quarta-feira, 7 de março de 2018

QUESTÃO DE CARÁTER

Valério Mesquita*

Conduta nefasta tem se disseminado em Natal. Não se sabe bem de onde veio. Como se trata de comportamento humano, médicos proctologistas já diagnosticaram que tudo é fruto do mau caratismo. Defeito de personalidade para uns, ou, transtorno procedimental para outros. Onde quero chegar, finalmente? Já quer saber o leitor. Só sei que, sete, entre dez executivos, políticos e/ou secretários, agem dessa forma. Em muitos, a vaidade doentia, a megalomania, a mediocridade caracterológica, são fatores preponderantes e prevalentes sobre a humanidade comum que desaparece, de repente, debaixo do verniz do locatário do cargo ou da função.
Hoje em dia, é raríssima a autoridade pública ou privada que dá retorno de telefonemas. Deixar recado é esforço pífio e inútil. Não existe mais apreço, atenção, respeito, civilidade, sociabilidade, humanidade. O político, via de regra, só retorna ligação se houver vantagem de voto gratuito ou financiamento de campanha. O empresário pergunta logo quem está na ponta da linha e quanto vai lucrar. Já alguns secretários de governo, nomeados para atender a sociedade, sempre estão em reunião com “aspones” para evitar interrupções, um telefonema que não foi atendido de imediato por ocupação instantânea ou outro motivo relevante, é ato de cavalheirismo, de educação, de nobreza que pouca gente cultiva. Sei que muitos leitores estão incluídos na estatística dos sofredores. E gostariam de dizer o que afirmo agora. Os cultores da prática mafiosa alegam que é preciso racionalizar o tempo, eleger prioridades, formatizar custos e ganhos de produtividade, e o lado humano/cidadão vai para o beleléu, descartado por não representar modernidade, segundo os fariseus dos templos públicos. Cheguei a imaginar, de início, que a minha tese é inconsistente. Seria antiquado portar-me assim, mandando a secretária anotar quem telefonou para retornar, em seguida, uma a uma, as ligações recebidas? Acho que não. Tudo é uma questão de estilo, de ética, de personalidade e de berço.
Quem tem medo de público não ocupa cargo ou função pública! Deve se lembrar que o cargo não é todo seu e pertence também a cada pessoa que deseja se comunicar. Mandato eletivo, igualmente, e atividade privada financiada com dinheiro do povo e dos bancos oficiais. 
Diga sim ou não. Mas atenda. Não foi à toa que quintuplicaram o número de telefones no mundo. Político que não atende eleitor é burro. Secretário que não retorna ligação é grosso. E empresário que não se comunica se trumbica, já dizia o velho guerreiro a Roberto Marinho.
O recado está dado. Retornar ligação é uma questão de caráter.
Lembrem-se: “A memória é o espírito da alma”.

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