sábado, 22 de dezembro de 2012
Réquiem para João Paulo de Souza
Ciro José Tavares
“Estou adormecido sobre finíssimas
lâminas de ouro”.
Deolindo Tavares, in O Encontro.
O mar de Muriu está quieto, de repente.
A areia da praia, lavada pelas águas, esfria como lágrima perdida, de repente.
Fogueiras da Boca da Ilha, acesas em louvor de Santo Antônio não crepitam, de
repente. O canavial do Engenho São Leopoldo não tremula ao vento, nem brilha
sob o sol, de repente. Ruas das Rocas, Ribeira e Alecrim mergulham no silêncio,
de repente.
Sua voz está distante, seu rosário repousa
entre seus dedos frios e ausentes. O corpo que pertencia a dois apóstolos,
João, o amado de Jesus Cristo, e Paulo, o peregrino, está imóvel, esperando que
os anjos venham para levá-lo à presença do Pai do Tempo a quem apresentará sua
pureza e santidade. Volta às estrelas no Advento, o significado de um prêmio.
Regressa para reencontrar a esposa
amada que irá ajudá-lo a vestir a armadura de sua nobre origem e agora, diante
de Deus ser sagrado cavaleiro dos céus,
andarilho da paz e dos Campos Elíseos.
Os meus mortos
queridos não envelheceram e permanecem vivos na aurora do tempo. Vencidos os
caminhos, mãos entrelaçadas,ensinaram a esperar o momento do meu último ocaso
doloroso.Os meus mortos queridos
como todos os mortos não
falam. Olham-me sem enigmas, acenando durante a longa viagem de regresso.
Este texto escrito na tristeza do
dia 21 reflete minha saudade e a dor que sinto com a morte do meu inesquecível
João Paulo de Souza. Tive o privilégio de escrever o livro A Sinfonia do
Outono, publicado pela família, quando, em junho de 2002, comemoramos o
centenário do seu nascimento. A obra é uma síntese biográfica dessa esplêndida
figura que, ontem, à noite, nos deixou. No panorama comercial de Natal ninguém
o substituirá. Seu maior legado à cidade é o Armazém Pará que fundou e, com a
ajuda dos filhos Pedro e Rui, transformou numa atividade empresarial exemplar.
TRISTE NATAL OU NATAL
TRISTE
Carlos Roberto de
Miranda Gomes, advogado e escritor
Numa passagem matinal neste
sábado, quase natalino, surpreendo-me de maneira inteiramente negativa, com a
quantidade de lixo existente no centro da cidade.
Em meus 73 anos de existência jamais
vi coisa igual. Natal está uma vergonha, o lixo existe em lugares
inimagináveis, como por exemplo, na sinalização divisora entre a faixa de
ônibus e dos demais veículos defronte ao antigo Cinema Rex. As esquinas, de
tanto lixo, obriga o transeunte a descer a calçada e circular pelo meio da
faixa de rolamento, com todos os riscos.
O que foi isso? Respondo, a
irresponsabilidade inaceitável da Prefeita afastada Micarla de Souza. Essa
senhora jamais deveria ter a coragem de pleitear qualquer outro mandato –foi o
maior engodo ou desastre mesmo que veio a ocorrer em Natal.
Como coadjuvantes, alguns
Secretários incompetentes, sem coragem de assumir as suas responsabilidades,
ficaram silentes, recebendo os seus subsídios e, agora que ela foi afastada,
aparecem descaradamente reclamando que não tem verba, não se pode fazer nada.
Contudo, eles viajavam muito para “trazer benefícios para a cidade”.
Coisa nenhuma! foram passear. E o
pior é que os Prefeitos de emergência não os exoneraram.
Agora, faltando quatro dias úteis
para o término do exercício financeiro, aparece uma novidade, desta feita da
autoria do Ministério Público e do Poder Judiciário – afastar, também, o atual
ocupante do cargo. Quem vai assumir?
Natal sem luz
Carrega a cruz
Para o calvário.
Natal com dor
Sem ter amor
Ao povo seu.
Natal sem cor,
Natal de horror,
Mataram Deus!
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Ana Cláudia Machado de Melo | 20 de dezembro de 2012 |
Pobre Rio Grande Sem Sorte!
Essa cena chocante circulou por chats (espaço de
conversação na internet) entre médicos que exaltavam
indignação e revolta. Angustiados, comentavam que
estão vivendo “medicina de refugiados”.
conversação na internet) entre médicos que exaltavam
indignação e revolta. Angustiados, comentavam que
estão vivendo “medicina de refugiados”.
A foto tirada na noite de terça-feira (18), no Hospital
Dr. José Pedro Bezerra, também conhecido como
Hospital Santa Catarina, considerado o segundo maior
da capital, foi parar nas redes sociais e ampliou o forte
sentimento de indignação.
Dr. José Pedro Bezerra, também conhecido como
Hospital Santa Catarina, considerado o segundo maior
da capital, foi parar nas redes sociais e ampliou o forte
sentimento de indignação.
Portanto, se amanhã (dia 21 de dezembro de 2012)
o mundo acabar, conforme interpretação do
calendário Maia, como se vê, para muita gente,
o fim chegou bem antes, com a Saúde Pública
do Rio Grande do Norte sob “Estado de
Calamidade Pública” desde o dia 5 de julho deste ano.
o mundo acabar, conforme interpretação do
calendário Maia, como se vê, para muita gente,
o fim chegou bem antes, com a Saúde Pública
do Rio Grande do Norte sob “Estado de
Calamidade Pública” desde o dia 5 de julho deste ano.
Pobre Rio Grande Sem Sorte!
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
H O J E - NO PALÁCIO DA CULTURA
ASAS SOBRE A FOTOGRAFIA POTIGUAR
RELÍQUIAS DO PIONEIRO DA FOTOGRAFIA Via Tribuna do Norte
Um dos acervos visuais mais preciosos sobre o período da aviação civil até a Segunda Guerra Mundial em Natal/RN será, enfim, publicado. Guardado há 50 anos pela família do fotógrafo, escritor e jornalista João Alves de Mello (1896-1989), o livro "Asas sobre Natal - Pioneiros da Aviação no RN" foi lançado ontem em Macaíba, no Solar Caxangá, e hoje ganha os salões do Palácio Potengi - Pinacoteca do Estado, às 20h, na Cidade Alta.
João Alves de Mello nasceu na fazenda Pitombeira, município de Macaíba - RN, no dia 19 de maio de 1896. Além de registrar os movimentos aéreos de 1920 até 1945, também captou a vida social e urbana natalense, com seus personagens, ruas e prédios públicos. A fotografia era para ele a própria vida!
A foto dos presidentes Roosevelt e Vargas no jipe, às margens do Potengi em 1943, é o clique mais famoso do fotógrafo. A obra póstuma de Alves de Mello pode, inclusive, responder uma das questões mais polêmicas do último século: afinal, o escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), autor do célebre "O Pequeno Príncipe", esteve ou não em Natal? Pra saber mais? Visite o Potiguarte:
www.potiguarte.blogspot.com
ASAS SOBRE A FOTOGRAFIA POTIGUAR
RELÍQUIAS DO PIONEIRO DA FOTOGRAFIA Via Tribuna do Norte
Um dos acervos visuais mais preciosos sobre o período da aviação civil até a Segunda Guerra Mundial em Natal/RN será, enfim, publicado. Guardado há 50 anos pela família do fotógrafo, escritor e jornalista João Alves de Mello (1896-1989), o livro "Asas sobre Natal - Pioneiros da Aviação no RN" foi lançado ontem em Macaíba, no Solar Caxangá, e hoje ganha os salões do Palácio Potengi - Pinacoteca do Estado, às 20h, na Cidade Alta.
João Alves de Mello nasceu na fazenda Pitombeira, município de Macaíba - RN, no dia 19 de maio de 1896. Além de registrar os movimentos aéreos de 1920 até 1945, também captou a vida social e urbana natalense, com seus personagens, ruas e prédios públicos. A fotografia era para ele a própria vida!
A foto dos presidentes Roosevelt e Vargas no jipe, às margens do Potengi em 1943, é o clique mais famoso do fotógrafo. A obra póstuma de Alves de Mello pode, inclusive, responder uma das questões mais polêmicas do último século: afinal, o escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), autor do célebre "O Pequeno Príncipe", esteve ou não em Natal? Pra saber mais? Visite o Potiguarte:
www.potiguarte.blogspot.com
INSTALAÇÃO DA COMISSÃO DA VERDADE DA
UFRN – 18.12.2012
________________________
No decorrer da existência, passei por
três etapas fundamentais, onde pude assistir no palco da vida alguns fatos
ligados à convivência entre as pessoas.
O primeiro momento, eu era ainda muito jovem. Entrei na Faculdade de
Direito da velha Ribeira no período mais grave da história recente do governo
de exceção (1964-1968). Recém casado e pai, não pude me engajar nos movimentos
políticos de então, nem na esquerda nem na direita, mas convivi com os
percalços e com a fuga forçada de alguns contemporâneos. Fiz apenas o meu papel
de estudante, aliviando os problemas dos colegas, que também me atingiam, postulando,
com êxito, a realização das provas perdidas com as greves, de forma a que
ninguém fosse prejudicado.
Num segundo momento, já em pleno exercício profissional e no esplendor
da minha capacidade laborativa, fui eleito Presidente da OAB/RN, num pleito
memorável, pois consegui a vitória contra um poderoso advogado, ex-governador
do Estado e, por isso, obrigado a realizar uma correta administração. Foi aí
que tive maior contato com a realidade e tomei a iniciativa de publicar um
MANIFESTO para a criação de um movimento em favor dos oprimidos e perseguidos,
que teve o nome de COMITÊ EM DEFESA DA VIDA, que assim se iniciava:
“Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou
castigo cruel, desumano ou degradante”(art. V da Declaração Universal dos
Direitos do Homem- ONU 10/12/48) a que corresponde o art. 5º, III, da
Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor.
Esse Comitê foi instalado em sessão
histórica, reunida a sociedade civil organizada, aproveitando a data da
conquista da Lei nº 6.683 – Lei da Anistia, de 28 de agosto de 1979. Nesse ato
colhemos o depoimento de quase todos os que responderam inquérito
policial-militar e o registro foi feito em filme pelo Centro de Direitos
Humanos e Memória Popular, tendo à frente o, igualmente jovem, Roberto Monte.
Dizíamos: “DENTRO DESTE ESPÍRITO,
CONCLAMAMOS TODA A SOCIEDADE NORTE-RIO-GRANDENSE a cerrar fileiras na luta
contra a violência e a impunidade, respaldando e acompanhando as denúncias,
visando a desestimular essas ações, MEDIANTE A PUNIÇÃO EXEMPLAR DOS CULPADOS,
inclusive com divulgação das apurações dos fatos ocorridos, para que se coíba,
de uma vez por todas, a permanência dessa indignidade, que é uma vergonha à
civilização”.
O final do MANIFESTO transcrevia
parte do Estatuto do Homem, do poeta THIAGO DE MELLO:
“Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que
de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.! (Art. I).
Nosso esforço colheu alguns frutos e
durou por mais dois mandatos, depois foi esquecido e eu cheguei a perder a fé.
Agora, vivo o terceiro momento, quando o outono povoa o meu ser, já
alquebrado pelos primeiros sinais de velhice, recebo o convite da Magnífica Reitora
para Presidir a Comissão da Verdade da UFRN, calcada nos objetivos da Lei
Federal nº 12.528, de 18/11/2011, ofertando-me a última oportunidade de
colaborar para a restauração da verdade histórica dentro da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte e possibilitar reparações de injustiças.
Assumo o encargo com coragem, mas sem
ódio. Não quero perder o meu resto de tempo com revanchismo. Pretendo, com a
inestimável colaboração dos nobres integrantes deste Colegiado, que representam
vetores diversos da sociedade civil, conduzir os trabalhos dentro da
racionalidade e, sobretudo da verdade dos fatos, para alentar, ainda, aqueles
que tiveram o seu destino marcado e os seus ideais postergados, mas que não
perderam a capacidade de se indignar com os atos de força e a sonhar com uma
esperança verdadeira de reparação.
A data de instalação desta Comissão
coincide com os 52 anos da federalização da nossa Universidade, que fora criada
em 25 de junho de 1958 e instalada em sessão solene no Teatro Alberto Maranhão,
a 21 de março de 1959.
Concluo dizendo:
“FOI DECERETADO QUE AGORA SÓ VALE A VERDADE”.
SÓ DEPENDE DE NÓS!
O b r i g a d o.
CARLOS ROBERTO DE
MIRANDA GOMES
Presidente da Comissão da Verdade da UFRN
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Origem do Retiro dos Artistas
Qual é a origem do Retiro dos Artistas? Você que mora em Jacarepaguá, já sabia dessa? Muito interessante, esta história! Se não mora, vale a informação dessa tradicional casa que abriga e auxilia os artistas na hora da dificuldade.
Fred Figner era um homem à frente do seu tempo e para coroar o sucesso nos negócios decidiu erguer uma residência que espelhasse seu perfil empreendedor. A hoje conhecida Mansão Figner, na Rua Marquês de Abrantes 99, no Flamengo, abriga o Centro Cultural Arte-Sesc e o restaurante Bistrô do Senac. É considerada um exemplo arquitetônico raro de “casa burguesa do início do século 20”.Fred Figner utilizou-a como hospital, em 1918, durante a pandemia conhecida como Gripe Espanhola. Apesar dele próprio estar acometido pela enfermidade, atuou como um prestativo auxiliar de enfermagem, transformando seu palacete em uma improvisada enfermaria de campanha que chegou a abrigar quatorze pacientes em seu interior.
Mansão Figner Hoje RETIRO DOS ARTISTAS Fred era um homem generoso e solidário. Pela própria natureza do trabalho nas suas duas gravadoras havia se tornado amigo de muitos músicos e cantores de sucesso. Em uma época que antecedeu à criação da Previdência, ficou consternado com a situação de penúria que alguns desses artistas tinham de enfrentar ao chegar à velhice.Sensibilizado com esse verdadeiro drama social, não titubeou e decidiu doar o terreno, em Jacarepaguá, para a construção da modelar instituição Retiro dos Artistas, que funciona até os dias de hoje. Retiro dos Artistas em Jacarepaguá O FINAL Em 19 de janeiro de 1947, quando faleceu, aos 81 anos de idade, ao se abrir seu testamento, verificou-se que Fred Figner havia destinado parte substancial dos seus bens às obras sociais de Chico Xavier. O jornal carioca A Noite Ilustrada publicou editorial em que o judeu Frederico Figner foi honrado, post-mortem, com o merecido título de “o mais brasileiro de todos os estrangeiros”. | ||
INTELECTUAIS E AMIGOS PRESTIGIAM O ESCRITOR ALEXANDRE ABRANTES NO LANÇAMENTO DO
SEU LIVRO-'EXÍLIO SEM CANÇÃO", NESTE 18-12-2012.
EM SUA NOITE DE AUTÓGRAFOS.
A
ALEXANDRE E SUA ESPOSA KATIA
O AUTOR E SUA MÃE NEIDE
DAVI LEITE, ALEXANDRE E
NELSON PATRIOTA.
OS POETAS:ALEXANDRE E RIZOLETE
CONFRADES: RIZOLETE FERNANDES,
CARLOS GOMES E LÚCIA HELENA.
PRESENÇA DOS ESCRITORES
MANOEL ONOFRE JÚNIOR,
DAVI LEITE E FRANCISCO
RODRIGUES DA COSTA.
ALEXANDRE, COM OS COLEGAS
PAULO DE TARSO E CARLOS GOMES
ALEXANDRE E O CARINHO DA TITIA
UMA VISITA RECONFORTANTE -
A MAIS NOVA LEITORA DA FAMÍLIA
ESCRITORES QUE PRESTIGIARAM
O LANÇAMENTO: JOÃO MARIA,
EDUARDO GOSSON E
FRANCISCO ALVES.
JANIA SOUZA, PEDRO GRILO,
GEORGE CÂMARA, LÚCIA HELENA,
ROBERTO SILVA e EDUARDO GOSSON.
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS DA CONFREIRA LÚCIA HELENA PEREIR
A
A
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Após pedido da OAB/RN, Tribunais suspendem prazos processuais
Após solicitação enviada pela Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte, por meio do ofício nº 197/2012, requerendo suspensão de prazos processuais e audiências de 17/12/12 a 18/01/13, com vistas a possibilitar descanso aos profissionais da Advocacia, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte publicou a Resolução N º 37/2012, em 14 de novembro de 2012, suspendendo os prazos processuais no período de 20 de dezembro a 06 de janeiro de 2013, sem prejuízo das sessões e audiências a serem realizadas no referido período. Pela Resolução, fica mantido o recesso, compreendido entre os dias 20 de dezembro a 06 de janeiro, nos termos do parágrafo único do art. 73 do Regimento Interno do Tribunal.Íntegra da RESOLUÇÃO N º 37/2012 – TJ/RN: http://www.oab-rn.org.br/2012/arquivos/suspensao%20prazos%20processuas.pdf
Já o Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região publicou a Resolução Nº 61/2012, de 29 de novembro de 2012, que suspende os prazos processuais e a expedição de notificação nas Unidades Judiciárias de primeiro e segundo graus da Justiça do Trabalho da 21ª Região no período de 07 a 18 de janeiro de 2013. Durante o período haverá expediente e atendimento normal nas Unidades Judiciárias, ficando vedada a realização de audiências, inclusive aquelas previamente marcadas, exceto as consideradas urgentes, a critério da autoridade competente.Íntegra da RESOLUÇÃO Nº 0061/2012 – TRT 21ªRegião: http://www.trt21.jus.br/asp/resolucoes/ExibeResolucao.asp?id=3443
Por fim, o Tribunal de Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte suspendeu os prazos processuais e as audiências no período de 20/12/2012 a 06/01/2013 conforme a Ata da 94ª Sessão Ordinária da Corte Eleitoral.Íntegra da Ata da 94ª Sessão Ordinária da Corte Eleitoral: http://apps.tre-rn.gov.br/documentos/atas/atas-20120094-201209261420180.pdf
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Fernanda Montenegro fala da dor de ver sua geração morrer e criticaidealização da infância
O monitor mostra uma senhora de cabelos grisalhos disparando ironia para a atendente de um laboratório de análises clínicas: "Essa coisa de melhor idade é pra vender pacote de turismo pra velho". "Corta! Excelente", grita o diretor Jorge Furtado. * A fala da personagem dona Picucha em "Doce de Mãe", especial de fim deano da Globo, cabe perfeitamente na boca de sua intérprete. Aos 83 anos, Fernanda Montenegro endossa o texto. "Não me diga que ter de 80 para 90 anos é a melhor idade. É demagogia", diz ela à repórter ElianeTrindade. * Senhora do seu tempo, a atriz põe na balança os prós e contras dosmuitos anos que carrega. "O mais difícil é saber que você está na fasedefinitivamente conclusiva da vida. É melhor encarar." A finitude bate à porta a cada perda, a começar pelo companheiro de 60anos de vida, Fernando Torres. "A coisa mais dolorosa pela qual tenhopassado é ver a minha geração morrer. Nos últimos cinco anos, morreram, além dele, Paulo Autran, Raul Cortez, Gianfrancesco Guarnieri, Renato Consorte, Sérgio Viotti, Sérgio Brito, Ítalo Rossi e Millôr Fernandes." * Ela se emociona ao concluir: "Você olha em volta e a sua memória estáligada a todo esse mundo que se vai. É muito forte". Na lista de baixas recentes, tem ainda Hebe Camargo que, como ela, nasceu em 1929. "Vivemos o mesmo período da história. Quem substitui? Ninguém." * Mora só desde que ficou viúva, em 2008. "À noite, eu fico sozinha, nãotenho empregada nem dama de companhia." Não se habituou à ausência de Fernando. "É estranho. Ainda acho estranho, mas não tem solução." * Teme a solidão? A resposta requer tempo: "Essa palavra é tão forte"¦ Eu gosto de estar só. Não que goste de solidão. A minha não é vazia". * A exemplo de outros "oitentões" atuais, a atriz é bastante ativa. "Tenho uma vida intensa, viajo muito a trabalho." Acabou de filmar o longa "O Tempo e O Vento", também no Sul, e já anda às voltas com a nova peça, um texto sobre a vida de Nelson Rodrigues que pretende levar aos palcos em 2013. * "Mas sinto que meus filhos se preocupam", admite. Ela é mãe da atrizFernanda Torres, 47, e do cineasta Cláudio Torres, 49. "Quando toca otelefone e não atendo logo, um telefona pro outro, que telefona praprodutora, que telefona pro secretário. E eu só estava no banho. Comoamor de filho, isso me toca." * Dona Picucha foi escrita para a atriz. Os quatro filhos da personagem se veem às voltas com o dilema: Quem vai cuidar da mamãe? "É inevitável. A velhice chega, os filhos têm suas vidas, suas casas e suas necessidades. Há uma preocupação de que é preciso dar atenção à famosa terceira idade. É um desassossego para os dois lados." * O drama é contado com humor. No set, a prole de Pichuca - os atoresMarco Ricca, Louise Cardoso, Mariana Lima e Matheus Nachtergaele - discute um revezamento para cuidar da idosa. Estão no hospital, onde amãe foi parar após uma bebedeira. "É uma coisa bem rara na idade dela:um porrão", explica a primogênita vivida por Louise. A cena vai ao ar no dia 27. * "Os quatro filhos da Picucha não são diferentes de nós. Eles têm que levar a própria vida, que não deixa mais espaço para se cuidar dos velhos", constata Matheus. * O diretor conta que o papel foi escrito para Fernanda. "É uma mulher da idade dela, que não fez plástica para tentar ficar 'forever young'." Fernanda agradece: "Picucha é uma mãe e avó que aceita, com humor, o tempo vivido". * Nada de luz especial ou maquiagem para atenuar marcas na tela. "Doponto de vista interpretativo é um relax. Os empapuçados dos meus olhos ajudam a personagem." Em um comercial de banco em 2010, a atriz foi rejuvenescida com Photoshop.Na vida real, nunca pensou em fazer lifting. "É de temperamento. Se você quiser tomar banhos de cirurgias plásticas, ótimo. Há quem fique feliz em ir se esticando pela vida, às vezes, com resultados extraordinários. Perdi esse bonde. Quem me quiser, tem que me querer com meus papos, minhas rugas." * Nas filmagens de "O Tempo e O Vento" embranqueceu o cabelo. "Separasse de representar, e eu não penso nisso, deixaria meu cabelo branco sem problema. Se me der na veneta, não pinto mais." * Da mesma forma que não idealiza a velhice, não o faz com a infância."Criança sofre muito. É todo um processo de civilização, de coerção e de enquadramento em cima delas. E isso é uma agressão violenta", diz."Quando ouço alguém dizer que a infância foi a parte mais feliz de suavida, olho com muita desconfiança. Deve ter sido tão terrível que nem se lembra." * A avó Fernanda é presente, quando possível e sem culpas, na vida dostrês netos. "Estamos juntos nos aniversários, aos domingos, quando seconsegue. " * Não tem e-mail. "Ainda gosto de escrever à mão. Não me iniciei nessemundo de Facebook, internet. Acho fantástico. As fronteiras acabaram. É o ser humano solto, indomável." Usa minimamente o celular. "Se ele puder ficar desligado, prefiro." * Sem saudosismo. "Não vivo no passado." É só elogios à nova versão de"Guerra dos Sexos", onde aparece em retratos ao lado de Paulo Autran."Foi a única vez em que trabalhamos juntos, uma dupla que se fez muitofeliz." Ela ressalta não se tratar de "remake". "É outra brincadeira. O elenco é espetacular." * Fala com orgulho da geração de sua filha. "É um grupo de atrizesextremamente talentosas e poderosas, com uma folha de serviços de quemnão está brincando na vida. Isso dá uma visão imorredoura da profissão." * Volta a se emocionar ao falar de legado: "Nada é mais importante do que meus filhos e netos. Eles justificam a minha vida. Algo meu vai estar lá no fim deste século. Se eles procriarem, parte minha restará pelos milênios afora. Penso muito nessa cadeia de seres que foram se sucedendo e chegaram até mim. Não parei a corrente". * Para encerrar a conversa no café do lobby do hotel em Porto Alegre, onde se hospedou nas três semanas de gravação, ela recusa o título de "a grande dama do teatro e da tevê". "Isso é bobagem, um resquício doséculo 19. Como estamos no século 21, e já se passou um século inteiro, deram uma acalmada nisso."
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Colaboração da leitora Joventina Simões
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