SER TÉCNICO, SER POLÍTICO OU SER HUMANO?
Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Temos lido e ouvido muitas besteiras atualmente. Uma delas expõe ocupantes de cargos públicos a uma classificação entre técnicos e políticos.
Por esse raciocínio, o agente público só pode ser ou uma coisa ou
outra. Para mim, além de pobre, esse conceito é um desrespeito à
capacidade intelectual dos homens públicos. Fico também perplexo como
uma mera análise feita por certos “expert’s” a respeito do desempenho,
da aptidão do homem público de administrar segundo um modo duro,
retilíneo, científico ou maleável, flexível, termina como obra acabada,
irrespondível. Cataloga-se um (o técnico), como insensível, capaz de
cometer verdadeiras aberrações contra o social, enquanto o outro é
bonachão, tem experiência no contato com o povo ou é irresponsável
demais no gastar para atender os reclamos dos mais necessitados.
O primeiro administra seguindo uma rígida linha orçamentária,
enquanto o segundo tem uma capacidade maior de improvisação, de “jogo de
cintura” para cometer deslizes que justifiquem a defesa do social. Isso
tudo é uma arrematada tolice. Aliás, no mundo político, tem coisas
distorcidas colocadas como retas, assuntos discutíveis postos como
incontestáveis – e grandes besteiras aceitas como fato consumado. Essa
história de ocupante de cargo público ser técnico ou político é uma
delas. Primeiramente, porque conhecemos muitos homens de grande
conhecimento técnico se havendo muito bem como políticos, enquanto
grandes políticos se transformaram em verdadeiras enciclopédias de
conhecimentos técnicos, dignos, portanto, de causar inveja tanto a uns
quanto a outros.
O interessante é ter de se assistir, diante dessa realidade de
coisa imposta, o clamor, o brado, a exigência de boa parcela da mídia,
de correligionários, de gente com interesses contrariados, pressionando o
administrador público a fazer mudanças urgentes em sua equipe, “pois o
ministério (ou o secretariado) está excessivamente técnico ou
excessivamente político”. Desconhece-se, assim, a capacidade de
adaptação desses profissionais, muitos deles experientes, lastreados,
perfeitamente capacitados a exercer cargo público e a se amoldar a
circunstâncias adversas. Dessa maneira, pessoas sérias, bem
intencionadas são dadas como duronas, insensíveis, enquanto políticos
com boa carga de conhecimentos são tidos como irresponsáveis a sangrar o
orçamento público.
Na verdade existem outros interesses por trás disso tudo. E
nesse afã, nessa ânsia de levar vantagem, pessoas são envolvidas e
manipuladas para que, através da veiculação de conceitos enganosos,
grupos e blocos políticos possam concretizar desejos às vezes escusos,
que nem podem ser publicamente expostos. Quando um profissional é
catalogado como técnico é porque maquinações outras querem expô-lo
publicamente dessa forma, com o intuito de enfraquecê-lo e cuspi-lo do
poder. Para que? Para abrir o cofre e promover ações lastreadas por
verbas que, com toda certeza, vão beneficiar o bolso de alguém. Da mesma
forma, quando se exige um técnico para um cargo, em detrimento de um
político, é com o desejo de fechar a torneira que está forrando o bolso
de um concorrente.
O que o povo quer? O que o povo deseja? Ponha-se isso na
máquina de pesquisa, planejamento e execução do governo que a resposta
será diferente. Entretanto, anos, décadas e séculos se passam e os
nossos governantes estão sempre na contramão das aspirações do povo. O
que se quer, na verdade, são pessoas que não se desgarrem do “modus
operandi” das ruas, das fábricas, das casas mais humildes, dos bairros
mais pobres, dos rincões mais distantes. Agentes públicos que não percam
o contato com o pedido de socorro dos violentados, dos desempregados,
dos desdentados, dos que não têm mais a quem apelar. Ficar apontando se
este ou aquele é técnico ou político é uma questão de somenos
importância, além de deixar o debate num plano muito superficial. Ser
humano, ter sentimentos, sofrer, chorar, se contaminar, se contagiar com
as dores dos mais humildes – eis a questão. Vamos mudar de
conceito?
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