VOLUME MORTO DA MORALIDADE
Valério Mesquita*
Se um golpe nas instituições democráticas desmoraliza ponderavelmente o país, pior do que ele é a corrupção de um governo. Outra constatação deplorável reside na legislação punitiva que continua frouxa, lasciva e insuficiente. A Polícia Federal, o Ministério Público fazem a sua parte. Descobrem, flagram, prendem, exibem os ladrões, processam, ouvem delações, depoimentos, testemunhos. Tudo!! Mas a lei, - assim como a carne – ela é fraca, volúvel, iníqua. Não é do bem. Dorme de mala e cuia na cama com o defensor do réu. O benefício da dúvida faz o advogado botar sempre no bolso. Mas, o dinheiro público foi roubado! Acontece que o povo, apenas, é um detalhe. Pra que tornozeleira eletrônica? Melhor para os gestores desonestos é o supositório eletrônico.
Qual o brasileiro que diante de todos esses escândalos não perde a autoestima? Até mesmo o sentimento patriótico porque o Brasil está desmoralizado dentro e fora das fronteiras. A dimensão do assalto no país é o maior da história político-administrativa universal. Se existissem critérios, princípios, sensatez, os gestores desonestos, renunciariam, mesmo que não tivessem praticados os atos ou serem responsáveis diretamente. Mas, por vergonha, para provar que são honestos e que desejam a apuração isenta de todos os crimes contra o patrimônio do país. Permanecendo nos postos, repassam a nítida impressão que no fisiologismo com os congressistas contaminados e magistrados e ministros poderosos (do próprio governo e de outros poderes), o tráfico de influência deturpa a busca da verdade. Por muito menos, nas democracias de países civilizados da Europa, gabinetes de governo são depostos naturalmente, sem crise, sem crase e sem cruzes. A democracia é soberana. O caráter superior. Mas, a lei do toma lá dá cá, é prostituição.
Outro fato aberrante é a tática do político denunciado ou empresário corrutor negarem permanentemente. “Não sei”, “Não conheço o delator”, “Nunca o vi”, “A imputação é falsa”, “Essa prática, vem desde os governos anteriores...”.
O abuso da desfaçatez cabe na carapuça de muitos. Acho que a maioria dos brasileiros chegou a exaustão com o noticiário da mídia nacional e da rede social. Entrevistar essa gente é pura carniça. Prefiro o canal musical da tv, que diariamente nos brinda com canções do tempo da jovem guarda. E o de forró daquele época? Vixe... É bom demais.
Ninguém pode negar que hoje existe uma guerra civil, gerada pela droga em toda nação, cujas estatísticas de homicídios exibem uma juventude devastada por revolucionários sociais bem municiada e ocultos, cuja guerra a polícia vem perdendo, paulatinamente. Um país desorientado e com essa multidão de marginais não pode suportar tanta dor e tantas perdas. Sem contar as mortes para o Covid e acrescente-se a falta de assistência de médicos e medicamentos nas UPAS e nos hospitais as filas quilométricas para cirurgias em pobres da rede social do INSS.
E o pugilo da saúde pública nos hospitais da capital? Esse merece veemente repulsa. É um libelo à competência dos administradores. A situação deplorável me infunde a convicção de que ninguém mais se comove com a dor humana. O melhor homem é o homem morto. Vivo é desprezível. Doente e pobre, ele fede. Onde deveriam remunerar melhor, paga-se pior e se gasta menos. Hospital público é a antessala da morte iminente porque está desprovido das mínimas condições de higiene e serviços. Denunciar o estado de calamidade não constitui o meu propósito. Mas, apenas, lembrar ao leitor que o ser humano coisificou-se. Deixou de ser carne inteligente. Hospital - lugar de repouso e cura - virou empório do estado, verdadeiro guardador de rebanho, onde o pobre, sem nenhum plano de saúde, tem defeito de circulação do sangue no corpo à alma. Tenho dito.
(*) Escritor