Raimundo Ubirajara de Macedo: um
nome na história.
*Luiz Gonzaga Cortez Gomes.
A participação do jornalista
Raimundo Ubirajara Macedo, através de seu depoimento para a Coleção Multimídia da “Memória das Lutas
Populares no Rio Grande do Norte” – Volume 06, representa um dos mais
importantes resgates da nossa história política-sindical, cultural e musical,
entre as décadas de 50/60 do século passado. Testemunha ocular da história de
acontecimentos significativos, além de participante e militante, o decano da
imprensa natalense, Ubirajara, na substancial entrevista desta coleção DVD Multimídia,
revela episódios desconhecidos para as novas gerações, principalmente os
referentes a Campanha do Petróleo é Nosso,
as Reformas de Base, a Campanha De Pé no Chão Também de Aprende a Ler,
criada pelo prefeito Djalma Maranhão para combater o analfabetismo, o “Grupo dos
Onze”, idealizado por Leonel Brizola para dar suporte ao movimento nacionalista
de esquerda no Brasil que foi sufocado pelo Golpe de Estado de abril de 1964.
Filho de um humilde professor
primário, de Macaíba/RN, que “lutou muito para sustentar e educar a família”,
Ubirajara de Macedo, nascido em 1920, não esqueceu a professora Maria Olimpia Ferreira, do Grupo
Escolar “Auta de Souza”, que dava as aulas de “História Natural”, no sítio de
Sr. Joca Ledo,em Uruassú, ou ar livre em Jundiaí, durante duas a três horas,
onde os alunos assistiam as aulas em contato com a natureza e “ouvindo música,
pois o marido dela, Orlando Ubirajara, funcionário dos Correios e tocava
violino muito bem”.
Menino, “Bira”, gostando de
música, veio para Natal estudar no Colégio Estadual do Atheneu
Norte-rio-grandense, onde fez o curso secundário e conheceu os melhores
professores da cidade e fez amizades com colegas e mestres que se destacariam,
anos depois, na política, na cultura e no sindicalismo potiguar. “Naquele
tempo, eu só não assistia as aulas quando chovia muito em Natal , não podia me deslocar
para a Cidade Alta, por causa da lama e do aguaceiro. Não existia ônibus, só
bondes, e até a Ribeira. Como eu morava na “Limpa”, no bairro de Santos Reis,
não saía de casa nos dias de chuvas. Aí, meu pai ia falar com o diretor do
Atheneu e justificava as minhas faltas”, relembra “Bira”, um dos grandes e
inigualáveis companheiros que tivemos na redação do “Diário de Natal”, na
década de 1980.
Na entrevista, “Bira” relembra os anos da II Guerra,
prestando serviços ao Exército em todo o litoral do Rio Grande do Norte, e,
seguida, o seu ingresso nos Correios, por concurso, onde passa a se dedicar as
atividades de postalista e repórter
esportivo e de polícia na Rádio
Nordeste, levado pelo amigo Aluizio Menezes. “Fiz cobertura de tudo na Rádio
Nordeste, desde futebol, basquete e voleibol, polícia, etc. Aprendi muito com Aluizio Menezes, nos anos 40.
Vi o nascimento do Trio Irakitan, com Edinho, Joãozinho e Gilvan. Demos muita
força a eles. Saíram de Natal para se apresentar em Mossoró e retornar, mas de lá
foram para Fortaleza, Manaus, México e Estados Unidos, numa excursão que durou
mais de 3 anos. Foram fenomenais, pois cantavam muito bem”.
Neste DVD Multimídia, o jornalista Ubirajara de Macedo, o grande Bira, fala sobre os acontecimentos que
assistiu e/ou participou na memorável campanha do “O Petróleo é Nosso”, o
movimento sindical nos “Correios” (“o maior empregador do Rio Grande do Norte”),
onde o golpe militar de 1964 encontrou
aderentes, colaboradores e informantes.
O comício de Leonel Brizola no
“Grande Ponto”, em 1963, onde o deputado gaúcho atacou o comandante da
Guarnição do Exército, general Murici, tachando-o de gorila, golpista e covarde
e, na iminência de ser preso e “bifado” por oficiais do 16º RI, Djalma Maranhão
retirou Brizola de sua casa e tomaram rumo ignorado.
Uma informação inédita consta do
depoimento de “Bira”: em Natal, o golpe militar começou na manhã de 1º de abril
e o governador Aluizio Alves já estava refém dos novos donos do poder. “Eu fui a uma missa já programada. Quando
cheguei na igreja, encontrei Aluizio ao lado de Hélio Galvão e do almirante
Tertius Rebelo, que veio a ser o Prefeito de Natal. Então, Aluizio já estava
como uma espécie de refém”.
A deposição de Djalma Maranhão,
prefeito de Natal, a repressão policial e
os 11 meses passados na cadeia do
16º Regimento de Infantaria – 16º RI, no Tirol, juntamente com dezenas de
amigos, sindicalistas, intelectuais e
estudantes que se destacaram no movimento pelas “Reformas de Base” .
Ubirajara de Macedo traça perfis
de personalidades da política, da cultura e da Igreja no RN, como dom Eugênio
Sales, Ulisses de Góis, professor Moacir de Góis, Hélio Vasconcelos, Vulpiano
Cavalcanti, Luís Ignácio Maranhão Filho, Luiz Maria Alves, Kerginaldo
Cavalcanti, Luiz Gonzaga dos Santos, Luiz Gonzaga de Souza, Hélio Vasconcelos,
dentre outros. O capitão Enio Lacerda, que ele considera o mais covarde e
perverso torturador que conheceu na cadeia, não é omitido no relato de
Ubirajara de Macedo que, segundo acrescenta, o tipógrafo Moisés Grilo, “de
tanto apanhar, morreu louco”.
*Luiz Gonzaga Cortez Gomes é
jornalista e escritor. Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN, do
Instituto Norteriograndese de Genealogia e da União Brasileira de Escritores-UBE/RN