domingo, 16 de dezembro de 2012


TRÊS AUTORES POTIGUARES


Dentre tantos lançamentos deste final de ano, selecionei três obras que reputo importantes, seja pela beleza de conteúdo, seja pelo esmero dos seus autores, retratando temários diversificados, todos ao encontro do meu gosto.

DO QUERIDO E INESQUECÍVEL “BARTOLA”
(Bartolomeu Correia de Melo):


A ONÇA BRABA E O CACHORRO VELHO

Era uma vez
um cachorro perdigueiro,
que ficou velho e ronceiro,
mas ainda bom de faro.
Já não caçava,
como nos tempos felizes,
marrecas e codornizes
pra ninguém botar reparo.
...............
Sentindo cheiros
se onça e saguim misturados,
percebeu que, aliados,
voltavam secretamente.
se não podia,
com as pernas doloridas,
fugir pra salvar a vida,
sentou-se calmo e paciente.
Ali ficou,
de costas pra donde vinham,
pra acharem que nem tinham,
ainda, sido notados.
E pra que ouvissem,
quando já estando perto,
justo no momento certo,
disse, a se fingir de zangado:

-Quede o nojento
do saguim que agora some?!
estou danado de fome!
o peste me prometeu
que me trazia
uma onça bem gordinha
pra eu comer com farinha
e ainda não me aparece!

Daí que a onça,
até hoje, ainda sumida
e ninguém garante a vida
do frechado do saguim.
Aquela força,
feita de unhas e dentes,
mostrou-se fraca da mente,
sendo derrotada, enfim.

Do novo imortal da ANRL, Nelson Patriota


Ode dos eleitos do amor

Prefiro pensar que o amor,
coirmão de ciganos, pândegos e
saltimbancos
inclassificáveis,
é de natural infenso a correntes.
Daí que o amor ria dos seus algozes
na imperícia de suas masmorras
inexpugnáveis, por suposto,
mas onde nunca o amor se demora.
Prefiro pensar que o amor é firme nau sobre a
procela,
quiçá a mais segura e, como não, a mais rara,
tão rara que há mesmo quem dela duvide,
ou a veja como simples miragem.
Aos incrédulos do amor ofereço o meu desdém.
Ouso dizer que são em escasso número os que
lhe tem acesso.
Nada obsta,porém, que o amor tenha os seus
eleitos.
Sei de um sobre quem recaiu, de há pouco, a
suma graça.
A esse (e a outros porventura elevados ao seu
reino),
rendo o meu tributo.

De Lívio Oliveira – jovem poeta, que vem se destacando por uma construção poética moderna e instigante.


BRUTO OUTUBRO

É outubro. As horas mastigam homens.
O olho fita o centro da ponte e léguas
atento o vento celebra cantoria afoita
destino engorda as vagas frias traz
a dança do mar e o pescador caminha
sobre as águas de que di(s)ta o son(h)o.

É outubro. Os homens consomem mágoas.
Fortes e Reis ingressam em séculos
desdenham o poço enorme onde restam nus
crânios partidos na erosão frenética ardor
saias longas princesas abanam o sol
farta ilusão soçobra escolhos das eras.

É outubro. O homem só e os seus arrecifes.
O sal incrusta cabelepele morenenrugas
os couros da história carregam óleos
a nau parada se espreguiça exílio torno e foz
uma árvore se afoga no mangue em ostras
crianças verdes(me)tragamos (m)ares
d´outono.

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