O
Puxa-saquismo na Boca do Povo
(*)
Gutenberg
Costa
Na cultura do povo ele é conhecido como chaleira,
cheleléu, bajulador, estende tapete, prepara a cama, serviçal pra tudo. Não
existe raça pior de gente nesse mundo para o povo. O puxa saco é irmão legitimo
do delator. Pobre não tem puxa saco e rico nenhum dele escapa... Na boca do
povo ele não é bem elogiado...
Todo puxa-saco de político é como gato, se acomoda fácil
a um novo dono, desde que tratado bem com um cargo comissionado. Caindo peixe
ou carne debaixo da mesa do poder, o tal puxa-saco logo engorda e roça
agradecido o rabo na perna do governante, que antes nem bem conhecia ou havia votado.
Alguns se expõem ao ridículo de providenciar duas
bandeiras ou dois adesivos, para serem usados em caso de vitória de um dos mais
fortes a chegada ao poder. Todo puxa-saco fica em cima do muro esperando pular
para os braços do vencedor e é feito tapioca – vira de lado instantaneamente
conforme um possível convite a ocupar um disputado e sonhado birô. Adora ser
chamado de chefe e andar em carro oficial. Organiza divinamente aniversário ou
casamento, seja de seus superiores ou agregados. Riem de piadas velhas contada
nos gabinetes e até choram ao tomarem conhecimento da morte do papagaio ou
cachorro de quem lhes indicou para o tal cargo que ocupam. Nenhum matemático ou
físico calcula a fortaleza de um puxa-saco de plantão sedento de um cargo no
poder. Tem gente que assume cargo comissionado há mais de 30 anos aqui no RN.
Para o puxa saco não existe partido político... Agrada a Deus e o diabo ao
mesmo tempo! Alguns sobreviveram à ditadura e ultrapassaram os tempos das
bandeiras verde e vermelha do aluizismo/dinartismo. Pode ter servido os Maias,
como pode agradar hoje ao PT. Vergonha não existe em seu dicionário! Topa tudo
por todos os meios. Será que o apóstolo Pedro não teria puxado o saco de
Cristo, ao cortar a orelha daquele soldado?
Das duas uma, ou são muitíssimos competentes ou
muitíssimos subservientes. Esse tipo de puxa-saco é tal qual peixe fora dágua.
Sem o cargo morrem, por falta de ar (ar-condicionado e motorista particular).
Tem poderes que até o sobrenatural duvida. Ou seja, são muitos mais fortes do
que até mesmo o poder transitório do RN. Estes grudam no poder que nem cola
super bonde. Estrategicamente se organizam, sem ter sindicatos. Bajulam a Deus
e ao diabo ao mesmo tempo. A sua religião, o seu time de futebol e o seu
partido politico são o do chefe!
O
assunto ‘bajulação’ já rendeu até livro de autoria do escritor Nestor de
Holanda, com titulo – O Puxa-saquismo ao alcance de todos – Cartilha da Puxação
sem Mestre, 205 paginas, editora Letras e artes, RJ. Segundo o citado autor,
Puxa-saquismo vem do latim - ‘adulatio’. Esta maldita arte também é chamada de
chaleirismo ou puxação de saco. O tipo puxa-saco é também agraciado com as
denominações populares de ‘adulador’, ‘bajulador’ ou ‘louvaminheiro’. Seu santo
protetor é Santo Onofre, devido o mesmo ser retratado puxando um saco. Dizem
que todo político adora ter por perto um puxa-saco. Aquele que carrega a sua
bolsa, atende ao seu celular e outras coisinhas mais... Tem puxa-saco que até
perdeu ou deixou amigavelmente a sua mulher para o patrão ou chefe. O que mais
importa para um puxa-saco é aumento de salário e graduação - mulher é o de
menos... Entre os nossos Índios não havia essa praga, mas sabe-se que o
puxa-saquismo foi historicamente trazido nas Caravelas de Pedro Álvares Cabral.
O Rei foi logo adulado nas cartas de Pero Vaz de Caminha. E haja bajuladores ao
senhor seu Rei. A nossa história é recheada de históricos aduladores, segundo o
literato Nestor de Holanda. O ‘Chalaça’ bajulava Dom Pedro I, O Conde ‘d’Eu’
chalerava o sogro Dom Pedro II. ‘Amaral Peixoto’ puxava o saco de seu sogro
Getúlio Vargas, embora o bajulador oficial fosse ‘Gregório Fortunato’. ‘Felinto
Müller’ e ‘Golbery do Couto e Silva’ eram chaleiras de militares e presidentes
da ditadura. Collor tinha ‘seu’ ‘PC Farias’. Carlos Lacerda teve em vida vários
bajuladores, o mais conhecido foi o ‘Raul Brunini’.
A
voz do povo diz que o puxa-saco é quem grita quando o chefe leva uma topada.
Fulano é tão baba-ovo que se atirar nos testículos de seu chefe é capaz de
acertar em sua boca. O puxa-saco é o último a acreditar na derrota eleitoral de
seu chefe político. Ele sempre procura trazer novas fofocas que agradem ao seu
chefe. É oferecido para tudo, desde preparar churrasco em dia de domingo a
levar os filhinhos de seu chefe à escola. Esse tipo lambe – botas está sempre
por perto a elogiar tudo que é feito pelo chefe. O lema do puxa-saquismo é
esse: ‘Manda quem pode, obedece quem tem
juízo’. Tem genro que chama sogro de ‘paizão’ e logo consegue um bom
emprego com o sogro. Alguns depois de efetivados, tratam logo de deixar a filha
querida do besta do sogro. É o chamado ‘conto’ do genro puxa-saco. Diz o povo
que só os loucos e as crianças não puxam – sacos. Quase todo mundo puxou o saco
de alguém pelo menos alguma vez na vida. E a boca do povo afirma que o diabo
aceita todo tipo de gente no inferno, menos dois: o delator e o puxa-saco! Sendo
assim os folcloristas, aconselham a quem não é puxa saco a procurar outro lugar
alternativo, pois o céu está cheio deles...
(*) É presidente da Comissão Norte Rio Grandense de
Folclore.