidade Luz.
Em 1964, excursionou para a Espanha e
Portugal novamente com Jamelão, fazendo grande sucesso em shows que
duraram mais de seis meses na capital, Lisboa.
No ano de 1967, participou do II
Festival Internacional da Canção (FIC), patrocinado pela Rede Globo de
Televisão, no Rio de Janeiro, interpretando “Fala baixinho”, de
Pixinguinha, com letra do poeta-compositor Hermínio Belo de Carvalho. Em
1984, abriu o carnaval brasileiro em Nova York.
Em 1970, apresentou-se em shows no
Teatro Opinião, no Rio de Janeiro, e lançou, em 1975, um LP pela
gravadora Top Tape, onde se destaca a faixa “Títulos de Nobreza”
(Ademilde no choro), uma homenagem da dupla João Bosco e Aldir Blanc à
Rainha do Choro.
Em 1977, fez parte do conjunto As
Eternas Cantoras do Rádio, com Carmélia Alves, Violeta Cavalcante e
Ellen de Lima. Participou também, no ano de 2001, do CD “Café Brasil”,
produzido por Hildo Hora, ao lado de Marisa Monte, Paulinho da Viola,
Martinho da Vila, Henrique Cazes, Leila Pinheiro e o conjunto Época de
Ouro.
Em 1975, Ademilde fez parte da caravana
de músicos potiguares radicados no Rio de Janeiro: K-Ximbinho, Raymundo
Olavo, Paulo Tito e Fernando Luiz, convidados pelo então governador
Cortez Pereira, para percorrer o interior do Estado, fazendo
apresentações e entregando o troféu Catavento por ocasião das
inaugurações de obras realizadas no seu governo.
No cinema, Ademilde Fonseca participou
de filmes: “O batedor de carteiras”, “ O viúvo alegre”, no qual a
cantora potiguar interpreta a música “Minha marcação”, de Uzias da Silva
(Dicionário da Música do Rio Grande do Norte – Leide Câmara, Natal/RN,
2001; pagina 19).
No Teatro Alberto Maranhão (Natal), no
ano de 1996, no Programa Seis e Meia, patrocinado pela Fundação José
Augusto, tive a felicidade e a alegria de ouvi-la e apreciá-la. Foi a
sua última apresentação em Natal. Ademilde já não conseguia mais
acompanhar os trejeitos vocais que o choro exigia, e logo ela, que dera
ao choro a sua mais pura e verdadeira identidade. A sua afinadíssima voz
estava sendo vencida pela idade. Subia o palco sempre acompanhada e
ajudada pela filha Eymar, que lhe prestava ajuda em dueto.
Nós potiguares nos sentimos muito
enriquecidos e vaidosos com tudo que Ademilde Fonseca deixou de legado
para a história da música brasileira. Ciente, sim, do orgulho de termos
presenteado ao país a sua maior e melhor intérprete nesse gênero
gracioso, brejeiro e bastante difícil de ser cantado – o choro.
Ademilde, faleceu no ano de 2012, aos 91
anos, na cidade do Rio de Janeiro, em sua residência, no bairro da
Lagoa, vítima de um enfarte do miocárdio fulminante. Encontra-se
sepultada no Cemitério de São João Batista.
Berilo de Castro – Escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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Ademilde recebeu o título de sócia honorária da Academia Macaibense de Letras.