O DNA e as doenças de Beethoven
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Há poucos dias, recebi do amigo Carlos Alberto Araújo, confrade da Academia de
Medicina do RN, postagem a respeito de matéria publicada no NYT, que se reporta a
estudos recentes sobre as causas da morte de Beethoven, ocorrida quase 200 anos atrás. Os estudos, publicados na revista Current Biology, amplo órgão de divulgação das
ciências biológicas, foram realizados na Universidade de Cambridge, Reino Unido, tendo
à frente o pesquisador e professor Tritan Begg, na condição de líder de um grupo. Esses
pesquisadores de genoma antigo, na referida universidade, extraíram material genético de
sete mechas de cabelo preservado de Ludwig van Beethoven. Das sete mechas, cinco
amostras combinaram entre si e foram consideradas como autênticas de serem do
famoso compositor. Os métodos avançados de sequenciamento do DNA permitiram o
êxito da atual pesquisa. Êxito no tocante às doenças que levaram ao falecimento, porém, com pouco avanço no tocante à causa da surdez progressiva que muito afligiu a vida
desse fantástico gênio da música. Beethoven nasceu em 15 de dezembro de 1770, em Bonn, Alemanha, e faleceu
em 16 de março de 1827, em Viena, na Áustria. Em 1796, com a idade de 26 anos, Beethoven começou a perder a audição, o que veio a tornar-se seu grande martírio. Neste estudo realizado com o DNA colhido da amostra do cabelo do compositor, consta
que Beethoven, 25 anos antes da sua morte, ou seja, em 1802, escrevera uma carta aos
seus irmãos na qual, diante da crescente surdez, pedira apoio por parte deles para
implorarem ao seu médico uma cura do seu problema de audição. Begg e seus colegas
especularam o genoma do compositor em busca de diversas condições ligadas à perda
de audição, mas não chegaram a uma conclusão. Marcadores genéticos de Beethoven
indicavam risco elevado de desenvolver Lúpus, mas essa doença não é causa de surdez. O pesquisador Walther Parson, biólogo molecular forense da Universidade Médica de
Innsbruck, linda capital da região do Tirol, na Áustria, que já atuou em outros casos
históricos, a exemplo da identificação, em 2007, de dois filhos de Nicolau II, último czar do
Império Russo, descarta a chance de Lúpus, mas afirma sobre a pesquisa: “É uma grande
conquista tecnológica.” Agora, o novo caminho poderá ser o estudo genético da
otosclerose sofrida por Ludwig van Beethoven, quando um minúsculo osso do ouvido, chamado estribo, se funde a outras partes do órgão.
Em 08 de abril de 2021, publiquei, nesta Tribuna do Norte, o texto “As doenças de
Beethoven”, no qual relatei as principais enfermidades que vitimaram esse gênio da
humanidade. Além da sofrida surdez, citei frequente colite, hemoptise, hepatite, dores
reumáticas, grande uso de álcool, e, com destaque, a cirrose hepática, constante na
certidão de óbito. A perda progressiva de audição, desde a idade de 26 anos, levou
Beethoven a externar o intuito de cometer suicídio, livrando-se desse gesto extremo em
face do seu grande amor à arte musical. Este recente estudo sobre as doenças de Beethoven, realizado na Universidade de
Cambridge, Reino Unido, se não trouxe novidades quanto às doenças do grande gênio
mundial da música, trouxe a certeza desses diagnósticos, amparada nos avanços do
sequenciamento de DNA de amostras degradadas por longo tempo. Texto publicado na Tribuna do Norte, em 30/03/2023.