sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Moacy Cirne: um nome essencialíssimo ao Brasil

(Lívio Oliveira)


O meu querido amigo Moacy Cirne, escritor e poeta de 
elevado renome, que não se situava somente nos limites 
do nosso Rio Grande do Norte, concluiu sua obra terrena
 na tarde quente do verão natalense desse último sábado 
que passou. Acompanhava notícias sobre o seu complexo 
quadro de saúde já havia um bom tempo. Mas, mesmo 
assim, fui tomado por um certo impacto, um choque, ao 
ler a notícia numa das redes ditas sociais. Havia ali uma 
foto de Moacy e alguns vagos dizeres sobre a sua passagem 
para um outro plano. Logo após, surgiu em mim uma tristeza
 calma e reflexiva que compartilhei com a minha esposa.
Intelectual múltiplo, Moacy detinha um olhar circular e 
atento que poucos possuíam neste país. Não é à toa que 
o mestre Tarcísio Gurgel costuma dizer que Moacy Cirne 
era o intelectual mais completo de sua geração. Além de 
toda a obra que deixou em livros e que também firmou 
na criação e liderança do histórico e emblemático 
movimento do Poema-Processo, lecionou com afinco
e amor em universidade carioca, foi um dos maiores
amantes e estudiosos do cinema e dos quadrinhos e
 exerceu outras muitas tarefas de cultivo do intelecto
no seu envolvimento visceral e apaixonado pelo mundo 
das realizações artísticas e culturais. Firmou, ainda
dignas posições político-ideológicas avançadas e
preocupações sociais que manteve até o final dos seus dias.
Moacy também era um grande fazedor de amizades,
sabendo alimentá-las com atenção e generosidade, 
doando a cada um dos seus próximos um pequeno 
quinhão de sua sabedoria calma, serena. Seu sorris
 suave e doce cativava fortemente quem dispunha
das saborosas oportunidades de uma conversa mansa
tranquila, ou mesmo com a paixão e os argumentos
 sólidos e cortantes e até irreverentes por ele levantados.
Um aspecto lhe era intrínseco e se fazia indissociável
da figura do grande amigo que partiu: Moacy era um
 sábio, era um sábio, era um sábio! (lembro que ele
gostava de brincar com os famosos versos de
Gertrude Stein: “uma rosa é uma rosa é uma rosa”)
 Bastava ouvi-lo e olhar para ele e perceber isso
estampado nos seus olhos perspicazes e nas suas
barbas brancas que lembravam as de um profeta 
bíblico. Por sinal, a Bíblia foi um forte objeto de 
estudos de Moacy nos últimos anos – salientando-se
 que era ateu (ou agnóstico), reconhecidamente. 
O livro póstumo terá, certamente, o nome que 
Moacy já havia escolhido, segundo me afirmou 
um dia: “A Bíblia: travessia, travessias”, numa alusão
direta a Guimarães Rosa.
Os momentos de desfrute intelectual e da amizad
com Moacy foram muitos para mim: Encontros
 fortuitos por Natal, participação mútua em
lançamentos de livros, algumas visitas que lh
fiz em casa (nunca encontrei Moacy no Rio,
infelizmente. Seria ótimo ver um Fla-Flu no 
Maracanã e sentir a vibração de Moacy pelo
seu Fluminense, mesmo que eu seja sempre
Flamengo), um texto introdutório que ele fez
 para um dos meus livros, uma entrevista que 
me concedeu em 2008, debates culturais diversos
 (inclusive através do seu blog “Balaio Porreta,
que manteve por muitos anos), dentre outras 
boas situações que tive de encontrar Moacy e
 sua inteligência viva e dinâmica.
Ao grande Moa dedico a minha pequena homenagem
 e agradecimento. Moacy Cirne se fez e se faz essencial
à cultura potiguar e brasileira e a todos os seus amigo
 saudosos. Todos, certamente, dedicarão parte de suas 
memórias a Moacy, estando em processo de 
amadurecimento, inclusive, a ideia de um livro 
coletivo de depoimentos acerca de suas vida e
obra, o que é algo que lhe é devido, mas simples 
diante de tudo que fez por estas bandas de cá. 
Moacy Cirne é, sim, um nome que se inscreve 
como essencialíssimo ao Seridó, ao Rio Grande 
do Norte e ao Brasil. Sempre será lembrado e
deverá ser homenageado fortemente (autoridades
potiguares que nos ouçam e, se possível, leiam),
 por seus grandes méritos e valores. Não custa
repetir: Moacy vive e nos orgulha a todos!
CARTAS DE COTOVELO 2014 (11)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
            Fazer registro de partidas não me oferece satisfação, ao contrário de quando me é ofertada a oportunidade de falar em chegadas.
            A vida, no entanto, nos prega peças inusitadas, que tolhe o nosso pensar, sem alternativa de reparo.
            Nem ao menos o tempo de recuperação da partida de três amigos e já contabilizamos mais duas – Moacy Cirne, meu colega de Faculdade de Direito da Faculdade da Ribeira até o 3º ano, quando foi atraído pela cidade grande de São Sebastião do Rio de Janeiro.
            Lembro-me bem de ter sido escalado para, em nome da Turma, demovê-lo da interrupção do seu Curso, mas não tive competência para convencê-lo e Moacy ganhou espaços na Cidade Maravilhosa onde permaneceu por longos anos.
            Eventuais retornos a Natal, para suspender a prescrição, como dizia Dr. Mário Moacyr Porto, com ele tive alguns encontros informais no Sebo Vermelho de Abimael ou em lançamentos de livros, sem que nos envolvesse algum tema específico.
            Um elo, porém, nos permitia afinidade – os quadrinhos, os quais sempre foram do meu gosto desde o ocaso dos anos 40 e ainda guardo os ‘Gibis e Guris’, genericamente falando, na minha biblioteca, todos encadernados por títulos, alguns desde o primeiro número; como relicário da minha feliz infância em Macaíba e em Natal até que a força do destino me tenha feito presa dos trágicos deveres, usando uma expressão do poeta Cruz e Souza.
            Vai o homem, fica a fama. Lembranças e saudades!
            O outro foi Mário Luiz Cavalcanti Moura, meu companheiro conscrito da turma de 1959 do 16º RI, a quem carinhosamente apelidamos de ‘estaca de queixo’ (peça de madeira que segurava as cordas das barracas de campanha).
            Dele recordo de dois episódios – o primeiro quando perdera o seu sabre num exercício durante a manobra militar daquele ano, em Capim Macio, o que lhe renderia um processo. Mas a solidariedade dos colegas de farda e da CCS, com a permissão do Comandante Mílton Freire de Andrade e do Tenente Carvalho, saiu em diligência numa grande coluna na direção do lugar dos exercícios, em toda a sua largura obtendo resultado positivo. Achamos o artefato e tudo voltou como antes no quartel de Abrantes.
            O outro acontecimento se deu ainda na manobra quando a gaiatice de um colega (possivelmente o presepeiro Tarcísio Motta), imitando um animal fuçava abarraca de Mário e este, com o sabre na mão bradava: ‘saí daí raposa; chô raposa’.  Ao derredor as gargalhadas eram muitas.
            Lembranças e saudades, também!    


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014



SOBRE A VITAMINA DE EXPOSIÇÃO AO SOL
(Compilado por Mike Adams, com base em uma entrevista com o Dr. Michael Holick, autor do livro “The UV Advantage)


A vitamina D evita a depressão, osteoporose, câncer da próstata, câncer da mama e, até mesmo efeitos do diabetes e obesidade. A vitamina D é talvez o nutriente mais subestimado no mundo da nutrição. Isso é provavelmente porque é “gratuita”: seu corpo a produz quando a luz solar atinge a sua pele. As empresas farmacêuticas não podem lhe vender a luz solar, por isso não há promoção dos seus benefícios à saúde.
A maioria das pessoas não sabe destes fatos verdadeiros sobre a vitamina D: 
1. A vitamina D é produzida pela pele em resposta à exposição e radiação ultravioleta da luz solar natural.
2. Os saudáveis raios de luz solar natural que geram a vitamina D em sua pele não atravessam o vidro e, por isto, seu organismo não produz vitamina D quando você esta no carro, escritório ou em sua casa.
3. É quase impossível conseguir quantidades adequadas de vitamina D a partir da dieta. A exposição à luz solar é a única maneira confiável para seu corpo dispor de vitamina D.
4. Seria necessária a ingestão diária de dez copos grandes de leite enriquecido com vitamina D para obter os níveis mínimos necessários de vitamina D.
5. Quanto maior a distância da linha do equador e o lugar onde você vive, maior será a exposição ao sol necessária para gerar vitamina D, pois depende do ângulo de incidência dos raios solares. Canadá, Reino Unido, a maior parte dos EUA estão longe do equador e maior parte do Brasil está perto do equador.
6. Pessoas com a pigmentação escura da pele podem precisar de 20-30 vezes mais exposição à luz solar do que pessoas de pele clara para gerar a mesma quantidade de vitamina D. Por isto, também, o câncer de próstata é muito frequente entre homens negros - é a simples deficiência generalizada de luz solar.
7. Níveis suficientes de vitamina D são essenciais para a absorção de cálcio nos intestinos. Sem vitamina D suficiente, seu corpo não pode absorver o cálcio, tornando os suplementos de cálcio inúteis.
8. A deficiência crônica de vitamina D não pode ser revertida do rapidamente. São necessários meses de suplementação de vitamina D e de exposição à luz solar para “reconstruir” os ossos e o sistema nervoso.
9. Mesmo filtros solares fracos (FPS = 8) bloqueiam em 95% a capacidade do seu corpo de gerar vitamina D. É por isto que o uso constante de protetores solares provocam deficiência crítica de vitamina D. 10. A exposição à luz solar não gera a produção excessiva de vitamina D em seu corpo, porque ele se auto-regula e produz apenas a quantidade que necessita.
11. Se a pressão firme do seu osso esterno dói, você pode estar sofrendo de deficiência crônica de vitamina D.
12. A vitamina D é “ativada” pelos rins e fígado, antes de ser usada pelo organismo e, por isto, doenças renais ou hepáticas podem prejudicar muito a ativação da vitamina D circulante.
13. A indústria de protetores solares não quer que você saiba da necessidade de exposição ao sol, porque esta revelação significaria a queda nas vendas de seus produtos.
14. A vitamina D é um poderoso “remédio” que o seu próprio corpo produz inteiramente de graça e sem necessidade de prescrição médica!
15. Algumas substâncias denominadas “antioxidantes” aceleram muito a capacidade do organismo para lidar com luz solar, sem que ela nos provoque danos, também permitem que você fique exposto ao sol duas vezes mais tempo sem danos. Um exemplo de tais antioxidantes é a astaxantina, poderoso “filtro solar interno”. Outras fontes de antioxidantes similares são algumas frutas (açaí, romã, mirtilo, etc.), algumas algas e alguns crustáceos do mar (camarão, “krill”, etc.)
Doenças e condições causadas pela deficiência de vitamina D:
. A osteoporose é geralmente causada por falta de vitamina D que provoca deficiência na absorção de cálcio.
. A deficiência de vitamina D na infância causa o raquitismo, falta de calcificação dos ossos.
. A deficiência de vitamina D pode agravar o diabetes tipo 2 e prejudicar a produção de insulina pelo pâncreas.
. Bebês que recebem a suplementação de vitamina D (2.000 unidades por dia) têm um risco 80% menor de desenvolver diabetes tipo 1 durante os próximos vinte anos.
. A obesidade prejudica a utilização da vitamina D no organismo e obesos precisam de duas vezes mais vitamina D.
. A depressão, a esquizofrenia e os cânceres de próstata, de mama ovário e de cólon são frequentes em pessoas com deficiência de vitamina D. Portanto, níveis normais de vitamina D previnem estas doenças.
. O risco de desenvolver doenças graves como diabetes e câncer é reduzido de 50% a 80% através da exposição simples, à luz solar natural 2 a 3 vezes por semana.
. A depressão sazonal de inverno, muito comum nos países de clima temperado, é causada por um desequilíbrio da melatonina, devido à menor de exposição ao sol.
. A vitamina D é utilizada no tratamento da psoríase, doença inflamatória crônica da pele.
. Deficiência crônica de vitamina D é muitas vezes diagnosticada erradamente como fibromialgia, porque seus sintomas são muito semelhantes: fraqueza muscular e dores.
Estatística chocante! São deficientes em vitamina D:40% da população dos EUA, 32% dos médicos e estudantes de medicina, 42% das mulheres afro-americanas em idade fértil, 48% das meninas de 9 a 11 anos, até 60% dos pacientes de hospitais, até 80% dos pacientes do lar de idosos e 76% das mulheres grávidas e 81% das crianças delas nascidas, as quais terão, mais tarde na vida, maior predisposição ao diabete tipo 1, à artrite, à esclerose múltipla e à esquizofrenia.
O que você pode fazer:
A exposição sensível à luz solar natural é a estratégia mais simples, mais fácil e ainda uma das mais importantes para melhorar a saúde. Se mais pessoas lessem estas informações, poderíamos reduzir drasticamente as taxas de várias doenças crônicas. A exposição à luz solar é realmente uma das terapias mais poderosas. Não há nenhuma droga, nenhum procedimento cirúrgico ou de alta tecnologia que chegue sequer perto do surpreendente efeito saudável da luz natural. E o melhor: você pode obtê-lo gratuitamente!!! E o pior: é por isso que quase ninguém o divulga! 
________________
Colaboração de JOVENTINA SIMÕES 
UM HOMEM TEM 3 METROS DE ALTURA
(sobre o meu amigo João Faustino)*


O ano de 2014 começou enviesado.
Uma semana após as festas em que renovamos as esperanças com a chegada do Ano Novo, sou despertado por um telefonema. Era de Natal. A voz metálica, carregada de emoção, comunicava a morte inesperada de João Faustino. Amigo/irmão muito querido.
Somos de uma mesma geração. Estudamos juntos no Colégio Marista.  Final de década de 1950. E aí nos tornamos amigos. Para sempre.
Formávamos um grupo que pretendia um mundo novo. Acabar, e rapidamente, com a Injustiça e a Desigualdade vigentes. Começamos na JEC, Juventude Estudantil Católica. Após ingressar na Universidade, continuamos na JUC. E depois na Ação Popular/AP. Todos, movimentos inspirados da doutrina social de Igreja, arejada pelos ventos que sopravam do Concílio Vaticano II.
Havia em nós uma crença arraigada na Educação Popular. O instrumento mágico, demiúrgico. Capaz de produzir profundas mudanças na organização política, social e econômica do país. De forma suave e  pacífica ,  conforme imaginávamos.
O Movimento Militar de 1964 nos mostrou a dura realidade: as mudanças, por nós  imaginadas para a construção da Justiça e da Igualdade entre os brasileiros, não eram bem vistas. Eram movimentos suspeitos.  Contaminados pela doutrina comunista. E o nosso grupo, composto, entre outros, por Faustino, Marcos Guerra, Francisco Ginani, Josemá Azevedo, Maria Laly Carneiro, além de vários rapazes e moças, militantes dedicados de uma bela causa, teve os seus sonhos mudancistas precocemente abatidos.  E de tal forma irredutível, que se supunham varridos para sempre da nossa pauta política.
Nos tornamos presos políticos. O preço do nosso sonho foi a perda da liberdade.
Do nosso grupo, a maioria permaneceu no país. Outra parte preferiu o exílio. O importante é que estávamos vivos. E éramos jovens, iniciando a nossa vida.
João Faustino resolveu ficar em sua terra. E  iniciou carreira no serviço público, como professor. Posteriormente ingressando na política partidária, vocação que cumpriu por toda a sua vida.
Como “servidor público” – no mais elevado sentido do termo – vocação irresistível, integralmente cumprida, o testemunho de João Faustino é fascinante. Conheci poucas pessoas ligadas de forma tão serena e feliz no cumprimento das suas funções públicas. Exercidas com rara dignidade, coerência, humildade e dedicação.
(Em nosso tempo de estudante,  “ O Apanhador no Campo de Centeio” de J.D. Salinger, livro aparentemente despretensioso, fazia a cabeça da nossa geração, tornando a sua leitura e releituras quase obrigatórias. Lembro uma passagem do livro, na qual o personagem principal, Holden Caufield, repete a seguinte frase, ouvida num diálogo com um dos seus professores: ”a caraterística do homem imaturo é pretender morrer nobremente por uma causa. Enquanto a caraterística do homem maduro é querer viver humildemente por essa causa”).
Creio que o João Faustino foi sempre um homem maduro . Em suas escolhas. Na forma como educou os seus filhos, juntamente com Sonia, companheira de toda a vida. E na forma de percorrer seus caminhos. Menos em busca de realização pessoal. Sempre focado no ideal de servir à sua terra, à sua gente. Sempre com um olhar de compreensão, respeito e compaixão pelos desafortunados e deserdados da vida.
João Faustino era um homem digno. Em nosso convívio, nunca ouvi dele queixas, mágoas ou lamentações. Jamais ressentimentos. Era um político respeitadíssimo pelos seus pares. Sabia fazer política.
Já caminhando para o final de sua vida pública, coerente e exemplar, João Faustino foi vítima da  truculência dos organismos do Estado. Como sempre parecendo compreender as fraquezas humanas e as sutilezas do jogo político, João Faustino respondeu, mais uma vez, com o Perdão. Formalizado em livro, cujo título evidenciava a sua elevada estatura humana: “Eu Perdoo”. O sereno grito de revolta de um homem inocente. Injustiçado e com seus direitos ameaçados por um poder judiciário mais comprometido com o espetáculo do que com a Justiça.
Descansa em Paz, querido amigo. A sua vida inteira foi um testemunho de bondade e coerência. A prova mais cabal de que um Homem tem 3 metros de altura...

*Geniberto Paiva Campos – médico / reside em Brasília/DF 
Rinaldo Barros
Para rbEu
Jan 13 em 1:59 PM

A humilhação das cotas
(*) Rinaldo Barros

O Brasil tem a maior população negra fora da África e a segunda maior do planeta. A Nigéria, com uma população estimada de 85 milhões, é o único país do mundo com uma população negra maior que a brasileira. 
Só a partir da década de 1930, com base, principalmente, nas teses sobre a miscigenação e na forma envergonhada de expressão do discurso racista, consolidou-se no país o mito da democracia racial.
A rica história invisível dos seres escravizados, sua recriação cultural, é apenas parte do ser cultural brasileiro.
Mais de trezentos anos de escravidão, do século XVI até o final do século XIX, como instituição legal, social e econômica, que determinou o estilo de vida do Brasil colônia representa uma referência histórica fundamental para se compreender as desigualdades no país. Muito se discute sobre a proposta de cota de vagas nas universidades, direcionadas as pessoas com traços de afrodescendentes.
Em 2012, o STF - ao arrepio do Artigo 5º. da Carta Magna - julgou, à unanimidade, que as cotas raciais (racistas) para as universidades são constitucionais. Sem dúvida, um equívoco histórico.
Cá do meu canto, não vejo nos negros nenhuma inferioridade ou superioridade, quer por força, quer por inteligência. A ciência já comprovou que a espécie "homo sapiens sapiens" é única, indivisível.
Vejo, isso sim, uma problemática social, nutrida pela desigualdade sócio-econômica gritante. O que temos em nosso país é um problema de “apartheid social” sério e profundo, histórico, fomentado pela demagogia política, oriunda de um processo eleitoreiro vil e cruel.  
Alguns demagogos afirmam que os negros são todos pobres e por este motivo merecem cotas.
Mas, será que todos os pobres são negros? Na verdade, os brasileiros somos todos miscigenados.
Tomemos como exemplo os indígenas, totalmente desprovidos de posses e também de qualquer forma de educação. Se fosse para beneficiar uma “raça” pela sua marginalização social, teríamos que criar cotas também para os índios, maltratados desde o descobrimento. Euzinho aqui, por exemplo, sou mameluco.
Será que cada negro neste país terá de passar pela humilhação de ser visto como deficiente na sua escolaridade, pobre na sua cultura e medíocre no seu ingresso acadêmico?
Ficará a pecha da incompetência e da falta de mérito, restando a dúvida sobre sua formação e até sobre sua capacidade de aprendizado como herança para as próximas gerações?
Adianta colocar um jovem despreparado na Universidade? Será que sua deficiência advinda de uma péssima educação de base poderá transformar-se num ótimo desempenho?
Creio que ainda resta uma luz no fim do túnel: o reconhecimento da importância da cultura negra no dia-a-dia nacional e de suas dinâmicas positivas como modelo civilizatório tem se expandido. Sua essência musical, a capacidade desse coletivo de transformar condições adversas em fatores de desenvolvimento humano e alegria, sua estética rica em diversidade, sua religiosidade inclusiva, passam a ser percebidas no conjunto da nação como elementos positivos da nossa diversidade. São dados de realidade.
O caro leitor há de convir que não é no negro que está a impossibilidade de ingressar nas Universidades, e sim na falta de ensino de qualidade, nos cursos fundamental e médio, em nosso país.
Sob outra ótica, a Universidade Pública corre o sério risco de ficar tão sucateada, que nem os beneficiados com cotas irão querer nelas ingressar. Aí restarão apenas as universidades particulares, onde provavelmente o governo criará bolsas para os necessitados, até que o ensino público desapareça progressivamente. Será que essa é a ideia por trás das cotas?
Aliás, aqui no patropi, as famílias da classe média descontam do Imposto de Renda as despesas com a educação, principalmente as despesas com escolas e universidades privadas. E os que ganham abaixo do limite de isenção do IR têm que arcar com as despesas sejam elas quais forem.
Ou seja, fazemos justiça ao contrário: quem ganha mais desconta e não paga nada; e quem ganha pouco, não tem como descontar e paga tudo.
Desconfiemos de todas as propostas rápidas e fáceis para o problema da educação, porquanto – em verdade – o patropi levará ainda muitos anos para alcançar um patamar razoável de sistema público educacional de qualidade, isto se as cotas, as bolsas, e a demagogia não nos vencerem antes.

(*) Rinaldo Barros é professor– rb@opiniaopolitica.com
CARTAS DE COTOVELO 2014 (10)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
            Aproveito a oportunidade do veraneio em Cotovelo para fazer um alerta aos banhistas neste período de maior fluxo de pessoas nos banhos de mar.
            Primeiro, a maré de janeiro necessita de cautelas com a meninada, pois o refluxo quando ela está na preamar puxa tudo o que encontra na beira da praia, inclusive pode colocar em perigo as crianças com menos peso.
            Ademais disso, detectei que os pescadores de vara, exatamente com o fluxo e refluxo da maré, algumas vezes têm a sua linha partida, precisamente na parte mais perigosa, onde se encontra o chumbo e os anzóis.
            Ontem, ao levar um neto para o banho da tarde tive o pé enroscado num resto de nylon, com a chumbada e um anzol. Tive sorte porque o dedo do pé ficou preso e logo puxei aquele objeto que, por pouco, não cravou o anzol. Por isso, é fundamental os cuidados para esse tipo de acidente, tanto por parte do pescador que teve a linha partida, para verificar se consegue resgatar o que ficou na praia, quando possível e dos banhistas quando forem entrar na água.
            Esse tipo de acontecimento é muito comum, como também encontrar restos de alvenaria semienterrada, causando o risco de algum acidente.
            Outro aspecto que tenho notado é que nos caminhos de acesso à praia, algumas pessoas sem educação doméstica, costumam deixar lixo e, pior que isso, quebram garrafas de vidro com enorme risco para os que passam descalços.
            Nas minhas caminhadas diárias na beira da praia, tenho o cuidado de, no retorno, trazer um saco com resíduos deixados pelos banhistas, colocando-o nas lixeiras que existem na rua para o recolhimento oportuno pelo caminhão da limpeza.
            Isso não custa nada, é um ato de cidadania e de amor à coisa pública, de uso comum..
            É do conhecimento de alguns veranistas, que a escadaria e o corrimão de madeira em uma das alamedas de acesso à praia, precisamente da rua Herith Correia, foi por mim colocada – inicialmente em canos de pvc revestidos e que duraram mais de 10 anos. Agora substitui por corrimão de madeira de lei e espero que todos o preservem.
            Esse modesto equipamento é fundamental para as pessoas idosas, como hoje eu o sou. Mas ao tempo em que resolvi fazer o serviço, foi em respeito a um casal de idosos que morava logo na primeira casa da Avenida principal e que já são falecidos, que ficavam apenas a contemplar a vastidão marinha e com a escadaria passaram a por os pés na areia e na água..
            O mar é bem de todos e os acessos são componentes importantes para nosso deslocamento.

            Um último esclarecimento: não sou candidato a nada, mas apenas a continuar usufruindo dessa natureza exuberante que Deus nos deu inteiramente de graça!

Ciro


Jan 14 em 10:43 PM
Caríssimos:
Gostaria de compartilhar com todos os meus amigos a notícia gratificante que recebi, hoje à tarde, da Academia Pernambucana de Letras. Meu livro de poesia ainda inédito, Boa Noite Outono, foi o vencedor do Prêmio Edmir Domingues 2013, promoção da importante Casa de Cultura de Pernambuco. Confesso estar tomado por imensa alegria uma vez que em 2012 eu o conquistara com o meu livro Anêmonas, já publicado. Assim dia 28 deste mês estarei no Recife para a solenidade de premiação e espero encontrar aqueles que ali residem.

Afetuosamente, Ciro José.

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
            Inimizade não faz parte do meu culto e lamento a partida dos conhecidos e amigos, com maior intensidade daqueles com quem convivi em algum momento da minha existência.
            Parafraseando a conhecida canção “Três Lágrimas”, imortalizada na voz de Sílvio Caldas, pranteio três amigos que recente passaram para outra dimensão da vida.
            Aluízio Menezes, extraordinário jornalista esportivo, a quem acompanhei desde os tempos de menino nas narrações das partidas de futebol no prefixo ZY-B5 Rádio Poti de Natal e depois em outras emissoras. No velho estádio Juvenal Lamartine costumava ficar na arquibancada, o mais próximo possível da cabine de transmissão, pois assistia a partida e ouvia a narração e os comentários dos seus companheiros, dos quais lembro de Mirocem.
            Acompanhei a trajetória desse velho amigo no correr da vida até abandonar o microfone, quando então, em eventuais encontros, passei à cobrar-lhe um livros sobre os bastidores do rádio esportivo e ele respondia que estava escrevendo.
            Os momentos em que fiquei mais ligados às suas transmissões foi quando estando longe de Natal, estudando em Recife, paradoxalmente ficava mais próximo da terra potiguar ouvindo suas transmissões através de um radinho “Spica”, em uma antena improvisada no meu quarto da República da casa do Barão de São Borja, esquina com as ruas D. Bosco e Visconde de Goiana, no bairro da Boa Vista.
            Deus lhe abençoe querido amigo!
            A segunda perda foi a de João Faustino, que conheci menino, juntamente com seu irmão Astor, empinando pipas na praia da Redinha. . Depois convivemos na Faculdade de Direito da Ribeira, onde frequentava por conta do seu namoro com Sônia, minha colega da Turma 1968, continuando os encontros em eventos culturais e nos passeios do veraneio de Cotovelo, ele sempre acompanhado do filho Edson..
            Tive um susto ao receber a informação do seu subido falecimento, pois recentemente o encontrei sadio, creio que no lançamento do último livro de Valério Mesquita na Academia de Letras.
            O terceiro impacto ocorreu com Baíto (Maurício Gomes dos Santos), meu companheiro de peladas no sítio do meu avô na Rua Meira e Sá, no Barro Vermelho, onde fomos vizinhos.
            Esse campinho, sob a sombra de mangueiras, pitangueiras e alguns coqueiros, o que facilitava os peladeiros do local, conhecedores dos obstáculos naturais, hoje é, em parte, espaço onde construí a minha moradia, na rua Coronel João Gomes, em homenagem ao velho patriarca da família.
            Foram três amigos que partiram na minha frente, deixando boas lembranças e saudades. Certamente vamos nos reencontrar, mas eu não estou vexado!


CAMPANHA DE COMBATE ÀS DROGAS - NÃO À LEGALIZAÇÃO DA MACONHA! AUTORIA DE EDUARDO GOSSON.

EDUARDO GOSSON

FERREIRA GULLAR, POETA, ENSAISTA E 
ESCRITOR,
  “Quanto às drogas, não acredito que 
legalizá-las seja a solução. A venda de 
cigarros, de remédios, de pedras preciosas 
não é proibida, mas existe tráfico dessas
 mercadorias, não existe? A descriminalização
 não vai acabar com o tráfico, porque ele, 
de fato, é mantido por quem consome 
drogas, já que não existe comércio, 
egal ou não, sem consumidor. O caminho
 correto, a meu ver, seria uma campanha
em âmbito nacional e internacional, de 
educação dos jovens (garotos mesmo), 
que os alerte para o perigo das drogas,
 já que, enquanto houver quem as use,
 haverá quem as venda.” DILERCY 
ADLER POETA, ESCRITORA E PSICÓLOGA
 “Precisamos de fortalecimento de valores 
compatíveis com uma sociedade mais 
humanizada, até porque na maioria das 
vezes a droga é utilizada como "fuga" do
enfrentamento da realidade dolorosa, da
competitividade e sensação de fracasso, 
do desamor, da desconfiança constante 
do outro, do medo de sermos 
enganados. 
Claro que em toda situação existem 
múltiplos fatores que a determinam, e cada 
caso é um caso. O fato é que: se a 
descriminalização sozinha não é a saída, 
a proibição também não é.” EDUARDO 
GOSSON, POETA E ESCRITOR “Legalizar 
o que não presta dói; por que não 
legalizar o amor, a esperança, a 
solidariedade? Diga não às drogas e
construamos uma sociedade onde 
viver seja bom ao pensamento”
mjg UOL
Para 'eduardo antonio gosson'mjguerra uol
Jan 10 em 11:20 PM
Caro Gosson

Vi seu comentário na edição de ontem da TN, em cartas do leitor.

Sei do seu sofrimento, e compreendo sua posição.
Tenho estima e respeito por você, e por isto tomo a iniciativa de lhe responder, embora ainda comocionado com o falecimento de J Faustino.
( outra vitima da “inexorável” sapiência que afronta direitos e viola dignidade e vidas ).

Não o disse, nem cabia, mas perdi entes próximos em situações similares. 
Inclusive tenho amigos q foram viciados em droga como forma de tortura feita por militares na operação condor, para na premência da droga falarem o que os esbirros queriam ouvir,
justificando novas repressões no circulo infernal.
Um dos que pretenderam destruir, e prejudicaram seriamente em sua dignidade, personalidade, fidelidade a princípios e visão poética do mundo, é o Geraldo Vandré.
Não vou me alongar, não vem ao caso.

Ouvi seu convite/apelo.
O que defendo é que não se continue a tentar MAIS DO MESMO.  Os fatos, e os escritos do próprio comandante da policia demonstram que a politica atual fracassou, e vai fazer cada vez mais vitimas, por um lado,
E cada vez mais milionários dentre os traficantes e os que eles corrompem.  Milionarios ou gente com “mais poder”, maquinas, homens, tecnologias, poder de mando.
( veja-se o caso recente do helicóptero de 2 politicos, que a PF prendeu no Espirito Santo – quando algum “combinemos” não deu certo ... )

Ganham, e muito, e pouco se importam com as verdadeiras vitimas.
IRÃO SE OPOR ATÉ O ULTIMO MOMENTO PARA NÃO PERDEREM SEUS PRIVILEGIOS, SUA DINHEIRAMA, SUA FORMA DE EXERCER O PODER.

( veja-se a historia da Colombia, de alguns países asiáticos, dentre os mais exemplares ).

E as vitimas são os pequenos, os mais jovens, os inexperientes, alguns puros, consumidores ou mulas. 
Os que conhecemos em nossas casas, nossas famílias, nossas ruas, lugares que frequentamos.

E nas prisões, gente com o mesmo perfil.  Hoje, por amor, uma grande percentagem de jovens mulheres, enganadas.
Ouvi que representam a maior parte das mulheres estrangeiras em nossas prisões.

Tento entender as coisas pensando em como ATACAR AS CAUSAS.
Sem temor, apesar das contradições.
Para isto, temos que fazer analises lucidas, muitas vezes contra paradigmas.

Isto que defendo:  é hora da sociedade brasileira ter coragem de abrir o debate, sem pre-conceito  (conceito previamente formado )
Sabemos o que não deu certo, e que não adianta tentar continuar.  Continuar somente vai reforçar os que ganham com a situação atual.
E ferir cada vez mais as vitimas, em sua maioria indefesas.

Não sabemos o que pode vir a dar certo.
Mas não podemos continuar a fazer MAIS DO MESMO, por falta de horizonte e perspectivas novas.
O Paulo Freire chamou isto de “inédito viável”.
Apelando para uma construção coletiva para as mudanças necessárias.
Está com todas as letras em sua PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, dentre outras obras.

A coragem de encarar, de não temer a contradição, de incentiva e abrir um debate honesto, ético, positivo, com a coragem de mudar de posição, eu a tenho.
Desconheço quais serão os caminhos futuros.  Não penso q devamos copiar nenhuma forma existente nos 20 paises, e o disse no artigo.
Mas tenho a convicção que sei a quem serve a situação atual, quem ganha com ela, e quantas famílias são dilaceradas para satisfazer à cobiça dos traficantes e seus assalariados,
Independente de quem são e que funções estão exercendo.

Poderiamos imaginar alguma forma de abrir um tal debate em nossa sociedade.
Objetivo, sereno, responsável, procurando construir com coragem algo que atinja nossos objetivos.  Sem ficar prisioneiros das causas. 

Atenciosamente
Marcos GUERRA

CARTAS DE COTOVELO 2014 (8)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
            A praia de Cotovelo e o Distrito de Pium têm sido, nos últimos anos, motivo de especulação imobiliária, com construções em profusão. Contudo, tais empreendimentos se ressentem do correspondente aparelhamento de serviços essenciais e equipamentos urbanos, ficando à mercê do tempo e da paciência dos seus moradores e veranistas.
            Lembro-me bem da luta para trazer a este recanto a rede telefônica, com reuniões realizadas sob o comando da PROMOVEC (como ela está agora?), pois até então dispúnhamos apenas de orelhões, pois ainda não havia chegado ao Estado a era do celular,.
            Hoje, com a dinâmica das redes sociais o problema é a ‘internet’, por aqui continua em passo de tartaruga.
            Tem sido um sofrimento conseguir um sinal, ainda que precário, através do celular, mas o pacote se esgota rapidamente e é preciso solicitar um adicional.
            Bem que os empreendimentos da febre imobiliária poderia comandar campanha para a colocação de uma rede consistente, até porque Cotovelo já pode ser considerada como ‘cidade dormitório’ da Grande Natal.
            Uma grande conquista foi a colocação da rede de água, que acabou com a tortura dos poços que oferecia água sem tratamento. Agora o que se reclama e está em cadência extremamente lenta é a rede de esgotos sanitários, apesar dos milhões gastos com canos enterrados e até substituídos por outros antes do início dos serviços de coleta. Três a quadro governos municipais já passaram e o sistema ainda não foi ligado.
            Registramos a regularidade da coleta de lixo e da iluminação pública satisfatória, embora parcela da população ainda insista e poluir os caminhos da praia jogando resto de alimentos e quebrando garrafas sem atentar para o perigo de ferir aqueles que utilizam aquelas vias.
            Aguarda-se a solução urgente, também, para a questão da segurança pois convivemos com um presídio de segurança máxima bem próximo, (Alcaçus), mas o policiamento regular ainda depende de Pirangi, que não tem estrutura nem mesmo para aquele recanto.
            Cotovelo precisa de um serviço de informação, talvez um jornalzinho através do qual haja uma boa interação entre os moradores e veranistas.
            É tempo de pensar a construção de uma estrada corretamente dimensionada para o acesso às demais estâncias de veraneio do sul, pois o fluxo de veículos de passagem tumultua, engarrafa e torna o trânsito um tormento.
            Os serviços religiosos são precários no que concerne à Igreja Católica, cujo templo não fica aberto regularmente, contrariando a dinâmica preconizadapelo Papa Francisco de maior proximidade com o povo.
            O Poder Público precisa estudar essas coisas, inclusive traçando uma política específica e eficiente para a melhoria dos serviços que presta.
            Vamos esperar que no veraneio de 2015 tais deficiências já tenham sido superadas, até porque Pium-Cotovelo podem representar excelente solução para os que virão assistir as partidas da Copa do Mundo em Natal.



Moacy Cirne: um nome essencialíssimo ao Brasil

(Lívio Oliveira)
   
O meu querido amigo Moacy Cirne, escritor e poeta de elevado renome, que não se situava somente nos limites do nosso Rio Grande do Norte, concluiu sua obra terrena na tarde quente do verão natalense desse último sábado que passou. Acompanhava notícias sobre o seu complexo quadro de saúde já havia um bom tempo. Mas, mesmo assim, fui tomado por um certo impacto, um choque, ao ler a notícia numa das redes ditas sociais. Havia ali uma foto de Moacy e alguns vagos dizeres sobre a sua passagem para um outro plano. Logo após, surgiu em mim uma tristeza calma e reflexiva que compartilhei com a minha esposa.
Intelectual múltiplo, Moacy detinha um olhar circular e atento que poucos possuíam neste país. Não é à toa que o mestre Tarcísio Gurgel costuma dizer que Moacy Cirne era o intelectual mais completo de sua geração. Além de toda a obra que deixou em livros e que também firmou na criação e liderança do histórico e emblemático movimento do Poema-Processo, lecionou com afinco e amor em universidade carioca, foi um dos maiores amantes e estudiosos do cinema e dos quadrinhos e exerceu outras muitas tarefas de cultivo do intelecto no seu envolvimento visceral e apaixonado pelo mundo das realizações artísticas e culturais. Firmou, ainda, dignas posições político-ideológicas avançadas e preocupações sociais que manteve até o final dos seus dias.
Moacy também era um grande fazedor de amizades, sabendo alimentá-las com atenção e generosidade, doando a cada um dos seus próximos um pequeno quinhão de sua sabedoria calma, serena. Seu sorriso suave e doce cativava fortemente quem dispunha das saborosas oportunidades de uma conversa mansa, tranquila, ou mesmo com a paixão e os argumentos sólidos e cortantes e até irreverentes por ele levantados. Um aspecto lhe era intrínseco e se fazia indissociável da figura do grande amigo que partiu: Moacy era um sábio, era um sábio, era um sábio! (lembro que ele gostava de brincar com os famosos versos de Gertrude Stein: “uma rosa é uma rosa é uma rosa”). Bastava ouvi-lo e olhar para ele e perceber isso estampado nos seus olhos perspicazes e nas suas barbas brancas que lembravam as de um profeta bíblico. Por sinal, a Bíblia foi um forte objeto de estudos de Moacy nos últimos anos – salientando-se que era ateu (ou agnóstico), reconhecidamente. O livro póstumo terá, certamente, o nome que Moacy já havia escolhido, segundo me afirmou um dia: “A Bíblia: travessia, travessias”, numa alusão direta a Guimarães Rosa.
Os momentos de desfrute intelectual e da amizade com Moacy foram muitos para mim: Encontros fortuitos por Natal, participação mútua em lançamentos de livros, algumas visitas que lhe fiz em casa (nunca encontrei Moacy no Rio, infelizmente. Seria ótimo ver um Fla-Flu no Maracanã e sentir a vibração de Moacy pelo seu Fluminense, mesmo que eu seja sempre Flamengo), um texto introdutório que ele fez para um dos meus livros, uma entrevista que me concedeu em 2008, debates culturais diversos (inclusive através do seu blog “Balaio Porreta, que manteve por muitos anos), dentre outras boas situações que tive de encontrar Moacy e sua inteligência viva e dinâmica.

Ao grande Moa dedico a minha pequena homenagem e agradecimento. Moacy Cirne se fez e se faz essencial à cultura potiguar e brasileira e a todos os seus amigos saudosos. Todos, certamente, dedicarão parte de suas memórias a Moacy, estando em processo de amadurecimento, inclusive, a ideia de um livro coletivo de depoimentos acerca de suas vida e obra, o que é algo que lhe é devido, mas simples diante de tudo que fez por estas bandas de cá. Moacy Cirne é, sim, um nome que se inscreve como essencialíssimo ao Seridó, ao Rio Grande do Norte e ao Brasil. Sempre será lembrado e deverá ser homenageado fortemente (autoridades potiguares que nos ouçam e, se possível, leiam), por seus grandes méritos e valores. Não custa repetir: Moacy vive e nos orgulha a todos!