quinta-feira, 10 de março de 2022

 

Os loucos estão voltando?

 BERILO DE CASTRO

Depois de mais de dois anos de pandemia avassaladora causada por um vírus provavelmente proveniente do morcego, que vazou do laboratório de pesquisa virótica em Wuhan/China, com números espantosos e arrasadores de mortes: no mundo chega a mais de 5 milhões e no Brasil está à beira de 700 mil, com centenas e mais centenas de sequelados submetidos a permanentes cuidados médicos e psicólogos..

Entramos no ano novo 2022 olhando para trás e com um certo alívio, na esperança de tudo ter passado, de tudo ter chegado ao fim.

Graças à ciência, com o emprego da profilaxia vacinal, com o rigor no cumprimento das exigências sanitárias, já estávamos respirando melhor e mais tranquilos, sonhando com o final da sofrida etapa mortal virótica.

Entretanto, em um passe rápido (de muita loucura), vem a “lei da série”: coisa ruim atrai coisa ruim. Fomos todos, de maneira assustadora, surpreendidos com os noticiários locais e internacionais da invasão da Rússia à Ucrânia.

Nesse  momento muda tudo e começa tudo novamente; a pandemia, já não se fala mais, já não desperta mais atenção. Passamos a ver e acompanhar atônitos as atrocidades provocadas pelas tropas russas invasoras e seus violentos e mortais ataques aéreos à Ucrânia. Destruição em massa da cidade invadida; colégios, creches, residências, prédios, casas religiosas. Famílias destroçadas, pais para um lado, filhos para o outro; fugas em massa. Fugir? Como fugir? Para onde fugir?

A Rússia promove um verdadeiro genocídio; muitas mortes, inclusive de crianças. Uma crueldade imensurável! Que é isso, meu povo! Onde anda o diálogo, o bom senso, a  serenidade? As cabeças pensantes? Estamos vendo voltar o tempo e o momento que antecedeu a 2ª Grande Guerra Mundial?

Enfim, a quem beneficiará hoje um conflito mundial, sabendo que é ruim para todos, e que terá com certeza um final devastador e ultrarrápido sobre todo o universo? O mundo gira através dos seus bons e salutares diálogos diplomáticos. Levar vantagem é coisa de “cigano”; o negócio é bom quando satisfaz as duas partes. A guerra é um ato de loucura, de desespero, de ganância e de  egos.

Será que estão voltando as mentes doentias, os psicopatas do mal, que envolveram com suas loucuras e seus delírios mórbidos o Mundo com a deflagração da  2ª Grande Guerra Mundial? Esses loucos costumam criar e armar os seus circos e, quando percebem que as lonas estão pegando fogo, se afastam do espetáculo, dão um tiro de pistola no ouvido e pronto, deixam a “titica” na mão dos outros.

       Será mesmo que esses loucos estão voltando? Só que o tempo é bem diferente e,  pior ainda, muito mais perigoso.

 

RELEMBRANDO TICIANO DUARTE

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Certos homens adquirem uma visibilidade tão marcante em seu campo de atuação que se tornam imprescindíveis aos seus contemporâneos, na medida em que suas opiniões e convicções passam a determinar modos de ver e de interpretar os acontecimentos da vida social. É que aos olhos deles nada daquilo que importa passa ao largo.

Assim vejo e identifico o meu primo-irmão Ticiano Duarte. Desde a antiga Rua 13 de Maio, depois Princesa Isabel, quando o conheci efetivamente e melhor, lá pelos idos de 1950. De 1954, em diante, fui revê-lo na Rua Voluntários da Pátria, no 722, Cidade Alta, telefone 2901. Ele era já expressão do “bate-papo” no Grande Ponto, seu fiel ancoradouro, onde se tornara notário público e destemido navegante das ruas e avenidas da política potiguar. Bacharel em Direito da Faculdade de Maceió, tornou-se decano do jornalismo da imprensa potiguar, atividade da qual desfrutou de ilibada notoriedade por sua isenção e imparcialidade nos juízos dos acontecimentos da política. Seumemorialismo ganhava ritmo de crônica e embasamento de historiador. Em seus escritos é possível intuir aquele saber de experiências, traço que distingue o verdadeiro homem de visão de um mero prestidigitador de quimeras.

Foi presença fecunda na imprensa norte-rio-grandense. A colaboração de Ticiano Duarte para a Tribuna do Norte rendeu, numa primeira seleção, o livro “Anotações do meu caderno” (Z Comunicação/Sebo Vermelho, 2000), reunindo os principais fatos políticos dos últimos 70 anos do século passado no Rio Grande do Norte. A precisão das análises, a escolha dos protagonistas, a evolução dos acontecimentos e o retrospecto dos episódios que marcaram profundamente as vicissitudes da política potiguar encontraram ali o seu cronista mais atento e informado, imparcial e verdadeiro. Nesse livro, objetivamente intitulado “No chão dos perrés e pelabuchos”, avultam as mesmas qualidades que consagraram “Anotações do meu caderno”, com a única diferença de que agora ele se deteve com mais vagar na descrição de perfis e na análise comparativa dos fatos, mesmo separados por décadas. Vultos inesquecíveis da vida pública estadual, como Djalma Maranhão, Georgino Avelino, Café Filho, Aluízio Alves, Odilon Ribeiro Coutinho (“mistura de tabajara e potiguar”), Tales Ramalho (“paraibano por acidente, norte-rio-grandense pelas grandes ligações familiares, e pernambucano por adoção”) são algumas das estrelas de primeira grandeza dessa constelação de escol. Cronista, para quem a política não pode se dissociar da ética, sob pena de naufragar nos desmandos de governantes e correligionários, Ticiano fez o elogio dos políticos exemplares perfilando a figura de Café Filho porque, justifica, “o povo espera dos homens públicos exemplos. E alguém disse, com muita propriedade, que o importante não é só pregar moral apenas para os outros, censurando nos outros o que silencia entre amigos e parceiros”. Ao fazer o elogio da lealdade e da coerência, ele retirou do limbo o nome de Walfredo Gurgel, ressaltando que “o seu governo foi um exemplo de seriedade no trato e na gestão da coisa pública. Todo o Rio Grande do Norte sabe desta grande verdade, mesmo seus adversários não podem omiti-la, por mais que o tenham combatido no campo das ideias e das diferenças partidárias”.

Em “No chão dos perrés e pelabuchos” ainda é possível encontrar silhuetas de políticos esquecidos pela História, mas preservados, por exemplo, numa Acta Diurna de Luís da Câmara Cascudo, como Hermógenes José Barbosa Tinoco, deputado do Partido Liberal que a voragem do tempo soterrou; os entreveros entre pelabuchos e perrés que incendiaram o paiol das agremiações políticas dos anos 1930, que não escaparam à argúcia focada por Ticiano sobre os atores da nossa história.

Ele propõe e reforça as teses daqueles que defendem a necessidade de uma urgente reforma política a fim de repor o país nos trilhos da ética e inaugurar uma nova era na vida política brasileira. O seu olhar espelha nesse livro o brilho e a lucidez dos seus brancos cabelos, como testemunhos da vida e do mundo.

(*) Escritor




WALTER, SOUTINHO E O CAMINHAR DA VIDA

Tomislav R. Femenick – Jornalista

 

No longínquo ano de 1955, eu e o meu amigo Walter Gomes inventamos de abrir uma agência de publicidade em Mossoró. Ambos trabalhávamos no jornal O Mossoroense, dirigido pelo “velho” Lauro da Escossia e seu filho Lauro Filho. Eu, como repórter, e ele, com uma coluna diária que misturava tudo: crônica social, política, negócios etc. Só não falava de casos policiais. Dizia que dava azar. Então resolvemos encontrar um meio de ganhar alguns trocados a mais, publicando cadernos especiais. Dessa ideia saíram edições sobre indústria, comércio, agricultura e administração pública.

Nos reuníamos nas mesas do Bar Suez, da ACDP e, vez ou outra, nos cabarés Brahma e Copacabana. As ideias que ali nasciam precisavam ser aprovadas por Lauro Filho, que geralmente aceitava nossas sugestões. Só me lembro de um veto: um lançamento que propusemos de um caderno sobre a vida alegre no Alto Louvor, o bairro do alto meretrício. Além de escrever os textos, nós tínhamos que conseguir os anúncios. Aí é que nós ganhávamos uma comissão, sobre o faturamento dos anúncios.

            Um ano depois, nós, eu e Walter Gomes, resolvemos institucionalizar o negócio e criamos a Propag; se não a primeira, seguramente a segunda empresa de publicidade do Estado, com registro na Junta Comercial, endereço, instalações, telefone (na época um artigo de luxo), secretária e outras coisas mais. O problema era que não tínhamos dinheiro para isso tudo. Fomos para o Bar Suez para ruminar a solução. De repente, junta-se a nós um cidadão de quem não me lembro o nome, e resolveu a questão, dizendo: “homem de dinheiro em Mossoró é Soutinho”. Não dissemos nada, mas ficamos olhando um para o outro. Logo fomos, ligeirinhos, falar com Francisco Ferreira Souto Filho, com quem tínhamos amizade. Expusemos a nossa necessidade de grana para fundar a empresa e, por isso, queríamos um financiamento do Banco de Mossoró, então controlado por ele. “E se a empresa quebrar?” – Perguntou-nos. Então viramos sócios; Eu, Walter Gomes e Soutiho. A Propag viveu até eu fazer concurso e passar para assumir o cargo de escriturário no Banco do Nordeste.        

Mas a vida dá muitas voltas. Walter foi para o Rio de Janeiro, voltou para Natal e depois se instalou em Brasília, sempre perseguindo as notícias e suas fontes. Eu pedi demissão do BNB, entrei em outros negócios e, depois, deixei minha terra natal e fui para São Paulo, afastei-me do jornalismo e entrei de cabeça no mundo dos altos negócios, via auditoria contábil, econômica e administrativa. Uma vez recebi sua visita em meu escritório na Av. Paulista e ele foi jantar na minha casa. Quando eu ia à Brasília, também o visitava. Quanto a Soutinho a distância nos unia. Ele e Edith eram padrinhos de batismo da minha filha. Sempre que ia a Mossoró, visitava-o em sua casa, onde uma vez, se me recordo bem, provei um impensável soverte de pitomba.  

Porém, nada é mais inexorável do que o caminhar da vida em direção à morte. Tudo o que é vivo anda nessa direção. Desde os gigantes baobás africanos e nordestinos, até os diminutos vírus. Um dia todos desaparecerão.

Em poucos dias foram-se desta existência Walter, o buscador de fatos e notícias desta “República Surrealista” do Brasil, e Soutinho, o realizador e desbravador das lides salineiras. Um perseguia os homens que fazem as leis, que as executam e, também, que impõem o seu cumprimento. O outro buscava fazer com que o sal se transformasse em uma riqueza da nossa terra, fazer com que o nosso se transformasse no sal da nossa vida.

O que nos entristece, mais ainda, é viver em uma época de tantos homens sem serventia e ver que, logo eles, homens de valor exemplar, tenham nos deixado.

 

Tribuna do Norte. Natal, 10 mar. 2022.

terça-feira, 8 de março de 2022

 


     O DIA INTERNACIONAL DA MULHER não nasceu de uma benesse escolhida pela beleza ou pelo talento, mas foi um movimento reivindicatório das mulheres em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres.

    Contudo, com a crescente valorização da mulher, oriunda de lutas e conquistas, hoje o dia é internacionalmente apontado como o DIA em que a MULHER deve receber uma homenagem especial, embora ela deva ser reverenciada todos os dias, pelo trabalho, pela sua responsabilidade para com a família e equilíbrio emocional dos que vivem sob sua tutela ou relacionamento.

    Para mim, é de maior gosto abraçar virtualmente as minhas filhas, as minhas irmãs, parentes, amigas, colegas das entidades de educação e culturais, às quais agradeço a convivência e o bálsamo que me oferecem para amenizar a minha recente e maior perda - THEREZINHA, a quem, espiritualmente continuo ligado, pedindo orientação, e cultuando um amor imortal.

Beijos e abraços para todas.

 

 

 

 

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas e texto que diz "ORDEM E PROGRESSO DESORDEM E DECADÊNCIA Femenick Tomislay R."


Desordem e decadência
Tomislav R. Femenick – Historiador e jornalista
Não sei quantas vezes me ufanei pelo fato de ser brasileiro, de ter nascido em uma terra abençoada por Deus e bonita por natureza. Viajando pelas minhas lembranças, acho que a primeira vez foi em 1945, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, então a capital federal, quando assisti ao desembarque dos soldados brasileiros que tinham lutado na Europa contra o nazifascismo. Eu fui contagiado pelo entusiasmo das pessoas.
Outra vez, em 1950, foi no Colégio Santa Luzia, lá em Mossoró-RN, durante uma aula de ministrada pelo padre Cornelio Dankers – um holandês que foi parar nas frondes da caatinga nordestina. Após descrever o Brasil, sua geografia, seu povo e sua história, disse ele que nós tínhamos todos os motivos para termos orgulho de uma pátria tão maravilhosa. Falou ainda da nossa bandeira, que possui formas geométricas combinadas e belas, uma das poucas, se não a única, que tem um dístico filosófico, Ordem e Progresso, que se reportava ao Positivismo de Auguste Comte. Eu passei a sentir que éramos um país único.
Logo depois, ao ler “Brasil, país do futuro” – livro escrito nos anos 1940 pelo judeu-austríaco Stefan Zweig, um retrato do nosso país naquele tempo – convenci-me que um dia eu viveria em um país esplendoroso. Mas, o Padre Mota abriu meus olhos para a vida real: “Não se entusiasme demais, o otimista sempre se frustra; mas não perca a esperança, o pessimismo embota as boas iniciativas”; foi mais ou menos o que ele me disse.
De lá para cá tenho vivido numa espécie de montanha russa. Caí no fosso com o golpe militar, subi às nuvens com o movimento das diretas já, decepcionei-me com os planos de Sarney e de Collor, encantei-me com o Plano Real, até que o Lula subiu a rampa do Planalto. Embora não tenha votado nele, tive um momento de expectativa. Gostei quando Lula manteve a matriz econômica do governo FHC e mudei de opinião com os escândalos e com o sectarismo de alguns petistas históricos ou novatos. Voltei a ter alguma esperança quando meu ex-professor Guido Mantega foi nomeado ministro; afinal ele ERA um homem probo, honesto, honrado. Outro engano, outra decepção. O impeachment da presidente Dilma Rousseff, elevou (um pouco) meu ânimo. Do jeito que estava, qualquer coisa melhoraria o cenário do futuro.
Mas o Brasil parece que não tem jeito. Há pouco tempo estávamos no elevador que nos levaria a um futuro radioso, a economia estava bombando, a indústria estava produzindo perto de sua capacidade máxima, o comércio estava vendendo mais e mais, todos estavam comprando e os mais pobres estavam andando de avião, o nosso presidente “era o cara”... até que se revelou que tudo era artificial e veio a crise que levou quase quinze milhões de pessoas ao desemprego. Em paralelo, o serviço de saúde entrou em colapso, o ensino nacional é um dos piores do mundo e a segurança pública quase que não existe.
Mas era pouco e vieram dois tsunamis: as delações da Odebrecht e da JBS. Se juntarem as duas delações, talvez não escape nenhum político, talvez todos estejam nas mãos de empresas poderosas – “empresas campeãs” criadas pelos governos petistas, financiadas pelo BNDES e outras instituições públicas.
Nesse vai e vem, chegamos ao ano de 2018. De um lado, um poste de Lula; de outro um deputado do baixo clero e ex-tenente. Votar em quem? Tive que votar em Bolsonaro. Lamentavelmente, o que era o homem certo na hora certa, tem se mostrado um histrião boquirroto, adepto de pensamentos controversos, que governa para o seu “cercadinho” e não para o povo, que não se comove com a morte de centenas de milhares de brasileiros e posa de farofeiro.
Isso já bastaria para que os outros poderes procurassem por um pouco que seja, de juízo no homem. Mas os ocupantes de Parlamento estão muito ocupados em buscas de verbas, se possível secretas, evidenciando que o que lá há são frequentadores de balcão de negócio. Quem der mais leva votos e almas dos homens e mulheres que foram eleitos para defender o povo, mas que preferem se aboletar com recursos orçamentários. O STF tentou, mas, com o histórico de alguns ministros, viu seu telhado de vidro ser atingido pelas pedradas do Presidente e de seus apoiadores. Entramos em um ciclo de desordem e decadência. Mesmo assim, ainda acredito no meu país. Sou um otimista incurável, inveterado.