CORONAVÍRUS: PANDEMIA E PANDEMÔNIO
Valério Mesquita*
A vida da gente, hoje em dia, chega a doer e a enjoar. Sobrepondo-se
à lógica, aí estão os mistérios do mundo. Ele parece apodrecer cotidianamente.
E acho essas razões um tanto metafísicas mas, perfeitamente racionais e
cabíveis à espécie. Apesar da revolução das ciências, em todos os campos de atividade,
há uma angústia indagativa porque tudo piora quando a humanidade progride
materialmente. Muito antes, nas esquinas do mundo, a fatalidade das guerras
ditadas pela imprudência interrompia a esperança do ser humano no dia de
amanhã. Tudo leva a crer, no crepúsculo dos nossos dias, que a escalada geométrica
da dificuldade de se viver no planeta, hoje tão afetado pela superpopulação e a
crise da falta de alimentos, é que ingressamos no corredor escuro do Armagedom.
A vida passa e diante dos nossos olhos segue um desfile barulhento
de excessos. Excessos e abusos perturbadores provocados pelo braço do homem.
Vejam só, por que surgem na atmosfera (o ar que respiramos) vírus gripais
(Covid-19, H1N1 e etc.), infecciosos e contagiosos que se multiplicam e se
transformam virando pandemia? No processo de mutação ultrapassam a eficácia da vacina
e se propagam com surpreendente rapidez, induzindo-nos acreditar que a camada
superior da terra e as defesas do corpo humano estão comprometidas por atos
insanos do próprio homem. Os continentes, desde os mais industrializados aos
mais pobres, desérticos, quentes, superpovoados, até as florestas tropicais em compasso progressivo de
extermínio, incluindo os mares revoltos, revelam-me recôndita preocupação com o
final dos tempos.
Igual em perigo à pandemia, mora vizinho o pandemônio. O tumulto
do trânsito em Natal está trazendo estresse e hospitalizando muita gente.
Avaliem as cidades maiores! Semana passada, entre 18h e 19h30, gastei de
automóvel trinta minutos do bairro de Lagoa Nova ao Natal Shopping. O número de
veículos hoje na capital resgata a “saudade de mim mesmo”, como disse o poeta
português. Esse grave fato estatístico não preocupa apenas pelo dano físico de
acidentes, mas igualmente, pela nova geração de ansiosos, psicóticos e
depressivos. E haja consumo de benzodiazepínicos. Diariamente em Natal,
acontece de dois a quatro acidentes com motos. A malha viária não comporta mais
o enxame de ônibus, “ligeirinhos” antipáticos e imprudentes, automóveis e
utilitários de luxo, que lembram as crises políticas de Bolsonaro.
Todavia, o pandemônio não se encerra aí. O assalto à mão armada
não apenas reside ao lado, mas está dentro de casa fazendo reféns. Com armas
modernas e de grosso calibre os marginais já são um número maior que o efetivo
policial. Segurança no Brasil é uma ilusão congratulatória. Somente os bobos
acreditam e agradecem. Ainda iremos assistir, se não planejarem logo uma
solução, desfilando nas ruas e bairros as forças armadas do país, envolvendo-se
na estratégia de resguardar a cidadania que é vida e que significa tanto quanto
a defesa da soberania do país. Igual ou pior do que a invasão do território
nacional é o lar ultrajado, violentado e saqueado da família brasileira que, no
dizer de Rui Barbosa, “é a pátria amplificada”.
(*) Escritor