Réquiem para João Paulo de Souza
Ciro José Tavares
“Estou adormecido sobre finíssimas
lâminas de ouro”.
Deolindo Tavares, in O Encontro.
O mar de Muriu está quieto, de repente.
A areia da praia, lavada pelas águas, esfria como lágrima perdida, de repente.
Fogueiras da Boca da Ilha, acesas em louvor de Santo Antônio não crepitam, de
repente. O canavial do Engenho São Leopoldo não tremula ao vento, nem brilha
sob o sol, de repente. Ruas das Rocas, Ribeira e Alecrim mergulham no silêncio,
de repente.
Sua voz está distante, seu rosário repousa
entre seus dedos frios e ausentes. O corpo que pertencia a dois apóstolos,
João, o amado de Jesus Cristo, e Paulo, o peregrino, está imóvel, esperando que
os anjos venham para levá-lo à presença do Pai do Tempo a quem apresentará sua
pureza e santidade. Volta às estrelas no Advento, o significado de um prêmio.
Regressa para reencontrar a esposa
amada que irá ajudá-lo a vestir a armadura de sua nobre origem e agora, diante
de Deus ser sagrado cavaleiro dos céus,
andarilho da paz e dos Campos Elíseos.
Os meus mortos
queridos não envelheceram e permanecem vivos na aurora do tempo. Vencidos os
caminhos, mãos entrelaçadas,ensinaram a esperar o momento do meu último ocaso
doloroso.Os meus mortos queridos
como todos os mortos não
falam. Olham-me sem enigmas, acenando durante a longa viagem de regresso.
Este texto escrito na tristeza do
dia 21 reflete minha saudade e a dor que sinto com a morte do meu inesquecível
João Paulo de Souza. Tive o privilégio de escrever o livro A Sinfonia do
Outono, publicado pela família, quando, em junho de 2002, comemoramos o
centenário do seu nascimento. A obra é uma síntese biográfica dessa esplêndida
figura que, ontem, à noite, nos deixou. No panorama comercial de Natal ninguém
o substituirá. Seu maior legado à cidade é o Armazém Pará que fundou e, com a
ajuda dos filhos Pedro e Rui, transformou numa atividade empresarial exemplar.
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