Cartas
de Cotovelo – Outono de 2023 – 10
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes
TEMPO
DE ORAÇÕES
Passadas as águas de março, entramos num outono
atípico, com chuvas e problemas nefastos divulgados na mídia nacional e
internacional, deixando a humanidade em clima de medo e pouca esperança.
Aqui no Rio Grande do Norte vivemos duas semanas de
terror e total insegurança, dando exemplo da fragilidade da nossa inteligência
policial e com o socorro vindo de outros estados e do governo federal para combatê-los.
Superado o clima de quase guerra, pudemos retornar ao
bucolismo da nossa sempre adorada Praia de Cotovelo, onde guardamos o tríduo
sagrado da Semana Santa, com propósito de retornar a morar na paz do Senhor e
tranquilidade dos homens e mulheres da Comunidade.
Em face da impossibilidade física de acompanhar os
diversos rituais dos cristãos, fico seguindo pela internet, coisa quase
impossível no começo da nossa vinda para estas plagas, quando o que de mais
modernos existiam eram o ônibus e os poucos orelhões, que permitiam nossa
comunicação com o continente mais ativo da capital.
A Semana Santa sempre foi acompanhada daqui de
Cotovelo, com fervor e unidade familiar, pois estava sob o comando da nossa
pranteada THEREZINHA, motivo maior da alegria e que deixou um fosso profundo na
vida cotidiana dos que a cercavam.
Ficaram as lembranças nos gestos, falas, exemplos e
na religiosidade que sempre foram seus pontos fortes. Guardamos um Santuário
organizado em sua homenagem, com os seus Santos e Santas preferidos, juntos ao
seu retrato cativo e venerado.
Estou perdendo muitos atributos outrora aguçados –
já tenho dificuldade de locomoção, a memória decaindo das lembranças e a falta
de inspiração para escrever. Mas a fé continua firme, na esperança de poder encontrá-la
na Mansão do Criador, embora não tenha o merecimento que ela teve em toda a sua
vida.
Rezo todos os dias para que Deus aperfeiçoe o seu
espírito e que ela possa dar algum sinal de que está bem para me alentar nesta existência
já alongada e sofrida, enquanto aguardo o sinal do reencontro, como dizia
Verlaine em seus versos: “Não se agite e aguarde em paz. A leveza dispensará
suas asas. Alguém que o esperava vem agora ao seu encontro e seu jugo é suave”
(tradução de Horácio Paiva).
Continuo a repetir: nada a reclamar, mas tudo a
agradecer.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.