quinta-feira, 16 de junho de 2022

 


RIBEIRA DA MINHA SAUDADE

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

                Despertado neste dia ensolarado de Corpus Christi, saí do casulo da minha solidão e dei-me a fazer a leitura de recente livro adquirido na Cooperativa de Livros da UFRN, denominado RIBEIRA – beco/praça/travessas/ruas/avenidas históricas, escrito a seis mãos por Cícero Oliveira, José Clewton do Nascimento e José Correia Torres Neto.

         A cada página folheada, ia aumentando a minha curiosidade, aliada a uma saudade doída de um tempo que vivi, e muito, naquele bairro pioneiro, aonde cheguei a morar na Av. Duque de Caxias, esquina com a Rua Nísia Floresta, respirando o ar de rio, o Potengi amado, da loja 4400, do Cais Tavares de Lira, dos Bondes, do Grande Hotel, da famosa Rua Dr. Barata, da Agência Pernambucana e outros lugares apropriados para uma criança.

         O texto é maravilhosamente bem dividido e enriquecido com fotografias, que dão conta de como era belo aquele bairro até a debandada dos soldados americanos, participantes da Segunda Guerra Mundial, hoje somente restando as carcaças, as ruínas, as histórias e a imensa lembrança daqueles que caminharam em sua ruas e travessas concorridas, ricas em lojas, bares, livrarias, alfaiatarias, sapatarias, cafés, sinucas/bilhares e as casas das tristes mulheres da difícil vida, alegres por obrigação.

         Desses retratos, ainda se sobressai imponente o nosso Teatro Alberto Maranhão, antigo Carlos Gomes, a Igreja do Bom Jesus e uns poucos prédios solitários entre ruínas, particularmente nas ruas Doutor Barata, Padre Miguelinho e  Avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira.

         Lembro-me de uma música gravada por Sílvio Caldas inteiramente sobre a cidade de São Paulo, onde uma das canções tinha por nome Perfil de São Paulo, a qual se iniciava com os versos: “Aonde estão teus sobrados, De longos telhados, E teus lampiões? E os moços da academia, Na noite tão fria, Cantando canções? E sinhazinha delgada, Pisando a calçada, Na tarde vazia? O tempo tudo mudou, Mas não apagou, A tua poesia”....

Sim, aqui mudou, se apagou a sua sedução, o rio Potengi já não alberga as regatas, as avenidas não são mais requisitadas para as batalhas de Carnaval, a boemia, o comércio, as famosas cozinhas especializadas em peixe e carne de sol mudaram de lugar, não temos mais o por do sol ao som de Ivanildo. O tempo tudo mudou sem razão aceitável e a poesia foi procurar outro lugar.

Vou terminar por aqui para que as lágrimas não caiam mais abundantes no teclado do computador.

Sei que uns leitores, que adotam o ditado de que não se pode viver do passado, vão virar o rosto para esta crônica. Discordo que o façam, pois se não fosse o passado de tudo e de alguns personagens, Seu Olívio a reunir a intelectualidade da época, o velho Rocco Rosso em sua Oficina Brasil na Travessa Argentina, pai da minha pranteada Therezinha, eu não teria mais nenhum motivo para continuar nesta dimensão da existência.

Leiam o livro sobre a Ribeira, que dá seguimento a outro nostálgico livro sobre as Rocas, do meu amigo Ciro Pedroza. Depois digam se não tenho razão!

Um comentário: