quinta-feira, 16 de junho de 2022

 

A GUERRA DAS PESQUISAS

 

Valério Mesquita

Mesquita.valerio@gmail.com

 

 

As pesquisas eleitorais para o governo do Rio Grande do Norte estão enlouquecendo o eleitor. A cada semana os institutos de opinião pública, utilizando o mesmo universo pesquisado, apresentam índices divergentes um dos outros na eleição de governador deixando dúvidas quanto à veracidade e a seriedade do trabalho. Tá igual àquela letra da música popular: “E o motivo todo mundo já conhece, é que o de cima sobe e o de baixo desce...”. Sabe-se que a pesquisa eleitoral cientificamente revela uma tendência do eleitorado. Não pode ser encarada como um resultado definitivo, muitas vezes faltando meses para a eleição. O antigo Instituto Brasileiro de Opinião Pública – IBOPE, antes considerado um referencial nesses procedimentos, já cometeu sérios deslizes por esse país afora. Há exemplos clássicos no Rio Grande do Norte e na Paraíba. Não desejo emitir juízo de valor com relação aos números divulgados ultimamente por alguns institutos ou que venham a ser produzidos por outros. A pergunta é: quem está mentindo, adulterando índices? Um resultado maquiado em favor desse ou daquele candidato vale mais que dez show-mícios, ou lhe custar, simplesmente, a eleição, porque induz o votante, contagia a massa sôfrega e inculta, praticante da lei da vantagem, a famosa “lei de Gerson” no futebol. A legislação eleitoral, comprovada a fraude, pune exemplarmente. Essa é a letra da lei e só não sei se funciona.

Sem me abstrair do assunto, parece que se ingressou na “lei do vale tudo” onde o escapismo das sanções previstas, a esperteza e a sabedoria de poucos são o maior galardão e prêmio em detrimento de muitos. A pesquisa eleitoral seria, então, simulação ou humor? Humor do eleitor ou humor do candidato. Tudo na momentaneidade da ocasião ou do tempo? Como os humores são mutantes resta saber para quem vai sobrar o prejuízo. Por outro lado, você já pensou no humor ou no emocional de um candidato majoritário ao receber um resultado desfavorável? Ele que comanda e é responsável por uma enorme estrutura de gastos de campanha, subsidiados pelo famélico Fundo Eleitoral, muito dinheiro, veículos, folhas de pagamento, shows-mícios, sem falar em empréstimos pessoais, compromissos com financiadores dos projetos eleitorais e serem compelidos a aceitar um resultado negativo, conferido por um instituto de pesquisa? E o ânimo para continuar a jornada? Repleto de dúvidas e dívidas, qual a vontade ou sentimento que lhe move o instante?  Indubitavelmente, no Estado as pesquisas eleitorais estão ensandecidas porque os institutos colidem mais com os números do que a velha camionete Ford do engenheiro Joaquim Victor de Holanda, de saudosa memória, tido e havido como o motorista mais “barbeiro” da história automobilística do Rio Grande do Norte. Quem está por trás do biombo?

 

(*) Escritor.

 


RIBEIRA DA MINHA SAUDADE

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

                Despertado neste dia ensolarado de Corpus Christi, saí do casulo da minha solidão e dei-me a fazer a leitura de recente livro adquirido na Cooperativa de Livros da UFRN, denominado RIBEIRA – beco/praça/travessas/ruas/avenidas históricas, escrito a seis mãos por Cícero Oliveira, José Clewton do Nascimento e José Correia Torres Neto.

         A cada página folheada, ia aumentando a minha curiosidade, aliada a uma saudade doída de um tempo que vivi, e muito, naquele bairro pioneiro, aonde cheguei a morar na Av. Duque de Caxias, esquina com a Rua Nísia Floresta, respirando o ar de rio, o Potengi amado, da loja 4400, do Cais Tavares de Lira, dos Bondes, do Grande Hotel, da famosa Rua Dr. Barata, da Agência Pernambucana e outros lugares apropriados para uma criança.

         O texto é maravilhosamente bem dividido e enriquecido com fotografias, que dão conta de como era belo aquele bairro até a debandada dos soldados americanos, participantes da Segunda Guerra Mundial, hoje somente restando as carcaças, as ruínas, as histórias e a imensa lembrança daqueles que caminharam em sua ruas e travessas concorridas, ricas em lojas, bares, livrarias, alfaiatarias, sapatarias, cafés, sinucas/bilhares e as casas das tristes mulheres da difícil vida, alegres por obrigação.

         Desses retratos, ainda se sobressai imponente o nosso Teatro Alberto Maranhão, antigo Carlos Gomes, a Igreja do Bom Jesus e uns poucos prédios solitários entre ruínas, particularmente nas ruas Doutor Barata, Padre Miguelinho e  Avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira.

         Lembro-me de uma música gravada por Sílvio Caldas inteiramente sobre a cidade de São Paulo, onde uma das canções tinha por nome Perfil de São Paulo, a qual se iniciava com os versos: “Aonde estão teus sobrados, De longos telhados, E teus lampiões? E os moços da academia, Na noite tão fria, Cantando canções? E sinhazinha delgada, Pisando a calçada, Na tarde vazia? O tempo tudo mudou, Mas não apagou, A tua poesia”....

Sim, aqui mudou, se apagou a sua sedução, o rio Potengi já não alberga as regatas, as avenidas não são mais requisitadas para as batalhas de Carnaval, a boemia, o comércio, as famosas cozinhas especializadas em peixe e carne de sol mudaram de lugar, não temos mais o por do sol ao som de Ivanildo. O tempo tudo mudou sem razão aceitável e a poesia foi procurar outro lugar.

Vou terminar por aqui para que as lágrimas não caiam mais abundantes no teclado do computador.

Sei que uns leitores, que adotam o ditado de que não se pode viver do passado, vão virar o rosto para esta crônica. Discordo que o façam, pois se não fosse o passado de tudo e de alguns personagens, Seu Olívio a reunir a intelectualidade da época, o velho Rocco Rosso em sua Oficina Brasil na Travessa Argentina, pai da minha pranteada Therezinha, eu não teria mais nenhum motivo para continuar nesta dimensão da existência.

Leiam o livro sobre a Ribeira, que dá seguimento a outro nostálgico livro sobre as Rocas, do meu amigo Ciro Pedroza. Depois digam se não tenho razão!