ADEUS PALOCHA
Nossa convivência teve somente uma
dúzia de anos. Começou nos encontros na Livraria Poty, depois no Sebo
Vermelho e na Livraria Câmara Cascudo. Desde logo me afeiçoei a ele,
pela sua humildade e boas tiradas nos poucos momentos que resolvia
falar.
Formamos uma verdadeira Confraria e
nos finais de ano nos reuníamos para uns comes e bebes. Ele nem bebia,
nem comia muito - não dava prejuízo a ninguém.
Ultimamente estava faltando aos
encontros e comentávamos que ele estava ficando fraco. As forças já não
permitiam grandes caminhadas.
De repente, lendo o Jornal de WM do último dia 27 de agosto deparei-me com a notícia:
"Tempo de Palocha", onde o excelente
articulista, em brilhante resumo, pintava o nosso querido amigo, com as
tintas exatas de sua existência.
"Fecham-se as cortinas do Cineclube
do Tirol, mas ouvem-se ain da as últimas notas da trilha sonora
anunciando a partida de Paulo Francineti da Rocha, Palocha. Na segunda
feira ele partiu para a última viagem e, lá em cima, numa visão bem
cinemascope, se reencontrou com Moacy Cirne e outros doces loucos
apaixonados pelo cinema. Palocha foi um dos fundadores do Cineclube
Tirol, Natal do começo dos anos sessenta, o pessoal marcando ponto no
Salão Paroquial da Igreja de Santa Terezinha, no Tirol. Eram exibidos
ali os filmes raros, encontrados com dificuldades entre cinéfilos de
paixão verdadeira, muitas dessas películas trazidas, como joias, além
dos limites da província. Tempo dos 16 milímetros. O Cineclube Tirol
passou a ser um marco no fazer cultural da cidade. Lá se viam poetas,
escritores, artistas plásticos, músicos, amantes do cinema.
Palocha, discreto, simples, humilde,
mas bem articulado, era um dos líderes do movimento. Figura singular na
paisagem humana natalense, sabia ser ouvido, conquistava simpatia, fazia
amigos."
O artigo de Woden não termina aqui,
todos devem ler a sua respeitável coluna, pois somente a sensibilidade
de um cronista da cidade é capaz de perceber que, entre pessoas
humildes, também existem grandes personagens da nossa história.
Não ficou por menos a Cena Urbana do estimado e respeitado Vicente Serejo que, em sua coluna de 28 de agosto revelou "O sonho de Palocha" e também foi tomado de surpresa com a triste notícia (bateu no rosto como um soco).
Não ficou por menos a Cena Urbana do estimado e respeitado Vicente Serejo que, em sua coluna de 28 de agosto revelou "O sonho de Palocha" e também foi tomado de surpresa com a triste notícia (bateu no rosto como um soco).
"Nem lembrava mais que Paulo
Francineti da Rocha era o seu nome completo. Pra quê, se ele gostava de
ser só Palocha, numa simplicidade sem mágoa? Sabia exercer seu ofício de
guardador de lembranças. Era sua grande nobreza, quase invisível, meio
escondida naquele seu corpo franzino que parecia flutuar de tão leve.
... Sabia tudo de cinema sem aquele pedantismo tolo dos cinéfilos." ...
Seu sonho não se realizou - não tirou na mega-sena e não pôde comprar o o prédio do Rio Grande.
Agora a casinha da Av. Afonso Pena, 591 é só uma lembrança do seu habitante ilustre.
Certamente - outra Confraria está
agora reunida. Além de Moacy Cirne, lembro Tarcísio Motta, o mais vexado
a partir, depois o Embaixador (Fernando Abbott), o Acadêmico Pedro
Vicente Costa Sobrinho, Dr. José Pinto, Alma do Vaqueiro (Francisco de Paula Medeiros), e agora ele.
Vai deixar saudade e órfãos os seus muitos amigos. Deus o proteja "ad perpetua memoria".