quarta-feira, 5 de novembro de 2025

 

Parabéns, Timbaúba dos Batistas (RN)!

Padre João Medeiros Filho

Segundo a Sagrada Escritura, “O Espírito sopra onde quer” (Jo 3, 8). A metáfora bíblica mostra-nos que Deus age de forma livre, surpreendente e inusitada. Não raro, chega a aturdir os seres humanos. Ele seria pequeno demais se pudesse ser controlado por suas criaturas. É o que se infere do recente evento, em que o jovem João Pedro de Araújo Soares conquistou a Medalha de Ouro (em Matemática) na Olimpíada do Tesouro de Educação Financeira – OLITEF/2025, promovida sob os auspícios do Ministério da Educação. O certame destina-se a estudantes do sexto ano da educação básica à terceira série do ensino médio. O agraciado provém da Escola Basílio Batista de Araújo, localizada em Timbaúba dos Batistas. O diligente aluno sempre frequentou o ensino público, em sua cidade de origem. Sou tentado a solfejar a música italiana, quando afirma: “Sobre montes de pedras também nascem flores.”

Quem diria que da pequena Timbaúba – distante trezentos quilômetros da capital potiguar, uma cidade interiorana com menos de três mil habitantes (segundo os dados censitários de 2024) – pudesse surgir um talento, motivo de orgulho para sua família, sua cidade natal e o RN. Nós, humanistas e educadores, sentimo-nos gratificados por existir jovens que levam a sério a educação, a arte e a ciência. Numa sociedade em que tantos adolescentes enveredam pelo submundo das drogas e do crime, é importante divulgar a existência de jovens estudantes, como João Pedro, que dignificam a comunidade. O timbaubense não provém de renomados colégios e instituições de ensino de tradição secular e prestígio social da região e do estado. “A sabedoria é mais preciosa do que todas as pedrarias e riquezas”, diz-nos o autor do Livro dos Provérbios (Pv 3,13-15).

Há mais de seis décadas, conheci Timbaúba (ainda não era paróquia). Fui Cura da Sé de Caicó e amiúde aparecia por lá para celebrar, batizar, presidir casamentos e pregar na festa de São Severino Mártir, seu padroeiro. Havia a tradição de hospedar os sacerdotes na fazenda de Hermógenes Batista de Araújo (primeiro prefeito constitucional do município) e Dona Lutgardes, irmã de Dr. Otto de Brito Guerra. Inesquecível o repouso no alpendre da casa grande, testemunha de tantas histórias e confidências. Hoje, Timbaúba surge novamente no cenário nacional como berço do ganhador da Medalha de Ouro em Matemática de 2025. O município seridoense já era conhecido por outros registros. Apresenta o maior índice nacional de endogamia (traço forte do judaísmo), um dos influenciadores da Síndrome de Berardinelli, com incidência significativa também em Carnaúba dos Dantas e Povoado Santo Antônio da Cobra (Parelhas). Os pesquisadores da Universidade do Rio Grande do Norte acompanham tal distúrbio.

A gloriosa Timbaúba destaca-se pelos bordados, uma secular arte que permanece desprotegida. A cidade mantém viva a tradição cultural das famosas “dentelles de Bruges” e outros bordados típicos da região flamenga, também como marca da presença holandesa no RN. O Seridó e Bruges são as duas únicas regiões que produzem o verdadeiro bordado de Flandres. Infelizmente, a produção seridoense é imitada grosseiramente por pessoas inabilitadas, voltadas para o lucro, em detrimento da arte. Padre Pedro Neefs (holandês de nascimento, brasileiro por adoção) manifestou preocupação com a originalidade dos bordados. Por isso, organizou a Associação das Bordadeiras da Serra de João do Vale (Jucurutu e Campo Grande). O parlamento potiguar deveria somar esforços para proteger os bordados do Seridó, como herança cultural flamenga, integrada à nossa realidade econômica e artística. Há necessidade de organizar comissões técnicas no sentido de garantir a originalidade dos produtos.

João Pedro se insere nesse contexto científico, literário e cultural de sua terra. Sua avó, Iracema Soares, foi professora de bordados e patrona da Casa das Bordadeiras de Timbaúba. Esta cidade congrega um notável número de genealogistas, do qual fazem parte João Pedro e seu genitor Arysson Soares da Silva, membro de várias instituições culturais e científicas. João Pedro, desde sua infância, volta-se para Arte, Ciência e Letras. Dessa mesma estirpe descende Monsenhor Walfredo Gurgel e tantos vultos políticos, religiosos e intelectuais, que engrandecem nosso torrão natal. Hoje, digamos como o salmista: “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, incomensurável é a sua misericórdia” (Sl 118/117, 1).