sábado, 23 de junho de 2012

Sem hora marcada

OAB apoia proposta que obriga promotor a receber advogado

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, disse que apoia a proposta de resolução do conselheiro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Fabiano Augusto Martins Silveira, estabelecendo que membro do Ministério Público, sempre que solicitado, não pode deixar de atender o advogado de qualquer das partes em questão, “independentemente de horário previamente marcado”. Para Ophir, a proposta é “meritória”, pois além do dever de urbanidade pelo qual deve zelar, o promotor ou procurador, como servidor público, não pode se escusar de receber um advogado que vai até ele na defesa do interesse do seu constituinte.

A proposta de resolução apresentada por Fabiano Martins Silveira destaca que o membro do MP, no exercício de suas funções, deve prestar atendimento aos advogados e ao público em geral, “visando esclarecimentos de dúvidas, ao oferecimento de propostas de aperfeiçoamento dos serviços prestados e ao conhecimento das reais demandas sociais”. Ele observa que tal medida “há de assegurar maior transparência na atuação do Ministério Público, bem como a escuta mais sensível dos anseios da sociedade”. E acrescenta em uma das justificativas da proposta: “Quem fala pela sociedade tem por consequência o dever de falar com a sociedade”.

Ao manifestar o apoio da OAB à medida, o presidente da entidade, Ophir Cavalcante, salientou que sua aprovação pelo CNMP pode representar a solução de diversos problemas que acontecem no dia a dia entre membros do MP e profissionais da advocacia. Para ele, além de destacar o caráter de urbanidade que deve guiar as relações entre esses importantes atores do Judiciário, a proposta de resolução resguarda os direitos e garantias da advocacia para exercer sua atividade profissional com liberdade e independência.

“Portanto, seja porque o membro do Ministério Público é agente político do Estado e que deve satisfações ao Estado, seja porque, no que toca às relações com a advocacia, deve sempre preservar essa urbanidade e, sobretudo, respeitar a autonomia funcional dos advogados, está correto estabelecer que os membro do MP devem ser obrigado a receber os advogados que os procuram”, concluiu o presidente nacional da OAB. Com informações da Assessoria de Imprensa da OAB.
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Revista Consultor Jurídico, 21 de junho de 2012



Opinião

Mesmo o maior problema pede um sorriso


Flávio Rezende
escritorflaviorezende@gmail.com

Vivemos um tempo onde muitas operações policiais estão acontecendo. Devemos enaltecer a liberdade de ação que nossa Polícia Federal vem tendo, pedindo só que realizem os procedimentos de maneira correta, evitando alguns constrangimentos desnecessários e exposições um tanto quanto exageradas.

Quando faço este apelo aos policiais de todas as esferas, não estou querendo dizer que isso deva acontecer apenas naquelas operações que envolvem pessoas ricas, não! Peço até que os recolhimentos prisionais dos pobres sejam mais amenos, menos agressivos, que abordagens noturnas, arrombamentos, averiguações, levem sempre em conta que as pessoas podem também não ter culpa no cartório.

Observamos chutes em portas, desorganização de quartos, móveis e escritórios, muitas vezes de forma muito deselegante e despropositada, causando uma série de problemas na ressaca das operações, sendo até injusta com pessoas que necessariamente não estão envolvidas com as investigações. Imagine uma família que tem sua casa alvo de uma dessas operações, com os filhos vendo seus computadores sendo levados, seus cadernos, livros, roupas, desarrumados, objetos decorativos muitas vezes quebrados e, uma série de outros vandalismos, muitos dos quais promovidos pela polícia civil e policiais militares.

Basta assistir os muitos canais de televisão que dão muito espaço para a questão policial, para que abertamente, escancaradamente, possamos nos horrorizar com cenas muito desagradáveis de policiais quebrando tudo na procura de drogas, indícios e outras coisas mais. Óbvio que não estou defendendo bandido, criminoso, mas, como uma pessoa sensível não posso achar correto que se queira penalizar alguém por antecipação promovendo quebra-quebra em seu lar ou ambiente de trabalho. A educação deve estar presente em todas as operações. Devemos ter uma polícia inteligente e impregnada com valores humanos, do contrário, vamos gerar revolta nos que são do mal e, naqueles que são vítimas destas circunstâncias, colocando nomundo da criminalidade, por ódio ao Estado, muitos que até então eram inocentes.

Escrevo este artigo também, para enaltecer a importância do sorriso. Pode parecer um absurdo o riso e o que estava escrevendo, mas, percebo que até nas situações mais difíceis para algumas pessoas, como uma prisão, um julgamento, um deslocamento cercado de muitos repórteres e em outros momentos de elevada tensão pessoal, sempre existe espaço para um sorriso, por mais amarelo que seja.

Perceba que mesmo depondo numa CPI, cercado de todos os lados, o acusado vez por outra dá um risinho de leve. Você já viu um acusado no meio de dezenas de microfones, num corredor de gente saindo ou entrando numa delegacia, mesmo naquele ambiente, às vezes uma pessoa, uma frase, faz o sujeito liberar uma risadinha de leve.

O sorriso é um potente remédio quando a vida está normal. É bem vindo nos acontecimentos sociais, descontrai, promove a integração. Uma pessoa que tem o sorriso frouxo conquista fácil os demais, arranja até namorada, afinal, quemnão gosta de gente bem humorada? Este mesmo sorriso que torna qualquer ambiente aureolado de benfazejos pirlinpinpins do bem, também serve como válvula de escape para os sujeitos na mais alta fervura do estresse, tornando-se o riso o salvo conduto para a sobrevivência por mais algum tempo no turbilhão de dificuldades ao qual esses seres se enredaram.

Façamos de nossa vida um enredo do bem, para que o sorriso esteja sempre atrelado ao lado relax das coisas, do contrário, sorrir quando sua porta é arrombada, quando você precisa encarar um julgamento ou um corredor lotado de repórteres, pode até lhe aliviar momentaneamente, mas, certamente, neste caminho, você vai chorar muito mais, isso vai...
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Flávio Rezende é escritor, jornalista e ativista social





sexta-feira, 22 de junho de 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

CONCURSOS FRAUDADOS

Carlos Roberto de Miranda Gomes, MHV da OAB/RN e escritor

O concurso público já não é mais a porta larga do ingresso no serviço público. As notícias periódicas que circulam na mídia, e recentemente denunciadas no programa da Globo – “O fantástico” nos dão a certeza de que a impunidade continua ganhando a parada.

Cidadãos e cidadãs que ocupam grande parte do seu tempo em sacrifícios de estudo para galgarem um lugar ao sol, terminam perdendo tempo e dinheiro, a par de uma frustração irrecuperável.

Nossos órgãos de controle estão em baixa, pois são atitudes deletérias repetidas em todos os rincões deste país e em todas as camadas do serviço público, sem uma reprimenda convincente.

É visível em muitas repartições a existência de servidores aprovados em concursos, mas cujo desempenho é surpreendentemente negativo, em detrimento de outros que, demonstrando ao longo do tempo aptidão e competência, são reprovados e, mais das vezes, somente justiçados quando ingressam perante o Poder Judiciário.

As eleições, por sua vez, também padecem de vícios e a ética foi abandonada por todos. Não vai custar muito tempo para que “ficha suja”seja atenuante e a honestidade “coisa piegas”, fora de uso.

Quero um outro Brasil para os meus netos, do contrário só restará comprar uma passagem só de ida para o “Nirvana”, pois aqui não temos mais espaço.

Este sentimento eu adoto, também, na escolha do próximo desembargador do quinto constitucional, esperando que seja vencedor quem realmente tenha folha de serviço à cultura jurídica e vida pessoal ilibada. ABAIXO A ESCOLHA POR AMIZADE COM OS DETENTORES DO PODER. Vamos saber votar.

Igualmente, colegas advogados, analisem a postura dos próximos candidatos à presidência da nossa Seccional da OAB e as plataformas que vão apresentar durante a campanha. FORA COM A DEMAGOGIA E O ENGODO! SÓ A VERDADE DEVE TRIUNFAR ou não seremos merecedores de pertencer à tão nobre Classe.





VIAGEM A BESANÇON
postado por O Santo Ofício junho 17, 2012
Por Antenor Laurentino Ramos

Peguei o trem, na Gare de Lion, rumo a Besançon, capital do France-Conté (Franco-Condado) nas montanhas do Jura e a 45 quilômetros de Contalier, Suíça. Queria visitar os pais de meu amigo Gilbert Chaudanne. Teria de fazer a correspondence (baldeação) em Dijon. De lá tomaria um outro trem, o de Besançon, a cidade mais fria da França: 27 graus negativos.
Nunca imaginei conhecer tantas paisagens diferentes. A França é, nesse aspecto, como o Brasil, um país de contrastes. Aproveitei o final da semana para realizar esse meu sonhado passeio. Tínhamos, todos os dias, aulas na Sorbonne, no Instituto Para Professores de Francês no Estrangeiro, Anfiteatro Edgar Quinet. Não seria razoável para nós, estagiários de língua francesa, faltar às aulas.
Parti, às cinco horas da manhã, num vagão de segunda classe, que já é luxuoso, com uma parada em Dijon, cidade industrial e dali, segui para o meu destino. Passamos por Troyes, terra natal de Louis Pasteur, o sábio criador da vacina antirrábica e estações outras de que não me lembro mais o nome, e enfim, Besançon.
Lá fiquei na casa de monsieur e madame Denise Dubois, os pais de Gilbert. Foi muito bem acolhido ali. Parecia que aquele distinto casal desejava expressar-me os agradecimentos pelo que fizéramos em favor de seu filho, tão querido; e isso comoveu-me até. Foram momentos de carinho e de afeto de que me senti alvo aquela casa.
Besançon é menor do que Natal, mas é uma cidade rica e muito mais desenvolvida. Fabrica trens, para que se tenha uma ideia disso. Sua riqueza, porém, não se deve apenas a razões de tecnologia. Historicamente também. É a terra de Victor Hugo, o célebre criador de Quasimodo.
Foi lá onde o grande escritor viveu os seus tormentosos dias e seus sofrimentos de ordem pessoal do qual foi também Saint-Beuve, o antagonista. Os irmãos Louis e Auguste Lumiére, inventores do cinema, ali nasceram. Vi de longe a casa onde moraram. Proudhon, o grande líder do anarquismo filosófico, tem aquela cidade também como seu berço. Foi dali que ele partiu para revolucionar o mundo político com a sua célebre máxima: “a propriedade é um roubo”. Dividiu com Marx a batalha internacional contra o capitalismo. Foi na verdade, uma das vertentes dessa luta. E por onde passávamos, tudo era história. Tudo nos dizia de um tempo ido!
Monsieur Pierre e Madame Denise convidaram-me a visitar o Museu do Relógio, o mais antigo do mundo. Havia relógios dos tempos medievais. Aproveitamos então a visita ao referido museu para flanarmos um pouco pelas ruas e praças de Besançon. Seus becos e casas da idade média, cidade linda, e a embelezar-lhe o cenário, o rio Duobs. Não fosse o frio intenso, teríamos mais chance de ver outras coisas.
Fomos à casa de um amigo de Gilbert cujo irmão era fascinado pelo rio Amazonas. Entre os assuntos de geografia de que mais gostava era o que tratava do Brasil. Espantavam-se todos com o tamanho de nosso país. É um continente: caberiam, dentro dele, vinte Franças.
Mas o que mais me comovia era a dedicação a que me devotavam os pais de Gilbert. Lamentava apenas a ausência desse bom amigo, hoje habitante do Brasil. Nunca mais tive notícias desse povo! Sei que, para tristeza minha, Monsieur Pierre se foi. Parece que o estou vendo a tocar no seu saxofone para eu ouvir! Ex policial e bancário aposentado, era uma criatura esfusiante e engraçada. Dona Denise, alta, loura, olhos verdes, bonita e elegante, abraçou-me com ternura e notei, se não me engano, nos seus olhos, uma lágrima a cair. E Monsieur Pierre: On fait des bises? (“Podemos nos beijar?”) – na França é um ato de carinho e de respeito que se tem por uma pessoa, o beijo.
E na hora em que o trem partia eu deles e despedia emocionado. Estava de volta a Paris, mas eu não queria ir. Já não me sentia com vontade de retornar à Cidade Luz. Ali, sim, é que era o meu ninho. Era como se eu estivesse em meu solo potiguar.
Jamais esquecerei Besançon e nem da tarde e que ficamos, aqueles meus dois amigos franceses e eu, em cima de um monte, a visualizar a famosa “cidadela” de Saint-Exupery, que lhe inspirou o título de seu romance inacabado “Citadelle”. Conhecer lugares como este, é enriquecer o espírito e nada melhor do que isso.
Saudades de Besançon! Saudades do casal Pierre e Denise Dubois! Saudades enfim, de Gilbert Chaudanne! Por onde anda ele? Em que terras se esconde? Gostaria de saber!



segunda-feira, 18 de junho de 2012

OS TIRADORES DE COCO

Praia da Pipa - ano 1972
Ormuz Barbalho Simonetti

É comum ver no litoral do Nordeste profissionais que ganham a vida subindo em coqueiros para colher frutos. São eles os tiradores de coco. Embora não pareça, tirar coco é uma atividade de extremo risco, pois sem qualquer equipamento de segurança, esses homens arriscam suas vidas subindo em coqueiros com até 30m de altura.

Nessa arriscada atividade, eles portam apenas um facão “rabo de galo”, muito utilizado no corte de cana-de-açúcar e um recipiente plástico tipo spray, geralmente embalagem vazia que reaproveitam, colocando óleo diesel, principal arma contra os marimbondos caboclos e outros animais peçonhentos que habitam as copas dessas palmeiras. Sofrem também com o ataque das formigas pretas que, ao ferroar o indivíduo, provocam dores intensas, como as serpentes, que chegam até esses locais em busca de ninhos de pássaros e alguns roedores, que ali habitam.

Vestindo apenas um calção, para melhor mobilidade, esses profissionais ganham a vida subindo e descendo dos coqueiros, numa exaustiva jornada de até 10 horas por dia. As “peias”, principais ferramentas que lhes permitem subir nessas palmeiras com menor esforço, antigamente eram feitas com cipó que, por sua vez, eram revestidos com relho – tiras de couro cru – para lhe dar maior consistência e segurança. Há algum tempo o cipó foi substituído pelo cabo de aço, bem mais seguro e duradouro, porém o revestimento com relho cru continua até os dias de hoje.

Geralmente, o aprendizado da tiragem de coco é passado de pai para filho, por gerações. Na Pipa, porém, isso não aconteceu. Nenhum dos tiradores de coco tem descendência direta dos pais ou deixou descendentes na família. A título de informação, podemos afirmar que é uma atividade exclusivamente masculina, pois, até hoje, não temos notícias de que nenhuma pessoa do sexo feminino tenha abraçado essa profissão.

Na Indonésia, os aldeões costumam treinar um tipo de macaco na colheita de coco. Os símios são amarrados pela cintura a uma corda e ao comando do seu adestrador, sobem nos coqueiros e arrancam, um a um, os frutos que lá estiverem. Para isso, utilizam apenas suas pequenas mãos. Torcem o fruto numa mesma direção, até que desprenda do cacho e caia. Porém, o que um homem produz em apenas 1 hora de trabalho, esses macacos levam dias para colher a mesma quantidade. Diante disso, podemos avaliar que a colheita com esses animais é apenas mera exibição para turistas, pois comercialmente, seria totalmente inviável.

Os coqueiros se dividem em duas espécies: gigante e coqueiro-anão. O primeiro foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses, a partir do ano de 1553. As primeiras mudas trazidas da Ilha de Cabo Verde foram inicialmente plantadas no litoral baiano, daí a denominação “coco da Bahia”. O coqueiro-anão tem sua origem na Indonésia. A principal diferença entre essas variedades é que no coco da Bahia – que geralmente é destinado à indústria – os frutos são colhidos trimestralmente, sempre maduros ou totalmente secos. Ao contrário, os coqueiros-anões, destinados à extração de água, têm suas colheitas realizadas a cada 25 dias, obedecendo à sua inflorescência. As colheitas realizadas em desobediência a esses critérios prejudicam, sobremaneira, a produção nas duas espécies.

Na Praia da Pipa de antigamente, o coqueiro era tão valorizado, que se constituía em um bem transmissível. Era comum um indivíduo ter um ou mais coqueiros na terra de outrem. Sobre essas plantas eram dados todos os direitos ao seu proprietário. Estes podiam ter acesso aos coqueiros, sem prévia comunicação ao dono da terra onde estavam plantados, para inclusive negociá-los com outras pessoas, se assim o desejassem.

No passado, havia na Pipa vastos coqueirais do tipo coco da Bahia, também conhecido como “coco praia”, e poucos tiradores de coco. Apenas três profissionais faziam esse trabalho, como diziam, “no braço”, pois até então não se conheciam as “peias”.

Era um trabalho penoso e estafante. Agarrados aos troncos e impulsionados pelos pés, chegavam ao alto dos coqueiros e, com certeiros golpes de facão, cortavam os cachos secos ou maduros. Nossos tiradores fora: Zé Luiz, Francisco Lourenço e, por último, Irineu. Quando este último ficou sem condições de trabalhar, principalmente por causa da idade, foi substituído por seu discípulo Cícero Lourenço dos Santos, mais conhecido por Madola. Este se iniciou nessa atividade subindo em coqueiro também “no braço”, mas logo foi apresentado às “peias”, novidades trazidas para a Pipa por tiradores de coco vindos da Barra do Cunhaú, no município de Canguaretama-RN.

Em cima dos coqueiros, os tiradores de coco enfrentam vários perigos escondidos na copa dessas plantas. Além de trabalhar pendurados, a vários metros do chão, por uma ferramenta rudimentar e sem utilizar nenhum equipamento de segurança, constantemente são surpreendidos por insetos raivosos: lagartas de fogo, cobras, ratos e o que mais os aterroriza – os enxames de abelha africanizada, que não se detêm diante do óleo diesel, utilizado com sucesso nos demais insetos.

O pagamento a esses profissionais ainda é feito com base no preço do coco. Para cada planta que subir para a colheita ou simplesmente realizar uma limpeza, recebe o referente ao preço de uma unidade. Durante um dia de trabalho, dependendo da altura das plantas, os que tinham mais prática, chegavam a subir em até 100 coqueiros.

Madola começou nessa atividade aos 20 anos de idade e trabalhou durante 35 anos, quando percebeu que os nervos já não lhe favoreciam a subir no alto das palmeiras; as pernas, cansadas, impunham-lhe grande sofrimento para chegar àquelas alturas. Deixou a profissão aos 55 anos de idade e orgulha-se em dizer que com seu trabalho criou toda a família. Durante esse tempo trabalhou em vários locais. Na Pipa daquela época, somente ele e Geraldo da Costa, o General, discípulo que conseguiu formar quando ainda estava na atividade, eram responsáveis pela colheita de toda a região. Em Tibau do Sul, conta que tiraram coco por muitos anos, nas propriedades de Hélio Galvão. Em Cabeceiras, grande produtora de cocos, ensinou aos colegas de profissão o uso e a confecção das peias. Em Canguaretama, onde existiam vários sítios, passavam semanas trabalhando sem retornar para casa. Onde houvesse um sítio com cocos para colher, lá estavam os amigos Madola e General.

Hoje, aposentado, Madola ainda mora na Pipa com muitos filhos e netos, mas nenhum deles quis seguir sua profissão. Procuraram outras atividades mais rendosas e menos arriscadas.

General, último desses profissionais, teve seu destino traçado desde criança. Quando menino e adolescente, muito levado, em brincadeira de subir em árvores com outras crianças, sofreu várias quedas, inclusive duas grandes quedas de uma mangueira, o que lhe deixou por vários dias acamado. Quando adulto, no desempenho de sua profissão, também sofrera outros dois acidentes dessa natureza. No primeiro quebrou uma perna e ficou por mais de um ano sem trabalhar. O médico que o atendeu, sentenciou: nunca mais você vai poder subir em coqueiros. Ledo engano. Com menos de dois anos, lá estava ele pendurado no alto das palmeiras, como se nada tivesse lhe acontecido. É como ele sempre dizia, quando questionado: “Preciso ganhar a vida e essa é a minha profissão. Como não sei fazer outra coisa...”.

No fatídico dia 28 de setembro de 2005, sofreu sua última queda. Estava no alto de um coqueiro quando uma das peias, já bem usada, partiu-se e ele caiu de uma altura de mais de 20 metros. Dias antes, havia me pedido que comprasse em Natal, cinco metros de cabo de aço, pois precisava fazer “peias” novas. Quando retornei na semana seguinte, presenteei-lhe com o cabo de aço, que infelizmente não houve tempo de utilizar.

Lutou pela vida durante 20 dias. No dia 18 de outubro, morreu em um leito do Hospital Walfredo Gurgel, em Natal. Se tivesse sobrevivido, estaria preso para o resto da vida a uma cama ou, na melhor das hipóteses a uma cadeira de rodas, o que lhe imporia grande sofrimento.

Coincidentemente, o coqueiro no qual ele acidentou-se, quatro meses depois morrera. Sua frondosa copa foi secando até tombar e cair. Ainda podemos vê-lo, sem copa, apontando para o céu, bem ao lado de cemitério onde o “General” está sepultado, como se o destino, de alguma maneira, tivesse se encarregado de juntá-los novamente.

Com sua morte, morreu também uma tradição. Fiel discípulo de Madola, com quem aprendeu tudo sobre essa arte, não conseguiu deixar seguidores. Infelizmente, acabava naquele instante, o legado dos tiradores de coco da Praia da Pipa.

domingo, 17 de junho de 2012

O Laço e o Abraço

(Mário Quintana)

Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em
qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço
afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.

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Vinícius de Moraes: E por falar em saudade onde anda você



O SILÊNCIO CALOU-SE
Lúcia Helena Pereira


Sim, o silêncio calou-se e ouvi música das estrelas
Nesta manhã de auroras e sonhos,
No mês da Mulher e da Poesia!


O silêncio calou-se cantando as canções das flores,
Que dizem de aromas, em versos de alegria
Que os pássaros cantam em suas harmonias.


O silêncio calou-se depois de tantas indagações
De sentimentos sentidos e esperanças renovadas,
Quando pedimos ao Pai: "Ensina-me a CRER"!


O silêncio calou-se pois não poderia afrontar
A pureza e suavidade de tão nobres notas musicais,
Que as harpas eólias trouxeram na branca nuvem de março.


O silêncio calou-se e ouvi aquela ave de canto canoro e raro,
E de outros pássaros sobreviventes sobrevoando planicieis esquecidas
E vales escondidos!


O silêncio calou-se e cantou uma dileta melodia,
Cuja letra e música, trouxeram-me arranjos lindíssimos
A dizerem: "Lucinha...minha querida".


O silêncio falou. Cochichou hoje cedo ao meu ouvido,
Pelo telefone, na voz de Pedrinho,
Meu amiguinho de infância e de tantos afetos irmãos.


O silêncio falou. Ouvi dele a mais alta nota musical
Num refrão de auroras derramando flores
Num castiçal de licor de orvalhadas amoras.


O silêncio falou...e até chorou,
Ouvi o seu soluço na luz esverdeada de um céu canavial,
Um soluçar emocional, de vida, esperança - ressurreição!


E o meu coração se alegrou e pude cantar essa festa,
A festa do reencontro prometido
A festejarmos todos juntos, com a luz do vale verde!


___________
Ao meu querido amigo de infância - Pedro Simões Neto!
(*) Ilustração do google.


§§§§§§§§§§§§§§

 
NÃO DESTRUAS NADA
Horácio Paiva

Não destruas nada
E se acaso
criaste abismos
para ti mesmo
afasta-te agora

Preserva o que salvaste
e considera o que ainda
- por mérito ou razão -
parece sobreviver

Vai até Ele
e humildemente entrega
o que restou de ti
O pouco é tudo
E em Seu coração
serás maior...

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A PÁSCOA DE ANANIAS
Autor: Mané Beradeiro


Ananias, meu jumento,
meu bichim de estimação
não quis comer capim
e nem tocou na ração.
Perguntei o quê ele tinha
e me deu a explicação.


Mané eu estou triste
por falta de educação
o ovo é enganado
e não busca solução
o comércio manipula
a festa da Ressurreição!


Eu, curioso, quis saber
Me diga de que se trata
pois entre eu e você
nada nos maltrata
e se puder ajudar
eu serei um diplomata.


Ananias foi falando
de tudo o que sabia
da maior festa da vida
que na história havia
coisa do povo de Deus
que Moisés registraria.


Ele falava da Páscoa
que todos conhecem
da ilusão comercial
que nada nos apetecem
com propaganda enganosa
que as almas adoecem.


Eu disse ao meu jumento
fingindo que não entendia:
-Me responda sem dar coice
se você souber Ananias
o motivo é o ovo
ou há outra idolatria?


Com aquele jeito meigo
de olhar angelical
Ananias deu dois pulos
e falou bem pontual:
-O negócio é bem pior
que o bicho folharal.


E com muita paciência
Superando Abraão e Jó
Ananias me contou
a razão daquele nó
que na sua garganta
não passava pão de ló.


-Vejam só o que fizeram
da Páscoa verdadeira
permutaram seus sinais,
símbolos de nação inteira
abandonando o Cordeiro
Isto é grande baboseira.


O coelho nada fez
O Cordeiro deu a vida!
O seu sangue foi sinal
de trato na saída
da terra do pecado
à glória prometida (Êxodo 12:13)


E ainda tem mais
que é uma perdição
O ovo de chocolate
que desvia o cristão
de pensar seriamente
na maior libertação.


Eu defendo uma luta
e ao povo adianto
venha unir-se nesta festa
debaixo de um só manto
prá resgatar na Pàscoa
O Cordeiro sacrossanto.


E se é pra ter bicho
que seja comercial
vamos tirar o coelho
e por o fenomenal
o jumento Ananias
pois outro não há igual.


O jumento é seu irmão
nunca força lhe negou
Tá na Bíblia que foi ele
que a lenha carregou
Para o Monte Moria
Onde a fé se provou (Gênesis 22:3-6)


Eu refresco sua mente
lembrando de Balaão
homem que viu na terra
o que não tem explicação
conversou com minha tia
arriada naquele chão (Números 22:28-30)


Se isto ainda é pouco
Deixe eu lembrar Sansão
que com uma queixda
derrotou foi um montão
diz o Livro que eram mil
e não discorde dele não.


Foi queixada sim senhor
de jumento, antecessor.
nada de pé de coelho.
Reconheça meu valor.
É por isto que afirmo:
Com Deus não há terror.


Dê razão à história
que Jesus, pixototinho,
nos braços de sua mãe
no Egito fez seu ninho
e naquela viagem
o jumento fez caminho.


Mas tarde João Batista
primo de Nosso Senhor
botou nele um apelido
que os judeus apavorô
Era Cordeiro de Deus ( João 1:29)
de sangue libertador.


E finalmente o Cristo
em seus dias finais
quis entrar na cidade
de plantas olivais
montando num jumento
como não se viu jamais (Lucas 19:30-35)


Por tudo isto eu luto
brigo, dou coice e mordo
e quero sua ajuda
neste grande transbordo
paa fazer do jumento
o melhor dos acordos.


Lei a Bíblia e verá
em cada livro um consolo
mas aposto que não tem
coelho, ovo e bolo
pois na Páscoa do Senhor
Não tem nem um dolo.


Eu prefiro vê o mundo
Com os olhos de um cristão
Nem que prá isto sofra muito
e tenha decepção
mas a Palvra de Deus
não causa alienação.


Meu bom Mané
que parece um querubim
eu peço o teu voto
e faça agindo assim
elegendo Ananias
o jumento de cetim.