WALTER, SOUTINHO E O CAMINHAR DA VIDA
Tomislav R.
Femenick
– Jornalista
No
longínquo ano de 1955, eu e o meu amigo Walter Gomes inventamos de abrir uma
agência de publicidade em Mossoró. Ambos trabalhávamos no jornal O Mossoroense,
dirigido pelo “velho” Lauro da Escossia e seu filho Lauro Filho. Eu, como
repórter, e ele, com uma coluna diária que misturava tudo: crônica social,
política, negócios etc. Só não falava de casos policiais. Dizia que dava azar.
Então resolvemos encontrar um meio de ganhar alguns trocados a mais, publicando
cadernos especiais. Dessa ideia saíram edições sobre indústria, comércio,
agricultura e administração pública.
Nos reuníamos nas
mesas do Bar Suez, da ACDP e, vez ou outra, nos cabarés Brahma e Copacabana. As
ideias que ali nasciam precisavam ser aprovadas por Lauro Filho, que geralmente
aceitava nossas sugestões. Só me lembro de um veto: um lançamento que propusemos
de um caderno sobre a vida alegre no Alto Louvor, o bairro do alto meretrício. Além de escrever os
textos, nós tínhamos que conseguir os anúncios. Aí é que nós ganhávamos uma
comissão, sobre o faturamento dos anúncios.
Um ano depois, nós, eu e Walter
Gomes, resolvemos institucionalizar o negócio e criamos a Propag; se não a
primeira, seguramente a segunda empresa de publicidade do Estado, com registro
na Junta Comercial, endereço, instalações, telefone (na época um artigo de
luxo), secretária e outras coisas mais. O problema era que não tínhamos
dinheiro para isso tudo. Fomos para o Bar Suez para ruminar a solução. De
repente, junta-se a nós um cidadão de quem não me lembro o nome, e resolveu a
questão, dizendo: “homem de dinheiro em
Mossoró é Soutinho”. Não dissemos nada, mas ficamos olhando um para o
outro. Logo fomos, ligeirinhos, falar com Francisco Ferreira Souto Filho, com
quem tínhamos amizade. Expusemos a nossa necessidade de grana para fundar a
empresa e, por isso, queríamos um financiamento do Banco de Mossoró, então
controlado por ele. “E se a empresa
quebrar?” – Perguntou-nos. Então viramos sócios; Eu, Walter Gomes e
Soutiho. A Propag viveu até eu fazer concurso e passar para assumir o cargo de
escriturário no Banco do Nordeste.
Mas
a vida dá muitas voltas. Walter foi para o Rio de Janeiro, voltou para Natal e
depois se instalou em Brasília, sempre perseguindo as notícias e suas fontes.
Eu pedi demissão do BNB, entrei em outros negócios e, depois, deixei minha
terra natal e fui para São Paulo, afastei-me do jornalismo e entrei de cabeça
no mundo dos altos negócios, via auditoria contábil, econômica e
administrativa. Uma vez recebi sua visita em meu escritório na Av. Paulista e
ele foi jantar na minha casa. Quando eu ia à Brasília, também o visitava.
Quanto a Soutinho a distância nos unia. Ele e Edith eram padrinhos de batismo
da minha filha. Sempre que ia a Mossoró, visitava-o em sua casa, onde uma vez,
se me recordo bem, provei um impensável soverte de pitomba.
Porém,
nada é mais inexorável do que o caminhar da vida em direção à morte. Tudo o que
é vivo anda nessa direção. Desde os gigantes baobás africanos e nordestinos,
até os diminutos vírus. Um dia todos desaparecerão.
Em
poucos dias foram-se desta existência Walter, o buscador de fatos e notícias
desta “República Surrealista” do Brasil, e Soutinho, o realizador e desbravador
das lides salineiras. Um perseguia os homens que fazem as leis, que as executam
e, também, que impõem o seu cumprimento. O outro buscava fazer com que o sal se
transformasse em uma riqueza da nossa terra, fazer com que o nosso se
transformasse no sal da nossa vida.
O
que nos entristece, mais ainda, é viver em uma época de tantos homens sem
serventia e ver que, logo eles, homens de valor exemplar, tenham nos deixado.
Tribuna do Norte. Natal, 10 mar. 2022.
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