TRÊS
AUTORES POTIGUARES
Dentre tantos lançamentos deste final de ano, selecionei
três obras que reputo importantes, seja pela beleza de conteúdo, seja pelo
esmero dos seus autores, retratando temários diversificados, todos ao encontro
do meu gosto.
DO QUERIDO E INESQUECÍVEL “BARTOLA”
(Bartolomeu Correia de Melo):
A
ONÇA BRABA E O CACHORRO VELHO
Era
uma vez
um cachorro
perdigueiro,
que ficou
velho e ronceiro,
mas ainda
bom de faro.
Já
não caçava,
como
nos tempos felizes,
marrecas
e codornizes
pra ninguém
botar reparo.
...............
Sentindo
cheiros
se onça
e saguim misturados,
percebeu
que, aliados,
voltavam
secretamente.
se
não podia,
com as
pernas doloridas,
fugir
pra salvar a vida,
sentou-se
calmo e paciente.
Ali
ficou,
de costas
pra donde vinham,
pra acharem
que nem tinham,
ainda,
sido notados.
E
pra que ouvissem,
quando
já estando perto,
justo
no momento certo,
disse,
a se fingir de zangado:
-Quede
o nojento
do saguim
que agora some?!
estou
danado de fome!
o
peste me prometeu
que me
trazia
uma onça
bem gordinha
pra eu
comer com farinha
e ainda
não me aparece!
Daí que
a onça,
até hoje,
ainda sumida
e ninguém
garante a vida
do frechado
do saguim.
Aquela
força,
feita
de unhas e dentes,
mostrou-se
fraca da mente,
sendo
derrotada, enfim.
Do
novo imortal da ANRL, Nelson Patriota
Ode
dos eleitos do amor
Prefiro
pensar que o amor,
coirmão
de ciganos, pândegos e
saltimbancos
inclassificáveis,
é de
natural infenso a correntes.
Daí
que o amor ria dos seus algozes
na
imperícia de suas masmorras
inexpugnáveis,
por suposto,
mas
onde nunca o amor se demora.
Prefiro
pensar que o amor é firme nau sobre a
procela,
quiçá
a mais segura e, como não, a mais rara,
tão rara
que há mesmo quem dela duvide,
ou a
veja como simples miragem.
Aos
incrédulos do amor ofereço o meu desdém.
Ouso
dizer que são em escasso número os que
lhe tem
acesso.
Nada
obsta,porém, que o amor tenha os seus
eleitos.
Sei
de um sobre quem recaiu, de há pouco, a
suma
graça.
A
esse (e a outros porventura elevados ao seu
reino),
rendo
o meu tributo.
De Lívio Oliveira – jovem poeta, que vem se destacando
por uma construção poética moderna e instigante.
BRUTO OUTUBRO
É
outubro. As horas mastigam homens.
O
olho fita o centro da ponte e léguas
atento
o vento celebra cantoria afoita
destino
engorda as vagas frias traz
a
dança do mar e o pescador caminha
sobre
as águas de que di(s)ta o son(h)o.
É
outubro. Os homens consomem mágoas.
Fortes
e Reis ingressam em séculos
desdenham
o poço enorme onde restam nus
crânios
partidos na erosão frenética ardor
saias
longas princesas abanam o sol
farta
ilusão soçobra escolhos das eras.
É
outubro. O homem só e os seus arrecifes.
O
sal incrusta cabelepele morenenrugas
os
couros da história carregam óleos
a
nau parada se espreguiça exílio torno e foz
uma
árvore se afoga no mangue em ostras
crianças
verdes(me)tragamos (m)ares
d´outono.
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