Sou leitor de VICENTE SEREJO. Não sei se ele sabe e gosta de saber. Todos os dias, enfio o olho curioso nas linhas das suas notícias a procura de encontrar, por entre as ironias, um pouco da outra vida que certamente não escapa dos seus dedos, mas nem sempre cai no jornal.
Isso mesmo, com este pequeno plágio, entro no motivo destes comentários, que se espraiam em três momentos de percepção.
A uma, a alegria de ver ressurgir a beleza do cronista enaltecendo os maravilhosos momentos da nossa tão querida REDINHA e constatar que fomos, sem nos conhecer ainda, contemporâneos das lanchas de Luiz Romão, do barco de Ferrinho, da tapioca com ginga de Dona Dalila - lá no mercado; das figuras marcantes de Dante de Melo Lima, Dr. Túlio Fernandes e Antonio Soares Filho - o homem das duas luas.
Pois é, vivi grandes veraneios naquele paraíso, morando tanto na "Costa" como no "Maruim", perto de Seu Pitota e Seu Aldemário no tempo em que se ia a pé e pegava siri nos fundos da casa, onde o mangue adentrava na maré alta.
Fiz cantorias no alpendre do Dr. Túlio, assisti as "Cavalhadas" que ele organizava, dancei bambelô no mercado com a presença de Djalma Maranhão, frequentei o Redinha Clube, com as suas múltiplas frases pintadas sob a inspiração dos nossos "poetinhas", no melhor sentido.
Assisti a construção da igreja nova e vi a "Costa" perder as suas duas primeiras ruas - a primeira onde tinha casa Luiz Romão, que deu lugar para a segunda, de Seu Manoel Leopoldo e agora já está na terceira, como beira-mar. Onde está a "Croa", pequeno banco de areia que surgia na maré baixa e para lá convergiam os banhista para alguns minutos de lazer? Quase me afoguei ali em certo domingo!
Serenatas, passeios de bicicleta para o rio doce, especialmente aos domingos, para "brechar" alguns idílios amorosos descuidados, jogar pedras e voltar pedalando...
Amanhecer o dia ou no cair da tarde puxando as cordas das redes abarrotadas de peixes e logo ali negociados para o deleite do dia seguinte.
Soltar pipas, de todos os tamanhos e matizes, nas tardes "calientes" dos dias de verão.
Esses fatos somam a alegria e a saudade.
E por que a tristeza - não existe mais romantismo. A insegurança passou a dominar. Não somos mais donos de nada - o Redinha Clube nem sei se tem mais dono. Construções promíscuas e ocupação total do rio doce, encanto de antes, onde se tirava caju e se banhava com água mineral.
Os pescadores, com seus olhares experientes, vislumbravam os cardumes e caíam no mar, retornando com cestos e redes cheios.
Termino com uma frase de poema feito pelo meu saudoso irmão Fernando: ... "Redinha, de casa de palha e bangalô, onde não há escravo nem senhor - todos ali são iguais ... Redinha, volta de novo ao seu seio, para eu viver sem receio aqueles tempos imortais".