sábado, 27 de setembro de 2014

O Brasil (não) cresce

Publicação: 2014-09-21 00:00:00 | Comentários: 0
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Francisco de Sales Matos 
Advogado e Professor da UFRN

Ultimamente, indo para a despedida eterna do meu amigo Iberê Ferreira de Souza, pude encontrar vários amigos que faziam parte da legião de amigos seus. Mesmo empanado o brilho daquela tarde pelo desaparecimento daquela figura humana excepcional, algo de feliz e produtivo ocorreu, quiçá em homenagem à história e à vida que ali quedava inerte. Encontrei a digníssima edil Eleika Bezerrra e de repente, mais do que de repente, um pequeno grupo de amigos se reuniu em torno dela e, despretensiosamente, emergiu um interessante papo acerca de um tema que em razão do debate político eleitoral conjuntural exsurgiu com vigor: por que o Brasil não cresce? 

Lembrei-me do livro do economista Marcos Mendes exatamente sob o título Porque o Brasil Cresce Pouco? Então, a nossa conversa despretensiosa evoluiu para um patamar interessante por que inflamada pela expertise da professora Eleika. Sentenciou a emérita professora: cresce pouco porque o processo educacional vivenciado em nosso País não permite que tenhamos crescimento maior. Vivemos um processo invertido onde o alicerce é frágil e a estrutura que se assenta sobre ele é pesada. O peso da nossa educação deveria residir na educação de base, verberou. 

Bom, resolvi meter meu bedelho no debate. E ousei não discordar do juízo de valor predominante, mas concordar que o nosso processo educacional deveria sim ser fortalecido na base, apenas reparei que o fato de concentrar esforços na base não significa necessariamente tenha que se descurar da estrutura superior. Voltei-me para o livro do economista Marcos Mendes que aponta, tal qual a prof. Eleika, que as inversões públicas devem ser concentradas na educação de base, mas tergiversa em meu sentir quando afirma que parte dos recursos da educação superior deveria advir para a educação básica. Ora, não adianta cobrir um santo e descobrir outro. E assim quero exortar que propugno que a educação de base seja efetivamente prestigiada, sem que para isto o governo retire os investimentos da educação superior. Há espaço para ambas sim senhor. 

Diagnosticado, pois, o primeiro ponto da vulnerabilidade do crescimento do nosso País, no restante acosto-me às lições do professor Marcos Mendes. “No Brasil hoje, que é muito desigual, o rico quer bolsa-BNDES, o pobre quer Bolsa Família, a classe média quer universidade de graça e mercado de trabalho protegido, isso faz uma pressão sobre o Estado para gastar a favor de todo mundo, e regular a favor de todo mundo, diminuindo não só a poupança, como a eficiência da economia. “Para crescer, Brasil precisa rever cultura de ‘mil’ bolsas, disse o economista. Em que pese o peso do curriculum ouso apenas advertir que no estágio atual o programa “Bolsa Família” se revela de estrema importância. 

Quanto a este advirto, porém, que a revisão desse programa não pode implicar em sua desvalorização para extingui-lo por inanição. Mas, não poderia deixar de manifestar também que lamento profundamente não tenha sido ele instituído compondo em sua natureza o caráter da produtividade. Em grande parte o cidadão recebe-o sem uma contraprestação produtiva. E para finalizar, quero rechaçar duas coisas: o ímpeto dos que defendem a flexibilização dos direitos trabalhistas, na perspectiva neoliberal, e a afirmação de que o Brasil deixou de crescer no governo Dilma. O Brasil não cresce efetivamente há mais de 30 anos. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A ELEIÇÃO QUE JESUS PERDEU
 Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
     
   
                            De um lado Barrabás. Do outro Jesus de Nazaré. Entre os dois o procurador romano na Palestina, Pôncio Pilatos, representando o sistema político-militar vigente na região. De Jesus muito se sabe – do ponto de vista histórico. Já do seu legado espiritual pouco se tira proveito. A respeito de Barrabás pouco ou quase nada é sabido. Uma nesga da história narra Barrabás como um criminoso, culpado de sedição e homicídio, que merecia morrer por crucificação segundo a lei romana. Outros historiadores tentam colocar uma neblina de charme à sua biografia, taxando-o de terrorista que promovera algumas ações na tentativa de derrubar o governo romano na Palestina. De uma forma ou de outra alguém que vivia ao arrepio da lei. Merecedor, portanto, de julgamento e condenação, o que de fato ocorrera já que Barrabás estava na prisão tão somente à espera da hora de ser crucificado.
                                 Do ponto de vista eleitoral o cenário estava completo. Num patamar superior – lembrando os palanques de campanha dos dias de hoje – os dois candidatos. Junto a eles o TRE daquele tempo, representado na pessoa de sua excelência Pôncio Pilatos. O período de campanha, embora curto, fora muito bem trabalhado por um dos contendores e seus correligionários. O outro candidato não teve o direito de falar nada, embora anteriormente já tivesse feito inúmeros discursos sobre o seu programa de governo, àquela hora totalmente esquecido. Pelo marketing empregado, havia uma nítida vantagem para Barrabás sobre Jesus de Nazaré. Os cabos eleitorais do bandido doutrinavam o povo sob intenso frenesi. Havia pressa, uma vez que não era desejo da elite religiosa permitir que o eleitorado viesse a raciocinar. Barrabás tinha que ganhar – mesmo que condenáveis os métodos utilizados.
                                 Esse paralelismo em torno dos fatos reais da condenação de Jesus serve para demonstrar como são irracionais, em certas ocasiões, as escolhas que fazemos em nossas vidas. Em sã consciência ninguém deixaria de votar em Jesus para sufragar o nome de Barrabás. Mas todos sabem o desfecho ocorrido naquele tempo. Por leviandade, emocionalismo e superficialismo gritante, cometeu-se uma das maiores injustiças já praticadas pela humanidade, fruto de um processo eleitoral cheio de vício e de técnicas deturpadas de persuasão coletiva. Embora não tendo a carga dramática da escolha que condenou Jesus à morte, o processo político vivido pelo Brasil atualmente tem uma importância crucial para a vida de milhares e milhares de pessoas. E da mesma forma que naquele tempo, processos cavilosos de comunicação e persuasão tentarão vender gato por lebre, fantasia por realidade.
                                 O direito de exercer o voto é algo realmente extraordinário. Através dele ciclos inteiros na vida da humanidade foram alterados. Pela força do voto – não somente o voto do ponto de vista eleitoral, mas todo processo de escolha que envolva um posicionamento, uma alternativa – o que era deixou de ser e o que não era passou a existir. Falo do voto muito além do contexto político. Das tomadas de decisão que temos de adotar diariamente, de pessoas que temos de escolher como companheiros, parceiros, sócios. Dos processos que tomamos parte e que envolvem outras vidas. As chefias nas empresas, o comando nos quartéis, a liderança que exercemos na vizinhança, na comunidade, no seio da família..... Em todo momento há a necessidade de votar, de escolher, de se direcionar. E todo processo de escolha deve ser visto e tratado com responsabilidade e equilíbrio, visando o bem comum.


                                  E Jesus? Ah, a Ele nós traímos diariamente. Há uma tendência generalizada de condenar as pessoas que condenaram Jesus. Assistindo aos relatos da Paixão de Cristo as pessoas choram, se emocionam – e julgam quem levou Jesus à cruz. Acontece que a todo instante um processo de escolha se estabelece diante de nós. Entre o que Ele nos ensinou e o que nosso querer determina. E agora, qual o procedimento a ser adotado? Viver a Palavra que Jesus Cristo nos deixou é o caminho a ser seguido. Perdoar, amar ao próximo, não corromper nem ser corrompido, defender o direito dos mais fracos, dos mais humildes. Mas, será que é assim? Ao agir diferente do Seu legado estamos ou não traindo-O como os escribas e fariseus fizeram naquele tempo? O período eleitoral de agora é também uma oportunidade de praticarmos o bem comum levando a sério o processo de escolha. Você confirma?   

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O IHGRN e o IPHAN CONVIDAM PARA HOJE

Conferência resgata memória holandesa em época de expedição no RN

Benjamim Teensma ministrará palestra sobre busca de minas de prata no rio Potengi


Benjamin-Teensma---Professor-da-universidade-da-Holanda---WR--(1)
Alvo de muitos massacres durante o século XVII, o Rio Grande do Norte esteve por muitos anos na rota dos holandeses, que buscavam explorar as riquezas existentes no Nordeste brasileiro. Geograficamente estratégico, o estado sofreu a invasão entre os anos 1630 e 1654, devido sua localização, servindo assim de ponto respeitável para o fortalecimento do domínio holandês no Brasil. Mas a importância do estado não era só essa.
A potencialidade do RN no tocante ao fornecimento de provimentos, sobretudo carne bovina e produção açucareira, também interessava aos holandeses. Naquele tempo, ainda havia rumores de que a existência de uma mina de prata em solo potiguar poderia garantir riquezas aos então invasores – situação que teria levado uma comissão composta por militares holandeses, guias tupis e escravos a realizar uma expedição ao longo do curso do rio Potengi.
Essa expedição será tema da Conferência “Os mocós da Itabiraba do Córrego Retorto”, a ser ministrada em Natal na próxima quinta-feira (25) pelo Dr. Benjamin Teensma, professor Emérito da Universidade de Leiden nos Países Baixos. De acordo com o historiador, que veio à capital potiguar a convite do Instituto Histórico e Geográfico do RN e do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a recente descoberta de um relatório feito à época da expedição pode mostrar uma nova abordagem sobre a presença holandesa no RN. A conferência será realizada no Instituto Histórico e Geográfico, a partir das 19h30.
“Existem dois relatórios feitos por oficiais militares na época da expedição que mostram como teria sido realizada a rota pelo grupo explorador. Esses relatórios, hoje preservados em acervo holandês, tratavam das condições do espaço, trajeto e situações enfrentadas pelo grupo”, conta Benjamin.
“Ambos os documentos são bastante fiéis às informações descritas. Entretanto, recentemente, em 1995, foi tornado público um outro relatório feito por um soldado que teria participado da expedição. Fragmentos desse terceiro documento, publicado por um jornal alemão, acrescenta mais informações que torna aquele evento mais interessante para entendermos um pouco da história dos próprios holandeses, como também dos potiguares”, relatou.
O historiador comenta que, em parceria com o potiguar Levy Pereira, especialista em cartografia histórica, fez a transcrição do mais recente relatório para a língua portuguesa, dando condições do cartógrafo realizar um geoprocessamento da rota realizada pela expedição.
“As informações que confrontamos entre os três relatórios nos deu uma nova abordagem de uma época da história vivida. Dessas novas informações do relatório divulgado em 1995 nos mostra, por exemplo, como era o perfil dos holandeses, suas hostilidades, as dificuldades enfrentadas em solo potiguar, doenças acometidas e até modelos de corrupção”, explicou Benjamin Teensma. “Mina de prata eles nunca encontraram. É o que temos garantia de dizer. Mas podemos observar novas ‘heranças’ que eles deixaram”, disse o historiador holandês.
Com pouco tempo de permanência no Rio Grande do Norte, o historiador acredita que a cultura holandesa da época importada para o então ‘Rio Grande’, como era denominado o estado, jamais culminaria entre os povos existentes na região.
“Estamos falando de cultura e sociologia muito diferente entre diversos povos. Os holandeses tinham uma religião hostil e uma língua impenetrável, por exemplo. Muito difícil que eles conseguissem deixar marcas no povo”, disse.
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Postado dia 23/09/2014 às 15h24

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um apelo

Publicação: 2014-09-21 00:00:00 | Comentários: 0
A+A-
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador regional da República

Os que leem o que eu escrevo aqui já devem ter notado: sou um entusiasta da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal e da valorização, como forma de otimizar a prestação jurisdicional, dos precedentes judiciais em geral.

Em razão disso, uma coisa tem me preocupado: o Supremo Tribunal Federal simplesmente parou de editar enunciados de sua Súmula Vinculante. Foram cerca de 30 enunciados, sendo o último de 2011, e pronto.

Como se sabe, o Supremo Tribunal Federal pode aprovar, revisar ou cancelar enunciados de sua Súmula Vinculante de ofício ou por provocação externa (CF, art. 103-A, caput e § 2º e art. 2º da Lei 11.417/06). Quando agir de ofício, isso pode ser feito por proposta de um ou mais de um de seus ministros. Quanto à legitimidade para a provocação externa, o § 2° do art. 103 da Constituição Federal e o art. 3ª da Lei 11.417/06 dispõem que a aprovação, revisão ou cancelamento de enunciado da Súmula poderá ser provocada, entre outros, por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.

Sei que o quórum para aprovação de um enunciado vinculante não é simples. Segundo o art. 103-A da Constituição Federal e o § 3º do art. 2º da Lei 11.417/06, a aprovação dá-se por decisão de dois terços dos seus membros. E é interessante notar que o quórum de 2/3, proporcionalmente, é maior que o quórum de 3/5, necessário para a aprovação de emenda constitucional, o que faz presumir o quão difícil é a aprovação, revisão e cancelamento de enunciado da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal.

Sei, ademais, que o § 1º do art. 103-A da Constituição Federal (assim como o § 3º do art. 2º da Lei 11.417/06) deixa claro que a súmula vinculante terá por objeto a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, afastando de seu objeto, assim, as questões de fato. Os enunciados vinculantes devem versar somente sobre questões ou teses jurídicas. Quanto aos fatos, mesmo que se trate de questão jurídica já sumulada, os juízes deverão analisá-los atentamente a fim de verificar se eles realmente se subsumem ao enunciado da Súmula. 

Sei, também, que nem todas as questões de direito poderão ser objeto de enunciado vinculante. A Emenda Constitucional 45/04 (ver redação do art. 103-A, caput, da CF) atribuiu ao Supremo Tribunal Federal prerrogativa de editar Súmula Vinculante apenas em matéria que tenha conteúdo constitucional. A matéria, geralmente, dirá respeito, também, a um outro ramo do Direito (previdenciário, tributário etc.), mas deve ter conteúdo constitucional.

Sei, ainda, que alguns ramos do Direito possuem natureza compatível com os enunciados curtos e precisos de uma súmula; outros, não. No primeiro grupo, estão, por exemplo, o direito tributário e o direito previdenciário: em regra, apesar da complexidade de suas teses jurídicas, as questões fáticas não são de grande complexidade. Mas há ramos do Direito, como o direito penal e o direito de família, em que, além das teses jurídicas por vezes tormentosas, as questões de fatos são quase sempre bastante complexas, de profundo casuísmo, impedindo a incorporação na súmula vinculante ou, ao menos, dificultando-a sobremaneira. 

Sei, por fim, que, nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu outras prioridades, tais como julgar a famosíssima Ação Penal 470 (conhecido como o caso do “Mensalão”) e fomentar o incremento do importantíssimo instituto da Repercussão Geral nos Recursos Extraordinários. 

Mas acredito que chegou a hora de fazer um apelo. E duplamente direcionado.

Primeiramente, ao próprio Supremo Tribunal Federal e aos seus ministros. Afinal, como visto, pode-se agir de ofício. Em segundo lugar, aos legitimados do art. 103 da Constituição Federal (aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade). Numa democracia representativa como a nossa, eles “representam”, bem ou mal, os jurisdicionados como um todo ou, ao menos, parcela considerável deles. Como o fim da Súmula é ter caráter de vinculação geral, nada mais natural que eles muito usem (mas não abusem) da prerrogativa para provocar a aprovação, revisão ou cancelamento de enunciados vinculantes.

Meu apelo é: Ministros, editem! Legitimados, provoquem! Mas do que isso, exijam! A coisa está parada desde 2011. Chegou a hora.

Para finalizar, reitero uma ideia que já defendi aqui: a Súmula Vinculante não é o remédio milagroso para todos os males da Justiça brasileira, mas que é um bom anti-inflamatório, qualquer clínico geral, como eu, sabe que é. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

DIA 25 DE SETEMBRO - CONFERÊNCIA NO IHGRN


A conferência do Professor BENJAMIN TEENSMA vem sendo esperada com expectativa pelos estudiosos e pesquisadores do Estado.
O tema é por demais interessante: "OS MOCÓS DA ITABIRABA DO CÓRREGO RETORTO" e terá a apresentação do Diretor EDGARD DANTAS e projeções complementares do Prof. LEVY PEREIRA.


O EVENTO MARCARÁ A REABERTURA DO INSTITUTO PARA OS PESQUISADORES E VISITANTES e conta com o apoio do IPHAN.

Sobre Economia


In œconomia veritas

Tomislav R. Femenick – Auditor e consultor contábil, mestre em economia.

 

Francisco Xavier Gomes Vieira, doutor em direito, matemático, linguista, teólogo, humanista, meu padrasto e alto funcionário do Banco do Brasil – na época em que isso dava status social e econômico – ensinou-me algo que foi essencial na minha formação: não aceitar nenhum conceito, teoria ou mesmo fato sem antes fazer uma análise crítica. No meu aprendizado universitário tive professores como Paul Singer, Chico de Oliveira, Bresser Pereira, Guido Mantega e, ocasionalmente, Luciano Coutinho, Walter Barelli e Octavio Rodriguez, só para citar “homens de formação de esquerda”, que usavam o ferramental do contraditório para sustentar suas afirmações didáticas.

Profissionalmente convivi com grandes nomes da contabilidade, entre eles Hilário Franco e Américo Oswaldo Campiglia. Ambos, para terem certeza de que eu estava certo, sempre questionavam as conclusões dos meus relatórios de auditoria, consultoria ou perícia. Esse procedimento sedimentou a minha convicção de que somente contestando é que se encontra a verdade. Daí porque não reprovo as contestações e os questionamentos feitos no âmbito dos conceitos; nunca no campo da ideologia.

Esse longo introito vem em função dos e-mails que recebi por ter tido a “ousadia” de questionar a política econômica do governo, no artigo “A Economia no Caminho do Vinagre”. Entre as dezenas de mensagens (quase todas anônimas), somente duas tinham argumentação lógica. As demais foram somente chavões catequéticos e frases desconexas. Essa gente não aprende a lição. Só para exemplo: enquanto a Venezuela e a Argentina vão se “cubanizando” e quebram, a China e o Vietnã se transformam em economias capitalistas e crescem. Em atenção àqueles dois contestadores lógicos, apresento alguns novos fatos que indicam o caminho do vinagre.

Nos últimos anos, o setor de construção civil era um dos que mais crescia no Brasil, gerando uma verdadeira euforia do mercado imobiliário e criando milhares de novos empregos. Hoje as vendas pararam, os estoques de casas e apartamentos atingem valor em torno de R$ 30 bilhões e o desemprego amedronta os operários. Apesar da pequena recuperação havida em agosto, nos 12 meses passados o desemprego nas fábricas já atingiu número superior a 75 mil pessoas com carteira assinada, isso de acordo com o Ministério do Trabalho.

A crise atinge também o ensino. Não obstante tenha havido um aumento de matrícula nas faculdades brasileiras, o número de estudantes que terminam seus cursos caiu pela primeira vez nos últimos dez anos. Em 2009 a relação “aluno matriculado” x “aluno formado” era de 46%, (quase 1 para 2); hoje é de 36% (quase 1 para 3). Note-se que a maior ocorrência de abandono de alunos se dá nas escolas particulares. As condições econômicas das famílias dos estudantes certamente é fator determinante para esse fato.

Levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Duke University e a CFO Magazine, indicam que os executivos brasileiros estão entre os mais pessimistas do mundo, situação que vem se agravando nas seis últimas pesquisas trimestrais. Causa do pessimismo: desacertos nas políticas governamentais, incerteza econômica e o retorno da inflação.

Há mais fatores pavimentando a estrada do vinagre. Anualmente sai ilegalmente do Brasil cerca de US$ 33,7 bilhões, que equivalem a 1,5% do produto nacional. São receitas do crime organizado, da corrupção e da evasão de impostos. Enquanto isso, o Tesouro Nacional joga subsídio nos empréstimos do BNDES que chegam R$ 28,3 bilhões. O problema não é o subsídio; é para onde vão os empréstimos: Eike Batista, Cuba e correlatos.

Tribuna do Norte. Natal, 21 set 2014.

domingo, 21 de setembro de 2014

MONSTROS SAGRADOS DO NORDESTE BRASILEIRO