sábado, 17 de janeiro de 2015

CARTAS DE COTOVELO 08
(versão 2015)
Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Nas necessárias idas à Capital para honrar compromissos e reabastecer mantimentos no veraneio, infelizmente, somos atingidos pelos percalços e mazelas do cotidiano, através da atualização dos noticiários dos jornais.

            No retorno, podemos avaliar com mais calma alguns acontecimentos registrados por esses veículos de comunicação de massa e firmarmos uma idéia do que está se passando no País, no Estado e nas cidades.

            Verificamos que o início de 2015 se nos apresenta sombrio e tumultuado com indicativos de baixo grau de competência, a merecer cuidados, a teor da medição pelas entrevistas e declarações dos novos dirigentes que, à falta de uma política sólida de projetos e programas recuperadores da economia e da administração, encontram o caminho mais curto - a atemorização dos servidores, atitude pouco democrática já bastante conhecida.

            Tais pronunciamentos apressados provocam revolta e movimentos de rebeldia em contrário, contaminando também alguns Prefeitos que, igualmente, não se prepararam para as adversidades através de planejamento adequado. Tudo é feito de supetão, com demissões sumárias, gerando uma crise no poder aquisitivo com reflexos no consumo e, consequentemente na produção, fragilizando uma economia que já está rastejando o PIB em relação aos Países vizinhos e de além mar.

            Por outro ângulo, o Estado brasileiro penaliza a classe trabalhadora com a redução de algumas de suas conquistas históricas, sobretudo nos instantes em que a fatalidade atinge pessoas e as retiram da essência vivencial, deixando restrições na sobrevivência dos familiares.

            Anunciam-se o aumento da tarifa de energia elétrica, anuidades escolares, tudo em descompasso com a inflação e as perdas do poder aquisitivo, provocando incontornável estágio de inadimplência e caos, somando-se à escassez de água que vem afligindo todos os estados brasileiros.

            No Rio Grande do Norte parece que os marginais estão a desafiar o estado de direito, com aumento da violência, motivado pelo sucateamento da máquina de repressão e prevenção, que se ressente do recebimento de ganhos pactuados no governo anterior do que fica impedida de um reordenamento na política de segurança.

            Enfim, atente-se para a desfeita dos malfeitores em violar prédios públicos (Museu Café Filho e Palácio da Cultura), exatamente situados entre os organismos maiores da Administração estatal e do Município, no centro da cidade, os quais perderam objetos do seu patrimônio histórico, consoante reportagens recentemente publicadas.

            A população aguarda ansiosamente por atitudes eficientes, em todas as esferas, capazes de lhe restituir a confiança no futuro.


            Na verdade, 2015 não está tendo um bom começo!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

CARTAS DE COTOVELO 07
(versão 2015)
Carlos Roberto de Miranda Gomes
          Mais um janeiro triste, tanto quanto o foi aquele de 2012, com o falecimento do amigo Enélio Lima Petrovich. Agora encantou-se a estimada amiga e confreira ANA MARIA CASCUDO BARRETO, deixando de luto toda a sociedade potiguar e, particularmente, os seus companheiros de Academia e Institutos Culturais, dentre os quais o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Instituto Norte-Riograndense de Genealogia, União Brasileira de Escritores do RN, Academia Feminina de Letras, Academia de Letras Feminina de Letras e Artes de Mossoró  e o  Instituto Ludovicus, que tão zelosamente cuidava, dentre outros.
          Anna Maria era uma pessoa plural, exercendo as mais variadas atividades no campo jurídico, cultural e social durante toda a sua existência.
          Dificilmente faltava a uma reunião das entidades das quais participava, sempre mantendo íntegra a memória do seu extraordinário pai LUÍS DA CÂMARA CASCUDO e da sua mãe Dona DHÁLIA FREIRE CASCUDO, de origem macaibense.
          O velho casarão da antiga Av. Junqueira Aires, onde nasceu, que hoje tem o nome do seu pai, será sempre uma referência que lembrará a imortal escritora, jornalista, conferencista, folclorista, pesquisadora e Procuradora de Justiça.
                
 
 

          A pranteada amiga, ao longo de suas brilhantes atividades foi agraciada com incontáveis comendas de instituições de todo o País. Teve participação na fundação da Academia Feminina de Letras, da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte e ocupava a cadeira 13 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em que é Patrono Luís Fernandes e primeiro ocupante o seu pai e depois Oriano de Almeida.
          Certamente deixará uma lacuna no mundo intelectual, mercê do seu dinamismo e da presença permanente nas sessões, saraus e vida social desta terra de Poty.
          DEUS a receba na mansão Celestial, onde encontrará os seus ancestrais e amigos.
 

 



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

CARTAS DE COTOVELO 06
(versão 2015)
Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Embora um tanto magoado da vida e com menor capacidade para escrever as minhas Cartas, com algum esforço estou voltando ao estado de normalidade neste veraneio que já se aproxima do final.

Consegui fazer algumas leituras praianas, nas quais incluí amenidades como: ”Cais natalenses”, do poeta Lívio Oliveira; “Um Equívoco de Gênero e outros Contos”, de Nelson Patriota e “Rosinha dos Limões”, de Augusto (Guga) Coelho Leal. Contudo, não descurei de obras sobre histórias do nordeste e, particularmente, da terra potiguar, a saber:

1.    “A Sedição do Juazeiro”, de Rodolfo Teófilo, narrando a violência da política cearense no início do século XX, com o envolvimento de pessoas notabilizadas na região, como o Padre Cícero, Capitão José da Penha, Franco Rabelo e Floro Bartolomeu;

2.    “O Exército em face das Luctas Políticas”, do Major Josué Freire, editado em 1938, no qual narra a saga autoritária do Interventor Mário Câmara nos episódios do processo eleitoral de 1934, e a participação do 21º BC, antecedente à Insurreição Comunista de 1935.

 Este último cuida dos episódios acontecidos desde a chegada ao Estado do Major Josué, no início de ano eleitoral, onde já se deparou com a truculência policial iniciada com o empastelamento do jornal “A Razão”, do líder sindical Café Filho e, no mais, dificultar o processo de alistamento e o comparecimento às urnas para o pleito de 14 de outubro de 1934, dos eleitores do Partido Popular (de oposição).

O acirramento político teve uma vítima fatal, o assassinato do Engenheiro Octávio Lamartine de Faria em 1936, no Município de Acari, por uma volante policial comandada por um Tenente. Ele era filho do ex-Governador Juvenal Lamartine.

O inusitado do caso foi o conflito entre o Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Desembargador Antonio Soares de Araújo e os demais membros do referido Tribunal (Manoel Sinval Moreira Dias, José Theotonio Freire, Horácio Barreto de P. Cavalcanti, Sebastião Fernandes da Silva, Mathias Carlos de Araújo Maciel Filho e do Procurador Miguel Seabra Fagundes), quando, por conta da concessão de vários habeas corpus em favor de eleitores prejudicados e pedidos de garantia de vida por renomados próceres potiguares (Médico José Tavares, Deputado Federal Alberto Roselli, Dr. Bruno Pereira e o empresário João Severiano da Câmara, dentre outros), o Presidente por ofício datado do dia 2 de fevereiro de 1935 requisitou tropas federais para a garantia das eleições suplementares no mesmo mês nos municípios de São Gonçalo, Goianinha, Lajes, Caicó, Currais Novos, Pau dos Ferros, Ceará-Mirim, Baixa Verde, :Arêz, São Miguel, Touros, Jardim do Seridó, Martins, Flores, Assú, Acari, Mossoró e Luís Gomes, enquanto o Plenário do TRE aprovava decisão em contrário, sob a alegação da incompetência do Presidente para tal medida, somente possível pelo Tribunal. De qualquer forma, o fato conseguiu evitar nova truculência, haja vista que houve algum deslocamento de tropas, que permaneceram em estado de alerta e o pleito foi realizado sem maiores percalços, do que provocou a alteração do resultado das eleições de outubro de 1934, então favorável ao partido do Interventor (Aliança Social=PSD e PSN), para a vitória dos candidatos do Partido Popular após a apuração da eleição suplementar proclamada um ano depois, que conseguiu eleger o Governador da oposição Rafael Fernandes Gurjão. O clima, no entanto, continuou agitado, com movimentos da classe trabalhadora, que realizou greves até que em novembro ocorreu a “Intentona Comunista”, de curtíssima duração.


Estranhamente, em 1962 quase se repete o fato, com a controvérsia: o Tribunal solicitava reiteradamente a garantia de força federal, mas o TSE demorava a decidir baseado em informações do General Muricy, que por sua vez tinha a promessa do Governador Aluizio Alves de garantir o pleito, enquanto este mesmo Governador fazia proselitismo político acusando o TRE de não querer a força federal provocando a decisão do Colegiado de suspensão do pleito, quando então o TSE, tomando ciência da verdadeira história, apoiou o Tribunal Regional e as tropas se deslocaram em tempo, evitando qualquer tentativa de fraude nas eleições, que ocorreram sem qualquer problema.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

 CARTA PARA CARLOS COSTA FILHO

 - POR CARLOS COSTA.


CARTA PARA CARLOS COSTA FILHO
 (7 de janeiro de 2015)

 Meu querido e amado filho: 

 À noite, quando o vejo correndo atrás de uma bola com os colegas na quadra do Condomínio Mundi, recordo você correndo em seu velocípede com sua “Mia” indo rápido atrás para que não caísse ou correndo amarrado em fraudas na cintura, porque ainda não sabia caminhar direito: só engatinhava e já queria correr!.Meu filho, você era peralta quando começou a engatinhar, mas ficava quetinho em seu berço! Mais tarde, dirigindo seu jeep elétrico no Condomínio Florença Residencial Park, dando carona às duas filhas do advogado Francisco Cloacy, o “Chicão”, um boêmio com o qual eu convivia nas tardes sonoras na área de lazer ouvindo os boleros do senhor Claudionor Santos, com seus excepcionais CDs. Ah, meu filho, como você cresceu! Está mais alto que eu, mas a vida lhe continuará ensinando. Como o tempo voou e eu e sua mãe voamos junto até que, aos 46 anos, sofri um empiema cerebral foi operado pela primeira vez. Fiquei infectado por bactérias hospitalares e fui saindo devagar de sua vida. Também lembro das vezes que Miraceli Ferreira, passava álcool em seu rosto de pele frágil para não deixá-lo empolado com o toque de minha barba ao beijá-lo. É, como o tempo passa e é cruel, mas é a melhor escola que você terá em sua vida. Eu e sua mãe envelhecemos os seus 17 anos e você está começando a viver e não sabemos se teremos tempo para ver você enfrentando a vida com altivez, terminando sua faculdade e desenvolvendo sua atividade profissional, seja lá qual for, com determinação, honra e caráter. Ontem, você era apenas uma criança. Hoje, completa 17 anos e quantas coisas você viveu, sem saber ou lembrar que vivera! Quantas lembranças boas da infância nos deixou, sem saber que as deixava. Gostava de andar de ônibus com a sua “Mia”, a mãe 2, indo nos consultórios médicos, em suas consultas. Quando o beijava, Se eu a beijasse ao chegar do trabalho, você ria muito, mas a “Mia” não gostava que lhe beijasse no rosto rosado e rechonchudo. Lá vinha ela passando álcool para que você não ficasse empolado com contato de minha barba negra com seu rosto ainda de pele frágil e muito sensível. Quantas lembranças agradáveis e esquecidas em sua mente infantil você nos deixou. Ontem, lhe dava mamadeira no colo, colocava no berço e lhe fazia dormir assistindo o Teletubes. Quando despejava o resto de seus alimentos ou sua urina na fralda descartável, gritava e chamava “Mia, tá cocô” “acho tá xixi”, se escorando na parede da casa ou, ainda, quando levava o dedinho rumo à tomada, olhando para babá, dizendo “não pode, né, Mia, né que nenê não pode colocar o dedo aqui porque dá choque?”, Você nunca levou um choque, meu filho! E hoje usa seus dedos longos para jogar vólei! Dormindo, você caiu do berço, quebrou a clavícula e voltou a dormir calmamente. No dia seguinte, a Miraceli Ferreira, percebeu que você chorava e perguntou: “O que aconteceu com o Carlos Filho? O levamos em urgência para a Unimed, mas não quiseram lhe atender porque, no desespero e pressa em socorrê-lo, esquecemos sua carteira e exigi o direito de atendimento de urgência a qualquer paciente e lhe engessaram todo! Miracele lhe passava uma escova para coçar suas costas. A agilidade com que você usa seu aparelho celular é a certeza que temos que você nunca o colocou na tomada. É...Carlos Filho e por isso os usa, hoje, tão rápido vólei que joga e nos esportes que pratica. O tempo passou rápido demais, mas recordo quando você ouvia músicas ou programas infantis em seu berço. Depois aprendeu a colocar a sua fita predileta no videocassete, sozinho mesmo sem saber ler. Quando ainda no ventre de sua mãe, você chutava muito, e eu, acariciando a pele que lhe encobria, cantava a música “....era um garoto que como eu, amava os Beatles e os Rolings Stones...” e você passou a cantá-la quando começou a falar. Era sua música predileta! Eu e você, assistimos muitas vitórias do piloto Airton Senna, pela TV e passou a gostar de Fórmula 1, mas nada entendeu porque o Brasil chorou sua morte! A Yara Queiroz, o transportou no ventre para todos os lugares que se dirigia: trabalho na ALE, faculdade, reuniões de estudos. No dia da formatura, você esteve presente e participou de toda a solenidade de colação de grau em Direito, em um calor infernal no Auditório do Centro de Comércio da Zona Franca de Manaus – Cecomiz, durante a crise de energia elétrica na cidade de Manaus. Você nasceu e, emocionado, pedi ao médico para filmar todo o parto até o horário em que ele fixou no relógio e parou porque teve que ajudar a equipe, porque você nasceu todo roxo, enlaçado no pescoço pelo seu cordão umbilical Eram 9:15 da noite do dia 07 de janeiro de 1998 e sua mãe, antes de lhe ver e sem poder falar, escreveu “Como ele é, é grande?” Eu respondi que era lindo, pesou mais de 3 quilos e nos fez feliz. Sua irmã, Isabella Queiroz, telefonou para saber se você já tinha nascido! Disse que já e que era fofo! Deixamos a casa do Campos Elíseos, em cujo quintal você corria feliz, e mudamos para um apartamento em 2000. Fui socorrido pelo engenheiro ambiental Luiz Cláudio, quando lhe pedi para esquentar sua mamadeira. Você cresceu uma parte no Florença, outra no Geneve, depois no Nau Capitania e está vivendo agora no Mundi, com muitos amigos. Não havia uma só pessoa que não lhe achasse fofinho e sua madrinha de batismo, Vera Queiroz, que foi a madrinha de casamento com seu esposo Carlos Coutinho, lhe chamava de “meu gordinho”. Sua "avô gordinha", como a chamava, Maria Luíza de Souza Queiroz, o consagrou ao “Divino Espírito Santo” e foi a primeira pessoa a vê-lo, quando sua mãe deixou a Maternidade da Unimed, na Constantino Nery. Depois, foi a sua “Mia”, que cuidou de você por 12 anos! Ah, meu filho, são tantas lembranças gostosas que você nos deixou e ainda nos deixa! No Maternal Floresta Encantada, em seu primeiro dia de aula, chorava muito sua mãe chorava também e dizia que ia lhe tirá-lo da alfabetização. Eu respondia que no início era assim mesmo, mas depois acostumaria. Fui lhe deixar no Maternal, tive que entrar na sala e fui saíndo aos poucos, enquanto brincava com seus coleguinhas. Você quando não me via, chorava. Eu voltava e você sorria, mas novamente chorava e eu aparecia e ria de novo.... E assim fui saindo para trabalhar. Nós aprendemos muito com você! Obrigado Carlos Costa Filho por existir em nossas vidas! Ficamos felizes porque você estava feliz com seus amigos, no dia do seu aniversário! Nós o ensinamos, mas a vida é que lhe ensinará completamente porque só o dia a dia é capaz de nos dar lições para a eternidade. Siga com fé em Deus e você será feliz, nosso filho amado, querido e esperado. 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015



 
CARTAS DE COTOVELO 05
(versão 2015)
Carlos Roberto de Miranda Gomes
 
            Pretendendo minimizar os percalços recentemente vividos, que os meus amigos bem sabem do que se trata, fui visitar o CTA – Clube de Tiro Atitude, que funciona em Pirangi sob a responsabilidade do meu amigo e ex-aluno Marcelo Porpino e lá, surpreendentemente, deparei-me com a proximidade da natureza em seu estado original.
O Clube fica numa vasta área, cercada por coqueiros, mangueiras de variadas espécies, um viveiro de peixes que é mantido ao lado do mangue inteiramente preservado e, através de uma ponte artesanal, sem violentar o ambiente, nos leva à grande e bela surpresa – o rio Pium, ainda não poluído, que permite passeios de barcos, com opção a ter acesso ao mar.
Nesse espaço funciona, com todas as cautelas necessárias, oito estandes para tiro ao alvo e lançamento de tiro ao prato, servindo para outras modalidades de tiro esportivo, mas, igualmente, apto a abrigar treinamento de forças policiais, inclusive com utilização de helicópteros.
As construções estão em andamento, pois já contempla uma boa cobertura com início da construção de sanitários e cozinha novos, além de um apoio provisório que vem atendendo aos usuários.
Nos estandes cobertos, arrisquei alguns tiros, relembrando os bons tempos em que servi ao Exército brasileiro, no 16º Regimento de Infantaria do Tirol, onde logrei a graduação de Cabo. Apesar da minha idade, tive um resultado positivo, acertando 80% dos alvos, o que, com algum treinamento mais poderei atingir os 100% de acertos. [não é gabola nadinha!], segundo o meu instrutor Carlos Rosso.
Aviso aos navegantes que o treinamento é somente para fins esportivos e para justificar a autorização de possuir arma de defesa pessoal.
Um aspecto, para mim bastante agradável, foi a presença da cadelinha “espoleta”, que foi salva de um ataque de guaxinim, graças ao desvelo da esposa de Marcelo e dele próprio.
Ao findar da manhã retornei ao meu recanto de Cotovelo, com o matulão cheio de mangas de variadas espécies, além de saborear azeitonas roxas, tiradas fresquinhas.
Foi uma manhã agradável, com gosto de “voltar de novo” e a vontade de ajudar o empreendimento de alguma forma, o que desafio o façam também outros companheiros ordeiros e, em particular, o meu amigo Cel. Ângelo Dantas, nosso novo Chefe da Polícia Militar do Estado.



 

 

Marcelo Alves
Marcelo Alves


As rivais


Agatha Christie (1890-1976), a mais popular autora de romances detetivescos de todos os tempos, sobre quem escrevi na semana passada, teve muito predecessores. Edgar Allan Poe (1809-1849), Émile Gaboriau (1832-1873) e William Wilkie Collins (1824-1889) são considerados os pioneiros da ficção policial/detetivesca que hoje conhecemos. Sobre o primeiro e o último, aliás, já tratei por aqui. Mais especificamente, na Inglaterra da virada do século XIX para o XX, Sherlock Holmes e o seu amigo Dr. John H. Watson, personagens da ficção de Arthur Conan Doyle (1859-1930), foram, segundo a crítica especializada, protótipos para Agatha Christie e o seu detetive Hercule Poirot (que tem no Capitão Hastings o seu Dr. Watson). Assim como o Father Brown de G. K. Chesterton (1874-1936), o detetive religioso “descendente” de Sherlock Holmes, com sua mente brilhante e suas idiossincrasias, certamente também foi fonte de inspiração para os “investigadores” da “Rainha do Crime”, tanto o já citado Poirot como a detetive amadora Miss Jane Marple.

Isso tudo, acredito, é do conhecimento de quase todos os amantes (literariamente falando, que fique claro) de Agatha Christie.

O que muitos não sabem, entretanto, é que a “Rainha do Crime” teve, na primeira metade do século XX na Inglaterra, na “Golden Age” dos romances detetivescos, pelo menos duas grandes “rivais”, Dorothy L. Sayers (1893-1957) e Margery Allingham (1904-1966), muito embora essa “rivalidade” não implicasse, como explica Martin Fido (em “The World of Agatha Christie: the Facts and Fiction behind the World's of the Greatest Crime Writer”, Editora SevenOaks, 2010), até pelo caráter das “ladies” envolvidas, uma competitividade ostensiva entre elas. Reverenciadas ainda hoje na Inglaterra (e, em muito menor escala, nos demais países da língua inglesa), Sayers e Allingham são aqui no Brasil, em regra, infelizmente, duas “ilustres” desconhecidas.

Nascida em Oxford, Dorothy L. Sayers, além de romances policiais, escreveu teatro e poesia. Foi tradutora (é celebre a sua tradução da Divina Comédia de Dante Alighieri), ensaísta e pensadora cristã. Mas Dorothy L. Sayers, sem dúvida, é hoje especialmente conhecida pelos seus romances e contos detetivescos, publicados entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, sobretudo aqueles protagonizados pelo aristocrata e detetive amador Lord Peter Wimsey. Lord Peter é uma figuraça. Abastado o suficiente para não “precisar trabalhar para sobreviver”, ele vive, quase feito um dândi, em Piccadilly, uma das regiões mais ricas da Capital do Reino Unido. Faz o tipo esportivo, gourmet e gozador. Às vezes de par com a ficcional romancista policial Harriet Vane, com quem se casa, ele desvenda crimes, ao que parece, por puro divertimento. Pelo que eu sei, foram nove romances protagonizados por Lord Peter (e mais dois volumes de contos), que formam uma excelente coleção, entre eles “Whose Body?” (o primeiro, de 1923), “Strong Poison” (1930) e, o que talvez sejam as obras-primas da autora, “Murder Must Advertise” (1933), “The Nine Tailors” (1934) e “Gaudy Night” (1935).

De uma família de escritores, Margery Allingham nasceu no bairro londrino de Ealing. Tanto seu pai (que também foi jornalista de profissão) como sua mãe foram ficcionistas de certo sucesso nos periódicos de então. Margery Allingham é uma típica representante da “Golden Age” dos romances policiais, especialmente lembrada pelos romances protagonizados pelo detetive Albert Campion, que aparece, pela primeira vez, no romance “The Crime at Black Dudley”, de 1929. O misterioso Campion, assim como Lord Peter Wimsey, pertence à alta sociedade (com sangue azul, talvez). Interessantemente, Margery Allingham, seguindo o passar do tempo na vida real, faz o seu detetive envelhecer e mudar de comportamento na sequência dos muitos títulos publicados. Por essa e outras razões (também podemos acompanhar o refinamento na obra de autora), afirma Russel James (em “Great British Fictional Detectives”, editora Remember When, 2008), embora seja constituída de obras autônomas, a coleção protagonizada por Albert Campion é melhor aproveitada se lida em sequência cronológica. De toda sorte, com a ajuda do já referido Russel James, alguns títulos “estrelados” pelo detetive de Margery Allingham podem ser destacados: “Look to the Lady” (1931), “Death of a Ghost” (1934), “Dancers in Mourning” (1935), “The Tiger in the Smoke” (1952, talvez a obra-prima da autora) e “The Beckoning Lady” (1955).

Bom, ao final fica a minha sugestão: que tal lermos as rivais Dorothy L. Sayers e Margery Allingham? E isso às claras, sem trairmos nem abandonarmos a minha “amiga” Agatha Christie.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London - KCL

Mestre em Direito pela PUC/SP

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

SER TÉCNICO, SER POLÍTICO OU SER HUMANO?

Públio José – jornalista 

(publiojose@gmail.com)                             

 
                                          Temos lido e ouvido muitas besteiras atualmente. Uma delas expõe ocupantes de cargos públicos a uma classificação entre técnicos e políticos. Por esse raciocínio, o agente público só pode ser ou uma coisa ou outra. Para mim, além de pobre, esse conceito é um desrespeito à capacidade intelectual dos homens públicos. Fico também perplexo como uma mera análise feita por certos “expert’s” a respeito do desempenho, da aptidão do homem público de administrar segundo um modo duro, retilíneo, científico ou maleável, flexível, termina como obra acabada, irrespondível. Cataloga-se um (o técnico), como insensível, capaz de cometer verdadeiras aberrações contra o social, enquanto o outro é bonachão, tem experiência no contato com o povo ou é irresponsável demais no gastar para atender os reclamos dos mais necessitados.
                                O primeiro administra seguindo uma rígida linha orçamentária, enquanto o segundo tem uma capacidade maior de improvisação, de “jogo de cintura” para cometer deslizes que justifiquem a defesa do social. Isso tudo é uma arrematada tolice. Aliás, no mundo político, tem coisas distorcidas colocadas como retas, assuntos discutíveis postos como incontestáveis – e grandes besteiras aceitas como fato consumado. Essa história de ocupante de cargo público ser técnico ou político é uma delas. Primeiramente, porque conhecemos muitos homens de grande conhecimento técnico se havendo muito bem como políticos, enquanto grandes políticos se transformaram em verdadeiras enciclopédias de conhecimentos técnicos, dignos, portanto, de causar inveja tanto a uns quanto a outros.
                                O interessante é ter de se assistir, diante dessa realidade de coisa imposta, o clamor, o brado, a exigência de boa parcela da mídia, de correligionários, de gente com interesses contrariados, pressionando o administrador público a fazer mudanças urgentes em sua equipe, “pois o ministério (ou o secretariado) está excessivamente técnico ou excessivamente político”. Desconhece-se, assim, a capacidade de adaptação desses profissionais, muitos deles experientes, lastreados, perfeitamente capacitados a exercer cargo público e a se amoldar a circunstâncias adversas. Dessa maneira, pessoas sérias, bem intencionadas são dadas como duronas, insensíveis, enquanto políticos com boa carga de conhecimentos são tidos como irresponsáveis a sangrar o orçamento público.
                                Na verdade existem outros interesses por trás disso tudo. E nesse afã, nessa ânsia de levar vantagem, pessoas são envolvidas e manipuladas para que, através da veiculação de conceitos enganosos, grupos e blocos políticos possam concretizar desejos às vezes escusos, que nem podem ser publicamente expostos. Quando um profissional é catalogado como técnico é porque maquinações outras querem expô-lo publicamente dessa forma, com o intuito de enfraquecê-lo e cuspi-lo do poder. Para que? Para abrir o cofre e promover ações lastreadas por verbas que, com toda certeza, vão beneficiar o bolso de alguém. Da mesma forma, quando se exige um técnico para um cargo, em detrimento de um político, é com o desejo de fechar a torneira que está forrando o bolso de um concorrente.
                                O que o povo quer? O que o povo deseja? Ponha-se isso na máquina de pesquisa, planejamento e execução do governo que a resposta será diferente. Entretanto, anos, décadas e séculos se passam e os nossos governantes estão sempre na contramão das aspirações do povo. O que se quer, na verdade, são pessoas que não se desgarrem do “modus operandi” das ruas, das fábricas, das casas mais humildes, dos bairros mais pobres, dos rincões mais distantes. Agentes públicos que não percam o contato com o pedido de socorro dos violentados, dos desempregados, dos desdentados, dos que não têm mais a quem apelar. Ficar apontando se este ou aquele é técnico ou político é uma questão de somenos importância, além de deixar o debate num plano muito superficial. Ser humano, ter sentimentos, sofrer, chorar, se contaminar, se contagiar com as dores dos mais humildes – eis a questão. Vamos mudar de conceito?     

domingo, 11 de janeiro de 2015

TUDO DE SOL E MAR

Resultado de imagem para sol e mar

Trama lento o sol
O horizonte explode em fogo
alheia asa em voo.

Por sobre o mar verde
oculta nuvem abriga
a ave em sua rede.

Canção vespertina
o sol escapole em frestas
balaustrada e pontes.

Moedas de ouro
o olho do sol espelham
no mar se derramam.

O poço no mar
metia medo em meninos
canto de iemanjá.

Tempo que se abre
em meio a sortes e mares
jangadeiro canta.

Vento lateral
vindo das dunas e mares
a brisa praiana.

LÍVIO OLIVEIRA
'Cais natalenses: 101 haicais'
8 Editora, 2014