Quebrando um
pouco a sistemática do meu blog, abro uma janela para mudar a tônica dos
domingos, sempre voltado para o culto à poesia, para registrar um dos fatos mais traumáticos da história do Brasil.
60 ANOS DO SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS
A Constituição de 1946 nos traz a
certeza de que toda a ditadura, por mais longa e sombria, está determinada a
ter um fim. E, no caso da ditadura de Vargas, pode-se dizer que a luz que se seguem
às trevas foi de especial intensidade: o liberalismo do texto de 46 deve ser
motivo de orgulho para todos os brasileiros.
Paulo
Bonavides-Paes de Andrade. História Constitucional do Brasil, 3d. Paz e Terra
(Política). R.J. 1991
Finda a ditadura getulista em 1945, em nome
da democracia e ainda por força dos militares, inaugurou-se uma época de
restauração da liberdade, porém ainda sob o comando de um militar – o Marechal
Eurico Gaspar Dutra, “Presidente do Livrinho”, vencedor do pleito pela legenda
do PSD com maioria absoluta sobre o candidato Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN;
Yeddo Fiuza do PCB e Mário Rolim Teles, do Partido Agrário Nacional. O eleito,
que fora Ministro da Guerra do governo decaído e avesso ao Estado Liberal, no entanto
dotou o País de uma nova Constituição, promulgada no dia 19 de setembro de
1946, restaurando os direitos civis e políticos, embora haja praticado atos
típicos de um governo autoritário, pondo na ilegalidade os partidos de esquerda
e perseguindo suas lideranças.
O velho caudilho gaúcho, contudo, foi eleito
para o Senado da República e trabalhou para retornar ao poder com discurso
populista, logrando êxito pelo voto popular em 1951, através da legenda do
Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, apesar do inconformismo dos militares,
suplantando os seus adversários brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), mais uma vez e
Christiano Machado (PSD). Mas o seu governo não conseguiu evitar a crescente
onda de denúncias, corrupção e violência e de uma oposição ferrenha do
jornalista Carlos Lacerda, que terminou sendo ferido em um atentado em 5 de
agosto de 1954 na Rua Toneleros, em que foi trucidado o major Rubens Tolentino
Vaz, situação que se tornou insustentável e provocou o suicídio do Presidente
Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, gerando uma comoção geral no País,
sobretudo pela divulgação de uma “Carta Testamento” de incomensurável valor
para a nossa História, tendo assumido o Vice-Presidente João Café Filho, entre
um interminável movimento de rebeldia política e conspiração da qual também
participou, que não permitiu terminar o governo em 31 de janeiro de 1955.[1]
A
morte, contudo, não pôs fim à Era de Vagas, porquanto o seu nome, como um fantasma,
continuou ressoando na política do Brasil.
O Brasil sem Vargas era uma incógnita
eleitoral nas semanas que se seguiram ao suicídio. Alguns pensavam que Getúlio
continuaria a eleger ‘post-mortem´’. O udenismo tinha esperanças de que o poder
bem manipulado poderia alterar o rumo dos acontecimentos, extirpando as raízes
do PTB órfão e retirando a motivação do PSD, que não se privaria das condições
de se beneficiar do poder.
Claudio
Bojunga. JK o artista do impossível. RJ: Objetiva, 2001
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[1] O Brasil naquela ocasião era um país realmente único em todo o mundo,
pois tinha quatro presidentes da República: um impedido, Café Filho; outro no
exercício, Nereu Ramos; um terceiro, de fato, General Lott; e o último, de
direito, JK. (apontamentos obtidos em Murilo Melo Filho,
– Testemunho Político, Ed. Bloch, 1997/7. p.
233.
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