sábado, 25 de junho de 2011
VITRINE SEDE DO BANQUETE DA FIFA
Ilustração: maquete eletrônica vendida a Natal como a redenção da cidade - 3,6 mi jogados fora
O jabuti da Copa
Woden Madruga
Tribuna do Norte, 23 de junho de 2011
A Copa do Mundo está em todas as conversas, em todas as bocas, até porque há bocas poderosas, pantagruélicas, no pedaço. Natal faz parte desta história. Olho grande aliado ao orgulho da cidade ser uma das sedes do banquete da Fifa. "Natal vai ganhar visibilidade na vitrine do mundo", disse um desses filósofos municipais com o peito estufado e a cabeça vazia. Há muita coisa acontecendo nos bastidores e na penumbra das camarinhas. Entreouvir segredinhos revelados nos tais restaurantes metidos a besta já é coisa natural que não arrepia mais o maravilhoso mundo dos negócios e suas veredas pela vida mundana. Natal está no mapa, gente! Vai ter estádio novo, projeto com sotaque grego, obra beirando 1 bilhão de reais, já iniciada - dizem os jornais - com a retirada da grama do Machadão, estádio "velho" e abandonado. Depois da Copa, dizem os ufanistas, Natal será um Principado do Mônaco à beira do Potengi. Quem sabe se um dia não teremos por estas ladeiras uma das etapas da Fórmula 1? Ou uma Grace Kelly cubando o mar dos altos de Petrópolis?
Aqui e acolá você pode se surpreender com a notícia negativa de que Natal ficará fora da Copa. E, então, faça figa. Romário, por exemplo, falou que haverá a Copa, mas as obras não serão concluídas. Disse ainda que somente Jesus, o Nazareno, pode garantir que o Brasil faça uma Copa séria, uma Copa perfeita. Por falar no Nazareno, li, ontem, uma notícia que me deixou preocupado. O dinheiro prometido pelo governo para a conclusão das obras no Nazarenão ainda não foi liberado. O Nazarenão é o Estádio José Nazareno, de Goianinha. É lá que o América, de Natal, sem estádio, escolheu para treinar o seu time que irá disputar a Série C do Brasileiro. O Nazarenão poderá ser, quem sabe, um dos locais de treino para as seleções que virão à Copa. Goianinha ganharia sua visibilidade. Porreta!
Na lista dessas notícias tidas como ruins tem esta outra que li na coluna do Ancelmo Gois, de O Globo: "A Fifa decidiu ontem não mais anunciar dia 30 os nomes dos estádios que vão receber o jogo de abertura e a final da Copa de 2014. Deixou a decisão para setembro ou outubro". Some-se isso a manobra do Palácio do Planalto que mandou projeto para o Congresso determinando sigilo nos orçamentos sobre as obras para a Copa e a Olímpiada. Se muita gente ficou lambendo os beiços, outras tantas ficaram com a pulga atrás da orelha, diante das declarações do senador José Sarney, presidente do Senado: o projeto não passará no Senado. A propósito, recomendo a leitura do artigo de Dora Kramer, do Estadão de ontem, com o título "Jabuti maroto". Transcrevo algumas passagens:
- A presidente Dilma Rousseff tem dois caminhos a seguir, assim que a Medida Provisória 527 (é a que institui o sigilo, por sinal já aprovado na Câmara) seguir para o Senado. Pode recuar da ideia de instituir o sigilo sobre os orçamentos das obras para a Copa e a Olímpiada ou caminhar para uma derrota certa e talvez mais acachapante que a imposta pela Câmara no Código Floresta.
- A julgar pela manifestação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), contrária à peculiar fórmula proposta pelo Palácio do Planalto, é possível nessa altura que o recuo já esteja nos planos do governo. Afinal, Sarney não é dado a independências nem a confrontos. Mas, se não é jogo combinado, é um aviso de quem amigo é. A declaração não deixa margem a dúvidas: o presidente do Senado diz que o Regimento Diferenciado de Contratações não passa pela Casa com dispositivo de segredo."
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OS ESCÂNDA-LOS JÁ ESTÃO APARECENDO.... 1
REPASSANDO E COMENTANDO
Aqui na terra de Poti mais trouxa, é um pouco pior, comparando:
1- O Governo do Rio de Janeiro pagou pelos projetos executivos da reforma do Maracanã (reforma ou demolição ?) R$8,7 milhões, o quis ainda não foram aprovados, ou sequer sairam do papel( mas a destruição continúa em ritmo acelerado) para um custo final da obra avaliado em R$931 milhões, enquanto aqui, para a Arena das Dunas, com apenas metade do tamanho do Maracanã, segundo serviçais do governo, teriam contratado a empresa norteamericana HOC SVE, por importância desconhecida, depois passaram para as empresas PRICEWATERHOUSECOOPERS Contadores Públicos Ltda., e COUTINHO,DIEGUES, CORDEIRO ARQUITETOS, para, respectivamente, serviços de estudo de viabilidade econômica, e estudos preliminares de arquitetura e urbanização, até hoje, sem resultados conhecidos quanto à viabilidade econômica, e uma maquete eletrônica, a título de estudos arquitetônicos, tendo custado, segundo informações do então Secretário de Turismo do Estado, a importância de R$3,6 milhões.
Diz o CREA/RN que, posteriormente, em meados de 2009, foi registrada uma ART de co-autoria de um arquiteto local, sem que se saiba o que fez, nem quanto cobrou. Mais adiante,já em maio de 2010, foi contratada a empresa POPULOUS ARQUITETURA LTDA, para elaboração do Projeto Básico, Projeto Executivo e administração de obras, tudo pela bagatela de R$14.855,450,00 (quatorze milhões, oitocentos e cinquenta e cinco mil, e quebrados), e ainda, contratando também a STADIA PROJETOS CONSULTORIA E ENGENHARIA LTDA por R$ 12,67 milhões, para, PASMEM, para os mesmos serviços já contratados anteriormente, ou seja, desenvolvimento dos projetos complementares, básicos e executivos e Gerenciamento Total do Projeto, toda essa esbórnia com INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO e somando a astronomica e escandalosa importancia de R$31.125.450,00, só de projetos e consultorias, sem contar com a recente "suspeitissima licitação", em principio deserta, e posteriormente com uma única empresa "vencedora" apesar da inscrição de vinte e tantas pretendentes. Assim, pode-se dizer que o RN está esbanjando dinheiro, pois está gastando 258% a mais do que o Rio de Janeiro em projetos e consultorias, e o custo da obra local deverá ficar cerca de 40% a mais do que o principal estádio do Brasil muito maior do que o nosso.
O mais vergonhoso é que o contrato de Concessão Administrativa nº 001/2011, assinado pelo Engº Demetrio Paulo Torres, Diretor Geral-DER/RN, publicado em 18 de abril de 2011, estabelece o valor
ESTIMADO (isso mesmo, VALOR ESTIMADO) de R$400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais), quando ele proprio declara que ao fim dos 20 anos da concessão, o estado terá pago R$ 1,28 bilhões.
Assim, fica claro que há menos de um mês do início da destruição do patrimônio público, ainda não há projeto executivo, por conseguinte, não há orçamento, não há EIA/RIMA, não há notícia do financiamento,enfim, não há garantia de nada, a não ser a palavra do poderoso chefão da bola, e Natal ainda pode ser vitima de tremendo calote.
Por fim, concordando com Eça de Queiroz, acrescentaria que, ao trocá-los, devemos mandá-los para os paraísos fiscais com suas cuecas recheadas, para que lá fiquem para sempre. Amém.
“Os políticos, como as fraldas, devem ser trocados constantemente e pela mesma razão”. Eça de Queiroz
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Colaboração de José Carlos Leite Filho
sexta-feira, 24 de junho de 2011
(recente reunião na UBE/RN)
sexta-feira, 24 de junho de 2011 (Há 7 dias partia Bartola)
Hoje tem Missa em sufrágio de sua alma, pelas 18 horas, na Igreja N.S.do Líbano - Natal
TRIBUTO AO AMIGO BARTOLOMEU CORREIA DE MELO
Homenagem prestada pelo amigo Ormuz Barbalho Simonetti
Nos últimos dias tenho lido e ouvido muitas histórias sobre o escritor, o pai de família, o poeta, o contista, o professor, o lutador obstinado, enfim o meu amigo Bartolomeu Carreia de Melo, o meu amigo Bartola. Por minha vez, quero deixar registrado apenas a história de nossa amizade, que teve seu começo num dia de carnaval.
Corria o ano de 1962 e ao entardecer do dia 7 de março, a Av. Deodoro se enchia de alegria. Apinhada de foliões, vestidos de rei, piratas ou de jardineira. Desfilavam, também, os tradicionais pierrôs, colombinas e arlequins, além dos conhecidos papangus, cobertos com trapos coloridos. Esses personagens perambulavam pelas ruas de então, num frenético vai e vem, alegrando e divertindo os espectadores que tomavam as calçadas ao longo de toda a avenida. Grandes máscaras com motivo carnavalesco pendiam presas aos postes de ferro que iluminavam a cidade daquela época, enfeitando o corredor da folia. Os pés de ficus benjamim, iluminados com lâmpadas coloridas e cobertos por serpentinas de todas as cores, davam uma visão lúdica aquele ambiente que se preparava para mais uma noite de folia.
Foi nesse ocasião que voltei minha atenção para um dos foliões que por ali passava. Aquela figura me chamou a atenção “pelo conjunto da obra”. Alto, magro, óculos fundo de garrafa, calças faroeste e camisa bem colorida, típica da ocasião. Com passos miúdos e arrastados, acompanhava no andar, a cadência que vinha das troças e bandinhas de frevo que passavam na ocasião. Usava um chapéu de abas curtas e no canto da boca pendia um cachimbo à moda Sherlock Holmes, de onde retirava, a todo instante, grandes baforadas de fumaça que enchiam o ar com o cheiro característico do fumo Bulldog, coisa muito chique para os padrões da época. Aquela figura era o amigo Bartola, que misturado a multidão acompanhava as inúmeras “troças” que enchiam a avenida. Não sei por que, mas nunca me esqueci daquela cena. Aquele dia ficou gravado para sempre em minha memória. Certa vez tive oportunidade de lhe falar sobre esse dia e demos boas risadas. Ele, naturalmente, não se lembrou da ocasião.
Daí por diante, passei a encontrá-lo com mais freqüência. Naquela época, nossa aldeia ainda muito pequena, as pessoas tinham mais facilidade de se conhecerem. Mesmo que não se cumprimentassem, sabiam de quem se tratava. Não obstante ser ele um conhecido professor, profissão que amou durante toda sua existência, logo fizemos os primeiros contatos. Por ser cinco anos mais velho que eu, via-o com certa reserva, pois quando se é jovem, esses anos significam uma considerável distância, principalmente no trato intelectual. Com o passar dos anos, essa diferença tende e se extinguir. Daí por diante passamos a nos encontrar pelas ruas da cidade, bares, sorveterias, cinemas e outros pontos, para onde convergiam os jovens daquela época.
Após sua formatura na UFRN, mudou-se para São Paulo onde fez mestrado em química, disciplina que elegeu para sua carreira profissional, só retornando a Natal, alguns anos depois. Como um abnegado e apaixonado pelo que fazia, passou anos a fio repassando seus conhecimentos a várias gerações de estudantes em nossa cidade. É difícil encontrar um colegial daquela época que não tenha tido o privilégio de um dia ter sido aluno do professor Bartola.
Na década de 80, voltamos a nos encontrar. Dessa vez, em virtude da amizade do casal Bartola eVerônica, com minha cunhada Glicia Galvão Damasceno, que também fazia parte do departamento de Química da UFRN. Desde esse dia, cresceu e se afirmou entre nós, o mais puro sentimento de amizade fraternal. Tive oportunidade de passar momentos em agradáveis conversas, onde a tônica era o humor. Nunca conseguimos conversas por mais de meia hora sem que surgisse uma piada ou uma história pitoresca que tivesse acontecido com alguém.
Na praia da Pipa, onde nos visitou por muitas vezes, passávamos horas escutando suas piadas. Quando se tratava dessa arte, era imbatível. Tinha na ponta da língua, uma anedota para cada situação que alguém abordasse. Se não as tinha, criava na hora, pois sendo inteligente e espirituoso, nunca perdia a oportunidade de dar boas risadas.
Certa vez, me deslocava pela Rua João Pessoa e ao passar na calçada do Centro Cearense, vi que Bartola caminhava bem à minha frente. Com passos largos e braços em franco movimento como se quisesse voar, andava com a cadência de um dobrado militar. Na sua frente, nessa mesma passada, também caminhava uma jovem senhora de quadris avantajado que balançava feito um pudim, ao sabor de suas firmes e elegantes passadas. Vendo aquela cena, não resisti. Apressei o passo e perguntei: “Bartola, prá onde você está indo??” E ele com aquele sorriso maroto respondeu de chofre: “eu vou aqui no vácuo dessa jamanta, até onde, não sei!”. Dito isso foi uma risada só, tanto dele como a minha e dos passantes que ouviram o diálogo entre nós. Assim era ele, espirituoso ao extremo e sempre pronto a provocar risos com suas tiradas maravilhosas.
De outra feita, quando ele estava internado na UTI do Hospital do Coração, onde convalescia de mais uma de suas constantes crises respiratória, tivemos o seguinte diálogo. Ao me aproximar do seu leito, ele olhou pra mim e com visível dificuldade na voz perguntou: Ormuz, você pensa quando vai respirar? Eu ainda surpreso pela pergunta respondi: Não! Ninguém pensa! Então ele me disse: pois eu penso. A todo instante eu penso se vou conseguir respirar mais uma vez. Foi aí que me dei conta de sua pergunta e entendi o sofrimento pelo qual ele estava passando.
Vendo meu constrangimento, deu mais uma prova de sua grandeza e de humor apurado, virtudes que manteve até o fim de seus dias, e relatou um acontecimento hilário.
Contou-me que no dia anterior, a enfermeira cumprindo sua rotina de trabalho, chegou para medir sua pressão. E manteve o seguinte diálogo. - Bom dia seu Bartolomeu!. - Bom dia, essa menina. - O senhor dormiu bem? - Assim, assim! Após os movimentos característicos do tensiômetro, a moçinha, olha pra mim com ar de preocupação, e disse: seu Bartolomeu sua pressão esta muito alta!! E ele pra não perder a oportunidade, saiu-se com essa: também essa menina! Você fica o tempo todo alisando meu braço, e ainda não quer ela suba? Talvez esse diálogo na realidade nunca tenha acontecido, mas foi a maneira gentil que encontrou de me deixar mais à vontade e tornar mais alegre aquele ambiente de sofrimento.
Recentemente quando fundamos a ACLA – Academia Cearamirinense de Letras e Artes, fui convidá-lo para participar da Instituição, pois dela faziam parte grandes amigos de sua época de adolescente em Ceará-Mirim, todos ligados a arte e a literatura. Esses amigos se propunham a iniciar um grande movimento em prol da cultura daquela cidade. Novamente ele fez uso de seu humor, dizendo: “Ormuz, eu estou muito mais para patrono”- risos.
Era imbatível, mesmo nas piores situações que enfrentou durante todos os anos que lutou contra a doença devastadora que aos poucos lhe tirava as forças, mas não conseguia lhe tirar o humor, nem a vontade de viver. Sempre esteve pronto a transformar a dor e o sofrimento em esperança e alegria. Nesses últimos anos que lutou bravamente contra sua enfermidade, nunca vi em seus olhos o menor sinal de medo ou desespero. Pelo contrário, sempre o encontrei com um semblante sereno e pronto pra dar uma gostosa risada ao menor sinal de uma boa piada.
Por natureza, sempre foi um vencedor. Amigo de todas as horas nunca se furtou a ajudar aos que lhe procuravam. Quando me iniciei na literatura, já cinqüentão, como foi o seu caso, encontrei nele a força necessária de um grande colaborador sempre disposto a me ajudar, orientando-me para melhorar, cada vez mais, aquilo que me propunha escrever.
Quase que diariamente nos falávamos por telefone e com freqüência eu lhe visitava em sua casa. Durante esse período, jamais deixou transparecer qualquer sentimento de revolta em virtude de sua precária saúde ou o mais tênue sinal de medo do que estava por vir, pois sendo católico fervoroso sabia que o amanhã pertence ao Criador.
Perdi um grande amigo, e o país perdeu um excelente contista que fez história, pois conseguiu recuperar para sempre, grafada em suas obras, como: Lugar de Estórias, e Estórias Quase Cruas, com linguagem característica do caboclo do nordeste do Brasil, principalmente da regido canavieira do século passado.
Todos sabem que sua ausência será muito sentida. Entretanto, ficam presentes as boas lembranças guardadas no lado esquerdo do peito, como diz a canção.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Nem o Senhor Jesus aguentaria ser um professor nos dias de hoje.....
O Sermão da montanha (*versão para educadores*)
Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado
sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se
aproximassem.
Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a
lição da Boa Nova a todos os homens.
Tomando a palavra, disse-lhes:
- Em verdade, em verdade vos digo:
- Felizes os pobres de espírito, porque deles será o reino dos céus.
- Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
- Felizes os misericordiosos, porque eles...?
Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?
André perguntou:
- É pra copiar?
Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!
Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?
João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?
Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?
Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!
Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?
Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.
Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem
ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus,
dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula?
- Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica?
- Quais são os objetivos gerais e específicos?
- Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades
integradoras com outras disciplinas?
- E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais?
- Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e
reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus
discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino
de qualidade.
- Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a
eficácia do nosso projeto.
- E vê lá se não vai reprovar alguém!
E, foi nesse momento que Jesus disse: "Senhor, por que me abandonastes
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Colaboração de Ciro Tavares
quarta-feira, 22 de junho de 2011
BARTOLOMEU CORREIA DE MELO Por Eduardo Gosson (1)
Bartolomeu habitou entre nós por 66 anos e fez-se Verbo: a sua palavra era tiro certeiro a criar belezas espirituais. Conheci-o na maturidade, ganhador de diversos prêmios literários. Soube que era formado na antiga Faculdade de Farmácia. Foi contemporâneo do meu tio, Francisco Gosson, que posteriormente veio a ser professor na mesma. Enveredou longo tempo pelo conhecimento científico, sendo professor de Quimíca. Mas a menina dos seus olhos era a Literatura. E que era irmão do poeta Paulo de Tarso. E que teve uma Verônica por toda a vida a enxugar-lhe as lágrimas.
Contudo, o que mais me chamou atenção em Bartola era a perfeita harmonia entre criador e criatura. Geralmente, na seara literária, a criatura é terrível: grandes escritores, cidadãos nota zero. Bartola, não. Desde a reorganização da União Brasileira de Escritores-UBE/RN, em 2006, que Bartola vinha colaborando ativamente: dos III Encontros de Escritores participou de dois, atuou em comissões, colaborava com o site da entidade, abastecendo-o com matérias; apoiou Campanhas desenvolvidas pela UBE/RN, como a que foi lançada no final do ano passado “Campanha de Valorização do Autor Potiguar”. Veja a Carta que Bartola escreveu para Públio José, idealizador da campanha:
“Natal, 2011 / janeiro, 14.
Prezado Públio José:
Não sei se bem lembra, mas fomos apresentados quando do lançamento da
meritória campanha de divulgação natalina do livro, por você gestada e
gerenciada. Eu sou aquele velhote alto, magro mas barrigudo, portador
de óculos e bengala. Aliás, dentro da minha memória já também
claudicante, restou aquela vaga impressão de conhecê-lo de algum
passado lugar.
Parabéns pela iniciativa. Infelizmente, não posso congratular-me pelo
pleno sucesso da mesma. Afinal, ainda não recebi retorno algum quanto
aos resultados dessa campanha. Não falemos dos poucos leitores, mas
dos muitos escritores potiguares.
Sou um velho inválido, em processo de desincompatibilização com as
alegrias da vida, mas não amargo por isso. Sou consciente que, pelo
menos em teoria, diante das grandes verdades, calam as pequenas
hipocrisias. Portanto, assim não lhe escrevendo por rabugice, lhe
direi que por antiga e amarelecida esperança.
Sinceramente, aquela bem conformada mas - digo eu - inócua solenidade
de abertura jogou água fria nas minhas expectativas. Ali esperava uma
pauta menos formal e mais pragmática e detalhista, na qual fossem
dissecados problemas e entraves para, devidamente debatidas as
estratégias, pela troca de vivências entre escritores, livreiros,
editores, jornalistas e publicitários, fossem otimizadas e terminadas
as linhas de ação previamente elencadas pelos idealizadores da
campanha. Mas constatei que, com minhas dificuldades de limitação
física, comparecera para apenas escutar falas, nem todas objetivas e
adequadas ao evento, apesar da representatividade dos oradores. Com
boca de escritor ou marqueteiro, nenhum, mais explícitamente, se
pronunciou.
Ora, a realidade da literatura da nossa província (que parece ainda
pousada nos nostálgicos louros de Cascudo) foi bem tangenciada pelo
seu oportuno escrito. Mas existem ainda alguns aspectos que gostaria
de lhe detalhar ou mesmo provocar. Como não sou publicitário, advirto
que muita coisa será dita de modo confuso ou mesmo inoportuno. Até lhe
pediria generosidade no julgamento e paciência na garimpagem de alguma
idéia aproveitável em meio aos malrascunhos que lhe apresento.
Quem efetiva a divulgação e a distribuição de qualquer literatura é a
comercialização, que é diretamente proporcional à qualidade real ou
aparente daquilo vendido. Ora, depois que apareceu computador, todo
mundo virou escritor, inclusive este que isto lhe escreve. Além do
que, com o barateamento dos produtos e serviços gráficos ficou
bastante acessível editar livros às próprias custas. Se antes, no
tempo do patrocínio por órgãos públicos, bastava ter um amigo no lugar
certo, agora, basta poder bancar a impressão da ?obra?. Nisso, o
principal filtro de qualidade, o julgamento da ventabilidade, feito
pelo interesse comercial da editora, deixa de existir. Convenha que,
se antes havia um dois ou três lançamentos mensais, agora, são oito ou
dez semanais. Como você infere, os amigos que arquem com os custos a
baixa qualidade... Na primeira conclusão, o escritor paroquial pouco
vende porque, na maior parte dos mesmos, pouca é a qualidade oferecida,
ou mesmo imposta, aos parcos leitores.
Se bem que havemos, a duras penas, escapado daquela realidade
provinciana, onde apenas um restrito grupo de intelectuais (geralmente
poetas beletristas) escrevia, com pequeninas tiragens. O primeiro
publicava, o segundo elogiava, o terceiro criticava... E então vinha o
rodízio: o segundo publicava o terceiro elogiava o primeiro
criticava... Técnico ou cientista era visto como curioso ou maluco,
nunca como intelectual. No máximo escrevia apostilinhas ou, mais
recentemente depois, adaptava e imprimia teses acadêmicas, nem sempre
palatáveis ou digeríveis. Enfim, uma confraria de egos que se
retroalimentavam, isolados em academias. Apesar disso - basta
verificar quantos restaram realmente imortais e conhecidos além
fronteiras potiguares - havia um percentual de aproveitamento bem mais
significativo.
Na segunda conclusão, muitos são os impressos, pouquíssimos os
escolhidos. Há que se divulgar os bons escritores, resgatando-os do
oceano de mediocridade. Quem compraria uma carrada de frutas na qual
nove décimos são bichadas? Um elementar critério de qualidade
indiretamente levantado por você, seria baseado na questão: Tal
escritor natalense tem nome lembrado em Recife, Fortaleza ou, pelo
menos, em Caicó ou Mossoró? A quantas reedições chegaram seus livros?
Para um incremento de consumo, surge a necessidade da figura do agente
literário. Aquele profissional que caça talentos e os empresaria, como
se faz com artistas e esportistas, agenciando-lhes pelo menos um
contrato com uma editora propriamente dita (aquela que compra ou aluga
os direitos autorais). Enquanto a produção, divulgação e
comercialização não saírem do amadorismo, não existirá literatura bem
vendida, isto é, lucrativa.
Escritor de verdade não é pra sair de livraria em livraria, tentando
colocar seus livros nem implorando que órgãos culturais os adquiram
para bibliotecas descartáveis. Estando no Brasil, não iria enriquecer
com literatura, mas teria o suporte da sua editora para publicar,
lançar, divulgar, distribuir e vender; ao mesmo apenas restando
receber direitos autorais e escrever novos livros. Mas para atingir
essa condição necessita antes de tudo competência. Do agente, do
editor, do livreiro e, principalmente, do escritor. A qualidade desse
conjunto será aferida pelo número de edições comercializadas.
E aqui vai a última conclusão: Se, até então, apenas meia dúzia de
escritores potiguares (quase todos no sudeste) atingiu este estágio,
há muito ainda o que fazer pelas boas letras da terrinha. Sua
iniciativa, por tão louvável e necessária não deve ser desestimulada,
mas sim repensada, reforçada, repetida com o máximo e devido apoio,
coisa mesmo de mutirão. É tarefa de abnegação a médio prazo, trabalho
em equipe, sem solenidades, apesar das muitas invejas e enormes
vaidades.
E nisso lhe credito minhas quase derradeiras forças.
Um abraço respeitoso.
Bartolomeu Correia de Melo.”
É esse o Bartola que todos nós devemos reverenciar: combativo e íntegro. Com certeza o amigo foi muito recebido na Nova Jerusalém e agora pode contemplar bem de perto a resplandecente estrela da manhã.
(1) É presidente da União Brasileira de Escritores – UBE/RN
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NOTA OFICIAL
A União Brasileira de Escritores do RN – UBE/RN comunica o falecimento do Sócio Efetivo Escritor BARTOLOMEU CORREIA DE MELO, sábado, 18.06.2011, nesta cidade, lamentando a sua perda entre nós. Desnecessário dizer que, mesmo dentro dos seus limites de saúde, Bartolomeu foi um grande colaborador da UBE, participando de todas as suas atividades: recentemente aceitou ser membro da Comissão Julgadora do Prêmio Escritor Farias de Lacerda. Sem sombra de dúvidas, era um escritor de importância nacional que preferiu ficar na Província.
Natal/RN, 18 de junho de 2011.
Diretoria
Presidente: Eduardo Antonio Gosson
1º Vice-Presidente: Jurandyr Navarro da Costa
2ª Vice-Presidente: Anna Maria Cascudo Barreto
Secretário-Geral: Manoel Marques da Silva Filho,
1º Secretário: Paulo Jorge Dumaresq Madureira
2º Secretário: Francisco Alves da Costa Sobrinho
1º Tesoureiro: Jania Maria Souza da Silva
2º Tesoureiro: Aluizio Matias dos Santos
Diretor de Divulgação: Nelson Patriota
Diretor de Representações Regionais: Cid Augusto da Escóssia Rosado
Diretor Jurídico: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Louvação a Bartolomeu Correia de Melo, o Bartola
BARTOLA, OS QUE VÃO MORRER TE SAÚDAM. Breve e imperfeita louvação de amigo.
No sábado passado, às 16.30, Bartolomeu Correia de Melo deixou-nos para atender a um chamado do Criador. Estava já no limiar de sua resistência física e moral, de tanto lutar para viver – ele, um guerreiro digno, obstinado e forte. Lutou enquanto pôde. Não que resistisse à fatalidade, pois era um crente nos desígnios de Deus, mas dizia a si mesmo que glorificaria o Pai, preservando, no esforço da superação e da resistência, o bem mais precioso que Dele recebera – a vida.
Nós, seus amigos, acompanhamos a luta desigual, entre o Davi que ele Ra e o Golias das insidiosa s patologias que se alojaram no corpo do guerreiro, e por isso mais valorosa. Entre o hospital e o confinamento doméstico obrigatório, vivia , no entanto, como se nada estivesse acontecendo. Mas não se enganava, nem nos enganava. Queria sorver a vida, que sempre tivera em plenitude, com sofreguidão, até o último instante.
Eu mesmo, um privilegiado, tive a alegria de receber dele uma demonstração de afeto e desprendimento, quando, já cheio de dores, que se agravaram com a descoberta de mais uma agressão à saúde, compareceu com o seu anjo da guarda, Verônica (Vera), a uma sessão da Câmara de Vereadores de Ceará-Mirim, onde apresentei um plano de revitalização e Desenvolvimento da cultura local.
Estávamos ligados por uma série de circunstâncias: éramos cearamirinenses adotivos e elegemos a cidade como a nossa pátria afetiva – compromisso de vida inteira. Por isso ele quis ser sepultado no cemitério de lá, de frente para o vale que nos embriagava desde a infância, uma referência imorredoura. Também quero depositar nele os meus restos de vida física.
Amávamos a literatura e nela encontramos uma maneira de registrar a vida que tivemos, dar o nosso testemunho da mágica e extraordinária realidade que não era visível aos olhos dos que não enxergavam. Uma realidade fantástica, que não se oferecia aos circunstantes preocupados apenas no sobreviver.
Era preciso uma lente extra-sensorial para captá-la e uma linguagem adequada para expressá-la. E Bartola conseguiu esse milagre.
Tornou-se, sem produzir-se, conduzido apenas pela sensibilidade e desejo quase obsessivo de exibir o seu povo – o nosso povo – razão maior das nossas investigações, o maior ficcionista do Rio Grande do Norte e dos maiores contistas do Brasil.
A literatura de Bartola distingue-se das demais, porque ele transcende, nas suas escrituras, a mera construção vocabular, a originalidade forçadamente distintiva, o recurso criativo extraído da fertilidade imaginativa. Diversamente de outros criadores (Guimarães Rosa e Manoel de Barros, por exemplo) ele não criou as expressões que apropriou em sua linguagem literária. Nem as utilizou em exercícios lúdicos.
Ele as recolheu nas andanças pelos caminhos do sertão e do litoral - pois sempre foi um andarilho deslumbrado - no cordel, nos repentes, nas emboladas, nas feiras livres e nas toadas dos brincantes das nossas festas populares.
Aquilo que não ouviu, intuiu, e apenas deu extensão e liberdade à linguagem popular que se escondia no pensamento e no imaginário do nosso povo. Eu lhe disse isso, certa vez e ele ficou matutando, ensimesmado, e de repente deu-se conta de que se tratava, de fato, de uma observação pertinente e me disse: sabe que você está certo? Às vezes me vejo diante de um silêncio mais falador do que todas as falas do mundo. Até de quem bebeu água de chocalho.
Os dois livros de contos que escreveu, “Lugar de Estórias” e Tempo de Estórias”, podem e com certeza serão incluídos em qualquer antologia do conto brasileiro. Nenhuma contribuição à literatura brasileira, especialmente representativa da nossa região, merece tanto destaque quanto esses dois. E não pensem que exagero, ou que aplique sobre a obra a visão de um amigo e admirador.
Também escreveu livros infantis, “O fantasma bufão” e “A roupa da Carimbamba” e um dos seus contos (“Da janela”) foi adaptado para o teatro, numa peça de um só ato.
Não sou crítico literário nem um esteta com tanta erudição que me seja dado o benefício da credibilidade. Entretanto, sou um instigador, um provocador, alguém que não se compraz em estabelecer verdades pessoais, mas em argumentar dialeticamente ou comprovar pela amostragem a verdade que se coaduna com o senso comum.
Leiam os livros de Bartola, e concordem comigo pelas evencias. Releiam, os que já o fizeram, mas desta vez com espírito crítico, analítico, sem preconceitos. Com aquela disponibilidade Gideana que se deixa seduzir, se quiser, ou amaldiçoar, querendo, mas livres para voar.
Miguel Cirilo, um dos maiores poetas que o Rn já (des)conheceu, dizia: “Posso conviver com os anjos e não me converter; com os demônios e não me pervereter”. Que seja assim a abordagem dos neófitos nas Bartolomeicas narativas, ou na releitura dos céticos ou garimpeiros de verdades.
Mas mergulhem no universo de Bartola. Não se postem como Grieco que, à parte o seu valor como crítico literário, ficou conhecido pela negação ao seu próprio ofício: “Não li e não gostei”. Porque há também quem leia e não decodifica o frasead, nem descobre nas entrelinhas.
Devo dizer que o nosso estado, (e o Brasil), perdeu um dos seus mais importantes escritores. Se não pensarmos assim, depois de ter lido ou relido os livros de Bartola, é porque somos preconceituosos, invejosos ou sofremos do complexo de inferioridade de alguns nordestinados. Aprendi que contra fatos não há argumentos.
Li e reli os dois livros, porque apaixonei-me perdidamente à primeira vista e tive que retornar a eles para uma releitura menos emocional, mais depurada, mais isenta. E aí foi que me perdi definitivamente. Passou a ser um amor infinito que, diversamente do descrito por Vinicius, seria infinito porque duraria aternamente.
Perdemos também, os seus amigos, o convívio de uma criatura a um só tempo, afável, dono de uma humanidade que porejava evidente nos gestos mais comuns, e ao mesmo tempo um homem de muito espírito, que transitava com desenvoltura do humor fescenino ao comentário satírico, passando pelas citações e reflexões eruditas.
Só não tínhamos afinidades político-ideológicas. Nesse terreno tínhamos discussões acaloradas. Ele, conservador, eu, socialista. Mas a nossa amizade estabelecia limites. Quando chegávamos às raias dos achincalhes e agressões, transigíamos nas coisas menores que não alcançavam o cerne das nossas idéias, aceita por ambos como um sinal de pacificação, uma trégua.
Cumprimentou-me civilizadamente quando Dilma foi declarada vencedora, mas não resistiu e vaticinou as piores desgraças para o nosso país, nas mãos da “camarilha” comunista. Era assim o Bartola, carne, ossos e emoções afloradas. Ele era ele, sem receio de ser o que Ra. Autêntico.
Esgotei as possibilidades de caracterizar o Bartola que muitas vezes tomei como personagem, quando o perfilei no meu livro “A Intriga do Bem”, onde o dava como anjo-torto, encarregado por Nossa Senhora da Conceição de estabelecer as fundações de Ceará-Mirim.
Perdi um amigo e um companheiro de divagações e inquietações. Perdi um contendor leal a precioso, culto e coerente com as questões de princípios que adotou, alguém que fazia diferença na cosntrução de uma convivência democrática da diversidade político-ideológico.
Ceará-Mirim e o Rio Grande do Norte perderam a sua maior expressão literária. Os humanistas, um dos seus mais renitentes retratistas e ativistas Verônica e os seus filhos, um companheiro e um pai devotado.
Que Nossa Senhora da Conceição o receba como seu acólito e o recomende ao seu filho para que ele tenha um brevíssimo estágio, pois já chegou preparado, e retorne logo a esse nosso plano para completar a sua missão.
OBS – Deixou-me o encargo de editar o seu livro de poesias “Musa Cafuza”, pois era um bom poeta embora se confessasse “intruso” nesse gênero.
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Natal, madrugada de segunda –feira, 20.06.11
Pedro Simões Neto, escritor, Presidente da ACLA
terça-feira, 21 de junho de 2011
A partida de Bartola
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
Na caixa de entrada de e-mail, verifiquei que as mensagens enviadas para Bartola estavam voltando. Nos detalhes a mensagem de quota excedida. Quando isso aconteceu em ano anterior era pelo fato dele está internado. Fiquei preocupado. Na quinta-feira, quando da palestra de Genealogia de Clotilde Tavares, Ormuz me informava que recebeu notícia de Verônica dando conta que nosso amigo estava na UTI.
Na sexta-feira, fomos Graça e eu fazer uma visita. A situação dele era irreversível.
Conheci José Bartolomeu Correia de Melo no Colégio Marista. Depois soube dos meus familiares que ele ainda era nosso parente através da mãe, Dona Gracilde. Fui para o Atheneu, o tempo foi passando e voltamos a nos encontrar na Universidade, ele no Departamento de Química e eu no Departamento de Matemática. Convivemos sem conversar sobre o nosso parentesco até a data em que comecei a fazer minhas pesquisas genealógicas, depois que saí da Universidade.
Sentamos várias vezes para descobrir como se dava esse parentesco. Começamos pelos parentes comuns. E, como em muitos casos, lá estavam o Capitão J. da Penha, Dr. Téodulo Avelino e o Senador Georgino. Embora esse trio se repetisse, entre muitos com quem conversei, ninguém sabia como se dava esse parentesco. Duas pistas Bartola me deu: sua avó se chamava Claudiana e a bisavó Conceição. Claudiana era um nome que se repetia na família dos Avelino: era o nome da esposa do cadete José Avelino, e também da avó dessa última, a esposa de Antonio Barbosa, ambas Claudiana Francisca Bezerra. Desconfio que esse Bezerra que apareceu na nossa família venha dos Rocha Bezerra.
Depois que descobri os nomes dos irmãos do meu bisavô Francisco Avelino da Costa Bezerra, comecei a descer, a partir deles, em busca dos elos com os parentes contemporâneos.
Pois bem, Maria da Conceição da Costa Bezerra, irmã de meu bisavô, mãe de Claudiana e bisavó de Bartola, nasceu em 17/01/1862, filha de Alexandre Avelino da Costa Martins e sua esposa Anna Francisca Bezerra, neta paterna de Vicente Ferreira da Costa e Mello do O’ e Joaquina Maria do Rosário, e materna do tenente-coronel Antonio Francisco Bezerra da Costa e Dona Agostinha Monteiro de Sousa.
Maria da Conceição casou, em 17/01/1882, lá no Sítio Carapebas, com dispensa de consanguinidade, com Antonio Machado Alves Bezerra, filho de Vicente Machado de Aquilar Bezerra e Ignácia Francisca Bezerra.
Claudiana, avó de Bartola, nasceu em 25/02/1884, e foi batizada no Sítio Curral dos Padres, em 13/04/1884, tendo como padrinhos os avós, de cada lado, Vicente Machado de Aquilar Bezerra e Anna Francisca Bezerra. Francisco Alves Machado, pai de Monsenhor Lucilo Machado, era irmão de Claudiana.
Bartola faleceu sábado, 18 de Junho de 2011. Estive no seu velório. Lá conversei um tempo com o irmão de Bartola, Paulo de Tarso Correa de Mello, sobre nossos parentes. Disse Paulo que quando nasceu a família queria acrescentar, ao seu nome, os sobrenomes Aquilar e Viégas, o que não prevaleceu.
Dona Claudiana, avó de Bartola, era casada com João Evangelista de Oliveira Correia, filho do português Lourenço José de Oliveira Correa e Dona Maria José Pinto. João e Claudiana geraram Gracilde Correa de Melo que era casada com João José de Melo. Desse último casal nasceram José Bartolomeu, Paulo de Tarso e Geraldo José Correia de Melo. Bartola era casada com Verônica Marques Correa de Melo, sua colega do Departamento de Química da UFRN. São filhos deles Anna Cláudia Marques Correia de Melo Mendes de Sousa, Brenno Luiz Marques Correia de Melo e Ruthe Helenna Marques de Melo Nunes Gurgel. Desses filhos já tinham 5 netos.
Ainda, segundo José Bartolomeu, comentando artigo sobre Utinga, Dona Idalina Jacinta Emerenciano, irmã de José Ildefonso Emerenciano, era sua bisavó. Esse parentesco deveria ser através do seu pai João José de Melo. Nesse mesmo comentário, escreveu:
“Uma reforma ortográfica ocorrida nos anos trinta (34 ou 37?) fez com que alguns tabeliães, por excesso de zelo reformista, modificassem até nomes e sobrenomes, passando a grafar CORREIA ao invés de CORRÊA, o mesmo acontecendo com MELO em vez de MELLO. (Essa mudança, aqui-acolá, já ocorria, por via contrária dos tabeliães analfabetos). Assim, segundo as certidões de nascimento (de antes da dita reforma), meu pai era Mello e minha mãe Corrêa. Eu, nascido depois, já neto-pobre, me chamei Bartolomeu e não Bartholomeu; por isso, sempre brinco, dizendo que Corrêa de Mello é nome nobre e Correia de Melo nome de pobre. Bartola.”
Quando escrevi meu livro, Servatis ex more servandis, Bartola fez a primeira ordenação em capítulos, e me encaminhou para a Editora da UFRN, onde não foi possível editar o livro por questão de tempo.
Bartola partiu em pleno auge de sua produção literária. Um grande escritor!
segunda-feira, 20 de junho de 2011
HÁ 6 ANOS
Nascia o meu campeão – CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES NETO, filho de Carlos Roberto Rosso Gomes (o navegador da bóia) e Valéria Ferreira de Lucena Rosso Gomes.
Os avós corujas Carlos & Therezinha e Luiz Marinho & Marlene, os tios e tias, primos e primas somados aos amigos comemoram ontem os seus primeiros SEIS anos de vida, numa festa organizada e oferecida pela tia-madrinha Verônica, animada por “Gordurinha e Glicose”.
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Na foto, Carlos Neto exibe a sua recente medalha de ouro no Karatê. PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS.
Um sebo de resistência
Revista do Brasil - Edição 59 - Maio de 2011
Viagem
Com mais de 300 livros publicados sobre o Rio Grande do Norte, o editor Abimael Silva, proprietário do Sebo Vermelho, no centro de Natal, tornou-se uma espécie de guardião da cultura de seu estado, e uma referência para quem quer ir muito além das praias e dunas
O local não é o que se pode chamar de ponto turístico.
Uma pequena porta de correr pintada de vermelho, com a tinta já descascada, um amontoado de livros entre poeira, móveis e pilhas de papel.
Mas se engana quem não vê nesse estabelecimento, no centro histórico de Natal, uma das maiores referências para conhecer a cultura potiguar e adentrar o Rio Grande do Norte de norte a sul, praia e sertão, erudito e popular.
"O objetivo de um livro é fazer outro" Poucos lugares do Sebo Vermelho são arrumados como a estante das edições do próprio selo.
Criado em 1985, o Sebo Vermelho tornou-se muito mais que um sebo a partir de 1990, quando seu proprietário, o ex-bancário Abimael Silva, resolveu publicar o livro de um amigo sobre a história do cinema em Natal.
E foi assim, com Écran Natalense, de Anchieta Fernandes, que Abimael começou sua saga editorial, que já chega à marca de mais de 300 livros lançados, dos mais variados temas, mas todos voltados para a cultura potiguar.
“Anchieta não encontrava espaço para publicar esse brilhante ensaio, sempre com negativas das editoras daqui. Decidi procurar Varela Cavalcanti, então presidente do Sindicato dos Bancários, que sabia da importância da obra. Comprei todo o material e ele topou fazer a impressão. Imprimimos 300 exemplares e, felizmente, conseguimos vender todos”, conta Abimael, que a partir daí passou a lançar outros títulos por conta própria.
Livreiro por natureza
Antes disso, trabalhara quatro anos no setor de conta corrente de um banco.
“Ficava o dia inteiro somando cheques, mas sempre pensando que queria trabalhar numa livraria. Na primeira oportunidade, saí do banco e resolvi começar meu próprio sebo”, diz Abimael.
Na época, sua biblioteca particular tinha mais de 700 livros, e 600 foram colocados à venda. “Lamento a perda de alguns poucos que nunca mais encontrei em 26 anos de sebo, como Cartas a Nora, de James Joyce, e alguns do Graciliano Ramos.”
As publicações do Sebo Vermelho, depois de quase três décadas de existência, apresentam um completo panorama da cultura do estado, além de importantes resgates de livros.
É o caso de Antologia Poética do Rio Grande do Norte, publicado originalmente em 1922 e reeditado pelo selo em 1993.
Os Americanos em Natal, do historiador Lenine Pinto, é outro destaque. Retrata a cidade durante a Segunda Guerra Mundial, quando se tornou uma base dos Estados Unidos e sofreu forte influência da cultura americana.
Outra pérola, O Carteiro de Cascudinho, foi escrita por José Helmut Cândido, o carteiro de Câmara Cascudo durante anos, que conta suas experiências servindo um dos maiores intelectuais do Nordeste.
As tiragens do Sebo Vermelho costumam ser pequenas, no máximo 500 exemplares, e com distribuição extremamente complicada, já que é difícil entrar no esquema das grandes livrarias, que dominam o mercado.
“Até o livro número 34, ainda tinha esperança de que isso pudesse render algum dinheiro, mas hoje, para mim, o que importa é apenas que as edições se paguem, pois o objetivo de um livro é fazer outro, e assim por diante”, resume o editor.
Ele lembra que um dos livros que mais venderam foi História do Rio Grande do Norte, do pesquisador Ezequiel Vanderlei, publicado originalmente em 1992. Foram 500 exemplares em seis meses.
É dessa forma que são lançados cerca de 30 títulos por ano, e o editor pretende alcançar a marca de 500 livros editados até 2012.
“O mérito é todo do Rio Grande do Norte, que tem tudo isso para ser dito”, argumenta Abimael, que garimpa preciosidades em viagens pelo interior e em conversas com amigos.
A triagem é feita pelo valor histórico e editorial, que conta com a sensibilidade de quem conhece seu estado e vive envolto por livros e intelectuais de peso.
“Também aparecem várias porcarias, como uma senhora que queria pagar a publicação do livro do neto, de 5 anos, edição bilíngue, pelo selo. Obviamente, não aceitei.”
Vermelho?
Embora o caráter político-literário do trabalho de Abimael esteja claro, o nome de seu sebo nada tem a ver com posições ideológicas. Ao alugar um quiosque para montar sua banca, ele notou que todos eram azuis ou pretos. Para destacá-lo, pintou tudo de vermelho. “Até o dia em que chegou alguém e perguntou: ‘Aqui é o sebo vermelho?’ E o nome acabou ficando. Mas minha mãe achou horrível, achava que tinha de se chamar Sebo São José”, brinca Abimael. Hoje, o sebo não está mais instalado em um quiosque de rua, mas na Avenida Rio Branco, bem no centro da cidade. E mantém a cor como chamariz.Ano após ano, a luta do sebista-editor foi se tornando também uma bandeira política e social, à medida em que virava um verdadeiro guardião da cultura do estado. Além de ser hoje o maior editor potiguar (talvez do Nordeste, pelo número de títulos), tem acumulado uma série de resgates cuja importância é negligenciada pelo poder público e pelas editoras privadas. “Só querem saber do que vende em grandes tiragens. É nisso que investem ainda mais. Quando houve o lançamento do livro do Padre Marcelo aqui em Natal, venderam 5.000 exemplares num único dia, graças a um aparato gigante de marketing”, alfineta o sebista. “Aqui, nunca a prefeitura comprou ou indicou um único livro meu que fale do Rio Grande do Norte. Já tentei, já mandei ofício, mas esse povo fica esperando que a gente puxe o saco.”Sem uma empresa distribuidora, os títulos do Sebo Vermelho são vendidos, em sua grande maioria, no dia do lançamento e no boca a boca, ou em algumas livrarias de Natal, nas quais Abimael leva pessoalmente cada exemplar. “Quanto maior a livraria, maior o obstáculo”, reclama. No sebo, os livros editados por ele são os que têm maior destaque, expostos nas paredes da entrada, com um pouco mais de organização que os demais. Segundo ele, um dos raros momentos de destaque do Sebo Vermelho ocorreu quando foi entrevistado pelo apresentador Jô Soares. Na ocasião, havia alcançado 100 livros editados e os poucos momentos televisivos renderam visibilidade, embora isso não tenha mudado substancialmente a venda de seus livros. “Foi bom pra chamar a atenção, por exemplo, para o sertão do Rio Grande do Norte, que quase sempre é deixado de lado”, diz Abimael. Quando sobra tempo ou dinheiro, Abimael viaja para as duas capitais próximas de Natal, Recife (a 285 quilômetros) e João Pessoa (a 190 quilômetros), sempre com o carro lotado de exemplares, que vai entregando de livraria em livraria, numa verdadeira romaria literária. Já no interior do Rio Grande do Norte, além da pesquisa de novos títulos, realiza eventualmente lançamentos de obras que falem do sertão ou de autores locais. É o caso de O Ataque de Lampião a Mossoró, história em quadrinhos escrita por Emanoel Amaral e Alcides Sales.Para este ano, um dos destaques entre os lançamentos é a reedição de Indícios de uma Civilização Antiquíssima, de José de Azevedo Dantas. Autodidata e pioneiro da antropologia brasileira, escreveu em 1925 um verdadeiro tratado sobre as pinturas rupestres do sertão potiguar, mais especificamente sobre a região do Seridó, no sul do estado, já na divisa com a Paraíba. Para quem quer conhecer o Rio Grande do Norte além dos livros, é bom lembrar que se trata de uma região riquíssima, com belas paisagens, cidades históricas e muitas pinturas rupestres, a maioria datada de 10 mil anos. Somente Carnaúba dos Dantas, a 200 quilômetros da capital, onde viveu José Dantas, possui mais de 60 sítios arqueológicos para serem visitados. Outra predileção de Abimael são os livros de história e de fotografias. Entre os mais importantes lançados por ele estão Uma Câmara Vê Cascudo, com imagens raras do escritor, feitas no final dos anos 1970; e Natal Através dos Tempos, que retrata a cidade desde os anos 1940, ambos do fotógrafo potiguar Carlos Lyra, falecido em 2006. Além de um lugar para comprar livros sobre o Rio Grande do Norte, o Sebo Vermelho também se tornou, em seus 26 anos, um importante reduto de intelectuais, a maioria em busca de boa literatura ou boas conversas, que acontecem ali quase todos os dias.. No fundo da loja há uma pequena mesa de sinuca e uma geladeira, aos sábados repleta de cervejas. O ponto de encontro virou tradição entre os amigos que frequentam o sebo. Não faltam uma boa cachaça e a carne de sol, “a melhor de Natal, que eu mesmo escolho”, faz questão de dizer Abimael. Nesses churrascos, o papo rende e surgem ideias para novos livros, além do incentivo dos amigos para que Abimael continue na dura batalha a favor da cultura do Rio Grande do Norte, um estado que, se você quiser conhecer a fundo, não pode deixar de incluir o Sebo Vermelho em seu próximo roteiro. Tags: Rio Grande do Norte, guardião da cultura, sebo, livros, viagem
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Colaboração de Bob Furtado
domingo, 19 de junho de 2011
OS MEUS NETOS SÃO ARTISTAS
Com muito orgulho apresento o trabalho dos meus netos CARLOS VICTOR ROSSO GOMES CALDAS (o desenho) e RAPHAEL ROSSO GOMES ISMAEL FLOR (o texto para trabalho do Colégio das Neves), tendo como tema "O Cangaço"
ESTA HISTÓRIA É CONHECIDA
NO INTERIOR DO SERTÃO
DAS SUAS FAMÍLIAS SOFRIDAS
FUGINDO DE LAMPIÃO.
DEIXANDO A TERRA E OS BENS
VAGUEIAM PELOS CAMINHOS
A FAMÍLIA E OS SEUS TERENS
EM BUSCA DE NOVOS NINHOS.
MAS A SECA É IMPLACÁVEL
CASTIGA MULHER E FILHOS
E O POBRE CACHORRO MAGRO
COMPLETA OS DESAFIOS.
TENHO USADO O DOMINGO PARA PUBLICAR EM MEU BLOG DO MIRANDA GOMES AMENIDADES.
CONTUDO, QUEBRANDO ESSA LINHA DE CONDUTA, ABRO PARÊNTESIS PARA COMUNICAR UMA NOTÍCIA NADA AMENA, MAS EXTREMAMENTE TRISTE:
O ESCRITOR CEARAMIRINENSE "BARTOLOMEU CORREIA DE MELO" MORREU NA TARDE DESTE SÁBADO, 18 DE JUNHO DE 2011, EM NATAL/RN-BRASIL
O velório será no Centro de Velórios da Rua São José-Natal e o enterro será NESTE DOMINGO no Cemitério de Ceará-Mirim, às 10 horas.
É do nosso costume afirmar que certas pessoas que se vão para outra dimensão do espaço são insubstituíveis. Com “Bartola” esse dizer é verdadeiro, pois foi nosso maior prosador do tempo presente, a par de ser uma pessoa objetiva, corajosa, agradável em todos os sentidos. Realmente vai ser difícil superar esse talentoso escritor e esse amigo de uma fidelidade marcante. DEUS, certamente, o acolherá no lugar dos justos.
RESUMO BIOGRÁFICO DE
BARTOLOMEU CORREIA DE MELO
(O BARTOLA):
Nascido em Natal/RN (1945), criado no Ceará-Mirim (RN), terra de engenhos, cenário temático dos seus escritos. Educado por padres salesianos e irmãos maristas, dedicou-se ao magistério. Graduado em Farmácia (UFRN) e pós-graduado em Físico-Química (UFPE e USP). Adotou agropecuária (Fazenda Aliança) como segunda atividade e literatura como primeiro lazer. Aposentado (UFRPe e UFRN) como professor de Química. Obteve com “Lugar de Estórias”, seu primeiro livro, o prêmio nacional “Joaquim Cardozo”(1997), da União Brasileira de Escritores (UBE). Seu segundo livro, “Estórias Quase Cruas” (2002) foi igualmente bem recebido. Publicou também a estória infantil “O Fantasma Bufão” (2004). Recentemente (2010), teve lançados “Tempo de Estórias”,seu terceiro livro de contos e “A Roupa da Carimbamba”, segundo livro infantil, todos pelas “Edições Bagaço” (Recife).
Fonte: site da UBERN e NOTÍCIAS DA LUSOFONIA, DE CEICINHA CÂMARA.
H O M E N A G E N S
BARTOLOMEU CORREIA DE MELO Maior revelação do conto potiguar, nas últimas três décadas. Bartolomeu Correia de Melo surgiu cinquentão, quando já bastante conhecido como pesquisador e professor de Química.
Seu livro de estréia - "Lugar de estórias" foi laureado com o prêmio Joaquim Cardozo/1977, da União Brasileira de Escritores, e teve duas edições, quase simultâneas - EDUFRN, Editora da UFRN, Natal, 1988 e Xeroz do Brasil, Recife, 1998.
Desde 1966,BCM vinha escrevendo, nas horas vagas, histórias várias, que engavetavasem pensar em publicá-las. Até que, como ele prórpio disse, com muito senso de humor, "se viu na vez de mal-aposentado (ETFRN, UFPE e UFRN). Aí, por tristeza e descostume de vadiagem quase-quase amofinou-se. Ser biscateiro ou vereador, desapetecia. Cuidar da fazendola "Águas de Março", enchia o tempo sem encher a cabeça.
Então, palpitou desencavar a retraçar alguns contos cometidos no correr da vida, afagando as saudades do Ceará-Mirim. Daí que apareceu "Lugar de Estórias" (...)
Ceará-Mirim é o seu país sentimental, fonte inesgotável de inspiração. Nas terra dos canaviais, de tantas tradições, o autor encontraráos cenários e os personagens de sua infância, com os quais contrói suas estórias simples, que o autor sabe explorar como poucos.
Bartolomeu Correia de Melo nasceu em Natal, no dia 7 de março de 1945. "Foi uma criança terrível e adolescente abominável". Confessa e acrescenta: "Desasnado por padres salesianos e formatado por irmãos maristas, logo cedo, coitado, converteu-se ao Magistério".
É graduado em Farmácia (UFRN), com pós-graduação em Físico-química (UFPE e USP). Escreveu trabalhos científicos e pedagógicos, publicados em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras.
Quando lançou seu livro de estréia, jurou ser "primeiro e derradeiro". Felizmente, quebrou a jura. Em 2002, publicou nova coletânea - "Estórias Quase Curtas" Edições bagaço, Recife), de grande unidade temática e formal, como a anterior, e dentro do mesmo universo ficcional.
Bartololeu Correia de Melo é casado com Verônica Marques, com quem teve três filhos, Bruno, Ana Cláudia e Ruth.
(Manoel Onofre Jr. in Contistas Potiguares, Sebo Vermelho edições, 2003)
BARTOLOMEU CORREIA DE MELO
Por Franklin Jorge
Seu defeito mais evidente resulta antes da ingratidão do destino do que de uma deficiência própria; do destino, seja dito, que o fez nascer em Natal, terra de muro baixo que não consagra nem desconsagra ninguém, embora o gentio cultive o hábito de gastar duzentos para impedir que alguém embolse vinte.
Refiro-me, está claro, ao escritor Bartolomeu Correia de Melo, artífice e mestre na arte do ficcionismo que, no presente caso, tem fundas raízes plantadas no chão do Ceará-Mirim, onde viveu os anos inaugurais de sua vida à sombra benfazeja de uma avó sertaneja.
Escritor sofisticado, sua química literária inscreve-o numa espécie particular de barroquismo traduzido em coloquialismo que contém toda uma cultura baseada em ancestralidade que remonta à Idade dos Nomes.
Estórias quase cruas, que leio oito anos depois do seu lançamento (2002) é, em sua genuína virtuosidade estilistica e pujança lingüística uma dessas obras significativas de toda uma cultura eivada de vida e vigor. Sem dúvida um escritor do mesmo naipe de Carmo Bernardes e João Guimarães Rosa, porém marcado pela fatalidade de ser potiguar.
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DAS FALASTRIAS: ESCRITOR BARTOLOMEU CORREIA DE MELO DISCURSA NA UBE/PE(1)
Prêmio Literário Nacional Joaquim Cardozo
(Discurso na União Brasileira de Escritores )
Bartolomeu Correia de Melo
“No entanto, quem me descobre,
eu que sou triste e sou pobre,
vai me achar bem desigual.”
Joaquim Cardozo
NAQUELES quandos de quando somente os dizeres aliviam o ardume dos pensares – ano sim, oito não – batia vontade de escrever. Então, quietinho num canto, feito menino surrado, escrevia; escrevia como cochichando desabafos. “Umas linhas de tinta amorosa, de tinta sincera e banal.” (1) Porém, os aboios da vida tangiam pra outros que-fazeres, obrigando a engavetar tais rascunhadas fantasias. E assim, escrevivendo, aforei trintena de anos. Acomodado a vasqueiras alegrias, benvindas mas passageiras, que nem chuvas-de-caju.
Sou daqueles acanhados, que se satisfazem por escrevinhar pra seus próprios olhos, contando coisas do seu próprio umbigo. Nunca palpitei que alguém, não sabedor dos meus jeitos, chegasse a apreciar e preferir minhas estórias. Muito-que-muito honrado fico, por tal dote de valia; bem maior do que me atreveria a merecer. Assim, regavo e alardeio todo louvor de minha sempre obrigada gratidão.
Hora destas, aqui assim perante, me ponho meio encabulado, quase medroso em dividir quantos sentires. Embora agradecido e carinhoso, desconjuro dos amigos que nisto me atiçaram. Mas tudo de bom tem seu pior: Agora, todo-mundo aqui esperançando de escutar minhas sabenças. Não fosse um enorme respeito por esta casa, disto me escafederia, jurando deslavado algum malentendido.
Nada mais sou que um contador de estórias; não muito desigual de tantos, que nunca tiveram vez de assentar em papel suas doces mentiras.
“Conversas compridas são parecidas!…” Diz Chico Piaba, cristão nascido e aprendido nalgum lugar de estórias. Pois, justo cuidando neste dito – assim destraquejado pra oratórias – nem-sei-que-diga. E cá então me eis: “Entre o gesto e a palavra, território onde as idéias se escondem e os pensamentos se perdem.”
Não que não tivesse algum porém a referir. Só que seriam assim coisas bem minhas, eu mais prosista do que prosador. Pois, sendo doutras lavras e leituras, meus saberes comuns aqui não bastam. Mas tenho ciência duma verdade enxuta: “Escrever de Joaquim Cardozo só pode quem conhece…” (2) E além de minhas securas – tão esquisitas que me desagüento – somente malinformo quanto a métricas de átomos e ritmos de moléculas. Belezas outras que, neste agora, talvez ficassem meio descabidas. Afinal, não tenho mestrias de calcular poemas em concreto nem consigo luzes pra bem-comparar treliças de ponte com rosas de ferro.
Mas, embora diversos, em prosas ou versos, gentis ou perversos; todos gostam, todos mostram seus escritos. E se cada escrever tem sua receita, da minha não faço segredo: Talvez, por obra do velho ofício de boticário, me resulte prazeroso misturar tinta e papel com sonho e saudade; das minhas mais gratas “sustanças.” Tais porções de espírito, mesmo assim tão desafins, findam ligadas nas muitas fervuras vividas. E desta desusada combinação, aqui-acolá, decanto estórias; meio cruas mas quase puras. Afianço que santo remédio pra quantos crônicos pesares. Pois que, agindo no fundo do peito, depuram humores anêmicos e desentrevam emoções reumáticas. Pondo crença em simpatias, bastam quinze pingos, em água de quartinha serenada – gosto limpo de infância – benzida por cantos-de-galo dalgum já longe amanhecer.
Que tipo de escritor seria? Resposto sem pedância: Não me decifro quando penso, nem me destrincho quando escrevo. Só sei que letrado nas letras não sou. Nem modernista nem regionalista; sou abecedista. Na minha província natal, de cada esquina um poeta, de cada rua um jornal, diz-que cientista está mais pra louco que pra intelectual.
Assim, não me arvoro; quem nasce artesão não morre artista. Meus toscos escritos não escondem mensagens, apenas contam. Não mostram beletrices, apenas contam. Não revoejam metafísicas nem ruminam filosofias, apenasmente contam. Tudinho estórias do meu lugar, nos falares da minha gente; quase nada restando de minha real pertença. Apenas recolho palavras de engenho, brotadas no aceiro das conversas, como flores sem dono beirando caminhos. Estórias com começo, meio e fim; dando pra rir ou chorar, que nem as coisas bestas deste mundo. Estórias ditas compridas pra curtos gostos de agora. Talvez espichadas assim no justo tamanho das puídas esperanças dos seus moradores.
Quem lendo sentir boniteza, inveja não sentirá.
Conto casos, como conta o povo; no velho estilo de antigos contares, que os modismos nunca encantaram. Pois que conta com jeito formoso, nos repentes sestrosos dos como-dizeres; singelos mas precisos, como versos de Joaquim Cardozo: “Em vez de dizer: falar, prefiro dizer: cantar. Um canto triste e fecundo.”
Povo conta como entoa seus cantares, na riqueza lírica das suas rimas pobres. Contares lavrados na franca linguagem do meu recanto – chão de poetas – lugar bonito onde o verde é sentimento. Entalhe caprichoso de palavras que se bastam, sem nada carecer comprar dos gringos. Linguajar livre e sadio que, por desilustrado, sobrevive assim teimoso; ignorando o vai-e-vem dos quantos “ismos”. Aliás, parecendo malagouro, não conhece nem padece da finura sonsa de tais fins-de-palavra. E sendo assim, por natureza, como graça descuidosa de criança malfalando, nossa língua nordestina periga na desgraça do desprezo. Finar-se desfigurada, à míngua de ternuras, pela peste finória do neoliberalismo. Pois, cantando a aldeia-global, qualquer macunaíma vira universal, desaprendido de escrever em brasileiro português.
Aqui, por sorte trazido em mãos amigas, assim diante de tão lordes presenças, muito me regalo e envaideço. Se bem que, feito cambiteiro em salão de casa-grande, no descostume de recitar mesuras, por vezes quase-quase me abestalho. E pra não fazer feiúra, até que me valeria da manhosa singeleza do pouco falar. Talvez, pra parecer mais sabido ou, por tão insosso, sem malbondades. Pois, quase calando, nem diriam que qualidade de falastrão papa-jerimum andou por estas bandas com pantins de escritor. Mas, agora é tarde; findei demasiando o palavrório. Já desconfiam que igualmente me queixo de useiros cacoetes e vezeiros maldefeitos. Rogo assim que relevem meus tronchos badalares. “E que de tanto dizer fique o silêncio, que é cinza das palavras e que vence o surto de inverdades tentadoras.”
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Recife / 1998
Fonte: site da UBERN
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