RIBEIRA
DA MINHA SAUDADE
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Despertado
neste dia ensolarado de Corpus Christi, saí do casulo da minha solidão e dei-me
a fazer a leitura de recente livro adquirido na Cooperativa de Livros da UFRN,
denominado RIBEIRA – beco/praça/travessas/ruas/avenidas históricas, escrito a
seis mãos por Cícero Oliveira, José Clewton do Nascimento e José Correia Torres
Neto.
A
cada página folheada, ia aumentando a minha curiosidade, aliada a uma saudade
doída de um tempo que vivi, e muito, naquele bairro pioneiro, aonde cheguei a
morar na Av. Duque de Caxias, esquina com a Rua Nísia Floresta, respirando o ar
de rio, o Potengi amado, da loja 4400, do Cais Tavares de Lira, dos Bondes, do
Grande Hotel, da famosa Rua Dr. Barata, da Agência Pernambucana e outros
lugares apropriados para uma criança.
O
texto é maravilhosamente bem dividido e enriquecido com fotografias, que dão
conta de como era belo aquele bairro até a debandada dos soldados americanos,
participantes da Segunda Guerra Mundial, hoje somente restando as carcaças, as
ruínas, as histórias e a imensa lembrança daqueles que caminharam em sua ruas e
travessas concorridas, ricas em lojas, bares, livrarias, alfaiatarias,
sapatarias, cafés, sinucas/bilhares e as casas das tristes mulheres da difícil
vida, alegres por obrigação.
Desses
retratos, ainda se sobressai imponente o nosso Teatro Alberto Maranhão, antigo
Carlos Gomes, a Igreja do Bom Jesus e uns poucos prédios solitários entre
ruínas, particularmente nas ruas Doutor Barata, Padre Miguelinho e Avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira.
Lembro-me de uma música gravada por
Sílvio Caldas inteiramente sobre a cidade de São Paulo, onde uma das canções
tinha por nome Perfil de São Paulo, a qual se iniciava com os versos: “Aonde
estão teus sobrados, De longos telhados, E teus lampiões? E os moços da
academia, Na noite tão fria, Cantando canções? E sinhazinha delgada, Pisando a
calçada, Na tarde vazia? O tempo tudo mudou, Mas não apagou, A tua poesia”....
Sim, aqui mudou, se apagou a sua sedução, o
rio Potengi já não alberga as regatas, as avenidas não são mais requisitadas
para as batalhas de Carnaval, a boemia, o comércio, as famosas cozinhas
especializadas em peixe e carne de sol mudaram de lugar, não temos mais o por
do sol ao som de Ivanildo. O tempo tudo mudou sem razão aceitável e a poesia
foi procurar outro lugar.
Vou terminar por aqui para que as lágrimas
não caiam mais abundantes no teclado do computador.
Sei que uns leitores, que adotam o ditado
de que não se pode viver do passado, vão virar o rosto para esta crônica.
Discordo que o façam, pois se não fosse o passado de tudo e de alguns
personagens, Seu Olívio a reunir a intelectualidade da época, o velho Rocco
Rosso em sua Oficina Brasil na Travessa Argentina, pai da minha pranteada
Therezinha, eu não teria mais nenhum motivo para continuar nesta dimensão da
existência.
Leiam o livro sobre a Ribeira, que dá
seguimento a outro nostálgico livro sobre as Rocas, do meu amigo Ciro Pedroza.
Depois digam se não tenho razão!
Parece ser um livro bem interessante.
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